segunda-feira, 8 de junho de 2015

Quem foram os primeiros motoristas de automóveis na Laguna

Há algum tempo, pesquisando documentos no Arquivo Público (Casa Candemil) de nossa cidade, me deparei com um Livro de Registros da Prefeitura da Laguna. Na capa-dura na cor preta, os dizeres “Para Termos de Suficiência – Exame de Condutores da Laguna 1933”.

A publicação estava empoeirada, meio comida pelas traças em suas beiradas. Traz os registros oficiais dos primeiros motoristas da Laguna, de carroças e automóveis. E melhor: com fotos ¾ de todos eles. Uma preciosidade para qualquer pesquisador/historiador.
O Livro, e único exemplar que encontrei, abrange os anos de 1933, administração do prefeito Giocondo Tasso, a 1956, já dirigindo o Paço Municipal o prefeito Walmor de Oliveira.

Para melhor entendimento dos nossos leitores, antigamente era a prefeitura quem organizava e realizava os exames de direção, contratando os examinadores e expedindo a Carteira de Habilitação.

Pelas anotações fica-se sabendo que o primeiro a se registrar, em 25 de maio de 1933, foi Oscar Bergler, 28 anos, Carteira nº 1, sendo seu exame de habilitação prestado em Tubarão alguns anos antes, em 1923. Testemunhas do registro? Dr. Paulo Carneiro e Mário Bianchini. 

Assinam ainda o documento o secretário da prefeitura José (Zeca) Freitas e o então prefeito-provisório Giocondo Tasso.

O primeiro motorista de automóvel/caminhão na Laguna foi Willy Strak, mas sua carteira foi registrada no município de Brusque.
Em 13 janeiro de 1915, conforme registro do Jornal O Albor, chegava a nossa cidade, no convés do vapor Anna, o primeiro automóvel da Laguna, de propriedade de Júlio Bergler. "Está de hoje em diante à disposição do público", conforme noticiou o periódico, registrando a grande atração. Como o proprietário não dirigia automóvel, quem tomou a boleia do veículo foi Willy Strak, que por sinal foi também motorista do primeiro caminhão pertencente a Jacinto Tasso.

Willy Strak na direção do Ford T, 1915, pertencente a Júlio Berger.
Primeiro automóvel da Laguna. Acervo: Marega
1º caminhão da Laguna. Um Ford 1915 pertencente a Jacinto Tasso.
 Na direção, Willy Strak. Acervo: Marega.


E quem terá sido o primeiro carroceiro cadastrado?

Lá está, para todo o sempre: Celestino dos Santos, 31 anos, casado, analfabeto, filho de João Maria dos Santos. Celestino recebeu a Carteira nº 2. Quem assina a rogo é Júlio Marcondes. Testemunhas Oscar Bergler e Hilarião Pacheco. O exame foi prestado bem antes, em 7 de julho de 1923, na delegacia de Polícia, conforme caderneta apresentada.

Os pioneiros chauffeurs da Laguna
E assim transcorre o Livro, página a página, enumerando os nossos pioneiros chauffeurs de automóveis e carroças, ainda grafando este termo em francês como então em uso.
Dr. Paulo Carneiro, Carteira nº 3; Mário Bianchini, Carteira nº 4; Pedro Rocha, Carteira nº 8 (de quem falaremos mais tarde); Dr. Aurélio Rótulo, Carteira nº 13; Humberto Zanela, nº 17; Francisco Fernandes Pinho, nº 19; Mário Remor, nº 30. E por aí vai.
Dos mais antigos e conhecidos motoristas da nossa Laguna, destacam-se Vitório Paladini, Carteira nº 57, motorista (ou chauffeur de praça, como queiram) durante décadas; e João (Salame) Juvêncio Martins, que depois foi instrutor de gerações de alunos, com a Carteira nº 63.

E quem terá sido a primeira mulher a tirar carteira na Laguna?

Lá está registrado. A pioneira a aventurar-se sobre quatro rodas chamava-se Córa Magalhães Rocha, nascida lagunense em 1907, filha de Luíza Rollin Magalhães e Eugênio Magalhães.
Casada em 4 de julho de 1925 com Pedro Rocha, comerciante na Laguna. 
Córa fez os exames de direção, foi aprovada pelo perito examinador José Bergler. Recebeu a Carteira de Habilitação de nº 103, em 16/09/37, portanto aos 30 anos de idade, documento assinado pelo prefeito Giocondo Tasso. (O marido de Córa, Pedro Rocha, possuía a carteira de nº 8, como já informei).

Até 1956, último ano dos Registros que constam no Livro, Córa Magalhães Rocha foi a única mulher autorizada a dirigir automóvel na Laguna.
Córa Magalhães Rocha, aos 30 anos.
Pelas minhas pesquisas complementares, soube que era uma mulher decidida, de opinião, além de bonita, e que pelo seu pioneirismo, certamente enfrentou mitos e preconceitos. Afinal, à época, mulheres viviam para o lar, não comandavam negócios nem tinham o peso social que só vão começar a adquirir em meados do século XX. O voto feminino no Brasil, por exemplo, só foi assegurado em 24 de fevereiro de 1932, quando as mulheres adquiriram o direito de votar e ser votadas para o Executivo e Legislativo. E mesmo assim parcialmente. Somente as casadas, as com autorização dos maridos, as viúvas, e as solteiras que tivessem renda própria.

Em 10 de março de 1937 (portanto seis meses antes de obter sua carteira)
 Córa Magalhães Rocha, a filha Adail, o marido Pedro Rocha (atrás) e o cunhado
 Lincoln Magalhães, posam com um Ford T. Acervo: Marega.
Córa morou numa casa (onde hoje é um Bar/Café desativado) na então chamada Praça da Bandeira (atual República Juliana), teve três filhas (Adail, Maria Luíza e Abgail) e depois se mudou para o Rio de Janeiro. Anos após voltou a morar em nossa cidade, na segunda casa da rua Ângelo Novi (ao lado do Clube Blondin) depois retornando ao Rio de Janeiro. Posteriormente, viúva, retornou à Laguna, residindo no casa de dois andares onde funcionou o consultório do dr. Carpes, na rua Tenente Bessa. Faleceu no Rio de Janeiro aos 102 anos. Foi também até hoje, a única pessoa por quatro vezes Festeira de Santo Antônio dos Anjos.

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Curiosidades sobre automóveis e motoristas

A primeira mulher a dirigir um carro  no mundo foi a alemã Berta Benz em 5 de agosto de 1888, esposa de Karl Benz, fundador de uma montadora de carros alemã, a Mercedes-Benz.
Era um Benz Patent-Motorwagen, primeiro modelo de automóvel da História o “veículo com motor a gás” foi patenteado em 29 de janeiro de 1886. O primeiro exemplar do Benz Patent-Motorwagen, de 1886, hoje está no Deutsches Museum, em Munique. Berta Benz dirigiu o terceiro exemplar produzido.

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A primeira mulher a conseguir uma carteira de motorista foi a francesa e Duquesa d’ Uzès, no ano de 1899. Dois meses depois ela foi aos tribunais responder por excesso de velocidade. A velocidade máxima era de 12km/h e ela dirigiu o automóvel a 15 km/h. Nem imagino como foi medido essa diferença.

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O primeiro automóvel desembarcou em terras brasileiras em novembro de 1891. Um modelo Peugeot, movido a gasolina, dois cilindros em V, 3,5 cv de potência máxima, pertencente a Alberto Santo Dumont, que retornava da França com a família.

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As primeiras mulheres a ter habilitação para dirigir no Brasil foram Maria José Pereira Barbosa Lima, viúva do jornalista Alexandre Barbosa Lima Sobrinho; e Rosa Helena Schorling, que aprendeu a dirigir aos 12 anos, no automóvel de seu pai, um Opel 1895, com direção do lado direito e câmbio e freio do lado de fora.

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Otília Garofallis Fialho, nascida a 9 de novembro de 1910, foi a primeira mulher a tirar carteira de motorista na Capital catarinense, e exibiu seu feito em alto estilo, em 1928, cruzando a ponte Hercílio Luz., que havia sido inaugurada dois anos antes. Só abandonou o volante aos 90 anos, por causa da visão prejudicada.

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Ford T
Em 1903, Henry Ford, com 40 anos de idade e mais 11 investidores, funda sua empresa, a Ford Motor Company e revoluciona a fabricação de automóveis, com sua montagem em série. 
Em 1 de outubro de 1908 foi apresentado o primeiro modelo Ford T. Como inovação o volante no lado esquerdo. Carro simples de dirigir e manutenção barata. Por volta de 1918, metade dos carros da América do Norte era desse modelo.

5 comentários:

  1. Reportagem digna de se guardar para a posteridade. Aliás
    , o GRANDE Valmir vai sempre atras de fatos que marcaram época na nossa Laguna e Estado.Cumprimentos, amigo. - Carlos Araujo Horn

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  2. Simplesmente SENSACIONAL ....e com todas as letras maiúsculas .....fantástica a matéria ...Parabens Valmir ....
    Paulo Cereja

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  3. Bom dia!
    Muito bom os "informes"! Que tal uma próxima sobre televisão?
    Sim. Não sei ao certo, mas poucas pessoas dispunham dessa "diversão" em seus lares na década de 60...Eu tenho histórias pra contar também... Parabéns!

    Abraços!
    Fatima Martins

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  4. Isso é uma relíquia, que deveria ser guardada à sete chaves. História da nossa Laguna e dos Lagunenses. Imperdível e maravilhosa descoberta do nosso amigo Valmir Guedes. Parabéns ! Nosso abraço.

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  5. Que achado magnífico!
    Parabéns!

    Mariély Orlandi M. Serafim

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