“Histórias são para sempre, mas só se você
contá-las”.
De 6 de
setembro de 1944 a
2 de maio de 1945, durante os 239 dias de combate dos soldados da Força
Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, aconteceram 468 baixas, entre mortos
e desaparecidos brasileiros.
Entre eles, o
soldado lagunense Clito Antônio de Araújo, que integrava a 4ª Cia do 6º RI
(Regimento de Infantaria Ypiranga), morto aos 24 anos.
O soldado Clito Araújo. Álbum de família. Acervo: Marega. |
Fez parte do
1º Escalão da FEB a embarcar para o teatro das operações na Itália, em 2 de
julho de 1944, a bordo do navio general Mann.
Seguiu viagem
junto a outros companheiros lagunenses, como Ezio Pagani, Manoel Ismael da
Silva, Waldemar Apolônio Antunes, Sadi Silva Ferminio, Jovino Salvador da Silva,
Milton Fonseca, David Lemos, Manoel Moura de Jesus,
Bernadino Vieira de Andrade, Antônio Juvêncio Corrêa e Valdiniro Abrahão
Pereira (Xavante), entre outros.
Distintivo da FEB. A cobra vai fumar. |
Esse primeiro
escalão brasileiro com 5.075 soldados desembarcaria em Nápoles em 16 de julho de 1944. O total
efetivo chegaria a 25.334 participantes, com 956 soldados vindos do solo catarinense.
No front da guerra
Nos primeiros
dias de novembro de 1944, os soldados da FEB são transferidos de Castelnuovo di
Garfagnana para o front de guerra, no Vale do Rio Reno.
Nos Apeninos vão
enfrentar o rigoroso inverno, com muita chuva, neve e depois lama, além de
ataques contínuos dos alemães. Lutam contra a denominada Linha Gótica.
A fase
compreendida entre 5 de novembro e 12 de dezembro de 1944 será conhecida como “Defensiva-Agressiva”,
desenvolvida inteiramente no Vale do Reno. A intenção dos comandantes era a
conquista de Bolonha antes do natal daquele ano. Tal não vai acontecer. Somente no ano seguinte. A FEB
atuará nesta região por mais de três meses, integrando o IV Corpo do Exército.
Mapa da Vitória na IIª Guerra, distribuído pelo Exército Brasileiro. |
Neste período
acontecerão as batalhas e as tomadas de Montese, Soprassasso e Monte Castelo.
Lutarão contra a 148ª Divisão Panzer da Infantaria, até a completa rendição
alemã.
A morte em batalha por estilhaços de granada
Conta-se que a
morte em combate do pracinha lagunense, pertencente à Infantaria Brasileira,
deu-se da seguinte forma:
Era para ser
um “Golpe de mão”, assim chamado um assalto à trincheira inimiga para
aprisionamento de soldados. Clito Araújo teria prosseguido em marcha na batalha
em Marano, Itália, quando se viu sozinho, entre muita fumaça e tiros, no meio
de um pelotão inimigo. Tinha avançado demasiado no terreno íngreme e
escorregadio. Logo seria descoberto e sua morte era iminente.
Que fez? Teria
detonado uma granada, pondo fim a sua vida e a dos inimigos ao seu redor. Com o
silêncio no front, vários pracinhas brasileiros logo acorreram ao local,
conquistando mais terreno na batalha travada.
Mas logo
obtiveram a explicação acima para o ocorrido, reconhecendo então a coragem do
lagunense Clito Antônio Araújo, com apenas 24 anos. Era o entardecer chuvoso do
dia 13 de novembro de 1944. Quem contava essa história a este autor era outro
pracinha lagunense, o veterano tenente Sadi Ferminio.
Moraes fala sobre o período de Defensiva-Agressiva
O general
comandante da FEB J.B. Mascarenhas de Moraes, em suas memórias lembrando
aquelas batalhas diz:
“Prematuramente aspirada para a linha de combate,
a divisão brasileira distendeu-se numa frente da ordem de 15 quilômetros. Seu
setor era tão devassado pelas alturas ocupadas pelo inimigo que o comando
americano houve por bem instalar nessa região uma cortina de fumaça permanente,
a fim de permitir os rápidos e indispensáveis movimentos na estrada nº 64, que
liga Porreta a Bolonha e está implantada à margem do Reno. Inteiramente
dominada pela contínua linha de alturas que vai de Belvedere a Castelnuovo,
ficava esta estrada ao alcance eficiente de morteiros e até tiros diretos das
armas automáticas instaladas nesses maciços montanhosos. Durante o período de
Defensiva-Agressiva, o IV Corpo empreendeu algumas operações ofensivas. Dadas as
deficiência e limitações já expostas, não poderia alcançar senão amargos
reveses”.
Vasco Gondin,
outro veterano da guerra, em seu livro de Memórias “Liberdade escrita com
sangue”, sobre o primeiro revés dos brasileiros afirma:
“Assistíamos o avanço dos alemães, pedíamos
barragens de artilharia, munição, alimentação, etc., e elas não vinham.
Defendemos como podíamos com nossas armas, granadas de mão e alguns tiros de
morteiro. Mas nada detinha o alemão, parecendo-nos um rolo compressor”. (...) “A
luta chega ao corpo a corpo”.
Sepultamento
Os combatentes
da FEB que pereceram na IIª Guerra Mundial foram primeiramente sepultados no
cemitério militar de Pistóia (Itália). O jazigo de Clito Araújo ficava na
quadra C, fileira nº 10, sepultura nº 119.
Posteriormente,
em 1960, os restos mortais de todos os pracinhas sepultados na Itália foram
transferidos para o Monumento Nacional aos Mortos na 2ª Guerra, inaugurado em 5
de agosto daquele ano, no Parque do Flamengo, na Gávea, no Rio de Janeiro. Nele
encontra-se o túmulo do soldado desconhecido, com a pira eterna, e o mausoléu
com 468 jazigos.
Condecorações e homenagens
Monumento Nacional aos Mortos na 2ª Guerra, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Foto: FEB. |
Mausoléu de Clito Araújo no Monumento do Aterro do Flamengo, no RJ. Foto: Carlos Augusto Baião da Rosa. |
Clito Araújo
foi agraciado com as Medalhas de Campanha, Sangue do Brasil e Cruz de Combate
de 2ª Classe.
Clito Araújo é
nome de via pública no centro histórico da cidade Juliana, (Travessa entre as
ruas José Joahnny e Tenente Bessa, a rua das árvores como alguns a chamam).
Medalha Sangue do Brasil. Reprodução wikipédia.. |
Medalha de Campanha. Reprodução wikipédia. |
Medalha Cruz de Combate 2ª Classe. Reprodução wikipédia. |
Laguna também prestou homenagem a Clito Araújo com nome de uma via no centro histórico da cidade, além de um monumento. |
Busto de Clito Araújo, na Praça do Ex-combatentes, na Laguna. |
Contaram com o apoio do prefeito da Laguna Nazil Bento Jr., do presidente da Assembleia Legislativa do Estado, deputado Pedro Bittencourt Neto, e do Tenente-Coronel Lincoln Ungaretti Branco, comandante do 63º Batalhão de Infantaria (BI) Fernando Machado.
Artista plástico Plínio Verani esculpe o busto do veterano morto em batalha na Itália, Clito Araújo. Foto: Nilson Vasco Gondin no livro "Liberdade escrita com sangue". |
Por mais terras que eu percorra...
Clito Antônio
Araújo. Ele deu sua vida para salvar outros, em nome da democracia e da
liberdade, lutando contra o nazifascismo.
Eis um
verdadeiro herói lagunense, tão esquecido pelas novas gerações.
Na saída do
Monumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra, no Aterro do Flamengo, no Rio, encontram-se
os seguintes dizeres:
“E enquanto subir os degraus rumo ao sol, certo de que na penumbra da cripta há mais luz do que no adro do Monumento, lembre-se de que aqueles homens, tão jovens e tão cheios de ardor pela Pátria, pela qual iriam morrer, cantavam esperançosos o estribilho da Canção do Expedicionário:
"Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra, sem que volte para lá, sem que leve por divisa, esse "V" que simboliza a vitória que virá".
P S: O monumento em homenagem a Clito Araújo precisa
de manutenção, assim como a própria Praça dos Expedicionários. Limpeza, pintura
e um “banho” de cêra de carnaúba no busto de bronze urgente!
Alô, alô, prefeito. Alô, alô presidente
da Fundação Lagunense de Cultura.
Parabéns Valmir. Reportagem pra gente guardar e fonte de pesquisa pra muitos alunos. Que os professores de nossa cidade leiam para seus alunos. Muitos passan por ali e nem sabem disso.
ResponderExcluirEdison de Andrade
Parabéns pela reportagem e divulgação de mais um heroi catarinense. Que a família Araújo sinta-se abraçada e orgulhosa!
ResponderExcluirMeus Deus! Nem conhecia essa história desse herói. Só se fala de Anita Garibaldi. Parabéns.
ResponderExcluirGeraldo de Jesus
Esta ai uma história que deve ser estudada nos livros das escolas
ResponderExcluirLagunenses com vigor e honra....
ResponderExcluirMeu Deus! Que emocionante ler tudo isso! Clito foi meu tio avô! Meu pai leva seu nome, Antônio Araújo Maciel, filho da irmã do Clito, minha falecida avó, Carmem Fernandina Araujo Maciel!!! MUITO obrigada por compartilhar! Qd meus avós se foram eu era pequena. Nunca descobri a história do tio... Sempre pesquisei, mas até agora a tua é a mais completa! Saudações da família!!!
ResponderExcluirGrato Michelle pelas palavras. Saudações também a ti e família.
ExcluirGratidão! Saudações da família Araújo Maciel! Sd, herói Clito, meu tio avô!
ResponderExcluirA história triste de um conterrâneo. Não tem como não se emocionar.
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