Em 16 de março
de 1914, nascia na Laguna Walmor Martins de Castro, filho de Salomão André de
Castro e Armanda Martins de Castro.
Cursou o
primário no Colégio Stella Maris e com apenas 13 anos, em 1927, entrou para o
Seminário Nossa Senhora de Lourdes em Brusque (criado naquele ano), onde cursou
seus primeiros anos de formação sob orientação de Dom Jaime Câmara, então padre
e reitor daquele Seminário.
Padre Walmor Martins de Castro. Foto: Arquivo Marega. |
Em 7 de
fevereiro de 1934 recebeu a batina das mãos de Dom Joaquim Domingues de
Oliveira. Em dezembro deste mesmo ano terminou seus curso de filosofia, data em
que também recebeu a tonsura, cerimônia religiosa em que o bispo dá um corte no
cabelo do ordinando, ao conferir-lhe o primeiro grau de Ordem no clero.
No ano
seguinte, em 13 de maio, seguiu para o Seminário Central de São Leopoldo (RS),
visando se iniciar nos estudos de teologia, terminando-o no Seminário Central
de Ipiranga, em São Paulo.
Finalizado os
estudos, recebeu as ordens de Subdiaconato a 11 de dezembro de 19 38 e a de Diaconato
em 17 de dezembro do mesmo ano.
Em 1939, em 5
de março, recebeu as ordens de sub-presbítero, rezando sua primeira missa na
manhã do dia seguinte, na Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna.
A Ordenação e primeira Missa
A
Ordenação do padre Walmor de Castro se deu em 5 de março de 1939, um
domingo.
A cerimônia
aconteceu às 9h30min na igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos, com missa solene
celebrada por Dom Joaquim Domingues de Oliveira, Arcebispo Metropolitano de
Florianópolis.
A igreja
estava lotada de fieis, além de inúmeros convidados, amigos e autoridades
locais.
Após a missa,
defronte à Casa Paroquial, foi promovida uma manifestação de saudação ao
Arcebispo.
Usou da
palavra Vinicius Colaço de Oliveira (advogado, filho do também advogado João de
Oliveira), diretor do jornal Correio do
Sul. Foi também orador Antônio Nunes Varela, que “(...) em belas palavras
homenageou o padre Walmor de Castro”.
Logo após, às
14 horas, um almoço para cerca de 40 pessoas no prédio São Vicente de Paulo
(Vicentinos), com a presença, entre outros, do Arcebispo Dom Joaquim, prefeito
Giocondo Tasso, monsenhor Francisco Giesbert, monsenhor Trombock, frei Evaristo
Schurmann, padre Bernardo Philippi, então vigário da Paróquia da Laguna, padre
Antônio Marangoni, coadjutor da Paróquia de nossa cidade, padre Roberto
Wirobeck, frei Norberto, padres José Poggel, Luiz Cordiolli e César Rossi,
Vinicius Colaço de Oliveira, Antônio Nunes Varella, comandante João Moreira
(comandante Moreira), subdiáconos Augusto Zucco e Wilson Schmidt, Olavo
Magalhães, João Guimarães Cabral, minoristas Loccks e Hobold, Antônio Tomé de
Oliveira, Claudino Rocha, Salomão Castro (progenitor do padre Walmor Castro), Manoel
José Machado, Francisco Pestana, Alexandre Pagani, Carlos Emmendoerfer, José
Espíndola, Taciano Barreto e Waldomiro Leite.
Transcrevo acima
todos esses nomes, copiados da matéria do jornal O Albor, porque muitos leitores aqui do Blog às vezes buscam nos
textos aqui publicados o encontro escrito e histórico com muitos de seus antepassados.
Após a Ave Maria
Fim de tarde,
começo da noite, após a benção da Ave Maria na igreja Matriz, o padre Walmor
Castro foi acompanhado por considerável público até a residência de seus pais,
na Praça Conselheiro Mafra (atual República Juliana. É a casa onde há pouco
tempo funcionou o Café Garibaldi, ao lado do prédio, hoje em ruínas, onde
existiu a fábrica de móveis de Antônio Teixeira). Acompanharam a comitiva as
Bandas musicais da cidade, União dos Artistas e Carlos Gomes.
E diz o jornal
Sul do Estado de 12 de março de 1939,
do jornalista José (Zeca) Duarte Freitas:
“Chegando à
residência, falou em nome do povo lagunense o sr. Manoel José Machado,
oferecendo ao padre Walmor um missal como lembrança de sua ordenação.
Mas foram outros
inúmeros presentes recebidos, conforme registra O Albor, cheio de adjetivos para eles:
“Uma estola,
oferecida pela senhorita Odete Pinho, como lembrança de sua irmã Mariela Pinho
Magalhães, madrinha do homenageado; um bem confeccionado jogo de objetos de
madeira para escritório, oferecido por Eduardo Silva; paramentos sacerdotais,
oferta dos parentes do sacerdote, Belinha, Belica e Emilia Cabreira; uma
belíssima alva, oferta de sua irmã Nair Castro Carneiro; um mimoso porta
relíquia, oferta de Enedina Moreira Netto; duas caixas com toalhas, oferecidas
pelas irmãs do Hospital e Colégio Stella Maris; uma preciosa imagem do Coração
de Maria, luminosa, para mesa de cabeceira, dádiva de Taciano Barreto; um utilíssimo
livro de "Cartas do Padre Anchieta” e um roupão de banho, ofertados por Carmem Castro.
Além de ofertas monetárias de João Rodrigues Moreira (o comandante Moreira),
Pedro Castro, Samuel Castro, Hermínio Faísca e Antonina Martins Castro”.
Usaram ainda
da palavra os srs. Júlio Barreto e padre Bernardo Philippi, tendo agradecido o
homenageado.
Logo após, “foi
servida a todos que o foram cumprimentar, uma lauta mesa de doces e bebidas,
tendo, por fim, usado da palavra o nosso distinto conterrâneo Mário Cabral que
foi muito aplaudido”.
Trajetória
Após sua
ordenação na Laguna em 1939, o padre Walmor Castro assumiu a Paróquia de
Itajaí.
De acordo com
o padre José Artulino Bensen em seu Blog, em 11 de novembro de 1940 o padre João Dominoni, de Cocal,
escreveu ao vigário geral comunicando que o padre Luiz Gilli, vigário de Urussanga, estava doente, solicitando um coadjutor para as capelas daquela paróquia. No ano seguinte, 1941, foi nomeado o
padre Walmor Castro, transferido de Itajaí.
O grande
empecilho foi o idioma, o italiano, falado por muitos fiéis das comunidades da
região, e pelos próprios padres, como Gilli e Miguel Giacca, de Nova Veneza, que pregavam nessa língua, em plena 2ª Guerra Mundial, com toda a animosidade reinante, o que provocou certos desentendimentos.
Depois, padre
Castro foi coadjutor em São Bonifácio, atendendo Teresópolis e Anitápolis. Mais
uma vez o idioma estrangeiro atrapalhou, já que não aceitava a confissão em alemão.
Ainda conforme o padre Bensen, padre Walmor Castro “foi para o Rio de Janeiro em
início de 1945. Lá era arcebispo e cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, seu
ex-reitor no Seminário de Azambuja”.
Em 15 de julho de 1944, aconteceu a fundação da Paróquia de São José, em Ricardo de Albuquerque, no estado do Rio, sob a gestão de padre Alício Ribeiro e depois Walmor de Castro.
Seus pais, Armanda e Sebastião Castro em 1956 residiam no Rio de Janeiro, conforme se constata numa nota social do jornal O Albor daquele ano.
Em 15 de julho de 1944, aconteceu a fundação da Paróquia de São José, em Ricardo de Albuquerque, no estado do Rio, sob a gestão de padre Alício Ribeiro e depois Walmor de Castro.
Seus pais, Armanda e Sebastião Castro em 1956 residiam no Rio de Janeiro, conforme se constata numa nota social do jornal O Albor daquele ano.
Em maio de
1960, conforme registra o jornal Correio
da Manhã, do Rio de Janeiro, padre Walmor rezava missa solene na Festa da
Sagrada Família de Nazaré, da Irmandade Nossa Senhora Mãe dos Homens, onde era
capelão.
Em 1964, de
acordo com o jornal O Albor, o já
cônego Walmor Castro era vigário cooperador da Paróquia do Jardim Botânico e
capelão do Hospital dos bancários, no Rio de Janeiro.
Foi cônego na Casa de Saúde Portugal, capelão no Sanatório de Curicica, além da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Terço, e da Ordem Terceira de São Domingos de Gusmão.
Foi também vigário cooperador das paróquias do Realengo, Tijuca, Olaria e Estácio e pároco de Santa Catarina (Central).
Foi cônego na Casa de Saúde Portugal, capelão no Sanatório de Curicica, além da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Terço, e da Ordem Terceira de São Domingos de Gusmão.
Foi também vigário cooperador das paróquias do Realengo, Tijuca, Olaria e Estácio e pároco de Santa Catarina (Central).
Jubileu dos 25 anos em 1964
No dia 4 de março
de 1964, Laguna recebia o padre Walmor de Castro, procedente do Rio de Janeiro.
“Vinha render
louvores a Deus, de coração agradecido pelos seus 25 anos de vida sacerdotal”,
assinala o jornal O Albor, de 7 do
mesmo mês.
A intenção do
padre Castro era de fazer “simples e individualmente, um ato de louvor a Deus,
na mesma igreja em que foi ordenado”.
Mas seus
inúmeros amigos se associaram à comemoração e fizeram rezar uma missa solene,
às 19 horas.
A cerimônia
foi oficiada por Monsenhor Bernardo Peters, vigário geral da Diocese de
Tubarão, e monsenhor Frederico Hobold, vigário geral da Arquidiocese de
Florianópolis, acompanhada pelo Coral Santo Antônio dos Anjos.
Logo após, no
Clube Blondin, amigos do padre Walmor o homenagearam com um jantar. Na ocasião
falou o vigário padre Boleslau Smieleski, saudando o homenageado em nome da paróquia. Também discursou o jornalista e secretário geral da prefeitura José Duarte Freitas que o saudou
em nome da municipalidade, dos amigos e conterrâneos.
Jornalista Zeca Freitas e seu discurso
O jornalista
José Duarte Freitas era o proprietário do jornal Sul do Estado, quando da
Ordenação do padre Walmor Castro lá em 1939. Os dois eram amigos de infância.
Em 1964, 25
anos depois, Zeca Freitas estava à frente da prefeitura da Laguna, como
secretário geral. Não havia ainda a figura do vice-prefeito. Tinha atravessado
várias gestões no cargo. Era um faz-tudo, inclusive na substituição ao prefeito
em caso de vacância do titular por férias ou licenças.
Colaborou
durante muitos anos com crônicas para a Rádio Difusora da Laguna. Seus textos,
de uma primazia ímpar, eram feitos à mesa do Café Tupy, entre uma cerveja e
outra. Eram escritos em qualquer folha de papel, de embrulho ou até mesmo no
verso de pacotes de cigarros. Exercia o típico jornalismo romântico que hoje
não existe mais.
Infelizmente
suas crônicas na emissora não ficaram à posteridade, extraviadas pelo tempo.
Mas o jornal O Albor reproduziu o discurso
de Zeca Freitas no Clube Blondin quando do jantar do jubileu. É um fato raro
porque este semanário comumente não estampava na íntegra os discursos feitos nos acontecimentos
sociais, esportivos e políticos da Laguna.
Então, pela
preciosidade, pela inteligência, pela rica cultura de José Duarte Freitas, o
reproduzo aqui para aqueles que, como eu, apreciam um bom texto.
“Quiseram os lagunenses aqui reunidos para
homenagear um conterrâneo dileto no decurso do 25º aniversário da sua Ordenação
Sacerdotal, que eu interpretasse o sentir geral das classes representativas e
do povo, nesta auspiciosa data.
Não o faço muito desembaraçadamente, nem com os recursos
da cultura e do talento, necessários à honrosa incumbência.
Mas, faço-o com inteira consciência da
responsabilidade, e voltado para as tradições da Laguna, no que elas têm de dignidade,
de heroísmo e de inteligência.
Devo, de início, referir-me à sagrada missão dos
que servem o altar.
Segundo ilustre pensador moderno, por toda a
história da espécie humana, percorre, qual imperceptível, um fio de ouro, que é
a Verdade compreendida pelos grandes espíritos. De outro vulto da
intelectualidade, por sinal nitidamente cético, li que o gênero humano pode ser
dividido em três classes: um pequeno número de seres úteis, um número bem
avantajado de exploradores, e a grande massa amorfa, a se deslocar no cinerama
da vida.
Destas duas definições, nada religiosas, eu tirei
uma conclusão, que me parece acertada: o sacerdote se prende àquele fio de ouro
e se inclui entre os seres úteis. Se exceções existem, a culpa não será do
sacerdócio, mas da fragilidade humana.
Não é de hoje, nem apenas da era cristã, que o sacerdócio
vem dirigindo as sociedades num sentido melhor. Até nas religiões mais
primitivas, quando as hordas tribais se arrastavam no animismo e na adoração
das forças da natureza, já o sacerdócio era, de certa forma exercido, através
da magia e dos conhecimentos astrológicos.
Ao aflorarem no pensamento humano as primeiras
crenças dualistas e redentoristas, que iriam projetar-se no futuro, fundindo-se
numa cristandade universal e perene, o sacerdócio, embora privativo de castas,
continuava na sua órbita moralizadora, saneando os costumes e arejando as
mentalidades.
No Egito, na Índia, na Pérsia, na Mesopotâmia, na
Palestina, as classes sacerdotais, quase sempre circunscritas a algumas
famílias privilegiadas, tentavam preservar a ética, acima das ambições, do ódio
e das conquistas.
Já por aquelas eras, milênios recuados, um povo
nômade e semibárbaro, pejado de sexo e de insatisfações, vinha carregando a
responsabilidade imensa da predestinação divina, depositário que era da semente
da Redenção.
Faltava-lhes, entretanto, algo insubstituível, uma
essência de âmbito mais amplo e mais acendrado, que eles aspiravam
ardentemente, profetizavam com veemência, e, não raro, temiam arrasadoramente:
a encarnação do Verbo, que estava na palavra dos seus pregadores e na própria
consciência da raça eleita.
Veio, então, o Filho de Deus feito homem, o
primeiro, o único, Sacerdote ungido pelo Criador Todo Poderoso.
Na continuidade dos apóstolos e de seus
sucessores, todos sacerdotes, a crença nova foi se propagando. Vencendo distâncias,
superando obstáculos, contornando dificuldades, evoluindo nos tempos, a
doutrina sublime atingiu as nossas plagas e os nossos dias, sempre aureolada
pela dedicação apostolar de seus ministros.
Foi uma longa e árdua trajetória, registrada nos
fastos da renúncia, do pacifismo, da humildade, do amor ao próximo, do perdão
das injúrias, do martírio, da santidade, e da cultura civilizadora. No decorrer
de quase dois mil anos de doutrinação do Evangelho de Cristo, os sacerdotes de
Deus Criador, não somente implantaram a Fé redentora no mundo, como também
estiveram presentes em todos os grandes eventos da humanidade.
Seria por demais demorado, inoportuno mesmo,
discorrer sobre a participação desprendida e heroica desses homens de fé, de
princípios e de boa vontade.
Basta-nos mencionar que, na conturbada hora
presente, quando a estrutura social da nossa civilização, todos os fundamentos
éticos que embasam nossas convicções honestas e cristãs, veem-se ameaçados pela
investida insensata das forças da negação e da odiosidade, ainda é a Igreja
Católica Apostólica Romana a única força moral e espiritual capaz de suster
impertérrita e intangível, a famigerada onda materialista, cujos corifeus,
indígenas ou internacionais, sabem muito bem disto.
Padre Walmor:
A unção que recebestes, no dia 5 de março de 1939,
é a mesma de agora, porque sois sacerdote para todo o sempre.
Laguna festeja vosso Jubileu Sacerdotal de prata,
numa reverente homenagem a um dos seus filhos, integrante desse valoroso
exército da Fé.
Há uma emoção natural em todos nós, muito
especialmente daqueles, como eu, que vos conheceram desde a infância, que
tiveram sólidas ligações de amizade com vossa distinta família, que
acompanharam o desenvolver da vossa vocação e de vossos estudos, que assistiram
as solenidades da vossa ordenação há 25 anos, na nossa vetusta igreja matriz,
engalanada como hoje, na Missa Solene, que vimos de assistir.
Represento, neste instante, também o chefe do
Executivo lagunense, que me pediu vos transmitiste suas felicitações.
Em nome dos vossos amigos, cuja solidariedade se demonstra
na esplêndida acorrência a este ágape, abraço-vos cordialmente, assegurando-vos
prolongados anos de útil existência, na carreira dignificante que escolhestes”.
Falecimento
Padre Walmor
Martins de Castro faleceu no Rio de Janeiro, aos 65 anos, em 16 de julho de
1979, município que o homenageou com nome de uma rua, assim também como o fizeram
Florianópolis e Laguna. Em nossa cidade o nome da via, que fica localizada no
bairro Esperança, foi através da Lei nº 05/1980, de 17 de março de 1980, na gestão
do prefeito Mário José Remor/João Gualberto Pereira.
Conforme obituário publicado no Jornal do Brasil de 18 de julho de 1979, foi sepultado no Cemitério São João Batista, depois de missa de corpo presente celebrada pelo bispo-auxiliar Dom Carlos Alberto Navarro e mais onze padres, entre os quais o representante do arcebispo de Florianópolis, Dom Afonso Nihues. O cardeal Eugênio Sales compareceu ao velório.
Conforme obituário publicado no Jornal do Brasil de 18 de julho de 1979, foi sepultado no Cemitério São João Batista, depois de missa de corpo presente celebrada pelo bispo-auxiliar Dom Carlos Alberto Navarro e mais onze padres, entre os quais o representante do arcebispo de Florianópolis, Dom Afonso Nihues. O cardeal Eugênio Sales compareceu ao velório.
Mais uma página da Laguna, um personagem, que eu sinceramente desconhecia, Valmir. Parabéns.
ResponderExcluirGeraldo de Jesus