Laguna tem um centro histórico tombado
pelo patrimônio histórico nacional em 1985, com cerca de 600 prédios
registrados com diferentes tendências arquitetônicas. Os casarios estão
espalhados pelas tricentenárias ruas. Edificações construídas a partir do
século XVIII.
Com seus 343 anos, Laguna é um livro
de histórias a céu aberto. E essas histórias podem ser encontradas nos vários
pontos turísticos da cidade. Grande parte pode ser conhecida a pé, desfrutando
das belezas e cultura da cidade. É o caso da Fonte da Carioca.
Carioca na língua tupi-guarani
significa casa branca ou oca.
É uma fonte d’água das mais antigas,
já utilizada pelos povos indígenas e posteriormente pelos fundadores da
povoação, Domingos de Brito Peixoto e seus filhos Francisco de Brito Peixoto e
Sebastião de Brito Guerra, quando aqui chegaram em 1676. Aliás, água doce abundante
foi um dos grandes motivos pela escolha desta região para seu povoamento.
´Foto: Elvis Palma |
Tombamentos
A
edificação da Carioca em arquitetura portuguesa, construída por escravos em
1863, foi ampliada em 1906 e restaurada em 1990. Em 2010 foi revitalizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan.
Em 1977, a
Carioca, juntamente com outros prédios de valor artístico, cultural, histórico
e paisagístico da Laguna, foi tombada pela Lei Municipal nº 34/77, de 03/11/77,
assinada pelo prefeito Mário José Remor.
Em 1985, o
prédio da Carioca e seu entorno, foi incluído na linha poligonal que tombou
pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional cerca de 600 edificações do Centro da cidade.
A Fonte da Carioca em 1910; Arquivo Marega. |
Em novembro
de 2018, a Carioca foi fechada por alguns dias para manutenção, uma forma
preventiva para continuar oferecendo água de graça ao povo.
No dia a
dia é cena comum pessoas com seus vasilhames carregando o precioso líquido.
Os aguadeiros e suas carroças-pipas. Arquivo Marega. |
Há algumas décadas, carroceiros (os
aguadeiros) conduziam suas carroças-pipas e entregavam o líquido em domicílios,
de porta em porta.
A Carioca fornece
à população e aos turistas em geral, água mineral. A nascente, no alto do
morro, é protegida e seus tanques, revestidos de mármore carrara, deixam a água
fresca, gelada e saborosa.
Uma
instalação hidráulica com motor liga a vertente da água subterrânea até as
torneiras, passando por canos de inox.
A fonte
produz perto de 2 milhões de litros de água potável mineral por mês, comprovada
pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Em novembro de 2018, técnicos da Casan
entregaram ao município, um laudo atestando a potabilidade da água da Carioca.
Resultados dos exames mostraram que os números estão dentro do que preconiza a
portaria nº 2.914, do Ministério da Saúde.
A água da fonte foi por muito tempo canalizada para prédios públicos e também para uma fonte ao lado do antigo
Mercado Público. O excesso dessa água era utilizada por lavadeiras no córrego
que descia pela rua Tenente Bessa, então um campo desabitado.
Com o passar dos anos e mais
atualmente, a Carioca tornou-se um dos pontos turísticos da cidade, levando a
fama de fonte dos namorados. O motivo são os encontros e as idas e vindas de
famílias até o local, oportunidade para trocas de olhares e entabular as
primeiras conversas.
Há um ditado que atravessa gerações que reza: quem bebe d’água da Carioca sempre retorna à Laguna.
O local é característico de mata
atlântica, com variado tipos de faunas e floras, que moldam o ambiente.
Chafariz do
Mercado Público
No lado
Norte da cidade, bem ao lado do antigo Mercado Público. (inaugurado em 1897), existiu um pequeno chafariz,
utilizado como bebedouro pela população, cujas águas também alimentavam as
embarcações que atracavam no porto e para consumo do próprio Mercado. O líquido
vinha (e vem) em declive da Fonte da Carioca, através de uma galeria
subterrânea feita em pedras.
O chafariz no lado norte do Mercado, após seu incêndio em 1939, bem defronte à rua Tenente Bessa. Ao fundo a Casa Brasil, de Zeferino Duarte. |
O sempre
citado Saul Ulysséa, em seu livro “Laguna de 1880”, na página 93,
com o título “Aguada”, diz:
“Como não
havia chafariz na praia (Rua da Praia, hoje rua Gustavo Richard) e para evitar
despesas com carroças, a aguada para os navios era feita em pipas conduzidas
pelos marinheiros; pipas pintadas de branco com arcos de cores vivas,
principalmente encarnada, que eles enchiam na carioca e rolavam pelas ruas até
os trapiches.
Já naquela
época falavam na construção de um chafariz na praia, a fim de servir não
somente aos navios, como as canoas e aos moradores das proximidades.
Falavam mas
jamais os deputados por Laguna conseguiram da Assembleia Provincial o conto de
réis, por quanto estava orçada a obra. Todo o dinheiro arrecadado era recolhido
à Tesouraria em Desterro, seguindo para o Tesouro Geral.
A Assembleia
Provincial não dispunha tão facilmente dos dinheiros públicos. Só foi construído o chafariz nos primeiros anos do governo republicano”.
Galeria
subterrânea
Por conta
das obras de instalação das tubulações de esgoto sanitário realizadas no ano de
2015 em nossa cidade, descobriu-se na confluência da rua Raulino Horn e Tenente
Bessa, parte dessa galeria onde ainda escoam as águas excedentes da Carioca,
infelizmente com ligações clandestinas de esgoto domiciliar ao longo de seus
oitocentos metros.
A galeria subterrânea construída em pedra que vem da Carioca até o cais. Fotos: Elvis Palma |
Com a
declaração de Saul Ulysséa, a de que o chafariz ao lado do Mercado Público só
foi construído “nos primeiros anos do governo republicano”, cai por terra a
afirmação de alguns arqueólogos e “historiadores” por aí, de que a galeria
subterrânea teria sido realizada por escravos.
A Abolição
da Escravatura aconteceu em 1888; o primeiro Mercado Público da Laguna é de
1897, nove anos depois e oito após o advento da República (1889).
É razoável e
aceitável que a galeria tenha sido construída concomitantemente (ou logo em
seguida) ao Mercado e seu chafariz, logicamente visando atendê-los.
O mesmo
Ulysséa em sua já mencionada obra, página 54, tópico "Largo da
Carioca", escreve de suas lembranças da Laguna de 1880:
“Atravessava
todo o largo, uma vala que servia de escoamento das águas do morro e das sobras
do chafariz (Carioca).
Por toda a
vala, muitas fontes de lavagem de roupas que eram estendidas no pasto ao lado.
Grande parte do campo era tomada de guaxima”.
Vala não é
galeria, convenhamos. A galeria, dizem os mais antigos, segue pela rua Tenente
Bessa, mas faz uma leve curva passando nos terrenos dos então denominados Grupo
Escolar Jerônimo Coelho (inaugurado em 1911) e o Posto de Saúde da Laguna,
inaugurado em 1940.
Excelente matéria, Valmir, material didático pra nossos alunos e escolas. Com dados e datas. Parabéns . Geraldo de Jesus
ResponderExcluirEssas matérias reunidas dariam um novo livro. Que tal?
ResponderExcluirEdison de Andrade
Valmir conta-se com a construcao do Jeronimo Coelho e o cais do porto pelo meu bisavo Arcangelo Bianchini foi canalizada a agua da Carioca. Me falaram que existe mais duad canalizacoes por baixo de ruas do centro. Vale apena pesquisar.
ResponderExcluir