quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Quem foi o padre lagunense Walmor de Castro

Em 16 de março de 1914, nascia na Laguna Walmor Martins de Castro, filho de Salomão André de Castro e Armanda Martins de Castro.
Cursou o primário no Colégio Stella Maris e com apenas 13 anos, em 1927, entrou para o Seminário Nossa Senhora de Lourdes em Brusque (criado naquele ano), onde cursou seus primeiros anos de formação sob orientação de Dom Jaime Câmara, então padre e reitor daquele Seminário.
Padre Walmor Martins de Castro. Foto: Arquivo Marega.
Em 7 de fevereiro de 1934 recebeu a batina das mãos de Dom Joaquim Domingues de Oliveira. Em dezembro deste mesmo ano terminou seus curso de filosofia, data em que também recebeu a tonsura, cerimônia religiosa em que o bispo dá um corte no cabelo do ordinando, ao conferir-lhe o primeiro grau de Ordem no clero.
No ano seguinte, em 13 de maio, seguiu para o Seminário Central de São Leopoldo (RS), visando se iniciar nos estudos de teologia, terminando-o no Seminário Central de Ipiranga, em São Paulo.
Finalizado os estudos, recebeu as ordens de Subdiaconato a 11 de dezembro de 1938 e a de Diaconato em 17 de dezembro do mesmo ano.
Em 1939, em 5 de março, recebeu as ordens de sub-presbítero, rezando sua primeira missa na manhã do dia seguinte, na Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna.

A Ordenação e primeira Missa
A Ordenação do padre Walmor de Castro se deu em 5 de março de 1939, um domingo.
A cerimônia aconteceu às 9h30min na igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos, com missa solene celebrada por Dom Joaquim Domingues de Oliveira, Arcebispo Metropolitano de Florianópolis.
A igreja estava lotada de fieis, além de inúmeros convidados, amigos e autoridades locais.
Após a missa, defronte à Casa Paroquial, foi promovida uma manifestação de saudação ao Arcebispo.
Usou da palavra Vinicius Colaço de Oliveira (advogado, filho do também advogado João de Oliveira), diretor do jornal Correio do Sul. Foi também orador Antônio Nunes Varela, que “(...) em belas palavras homenageou o padre Walmor de Castro”.
Logo após, às 14 horas, um almoço para cerca de 40 pessoas no prédio São Vicente de Paulo (Vicentinos), com a presença, entre outros, do Arcebispo Dom Joaquim, prefeito Giocondo Tasso, monsenhor Francisco Giesbert, monsenhor Trombock, frei Evaristo Schurmann, padre Bernardo Philippi, então vigário da Paróquia da Laguna, padre Antônio Marangoni, coadjutor da Paróquia de nossa cidade, padre Roberto Wirobeck, frei Norberto, padres José Poggel, Luiz Cordiolli e César Rossi, Vinicius Colaço de Oliveira, Antônio Nunes Varella, comandante João Moreira (comandante Moreira), subdiáconos Augusto Zucco e Wilson Schmidt, Olavo Magalhães, João Guimarães Cabral, minoristas Loccks e Hobold, Antônio Tomé de Oliveira, Claudino Rocha, Salomão Castro (progenitor do padre Walmor Castro), Manoel José Machado, Francisco Pestana, Alexandre Pagani, Carlos Emmendoerfer, José Espíndola, Taciano Barreto e Waldomiro Leite.

Transcrevo acima todos esses nomes, copiados da matéria do jornal O Albor, porque muitos leitores aqui do Blog às vezes buscam nos textos aqui publicados o encontro escrito e histórico com muitos de seus antepassados.

Após a Ave Maria
Fim de tarde, começo da noite, após a benção da Ave Maria na igreja Matriz, o padre Walmor Castro foi acompanhado por considerável público até a residência de seus pais, na Praça Conselheiro Mafra (atual República Juliana. É a casa onde há pouco tempo funcionou o Café Garibaldi, ao lado do prédio, hoje em ruínas, onde existiu a fábrica de móveis de Antônio Teixeira). Acompanharam a comitiva as Bandas musicais da cidade, União dos Artistas e Carlos Gomes.
E diz o jornal Sul do Estado de 12 de março de 1939, do jornalista José (Zeca) Duarte Freitas:
“Chegando à residência, falou em nome do povo lagunense o sr. Manoel José Machado, oferecendo ao padre Walmor um missal como lembrança de sua ordenação.
Mas foram outros inúmeros presentes recebidos, conforme registra O Albor, cheio de adjetivos para eles:
“Uma estola, oferecida pela senhorita Odete Pinho, como lembrança de sua irmã Mariela Pinho Magalhães, madrinha do homenageado; um bem confeccionado jogo de objetos de madeira para escritório, oferecido por Eduardo Silva; paramentos sacerdotais, oferta dos parentes do sacerdote, Belinha, Belica e Emilia Cabreira; uma belíssima alva, oferta de sua irmã Nair Castro Carneiro; um mimoso porta relíquia, oferta de Enedina Moreira Netto; duas caixas com toalhas, oferecidas pelas irmãs do Hospital e Colégio Stella Maris; uma preciosa imagem do Coração de Maria, luminosa, para mesa de cabeceira, dádiva de Taciano Barreto; um utilíssimo livro de "Cartas do Padre Anchieta” e um roupão de banho, ofertados por Carmem Castro. Além de ofertas monetárias de João Rodrigues Moreira (o comandante Moreira), Pedro Castro, Samuel Castro, Hermínio Faísca e Antonina Martins Castro”.

Usaram ainda da palavra os srs. Júlio Barreto e padre Bernardo Philippi, tendo agradecido o homenageado.
Logo após, “foi servida a todos que o foram cumprimentar, uma lauta mesa de doces e bebidas, tendo, por fim, usado da palavra o nosso distinto conterrâneo Mário Cabral que foi muito aplaudido”.

Trajetória
Após sua ordenação na Laguna em 1939, o padre Walmor Castro assumiu a Paróquia de Itajaí.
De acordo com o padre José Artulino Bensen em seu Blog, em 11 de novembro de 1940 o padre João Dominoni, de Cocal, escreveu ao vigário geral comunicando que o padre Luiz Gilli, vigário de Urussanga, estava doente, solicitando um coadjutor para as capelas daquela paróquia. No ano seguinte, 1941, foi nomeado o padre Walmor Castro, transferido de Itajaí. 
O grande empecilho foi o idioma, o italiano, falado por muitos fiéis das comunidades da região, e pelos próprios padres, como  Gilli e Miguel Giacca, de Nova Veneza, que pregavam nessa língua, em plena 2ª Guerra Mundial, com toda a animosidade reinante, o que provocou certos desentendimentos. 
Depois, padre Castro foi coadjutor em São Bonifácio, atendendo Teresópolis e Anitápolis. Mais uma vez o idioma estrangeiro atrapalhou, já que não aceitava a confissão em alemão.
Ainda conforme o padre Bensen, padre Walmor Castro “foi para o Rio de Janeiro em início de 1945. Lá era arcebispo e cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, seu ex-reitor no Seminário de Azambuja”.
Em 15 de julho de 1944, aconteceu a fundação da Paróquia de São José, em Ricardo de Albuquerque, no estado do Rio, sob a gestão de padre Alício Ribeiro e depois Walmor de Castro.
Seus pais, Armanda e Sebastião Castro em 1956 residiam no Rio de Janeiro, conforme se constata numa nota social do jornal O Albor daquele ano.
Em maio de 1960, conforme registra o jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, padre Walmor rezava missa solene na Festa da Sagrada Família de Nazaré, da Irmandade Nossa Senhora Mãe dos Homens, onde era capelão.
Em 1964, de acordo com o jornal O Albor, o já cônego Walmor Castro era vigário cooperador da Paróquia do Jardim Botânico e capelão do Hospital dos bancários, no Rio de Janeiro.
Foi cônego na Casa de Saúde Portugal, capelão no Sanatório de Curicica, além da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Terço, e da Ordem Terceira de São Domingos de Gusmão.
Foi também vigário cooperador das paróquias do Realengo, Tijuca, Olaria e Estácio e pároco de Santa Catarina (Central).

Jubileu dos 25 anos em 1964
No dia 4 de março de 1964, Laguna recebia o padre Walmor de Castro, procedente do Rio de Janeiro.
“Vinha render louvores a Deus, de coração agradecido pelos seus 25 anos de vida sacerdotal”, assinala o jornal O Albor, de 7 do mesmo mês.
A intenção do padre Castro era de fazer “simples e individualmente, um ato de louvor a Deus, na mesma igreja em que foi ordenado”.
Mas seus inúmeros amigos se associaram à comemoração e fizeram rezar uma missa solene, às 19 horas.
A cerimônia foi oficiada por Monsenhor Bernardo Peters, vigário geral da Diocese de Tubarão, e monsenhor Frederico Hobold, vigário geral da Arquidiocese de Florianópolis, acompanhada pelo Coral Santo Antônio dos Anjos.
Logo após, no Clube Blondin, amigos do padre Walmor o homenagearam com um jantar. Na ocasião falou o vigário padre Boleslau Smieleski, saudando o homenageado em nome da paróquia. Também discursou o jornalista e secretário geral da prefeitura José Duarte Freitas que o saudou em nome da municipalidade, dos amigos e conterrâneos.  

Jornalista Zeca Freitas e seu discurso
O jornalista José Duarte Freitas era o proprietário do jornal Sul do Estado, quando da Ordenação do padre Walmor Castro lá em 1939. Os dois eram amigos de infância.
Em 1964, 25 anos depois, Zeca Freitas estava à frente da prefeitura da Laguna, como secretário geral. Não havia ainda a figura do vice-prefeito. Tinha atravessado várias gestões no cargo. Era um faz-tudo, inclusive na substituição ao prefeito em caso de vacância do titular por férias ou licenças.
Colaborou durante muitos anos com crônicas para a Rádio Difusora da Laguna. Seus textos, de uma primazia ímpar, eram feitos à mesa do Café Tupy, entre uma cerveja e outra. Eram escritos em qualquer folha de papel, de embrulho ou até mesmo no verso de pacotes de cigarros. Exercia o típico jornalismo romântico que hoje não existe mais.
Infelizmente suas crônicas na emissora não ficaram à posteridade, extraviadas pelo tempo. Mas o jornal O Albor reproduziu o discurso de Zeca Freitas no Clube Blondin quando do jantar do jubileu. É um fato raro porque este semanário comumente não estampava na íntegra os discursos feitos nos acontecimentos sociais, esportivos e políticos da Laguna.
Então, pela preciosidade, pela inteligência, pela rica cultura de José Duarte Freitas, o reproduzo aqui para aqueles que, como eu, apreciam um bom texto.

“Quiseram os lagunenses aqui reunidos para homenagear um conterrâneo dileto no decurso do 25º aniversário da sua Ordenação Sacerdotal, que eu interpretasse o sentir geral das classes representativas e do povo, nesta auspiciosa data.
Não o faço muito desembaraçadamente, nem com os recursos da cultura e do talento, necessários à honrosa incumbência.
Mas, faço-o com inteira consciência da responsabilidade, e voltado para as tradições da Laguna, no que elas têm de dignidade, de heroísmo e de inteligência.
Devo, de início, referir-me à sagrada missão dos que servem o altar.
Segundo ilustre pensador moderno, por toda a história da espécie humana, percorre, qual imperceptível, um fio de ouro, que é a Verdade compreendida pelos grandes espíritos. De outro vulto da intelectualidade, por sinal nitidamente cético, li que o gênero humano pode ser dividido em três classes: um pequeno número de seres úteis, um número bem avantajado de exploradores, e a grande massa amorfa, a se deslocar no cinerama da vida.
Destas duas definições, nada religiosas, eu tirei uma conclusão, que me parece acertada: o sacerdote se prende àquele fio de ouro e se inclui entre os seres úteis. Se exceções existem, a culpa não será do sacerdócio, mas da fragilidade humana.
Não é de hoje, nem apenas da era cristã, que o sacerdócio vem dirigindo as sociedades num sentido melhor. Até nas religiões mais primitivas, quando as hordas tribais se arrastavam no animismo e na adoração das forças da natureza, já o sacerdócio era, de certa forma exercido, através da magia e dos conhecimentos astrológicos.
Ao aflorarem no pensamento humano as primeiras crenças dualistas e redentoristas, que iriam projetar-se no futuro, fundindo-se numa cristandade universal e perene, o sacerdócio, embora privativo de castas, continuava na sua órbita moralizadora, saneando os costumes e arejando as mentalidades.
No Egito, na Índia, na Pérsia, na Mesopotâmia, na Palestina, as classes sacerdotais, quase sempre circunscritas a algumas famílias privilegiadas, tentavam preservar a ética, acima das ambições, do ódio e das conquistas.
Já por aquelas eras, milênios recuados, um povo nômade e semibárbaro, pejado de sexo e de insatisfações, vinha carregando a responsabilidade imensa da predestinação divina, depositário que era da semente da Redenção.
Faltava-lhes, entretanto, algo insubstituível, uma essência de âmbito mais amplo e mais acendrado, que eles aspiravam ardentemente, profetizavam com veemência, e, não raro, temiam arrasadoramente: a encarnação do Verbo, que estava na palavra dos seus pregadores e na própria consciência da raça eleita.
Veio, então, o Filho de Deus feito homem, o primeiro, o único, Sacerdote ungido pelo Criador Todo Poderoso.
Na continuidade dos apóstolos e de seus sucessores, todos sacerdotes, a crença nova foi se propagando. Vencendo distâncias, superando obstáculos, contornando dificuldades, evoluindo nos tempos, a doutrina sublime atingiu as nossas plagas e os nossos dias, sempre aureolada pela dedicação apostolar de seus ministros.
Foi uma longa e árdua trajetória, registrada nos fastos da renúncia, do pacifismo, da humildade, do amor ao próximo, do perdão das injúrias, do martírio, da santidade, e da cultura civilizadora. No decorrer de quase dois mil anos de doutrinação do Evangelho de Cristo, os sacerdotes de Deus Criador, não somente implantaram a Fé redentora no mundo, como também estiveram presentes em todos os grandes eventos da humanidade.
Seria por demais demorado, inoportuno mesmo, discorrer sobre a participação desprendida e heroica desses homens de fé, de princípios e de boa vontade.
Basta-nos mencionar que, na conturbada hora presente, quando a estrutura social da nossa civilização, todos os fundamentos éticos que embasam nossas convicções honestas e cristãs, veem-se ameaçados pela investida insensata das forças da negação e da odiosidade, ainda é a Igreja Católica Apostólica Romana a única força moral e espiritual capaz de suster impertérrita e intangível, a famigerada onda materialista, cujos corifeus, indígenas ou internacionais, sabem muito bem disto.

Padre Walmor:
A unção que recebestes, no dia 5 de março de 1939, é a mesma de agora, porque sois sacerdote para todo o sempre.
Laguna festeja vosso Jubileu Sacerdotal de prata, numa reverente homenagem a um dos seus filhos, integrante desse valoroso exército da Fé.
Há uma emoção natural em todos nós, muito especialmente daqueles, como eu, que vos conheceram desde a infância, que tiveram sólidas ligações de amizade com vossa distinta família, que acompanharam o desenvolver da vossa vocação e de vossos estudos, que assistiram as solenidades da vossa ordenação há 25 anos, na nossa vetusta igreja matriz, engalanada como hoje, na Missa Solene, que vimos de assistir.
Represento, neste instante, também o chefe do Executivo lagunense, que me pediu vos transmitiste suas felicitações.
Em nome dos vossos amigos, cuja solidariedade se demonstra na esplêndida acorrência a este ágape, abraço-vos cordialmente, assegurando-vos prolongados anos de útil existência, na carreira dignificante que escolhestes”.

Falecimento
Padre Walmor Martins de Castro faleceu no Rio de Janeiro, aos 65 anos, em 16 de julho de 1979, município que o homenageou com nome de uma rua, assim também como o fizeram Florianópolis e Laguna. Em nossa cidade o nome da via, que fica localizada no bairro Esperança, foi através da Lei nº 05/1980, de 17 de março de 1980, na gestão do prefeito Mário José Remor/João Gualberto Pereira.
Conforme obituário publicado no Jornal do Brasil de 18 de julho de 1979, foi sepultado no Cemitério São João Batista, depois de missa de corpo presente celebrada pelo bispo-auxiliar Dom Carlos Alberto Navarro e mais onze padres, entre os quais o representante do arcebispo de Florianópolis, Dom Afonso Nihues. O cardeal Eugênio Sales compareceu ao velório.

Um comentário:

  1. Mais uma página da Laguna, um personagem, que eu sinceramente desconhecia, Valmir. Parabéns.
    Geraldo de Jesus

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