O orador na Laguna que mais se destacou ao longo
de trinta anos em nossa sociedade, foi Antônio Guimarães Cabral, o
Pereira.
É fato que Laguna
sempre foi pródiga em oradores, em seus discursos nos estilos mais variados:
político, esportivo, recreativo, religioso, social e literário.
Dentre alguns
nomes podemos destacar padre Manoel João, Osvaldo Rodrigues Cabral, Norberto
Ulysséa Ungaretti, Armando Calil Bulos, Ruben de Lima Ulysséa, Abelardo Alcântara. Mais recentemente, Juacy Ungaretti, Adib Abrahão Massih, Ronaldo Pinho
Carneiro, Archimedes de Castro Faria, José Paulo Arantes, entre outros.
Dentre as
mulheres, Maria de Lourdes Barros, Amélia Baungarten Baião, Hilda Soares Bicca,
Maria Serafina de Oliveira, Nêmesis de Oliveira.
Quem foi Antônio Guimarães Cabral
Nasceu na
Laguna, em 18 de junho de 1879. Filho de Rita Torres Guimarães Cabral e
Francisco Carlos Cabral, tronco de onde originou-se a numerosa família “Guimarães
Cabral”.
Era irmão de
João Guimarães Cabral (João Neném), que foi superintendente (prefeito) da Laguna,
José Guimarães Cabral (Juca), este, juntamente com Ataliba Goulart Rollin (seu
cunhado), foi quem criou a Sociedade Aformoseadora, com a construção do cais
(1910) e Jardim Calheiros da Graça (1915).
Outros dos seus irmãos: Ana Guimarães Cabral (dª Santa), esposa do dr. Ismael Ulysséa, Felipe, Alice, Maria (Mariquinha), Elisa (dª Tuná), Manuela, Josefa, Marfiza e Lília (tia Velha). As três últimas sem descendentes.
Antônio Guimarães Cabral, o Pereira, discursa. Foto: Acervo Antônio Carlos Marega. |
Outros dos seus irmãos: Ana Guimarães Cabral (dª Santa), esposa do dr. Ismael Ulysséa, Felipe, Alice, Maria (Mariquinha), Elisa (dª Tuná), Manuela, Josefa, Marfiza e Lília (tia Velha). As três últimas sem descendentes.
Antônio
Guimarães Cabral, o Pereira. Seu apelido perdeu-se no tempo, talvez recebido na infância por causa de um bloco de carnaval com seu famoso refrão. Ou terá sido por causa do sogro, de sobrenome Pereira? São apenas conjecturas. Vários de seus colegas que escreveram postumamente em sua homenagem nas páginas dos jornais, disseram ignorar o motivo da alcunha.
Pois Antônio Guimarães Cabral fez seus estudos primários em nossa cidade, no Colégio Duarte, fundado em 1882 pelo professor João Maria Duarte. Depois Cabral foi para Blumenau estudar no Colégio dos Padres. Mais tarde se transferiu para Florianópolis onde terminou com brilhantismo o curso secundário no “Partenon”.
Pois Antônio Guimarães Cabral fez seus estudos primários em nossa cidade, no Colégio Duarte, fundado em 1882 pelo professor João Maria Duarte. Depois Cabral foi para Blumenau estudar no Colégio dos Padres. Mais tarde se transferiu para Florianópolis onde terminou com brilhantismo o curso secundário no “Partenon”.
Dali seguiu
para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Faculdade de Medicina da então
Capital Federal.
Doente de uma “estafa
nervosa”, como se denominava a atual depressão, por causa dos rigorosos estudos, foi forçado a abandoná-los no segundo ano do curso.
Regressou a
Laguna, onde abriu uma escola particular.
Em 1908, foi
nomeado promotor da Comarca da Laguna.
Depois,
exerceu o cargo de secretário da prefeitura de nossa cidade, representando-a em
vários congressos pelo estado.
Alguns anos
mais tarde foi nomeado fiscal de estatística da Inspetoria Federal de Portos,
Rios e Canais, com atividades no porto da Laguna.
Quando em 1933 a
Inspetoria foi transformada em Departamento Nacional de Portos e
Navegação, passou ao cargo de escrevente, com posto no porto de Paranaguá (PR).
Voltou a Laguna alguns meses depois, já com a promoção de escriturário na mesma
repartição.
Era
colaborador do jornal O Albor e jornalista filiado à Associação Catarinense de
Imprensa.
Foi presidente
do Clube Congresso Lagunense em 1914/1915.
Em 1933,
juntamente com toda a diretoria daquela tradicional sociedade recreativa, formada por Pedro
Silva, Antônio Baião, Manuel Pinho, Carlos Cabral e Ildefonso Batista, demoliram
o velho casarão do clube, construído em 1897.
Em seu lugar ergueram outro mais compatível com o franco desenvolvimento da cidade.
Em 4 de
novembro de 1934 o novo edifício foi inaugurado, situado entre as ruas Voluntário
Carpes e Jerônimo Coelho, e é o que conhecemos, estando atualmente fechado à
espera de reforma e revitalização.
Falecimento
Na madrugada de
19 de abril de 1938, Antônio Guimarães Cabral, o Pereira, falecia repentinamente, envelhecido precocemente, em sua residência aos 59 anos, deixando a esposa Maria Antunes Neto (dª Belica), com quem casou em 5 de setembro de 1908, filha do tenente-coronel Thomaz Pereira Neto (Conforme nos informa Norberto Ulysséa Ungaretti em seu livro “Laguna um pouco do passado”, pg. 253, edição do autor, 2002) e quatro filhas (Dagmar, Iveta, Débora e Diana). Moravam na Praça Conselheiro Mafra (hoje República Juliana), naquela casa ao lado do prédio de dois andares (hoje em ruínas) que foi de Antônio Teixeira.
Por ironia do destino ou silêncio respeitoso de seus amigos, foi sepultado sem discurso, ele que tanto usou da palavra ao longo de sua vida.
Por ironia do destino ou silêncio respeitoso de seus amigos, foi sepultado sem discurso, ele que tanto usou da palavra ao longo de sua vida.
Ainda na
edição de 9 de abril de 1938, portanto dez dias antes do seu falecimento, o
jornal O Albor publicava em sua capa
um derradeiro artigo seu sobre os 50 anos da Associação Brasileira de Imprensa
e uma análise sobre a imprensa catarinense.
O mesmo jornal
O Albor noticiava na edição seguinte
a morte de seu assíduo colaborador:
“Laguna perdeu um dos seus maiores filhos. O seu
elevado espírito de bairrismo, tantas vezes demonstrado nas tribunas, na
imprensa e nas suas palestras acaloradas, tornara-no o maior defensor da terra
que lhe serviu de berço.
Para muitos ele foi um visionário. Para outros, porém,
que melhor o compreenderam, ele foi a voz do passado, a alma viva do presente,
vibrando pela grandeza futura da Laguna”.
Mário Mattos,
numa crônica no jornal O Albor, despediu-se de seu grande amigo escrevendo poeticamente:
“Antônio Guimarães Cabral, que por mais de trinta
anos disse as melhores orações ao nosso povo em praça pública, não há de se
negar ter sido o apóstolo moldado na pertinácia de São Paulo.
Morreu quando, sem forças para mais dizer, subia a
colina, a ver do alto, no enlevo de uma poesia sagrada, o espetáculo do
crepúsculo encantador de nossas tardes, como a dizer por último, naquele
estertor sublime do poeta:
- Adeus céu da minha terra! Adeus colorido encantador
que me fascinaste a vida! Adeus infinita grandeza que tanto sonhei em vão, mas
que muito me conduziu para a verdade! Fica, e fala por mim aos meus
conterrâneos de agora para sempre!”.
“O namorado da Laguna”
Alguns
cronistas contemporâneos seus deixaram na escrita suas impressões sobre o
orador e a pessoa do Pereira. Belos textos, sábias e lindas palavras que o
homenagearam há época ou alguns anos depois e que merecem a lembrança e
transcrição de alguns trechos aqui nesta página.
Antônio Guimarães Cabral, com sua típica indumentária: capa, chapéu côco e seu inseparável guarda-chuva. Arquivo: Marega |
“No crescente utilitarismo dos dias que se
sucedem, Antônio Guimarães Cabral – o Pereira, enamorado de sua terra e sempre
embevecido de sua gente -, era um dos derradeiros românticos da velha Laguna”. (...).
“Discursou muito, porque gostava de discursar.
Discursou pela mocidade afora e discursou pela velhice adentro”. (...).
“Apaixonado pela história possuía apreciáveis
conhecimentos da vida catarinense e, em cada nota de tradição, destacava e
relembrava a ocorrência determinante.
Era um justo, sem dúvida; intelectual, não possuía
tempo para destruir, nem para invejar, pois vivia debruçado nos alcandorados
mirantes dos seus sonhos, para dentro da paisagem de si próprio; jornalista,
ele o soube ser, com admirável sentido de brasilidade; orador, a sua voz se fez
sempre a voz da exaltação, pela bondade; a voz da emoção, pelo exemplo.
Parece que estou a vê-lo a se agitar, sorrindo
sempre dentro do estonteante poema que diviso daqui, neste entardecer lagunense:
alto, magro, sobraçando sempre jornais e revistas, ávido de leitura, deslizando
pelos entrechoques brutais da vida de hoje, cheia de colisões e de conflitos de
interesses, como rápida iluminura da Laguna romântica de outros tempos” (...).
E com chave de
ouro, finaliza sua escrita poética dizendo:
“Quando soube de seu falecimento, compreendi que a
cidade perdera um dos organizadores da sua feição peculiar.
É que, entre eles – entre Pereira e a Laguna -,
existiu sempre um namoro inconsequente de crianças, que só a morte consegue
destruir”.
Um devorador de almanaques sempre com um jornal ou
livro sob o braço
Arno Duarte,
do Rio de Janeiro, escreveu sobre o Pereira em dezembro de 1947, na "Revista
Cidade Juliana", publicação do Cordão Carnavalesco Bola Preta, de nossa cidade,
em edição única, comemorativa pelo 10º aniversário do Bloco:
“Era garoto, mas me lembro bem dele. Quase sempre
de guarda-chuva, quer chovesse ou fizesse sol, de roupa escura, gravata comum,
colarinho duro, passeava pelas ruas da Laguna, lendo aqui ou acolá, um trecho
de um livro ou período de um artigo de uma revista qualquer.
Teve sempre também, predileção pelos almanaques. -
Por que será que quase todos os intelectuais gostavam de lê-los? Rui Barbosa
dizia a seus amigos:
- Fulano, leia, leia sempre, até mesmo almanaques.
Machado de Assis, também gostava e muito. Lincoln, o grande estadista
norte-americano, passava horas e horas lendo almanaques.
Pereira, também o fazia. No final de cada ano,
percorria farmácia por farmácia, solicitando almanaques para o ano vindouro. E
os devorava pela leitura, todos, sem exceção”.
E Duarte
demonstra toda sua admiração pelo Pereira, ao dizer:
“Foi e será sempre um incentivo aos moços pobres e
provincianos. Porque pobre e provinciano foi em vida. Porque pobre e
provinciano morreu. Mas, viveu como rico, como milionário em espírito.
Nunca, pelas ruas sinuosas e poeirentas de sua
cidade, viu-se o grande lagunense, o maior de todos, sem dúvida, sem um jornal
ou livro sob o braço. Fazia seu “ponto” diariamente, numa livraria, sito
naquela época, na rua Tenente Bessa. Nessa casa, as obras mais recentes, assim
como, revistas e jornais, eram vasculhadas por ele. A leitura era
indispensável. Talvez a alimentação não o fosse. A espiritual era”.
“Frases ricas e belas imagens”
Todos esses testemunhos
da época dão conta da grandiloquência de Antônio Guimarães Cabral, do seu dom
pela oratória, chegando mesmo a ofuscar, a sufocar os mais diversos outros
oradores que usassem a palavra a sua frente.
O colunista Agenor
dos Santos Bessa, numa crônica publicada muito tempo depois, no jornal Sul do Estado, de 18 de setembro de
1982, relembra o Pereira, a quem conheceu em sua mocidade:
“Sua palavra quando jogada ao ar, era toda
composta de frases tão ricas de belas imagens, que só ao surgir sua figura ao
alto, diante das multidões, os aplausos ao estrugir, contaminavam o lagunense
de entusiasmo que aquele tipo de Demóstenes infundia para envaidecer o
conterrâneo”.
Bessa destaca
mais adiante:
“O Pereira tinha não só o gosto pela oratória. Ele
carregava consigo o dom da palavra e não se furtava em romper o verbo em
qualquer ocasião que se prestasse para tal. Como surgiam os improvisos nos
momentos tão adequados! Mesmo sem ser convidado ou que houvesse sido incumbido
de discursar nas reuniões promovidas pela prefeitura, da qual era secretário,
ele pedia a palavra e, como se estivesse preparado adredemente, brilhava para
gáudio dos presentes, por que naquele tempo todos sabiam apreciar a boa
palavra”.
Sucesso e emoção em discurso em teatro em
Paranaguá
O colunista
Agenor Bessa conta uma história passada em Paranaguá, no vizinho estado do
Paraná.
Antônio
Guimarães Cabral, o Pereira, estava trabalhando naquela cidade e foi convidado
por um amigo para assistir uma peça musical no teatro local. O amigo havia
adquirido ingressos e o instalou num camarote.
A certa altura
o nosso Pereira, num dos intervalos, levantou-se e soltou o verbo. A plateia
ouviu a tudo em silêncio e ao final desmanchou-se em salvas e palmas pela
brilhante oração. “Pereira não conteve o entusiasmo e chorou”.
E Bessa
finaliza seu testemunho dizendo: “Para ele dirigir-se ao hotel, teve que
esperar mais de uma hora para poder sair do teatro, porque toda aquela gente
queria conhecer-lhe e cumprimentar-lhe”.
O Centro Cultural que levou seu nome
Em 22 de julho
de 1943, quatro anos após seu falecimento, foi fundado na Laguna o Centro
Cultural Antônio Guimarães Cabral.
A instituição
foi criada, entre outros, por João Ezequiel de Souza, José Paulo Arantes, Osmar
Cook, Gabriela Grandemagne, Elisabeth Ulysséa, Asdrúbal Martins Alcântara,
Aceson Lopes, João Rodolfo Gomes (Joca Moreira), José Lopes Ferraz e Francisco Coelho.
Uma verdadeira Academia literária
O Centro
Cultural era dirigido por uma diretoria que se alterou ao longo dos anos, mas
as decisões, sempre por votação, eram tomadas por 21 membros efetivos.
“Reuniam-se
semanalmente, às sextas-feiras, dividindo os trabalhos em dois períodos:
expediente, tratando do movimento da tesouraria e secretaria; e o literário,
abrangendo a dissertação de temas, comentários sobre fatos históricos e ligados
à literatura, além de exaltação aos patronos das respectivas cadeiras.
É interessante
saber-se que cada membro efetivo tem seu patrono escolhido dentre as figuras
mais expressivas da literatura e história nacional”.
Como se pode
constatar, uma verdadeira Academia Lagunense de Letras. Isso em 1943!
Criado por membros do Bola Preta
O Centro
Cultural primeiramente funcionou na sede do Clube (Cordão Carnavalesco) Bola
Preta, na Rua Raulino Horn, local onde foi criado, já que a maioria de seus
membros fundadores pertencia ao Bola Preta.
A Biblioteca
do Centro Cultural Antônio Guimarães Cabral recebeu o nome do nosso maior poeta
simbolista, o catarinense Cruz e Sousa.
Em seu início,
contou em seu acervo com apenas 116 livros doados pelos próprios sócios do Bola
Preta que, por sinal, mantinham uma biblioteca em sua sede.
Em quatro anos
de existência, através de aquisições e doações, a Biblioteca do Centro Cultural
já contava com 1.104 volumes e já funcionava em outro local, numa casa na então
Praça da Bandeira, hoje República Juliana.
Foi a terceira
biblioteca pública criada na Laguna.
A primeira foi
em 1876; a segunda, a Biblioteca Sávio Siqueira, criada pelo Cordão
Carnavalesco Bola Preta em sua sede; a quarta e atual, denominada Biblioteca
Professor Romeu Ulysséa, foi criada em 19 de agosto de 1969 pela Lei nº 14/69,
no governo do prefeito Juaci Ungaretti, mas somente instalada em 29 de maio de
1980, na gestão do prefeito Mário José Remor.
Registre-se
que o secretário de Educação e Esportes de Mário Remor era José Paulo Arantes,
um dos fundadores do Centro Cultural lá em 1943.
Cursos de inglês e esperanto
O Centro
Cultural fez tanto sucesso, que chegava a 500 visitas mensais em 1947 e em duas
salas adaptadas funcionavam dois cursos: o de inglês e de esperanto,
“oferecendo desta forma, oportunidade às pessoas que desejavam iniciar-se nos
conhecimentos destas duas línguas, largamente difundidas nos dias que correm”.
Embrião do Museu Anita Garibaldi
Aliás, foi em
suas salas, a partir de 1947, que se começou a preservar as primeiras peças e móveis de
época para compor o futuro e eclético Museu Anita Garibaldi.
Em 1949, o
Centro Cultural homenageou o centenário da morte de Anita Garibaldi (4 de
agosto), com eventos nos dias 31 de julho e 1º de agosto.
No dia 31 aconteceu a posse da nova diretoria da entidade, e às 16h30m a inauguração de um pequeno museu, já denominado Anita Garibaldi, além das novas instalações do Centro, que passou a funcionar em duas salas com entrada pelo lado norte do atual prédio.
No dia 31 aconteceu a posse da nova diretoria da entidade, e às 16h30m a inauguração de um pequeno museu, já denominado Anita Garibaldi, além das novas instalações do Centro, que passou a funcionar em duas salas com entrada pelo lado norte do atual prédio.
Já no dia 1º
de agosto, às 20 horas, aconteceu uma conferência sobre a nossa heroína
proferida pelo professor Ruben Ulysséa.
O Museu foi
inaugurado oficial e solenemente bem mais tarde, em 17 de abril de 1956,
no centenário da Comarca, ocupando todo o prédio que serviu no passado de Câmara e cadeia.
Um dos maiores batalhadores pelo Museu foi o juiz da Comarca da Laguna, João Tomaz Marcondes
de Matos, aqui chegado em 1954.
Porém, o Museu
só foi oficializado seis meses depois, pela Lei nº 222, de 15/10/1956, assinada pelo
prefeito Walmor de Oliveira.
O Centro
Cultural foi declarado de Utilidade Pública pela Lei Estadual nº 319, de
31/10/1949. Projeto de Lei apresentado à Assembleia Legislativa pelo deputado
estadual, o lagunense Osvaldo Rodrigues Cabral.
Ainda em 1962,
o Centro Cultural Antônio Guimarães Cabral funcionava e tinha sua diretoria
constituída, conforme pode ser observado numa circular publicada no jornal O Albor,
abaixo.
Era presidente da entidade José Paulo Arantes, com Maria Serafina de Oliveira como secretária. No ano seguinte assumiria este cargo, Ada Teixeira, irmã do conhecido Osni Teixeira, conforme informação a este
autor de Carlos Augusto Baião da Rosa. Como se percebe na relação, o dr. Gil Ungaretti foi o primeiro diretor do pequeno Museu criado.
Pouco depois, aos
poucos, com a diminuição do interesse pela leitura e o aparecimento da
televisão, o Centro Cultural Antônio Guimarães Cabral entrou para o rol do Laguna
já teve.
O acervo de
livros do Centro foi doado à Biblioteca do Conjunto Educacional Almirante
Lamego (Ceal), inaugurado em 1965, que por sua vez encampou o Ginásio
Lagunense.
Raro registro de um discurso
de Antônio Guimarães Cabral
Pouco ficou registrado
dos discursos do Pereira, até porque eles invariavelmente eram feitos de
improviso. Mas encontrei uma pérola, um raro registro feito pelo jornal lagunense O
Commercio, de 12 de junho de 1904, quando dos festejos do Jubileu Sacerdotal do
padre lagunense Manoel João, acontecido em 5 de junho de 1904.
Aqui
o transcrevo, a título de curiosidade e também para mostrar a riqueza de uma
oração feita por Antônio Guimarães Cabral, à entrada da igreja matriz Santo
Antônio dos Anjos, perante enorme massa popular e do homenageado:
“Padre, antes
de transpordes os umbrais deste templo sagrado, que por tantos anos foi o ninho
amoroso da vossa Fé, eu vos peço em nome do povo lagunense, parai; parai para
receberdes a coroa da glória tecida pelos afetos e admiração a ele impostos
durante os vossos calmos, mas gloriosos 50 anos de sacerdócio, pelas vossas
virtudes, pelo vosso saber e pelo vosso trato amável.
E essa coroa
de glória será como as preces, as orações evolando-se dos corações lagunenses
ao seio de Deus.
Padre, esta
manifestação, que os teus paroquianos agora te fazem nada mais é do que a
apoteose sublimemente grandiosa da Justiça e da Verdade, tão bem personificada
em vós.
Mas, no
entanto tudo isso nem sequer representa um pálido reflexo dessa luz de respeito
e gratidão que hoje fortemente jorra de todos os corações lagunenses.
Padre, toda a
vossa vida foi uma vítima em holocausto constante e contínua à Virtude e à
Ciência.
Com aquela,
purificavas o coração no teu amor ardente aos teus paroquianos, robustecias a
tua alma para com mais coragem venceres todos os embates na vossa árdua e santa
tarefa de pai espiritual de milhares de almas!
Com esta – o Saber,
iluminavas a estrada da vida a fim de nela distinguirdes a vereda da Virtude e
do Bem, a vereda do Vício e do Mal.
Vós vistes
nascer uma geração inteira de lagunenses. Com as águas lustrais do Sacramento
do Batismo, lavaste-a do pecado original, entregando-a qual lírio tenro,
imaculado a rescender de aromas a várzea verdejante.
Muitos deles
até uniste-os pelos sagrados laços do himênio; e, no entanto, grande parte
perdendo a crença, esse fanal do homem na viagem transitória desta vida,
deixaram-se cair, uns no lodo vil e infecto do vício que tudo destrói, que tudo
aniquila; outros, num ceticismo cruel, que tudo desfigura, dando a tudo nesta vida a visão triste e
desconsoladora de uma noite tétrica e trevosa.
E no meio
dessa crise moral terrível, em que o coração humano sente-se crivado de duros
desenganos; nessa crise terrível, em que as delícias inefáveis oriundas da
prática da virtude eram trocadas pelos cruéis dissabores do vício, a vossa
palavra do alto da tribuna religiosa, pregando dali as mais belas lições de
moral, as mais belas e consoladoras verdades, era como o bálsamo suavíssimo que
derramando-se sobre as chagas que contaminavam as vossas ovelhas,
cicatrizavam-lhe as feridas e davam-lhe alento e fé.
Porque na
verdade senhores, o Padre é o verdadeiro médico dessa humanidade sofredora, em
que mais depressa o vício com todo o séquito horroroso ceifa-lhe maior número de
vidas do que qualquer infecção psíquica.
O vício e a
imoralidade são esses dois fatores, esses dois grandes focos procriadores da miséria
universal.
Vós, sois um
apóstolo dessa religião consoladora dos desprotegidos da sorte; dessa religião
que, quando a humanidade envolvida pelas grandes tempestades da vida, ainda
vê acima do horizonte acasteladas às
espessas nuvens da dúvida e quase se nos soçobra a crença no mar revolto da
dor, ela nos mostra o porto do paraíso; dessa região toda feita de luz e de
carinho, onde não se encontrarão os frisantes contrastes que formam esses
belíssimos paradoxos, barreiras inexpugnáveis ante as pesquisas profundamente
penetrantes da Ciência e do Saber.
Onde com
certeza, não se encontrarão, a par do pobre que se clama o rico que se regozija
de alegria e de abastança; a par da abnegação e de heroísmos, os quadros
tristemente patentes das vítimas aniquiladas no vicio e na miséria.
O apóstolo da
religião desse Messias que deu ao mundo o mais belo epílogo até hoje conhecido;
dessa religião cuja majestade das escrituras admira, cuja santidade dos
Evangelhos toca ao mesmo tempo de doçura e admiração todos os corações.
E que doçura e
que pureza também transparecia nas vossas palavras, que graça tocante nas suas
prédicas! Que beleza de síntese nas suas máximas!
Portanto,
senhores, terminando incompetentemente esta pálida peroração que venho de
fazer, peço a todos os lagunenses que num mesmo sentimento uníssono de
gratidão, num mesmo palpitar de corações agradecidos, elevemos os nossos
ardentes votos ao seio do Altíssimo, manancial perene de Vida e Amor, banhando
a terra de um dilúvio de Luz, Vida e Misericórdia, para que derrame as suas
copiosas e frutificantes bênçãos sobre o distinto prelado que durante meio
século foi o pastor supremo das ovelhas lagunenses”.
Parabéns pela pesquisa.
ResponderExcluirGeraldo de Jesus
Quantos personagens que honraram a nossa Laguna.
ResponderExcluirEdison de Andrade Florianópolis
Este foi meu bisavô. Quanto orgulho em saber sua história com detalhes.
ResponderExcluir