sexta-feira, 28 de maio de 2021

"Si Brodin" o maior navio no Porto da Laguna

Em 1948 atracou no cais do Porto Carvoeiro da Laguna o maior navio que até hoje passou pelos nossos Molhes da Barra.
Era o Si Brodin cargueiro sueco da empresa Brodin Line.
Si Brodin no Porto da Laguna. Acervo: valmirguedes.blogspot.com - Colored: Norton Santos
A notícia da chegada da enorme embarcação correu célere pela cidade e muitos populares foram ao local observar as manobras na bacia de evolução e vê-lo atracado ao cais de 300 metros, entre os bairros Magalhães e Mar Grosso.
Entre guindastes e pátio lotado de carvão, o grande navio virou atração.
Houve foguetes e festa a bordo reunindo tripulantes, oficiais, autoridades, armadores, comerciantes e políticos da Laguna e, como não poderia faltar, discursos, muitos discursos.
A intenção dos armadores e seus representantes era que o navio fosse fazer dali em diante a rota do sul do estado com portos dos EUA.
Da Laguna ao EUA e vice-versa, vejam só! Que luxo!
O Si Brodin fazendo manobras na bacia de evolução do Porto da Laguna.
Mas os planos infelizmente não se concretizaram, mesmo porque o nosso porto já tinha se transformado unicamente em Carvoeiro.
O Si Brodin passou então a utilizar outros terminais comerciais, entre eles, principalmente, o Porto de Paranaguá, no Paraná.
O navio nunca mais retornou ao porto lagunense, mas mostrou, na época, com seu grande calado com mais de 5 metros, que não existia a famosa pedra obstaculizando a entrada dos molhes.
Com dragagem realizada periodicamente em seu canal e bacia de evolução, o Porto da Laguna estaria capacitado para receber embarcações maiores, apesar dos molhes em formato de tenaz. 

A chegada
Era uma linda manhã quente de verão, 29 de fevereiro do ano bissexto de 1948, quando adentrou pelo canal da Barra da Laguna o maior navio cargueiro até hoje visto em nosso Porto.
O Si Brodin havia sido construído no Estaleiro Lindholmens Varv AB, em Estocolmo, na Suécia, e em setembro de 1944 entregue à empresa Brodin Line
A família sueca Brodin era ligada a assuntos marítimos desde 1732, com Erik Brodin iniciado em 1937 os serviços regulares entre os Estados Unidos, Brasil e Argentina.
Entre os navios pertencentes à Brodin Line constavam o Ivone, Lia, Astri, Anita, Itajaí e Paranaguá, os dois últimos em homenagem aos portos onde mais tarde atuará.
Houve também o Lena Brodin que numa viagem de Nova Iorque para o Brasil incendiou-se na costa das Bermudas em 10 de junho de 1947, sem vítimas. 

Dados técnicos
Nome: Si Brodin
Tipo: Navio Mercante a motor
Porte Bruto: 3.200 t
Comprimento: 91m38cm
Boca: 12m87cm
Pontal: 6m43cm
Calado: 5m43cm
Motorização: Motor diesel M.A.N.
Potência: 2,100 BHP
Hélice: 1
Velocidade: 12 nós
Consumo: 8 t/dia
Combustível: 405m3
Tripulantes: 29
Porões: 5
Carga: A granel: 157.713p3; geral: 143.375 p3 

A chegada de um navio dessas proporções, desse calado na Laguna, obviamente despertou curiosidades e populares acorreram ao local para observar as manobras no berço de evolução e vê-lo atracado ao cais de 300 metros recém-construído no Porto Carvoeiro, entre os bairros Magalhães e Mar Grosso.
Si Brodin no Porto da Laguna. Acervo: valmirguedes.blogspot.com - Colored: Norton Santos
O mercante carregou em nosso porto 1.220 toneladas de fécula de mandioca, cujos embarcadores foram a empresa Rocha & Cia., de nossa cidade, que tinha entre os sócios o lagunense Haroldo Rocha; e a firma Max Wirth & Cia. Ltda, de Santos, representada em Santa Catarina pela empresa Ernesto Rigenbach & Cia., de Florianópolis.
A intenção era uma linha direta Laguna-América do Norte-Laguna, em viagem, portanto, de ida-e-volta, num período de 50 dias aproximadamente.
A iniciativa da criação desta linha partiu do lagunense Sadi Magalhães, um dos diretores da empresa Samarco, de Itajaí; do inspetor Erik Kreuger, e do comandante do Si Brodin Viktor Alfons Lundqvist.
Era agente do navio nesta cidade Waldemar Bellaguarda.
Um novo tempo para Laguna parecia surgir.

O Jornal O Albor exultava:
“Após diversas preparatórias chegou finalmente o dia da realidade. Com a entrada deste navio sueco neste porto maravilhoso, que é um dos escoadouros de vital importância para a economia catarinense”.

Festa no tombadilho
No dia 2 de março, com os porões já carregados, foi oferecido um coquetel a convidados, a ser realizado a bordo da embarcação.
O Jornal O Albor registrou a título de nota social em sua edição do dia 6 do mesmo mês: 

“Às 17 horas teve início no tombadilho do Si Brodin a encantadora festa oferecida às autoridades e ao comércio local, presentes os convidados e a oficialidade do navio.
Sobretudo, permita-nos destacar a Exma. esposa do comandante Viktor, que foi cativante na distribuição de gentilezas a todos os presentes num cock-tail distinto e maravilhoso que a todos surpreendeu e agradou pela perícia e finura, pelo gosto e ordem de sua distribuição”.
No cais do Porto Carvoeiro, populares observam o grande navio Si Brodin.
O povo? Bem... o povo sob o sol tórrido do verão do início do mês de março a tudo assistia maravilhado pelo tamanho do navio. Testemunhava, com “roupa de domingo”, em pé ou sentado nas pedras do porto, a entrada de ilustres convidados e suas vestimentas e sonhava novos dias para nossa cidade, com mais empregos e dinheiro em circulação.
Como ainda hoje continua sonhando.

A festa não foi longa, mesmo porque era um coquetel, mas com muitos discursos “na hora do champanhe”, como era usual.
Discursaram, entre outros, os senhores Sadi Magalhães; o promotor João Gualberto Furtado, da nossa Comarca. Falaram ainda sobre o acontecimento o comandante Erik Kreuger e o cronista e futuro compositor do Hino da Laguna, Osmar Cook.
“Todos foram muito aplaudidos”, ressalta O Albor.
Às 19 horas, imaginemos com um lindo por do sol lá pelos lados do Morro Grande, com reflexos multicolores nas águas piscosas da nossa Lagoa Santo Antônio dos Anjos, os primeiros convidados começaram a se despedir.

“Encantados com as gentilezas recebidas, levavam nos corações a esperança de registrar em breve o desenvolvimento econômico proporcionado pela fecunda iniciativa de uma navegação direta entre o Porto da Laguna e os da América do Norte”, finalizou a reportagem do jornal. 

Sonho de uma tarde de verão
Mas a linha de navegação direta com os EUA, apesar dos esforços e da vontade de muitos em realizá-la, ficou mesmo nas gentilezas, nos discursos e no coquetel.
Foi uma (mais uma!) esperança de uma tarde de verão.
Mesmo porque o nosso porto já tinha se transformado desde 1939 unicamente em carvoeiro. Como mesclá-lo com cargas a granel e pátio lotado de poluidoras pedras de carvão?
Naquele mesmo ano de 1948, o Si Brodin já fazia viagens a partir do Porto de Itajaí e logo em seguida são registradas diversas viagens de ida-e-volta aos EUA, pelo Porto de Paranaguá, no Paraná, transportando café, madeira e sal.
Jornal Diário da Tarde, do Paraná, de 6 de outubro de 1948 noticiando a chegada do Si Brodin ao Porto de Paranaguá.
Por exemplo, no dia 6 de outubro de 1948, sete meses após sua estadia na Laguna, o jornal Diário da Tarde, do Paraná, registrava a chegada do Si Brodin ao Porto de Paranaguá, com 100 jipes vindos do Porto de Nova Iorque.
 
Últimos anos do navio
Conforme o site histarmar.com.ar o navio Si Brodin navegou para a empresa Brodin Line até 1951, quando foi adquirido pela H. Jeansson, Gotemburgo, sendo renomeado como Hyperion.
Em 1953 foi vendido para a Companhia de Navegação Riograndense S.A., sendo rebatizado como Imbahá.
Imbahá, o novo nome para o Si Brodin. Foto: Carlos Dufriche - Shipspotting
Vai compor a frota desta empresa junto ao Charrua e o Minuano, conhecidos como “Cavalinhos brancos da costa”.
Em 7 de abril de 1966, após abalroar o navio Caetano Parisi no canal Martins Garcia, no Rio da Prata, proximidade de Buenos Aires, sofreu avarias e naufragou.
Em 4 de maio do mesmo ano foi reflutuado e rebocado para o Porto de Buenos Aires, onde foi declarada sua perda construtiva total.
Mesmo assim foi reparado e voltou a navegar, encalhando em 16 de novembro de 1968 numa praia a 15 milhas náuticas ao norte de Necochea, na Argentina, onde em junho de 1971 foi sucateado.

9 comentários:

  1. Edison de Andrade28/05/2021, 14:27

    Que história Valmir. Vejo de vez em quando está foto na internet mas não sabia de sua história, do contexto. Muito bom esse resgate.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é. Fui em busca dos pormenores. Nos mínimos detalhes... como alguém já falou que faço.
      Abraço

      Excluir
  2. Adoro essas histórias de navios, naufrágios, viagens...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Também aprecio. E Laguna tem muitas, inclusive piratas. Agradeço a leitura.

      Excluir
  3. O que já foi o nosso porto e hoje dando prejuízo. Nem dragagem fazem. E ainda fizeram aquilo nas pedras da entrada dos molhes. Gostei da pesquisa do navio. Abraço.
    Geraldo de Jesus

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nosso porto foi o maior escoadouro da?região sul. Opções erradas, traições, como digo em meu livro, o transformaram no que é hoje, um simples terminal de pesca. E dando prejuízo!!!
      Agradeço a leitura é comentário.

      Excluir
  4. José de Abreu Oliveira31/05/2021, 10:05

    Bom dia. Bom conhecer histórias do nosso porto.

    ResponderExcluir
  5. Boa noite Valmir. Eu fico me perguntando, e isso não é de hoje, o porquê das coisas em nossa terra terem sempre um fim tão triste e com uma história que poderia ter sido por vezes tão alegre e saudável para todos. Respostas, bem, essas não são fáceis, sempre complicadas e indignas de todo o passado de nossa cidade. Tudo isso é infelizmente lastimável, escolhas erradas, promessas não cumpridas e etc. Enfim, sei que a vida continua e que não devemos perder a esperança, mas lendo um relato como esse seu e descobrindo que muita coisa deveria ser diferente, penso que é duro viu, ter um lugar assim como o nosso, que está estagnado há anos e que aparentemente não consegue mais crescer, parecendo com aquela arvorezinha lá do jardim sabe, que nasceu com dificuldade, cresceu e ficou frondosa, porém não foi bem cuidada e morreu. Assim é a Laguna para mim. Mais uma vez meus parabéns pela matéria muito bacana e informativa. Abraços.

    ResponderExcluir
  6. Valmir... parabéns pela reportagem.!!! Como sempre, sua abordagem é a mais completa possível, com fatos/ fotos e dados. Há muitos anos ganhei uma revista publicada como material institucional da SOTELCA (Sociedade Termoélétrica de Capivari), que foi a primeira denominação da Usina Jorge Lacerda, que seria o futuro complexo de geração de eletricidade localizada em Capivari - Tuburão / SC (atualmente o Munícipio de Capivari). Bem, nesta revista tinha uma grande reportagem sobre a chegada deste navio que estava trazendo diversos componentes para as duas primeiras unidades geradoras, que eram de fabricação alemã. Algumas fotos ilustravam a matéria e davam alguns dados técnicos. Bem, o tempo passou e muitos anos depois ao ler o seu livro Porto da Laguna - a luta de um povo traído, me deparei na página 52 com a foto do navio sueco Si Brodin... que consta nesta matéria do BLOG. Pois é... e como não poderia deixar (infelizmente) de ser, aqui temos mais uma história das aventuras e desventuras da Laguna... neste caso, não foi o vento, mas, o Mar Levou.!!!
    Grande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.

    ResponderExcluir