Nascido na
Laguna, em 13 de maio de 1881, René Rollin era filho de José Goulart Rollin e de Emilia
Cândida da Silva, tronco da numerosa família Rollin de nossa cidade.
René Rollin |
Goulart Rollin, seu pai, era telegrafista, nascido em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro e viera transferido
para trabalhar como agente dos correios e telégrafos da Laguna.
Logo se incorporou
à sociedade lagunense, granjeando inú- meros amigos e participando ativamente
de atividades teatrais e musicais. Colaborou e muito para o soerguimento de
nosso hospital. René Rollin, filho de José Goulart Rollin, faria juz aos axiomas
de que o fruto não cai longe do pé ou de que filho de peixe, peixinho é.
Casado com
Maria de Oliveira Pinho Rollin (dª Mariquinha), o casal teve os filhos: Célio,
Cerize (mãe do ex-prefeito Mário José Remor) e Celi.
Outro dos filhos de José Goulart Rollin foi Ataliba
Rollin, baluarte na formação da chamada comissão de aformoseamento que visava
dotar a nossa cidade de melhoramentos em sua infraestrutura, principalmente no
que tange a seu embelezamento.
Por isso vamos
encontrá-lo à frente da construção do Jardim Calheiros da Graça e da construção
do cais do velho porto, junto com José Guimarães Cabral (Juca Cabral) que era
seu cunhado, casado com sua irmã Cecy Rollin.
Mas voltemos a
René Rollin. Funcionário público era coletor de impostos. Espírito abnegado,
patriota, logo cedo demonstrou seu civismo e a vontade de ajudar os semelhantes.
Com 29 anos fazia parte da diretoria do Centro Espírita Fé, Amor e Caridade de
nossa cidade. Numa ata contendo exames de prestações de contas daquela
entidade, em 1910, seu nome consta junto a outros membros, como Luiz Néry Pacheco
dos Reis e Octávio Carneiro. Todos eles grandes amigos do médico lagunense dr.
Ismael Ulysséa, fundador daquela Casa Espírita.
Em 1916, René
Rollin, apaixonado pelos ensinamentos de Baden-Powell, introduz o escotismo em
Santa Catarina. Mas somente em 1º de janeiro de 1917 funda oficialmente em
nossa cidade uma escola de escoteiros, sendo seu primeiro instrutor.
A ele se aliam
no ano seguinte mais dois idealistas: Álvaro Carneiro (patrono) e Luiz Sanchez
Bezerra da Trindade (instrutor). O primeiro escrivão da mesa de rendas federais
e o segundo, diretor do Grupo Escolar Jerônimo Coelho.
O trio e
Escola de escoteiros bem por isso receberam a denominação de “Bela Trindade”. Outros
membros da diretoria: Romeu Ulysséa (vice-presidente), Tancredo Pinto (secretário),
Octávio Bessa (tesoureiro), Antônio Guimarães Cabral (orador) e os vogais, Lucas
Bainha e Octávio Carneiro.
René Rollin
foi também diretor do Tiro de Guerra 137, de nossa cidade. Logo a Escola de
Escoteiros da Laguna estaria participando de marchas, desfiles e campanhas, com
seus membros prontos a servir. Sempre alerta, como preza o lema dos escoteiros.
Como o mundo,
Laguna também sofreu a epidemia da gripe espanhola, em 1918. René Rollin foi um
dos primeiros a se lançar em ajuda aos infectados que eram isolados numa casa
existente nos altos do Morro do Iró, denominada “lazareiro”, destinada a
pessoas contaminadas com moléstias contagiosas.
Em pouco tempo
o local se tornou pequeno para abrigar tantos enfermos.
Agenor Bessa
numa de suas crônicas narra sobre a “espanhola” em nossa cidade, testemunha
ocular dos fatos que foi, mesmo em tenra idade:
“Laguna foi atingida pela epidemia antes de dezembro
de 1918. Não houve uma casa em que o germe não entrasse e, por vezes, atingindo
todas as pessoas da família.
Do Hospital S. B. Jesus dos Passos saiam quase que
diariamente numa carroça, para os cemitérios, pessoas que haviam falecido durante
a noite. As enfermarias se achavam lotadas e além de todos os leitos ocupados
com gente em tratamento, também nos corredores eram vistos pacientes em esteiras
pelo assoalho, homens, mulheres e crianças que, por força da conjuntura, eram
hospitalizadas.
Laguna, nessa época era atendida pelo dr. Aurélio
Rotolo e pelo dr. Ismael Ulysséa. Ambos foram atacados pela “espanhola” que os
surpreendera, afastando-os de quaisquer atividades.
O sr. Manoel Olavo da Rosa, farmacêutico que receitava
aos pobres e o sr. Henrique Esteves, médico homeopata, também foram recolhidos
ao leito, ficando a Laguna dependendo apenas do sr. Tácito Pinho, farmacêutico
que receitava abertamente, mas que não dava conta do serviço”.
Foram vários
os escoteiros que participaram do ato de ajuda humanitária, mas somente René
Rollin acabou também se contaminando com a peste e que vitimou milhões de pessoas
no mundo.
No Brasil, por exemplo, matou no exercício do
cargo o presidente Rodrigo Alves.
Como não poderia haver contato sem risco, ao saber-se
doente, depois de ter ajudado tantos enfermos e não querendo ser um agente
transmissor, René Rollin voluntariamente se despediu dos familiares e amigos.
Partiu sozinho pela estrada do morro. Foi em direção à casa de recolhimento no Iró, numa cena obviamente triste e que ficou na memória de muitos que a presenciaram.
Poucos dias
depois, em 13 de dezembro de 1918, René Rollin estaria morto aos 37 anos.
Num escrito
publicado no jornal O Dever, de 22
daquele mês, Álvaro Carneiro assim escreveu sobre o amigo falecido:
(...) “Quem poderia imaginar, então, que o benemérito
introdutor do Escotismo em Santa Catarina seria uma das vítimas dessa covarde e
miserável epidemia, tão covarde que se disfarça a cada minuto, apresentando aspectos
vários, e tão miserável que, apesar da multiplicidade dos nomes, não se sabe ao
certo como se chama? René Rollin morreu. A peste fatídica não o poupou, matando-o
10 dias depois de lhe ter vibrado o golpe traiçoeiro. O seu coração – coração
de ardente patriota, onde se abrigaram e desenvolveram os mais elevados ideais
– não ama, não sente, não pulsa mais, paralisado para sempre pelo sopro gélido
da epidemia maldita. Entretanto ele vive! Vive pela sua obra; existe no coração
de cada escoteiro; ressurge pelo poder de nossa saudade e pela força de nossa
admiração”. (...)
O falecimento
de René Rollin e a transferência de Luiz Trindade no início de 1919 para Lages
paralisou o funcionamento da Escola. Foi a primeira fase do Escotismo na Laguna.
Em 1924 será
reativado, em sua segunda fase, funcionando até 1927. Depois, vai ressurgir
somente em 1939, com o nome de Associação dos Escoteiros da Laguna, na esteira
do começo da 2ª Guerra e se estendendo até 1960.
Laguna
homenageou René Rollin com nome de rua no Balneário Mar Grosso.
Prezado Valmir,
ResponderExcluirMais uma vez nos presenteando com “aspectos históricos” da Laguna, que bem mereceriam
ter mais destaque pelos responsáveis pela Cultura Lagunense. Mas, infelizmente como sabemos... o aspecto cultural, não tem sido tratado de forma adequada pelas últimas gestões da Prefeitura. Assim, ainda bem que temos o seu “blog”, o qual com grande frequência apresenta um trabalho digno de elogio, pois, consegue retratar Nossa História de forma clara, precisa e sempre que possível... com fotos alusivas ao fato em destaque.
Sobre René Rollin... que apesar de pouco tempo (37 anos) de vida, ainda assim buscou colaborar com sua terra, pois, além das atividades profissionais , ainda prestou relevantes serviços para a comunidade lagunense... envolvido que foi com a fé religiosa (Centro Espírita), com a atividade em prol dos jovens (Escola de Escoteiros).... e, por fim, buscando auxiliar os doentes atingidos pela epidemia da peste que vitimou inúmeros lagunenses (Gripe Espanhola). Infelizmente, como ocorre na maioria das vezes... os heróis “partem cedo” e, com René Rollin não foi diferente, já que ao perceber os sinais característicos da doença, mais uma vez mostrou sua fibra... afastando-se da comunidade e aguardando a morte, que não tardou.
Assim, René Rollin deixou esta vida e entrou para a história, e esta história não podemos deixar que seja esquecida, já que como todas as sociedades civilizadas ou não... a Laguna também tem seus HERÓIS.
Grande abraço do Adolfo Bez Filho (Joinville – SC).
Grande abraço, meu caro Adolfo e agradeço a leitura.
ResponderExcluirMais um personagem que trazes ao nosso conhecimento. Homens assim fizeram a nossa Laguna. Parabéns pela pesquisa. Wilmar Coelho Florianópolis
ResponderExcluirEu já conhecia um pouco, mas agora lendo, fiquei ainda mais orgulhosa da história do meu bisavô, sou neta do Célio, citado no texto.
ResponderExcluirE meu bisavô materno, Octavio Bessa, também citado acima.
Obrigada pela leitura.
Tiana
tirollin@hotmail.com