Um poema
escrito por uma mulher na Laguna em 13 de junho de 1880, Dia consagrado a Santo Antônio,
homenageia o seu marido, exalta suas virtudes e demonstra seu
profundo e fecundo amor.
Foi por acaso. Estava eu ano passado mergulhado
em algumas pesquisas em antigos documentos e jornais da Laguna, depositados em
nosso Arquivo Público – Casa Candemil, quando tive minha atenção despertada
para um pequeno livreto nas estantes, entre outras publicações.
De capa de veludo, costurado e bordado à mão, inclusive
com as iniciais de seu marido (APCC), trazia uma dedicatória e um pequeno escrito em bonita letra.
Logo percebi tratar-se de uma preciosidade. O fotografei e o devolvi às prateleiras.
Um poema, em quatorze estrofes, escrito em 13
de junho de 1880 pela senhora Maria Isabel Arantes Carneiro e dedicado ao seu
marido, o Comendador português Antônio Pinto da Costa Carneiro, de cujo
consórcio tiveram os filhos Álvaro e Otávio Pinto da Costa Carneiro.
Não sei se dª Isabel já encontrava-se enferma
quando escreveu o poema, acredito que sim, porque além de todas as outras
páginas do livreto estarem em branco, ela faleceu antes do fim daquele ano de
1880.
No início de 1882 Costa Carneiro contraiu segundas núpcias com outra Maria Isabel, esta de sobrenome da Cunha Carneiro,
com quem teve os filhos Jorge, Silvio, Lúcio, Edgar, Carmem, Maria Isabel,
Mário e Lauro, de extensa prole não somente em nossa cidade, mas por todo esse
Brasil.
Antônio
Pinto da Costa Carneiro
Antônio Pinto da Costa Carneiro está a merecer
um estudo maior. Filho único de Custódio Pinto da Costa Carneiro e de dª Rosa
Dias Carneiro era um dos homens mais ricos da Laguna. Naturalizado brasileiro
foi fundador de diversos jornais. Nasceu na cidade de Porto, Portugal, em 13 agosto de 1849.
Foi nomeado pelo governador Intendente e
presidente da Intendência Municipal da Laguna em 1891 não tendo assumido por
conturbações políticas. Voltou ao cargo em 1894 e foi eleito para o quadriênio
1899 a 1902. Em dezembro de 1906 foi eleito Conselheiro Municipal e seu presidente, cargo que conservou até a sua morte.
Muitas das obras na Laguna foram construídas
por ele, inclusive o antigo Mercado Público. Foi dos primeiros, juntamente com seu amigo, o primeiro médico lagunense dr. Ismael Ulysséa, a professar a fé na religião espírita em nossa cidade.
Eleito deputado estadual em 1891 e reeleito
sucessivamente, tendo assumido a presidência do Legislativo Catarinense.
Faleceu em 15 de agosto de 1908.
É nome de rua em nossa cidade e patrono de
Grupo Escolar no município de Orleans.
Mas o poema lhe dedicado de sua primeira
mulher Maria Isabel Arantes Carneiro fica aqui estampado, registro de seu
profundo amor que atravessa três séculos. Atualizei somente a gramática:
Doce
senhor da minha alma,
Que o
destino a tua uniu,
Este
álbum – onde caiu
D’ela a
mais florente palma.
Hoje por
mim verei falar-te,
na
sequencia da mudez.
Da
linguagem da ternura,
Do amor
e da candidez.
Que para
ti simboliza
Toda a
essência todo o ardor
De quem
se crê tão ditosa
À sombra
do teu amor.
Que ele
seja um evangelho
De paz
serena e de luz,
Que os
nossos filhos aproxima
Quanto
amor que em ti pus.
Aguardam
nele as verdades
Profundas
do coração;
Que tudo
tem uma história,
Um
livro, uma tradução.
Traduz o
de Cristo a ideia
D’um
banho imenso de luz,
Em que o
espírito dos tempos
Mais
forte se reproduz.
Que este
nosso tão mesquinho!
Mas evangelho
também,
Lhes
seja lição na vida
De afeto
que ele contém.
Sim, do
afeto consagrado
Pelos
desígnios de Deus
Que de
seu seio fecundo
Nos
entorna lá dos céus.
Em nossa
vida a ventura!
Em
nossas almas o amor!
Que de
tudo isto lhes seja
Um
símbolo e um penhor.
Por
minhas mãos fabricado
Este
livro, mudo embora,
Quero eu
te lembre sempre
Quanto
minh’alma te adora
Por mim,
por ti, valha ele,
Mais que
em outro qualquer dia,
Neste em
que a Igreja acrescenta
Do teu
nome a alta valia.
Se
Antônio por seus talentos,
Suas
virtudes e exemplos,
Consegui
ser venerado
Nas asas
santas dos templos;
Se no
coração do povo
Tem
funda perpetuidade,
E é sua
glória um legado
Passando
de idade a idade.
Tu, que
tens o mesmo nome,
Deixa
que eu venha exalçar,
Com esta
mesquinha oferta
Tuas
virtudes sem par.
Quantos mistérios, segredos, casos de Laguna! Quantas histórias a serem descobertas e encontram-se guardadas, escondidas ou esquecidas neste Arquivo Municipal. Parabéns Valmir por desbravar esses encantos! Mari Ghedin
ResponderExcluirBom dia!!!
ResponderExcluirFiquei encantada. Até porque me vem à mente, a curiosidade de saber essas inesquecíveis histórias de amor, que outrora reinavam absolutas em nossa amada cidade.
Abraços!
Fatima
Valmir, não atualizou mais o blog??
ResponderExcluirEstou sentindo falta dos posts!!
Abraços!
Cléa
Sou neto de Ivaldo Viana Carneiro, filho de Otávio Pinto da Costa Carneiro e neto do Comendador Carneiro.
ResponderExcluirFiquei emocionado em ler um poema mostrando tamanha prova de amor entre meus trisavôs. Grato por compartilhar essa história!
Valmir, gratidão por trazer tal história para o meio virtual.
ResponderExcluirMaria Isabel Arantes Carneiro e o Comendador português Antônio Pinto da Costa Carneiro são meus tataravós, sou bisneta de Otávio, neta de Ivaldo, filha de Rita de Cássia. Onde meus queridos antepassados estiverem, estão gratos por tal homenagem.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi Amigo Valmir,
ResponderExcluirSabes de antemão que sou teu leitor e fã de tudo que escreves.
Devido ao pouco tempo disponível, quase não teço comentários em teu Espaço,
porém venho sentindo a falta da tua inteligente pena aoi registrar, comentar e redescobrir coisas da Nossa Velha Laguna.
Um abraço, meu querido.
Luiz Néry(Pacheco dos Reis)Miranda
Obrigado Sr Valmir.em nome da família,pois o mesmo é meu bisavô, e Octavio meu avô.Entre estes felizardos tem meu irmão Jairo, Dr. Ronaldo, cacaio, Octavio Rila entre outros,como nossos filhos.Marcio Gruner Carneiro 14-05-2017
ResponderExcluirNossa família, que presente Sr.Valmir.Grato
ResponderExcluirPois é , Otávio Pinto da Costa Carneiro casado com Hormezinda Vianna foi meu avÔ, pai do meu pai Murilo. Incrível saber agora destes fatos .. e entender o porquê do "parentesco" com Ana Cunha da Costa Carneiro a quem sempre quis muito bem e a visitava sempre , assim como a Gabriela sua irmã..moradoras em São Paulo..
ResponderExcluirQue maravilha ! Sou bisneta de Antonio Pinto da Costa Carneiro . Meus avós Jorge e Lúcio eram filhos do seu segundo casamento com Maria Isabel da Cunha Carneiro . Meus pais primos irmãos. Se casaram em Criciúma e foram morar no Rio de Janeiro onde eu nasci .
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