Em 1948 atracou no cais do Porto Carvoeiro da Laguna o maior navio que até hoje passou pelos nossos Molhes da Barra.
Era o Si Brodin cargueiro sueco da empresa Brodin
Line.
A notícia da
chegada da enorme embarcação correu célere pela cidade e muitos populares foram
ao local observar as manobras na bacia de evolução e vê-lo atracado ao cais de
300 metros, entre os bairros Magalhães e Mar Grosso.
Entre
guindastes e pátio lotado de carvão, o grande navio virou atração.
Houve foguetes
e festa a bordo reunindo tripulantes, oficiais, autoridades, armadores,
comerciantes e políticos da Laguna e, como não poderia faltar, discursos,
muitos discursos.
A intenção dos
armadores e seus representantes era que o navio fosse fazer dali em diante a
rota do sul do estado com portos dos EUA.
Da Laguna ao
EUA e vice-versa, vejam só! Que luxo!
Mas os planos infelizmente
não se concretizaram, mesmo porque o nosso porto já tinha se transformado unicamente
em Carvoeiro.
O Si Brodin passou então a utilizar outros
terminais comerciais, entre eles, principalmente, o Porto de Paranaguá, no
Paraná.
O navio nunca
mais retornou ao porto lagunense, mas mostrou, na época, com seu grande calado com
mais de 5 metros, que não existia a famosa pedra obstaculizando a entrada dos
molhes.
Com dragagem
realizada periodicamente em seu canal e bacia de evolução, o Porto da Laguna
estaria capacitado para receber embarcações maiores, apesar dos molhes em
formato de tenaz.
A chegada
Era uma linda
manhã quente de verão, 29 de fevereiro do ano bissexto de 1948, quando adentrou
pelo canal da Barra da Laguna o maior navio cargueiro até hoje visto em nosso
Porto.
O Si Brodin havia sido construído no
Estaleiro Lindholmens Varv AB, em Estocolmo, na Suécia, e em setembro de 1944
entregue à empresa Brodin Line
A família
sueca Brodin era ligada a assuntos marítimos desde 1732, com Erik Brodin
iniciado em 1937 os serviços regulares entre os Estados Unidos, Brasil e
Argentina.
Entre os
navios pertencentes à Brodin Line constavam o Ivone, Lia, Astri, Anita, Itajaí e Paranaguá, os dois últimos em homenagem
aos portos onde mais tarde atuará.
Houve também o
Lena Brodin que numa viagem de Nova
Iorque para o Brasil incendiou-se na costa das Bermudas em 10 de junho de 1947, sem vítimas.
Dados técnicos
Nome: Si
Brodin
Tipo: Navio
Mercante a motor
Porte Bruto:
3.200 t
Comprimento:
91m38cm
Boca: 12m87cm
Pontal: 6m43cm
Calado: 5m43cm
Motorização:
Motor diesel M.A.N.
Potência:
2,100 BHP
Hélice: 1
Velocidade: 12
nós
Consumo: 8
t/dia
Combustível:
405m3
Tripulantes:
29
Porões: 5
Carga: A
granel: 157.713p3; geral: 143.375 p3
A chegada de
um navio dessas proporções, desse calado na Laguna, obviamente despertou
curiosidades e populares acorreram ao local para observar as manobras no berço
de evolução e vê-lo atracado ao cais de 300 metros recém-construído no Porto
Carvoeiro, entre os bairros Magalhães e Mar Grosso.
O mercante
carregou em nosso porto 1.220 toneladas de fécula de mandioca, cujos embarcadores
foram a empresa Rocha & Cia., de nossa cidade, que tinha entre os sócios o
lagunense Haroldo Rocha; e a firma Max Wirth & Cia. Ltda, de Santos,
representada em Santa Catarina pela empresa Ernesto Rigenbach & Cia., de
Florianópolis.
A intenção era
uma linha direta Laguna-América do Norte-Laguna, em viagem, portanto, de
ida-e-volta, num período de 50 dias aproximadamente.
A iniciativa
da criação desta linha partiu do lagunense Sadi Magalhães, um dos diretores da
empresa Samarco, de Itajaí; do inspetor Erik Kreuger, e do comandante do Si Brodin
Viktor Alfons Lundqvist.
Era agente do
navio nesta cidade Waldemar Bellaguarda.
Um novo tempo
para Laguna parecia surgir.
O Jornal O Albor exultava:
“Após diversas
preparatórias chegou finalmente o dia da realidade. Com a entrada deste navio
sueco neste porto maravilhoso, que é um dos escoadouros de vital importância
para a economia catarinense”.
Festa no tombadilho
No dia 2 de
março, com os porões já carregados, foi oferecido um coquetel a convidados, a
ser realizado a bordo da embarcação.
O Jornal O Albor registrou a título de nota
social em sua edição do dia 6 do
mesmo mês:
“Às 17 horas
teve início no tombadilho do Si Brodin
a encantadora festa oferecida às autoridades e ao comércio local, presentes os
convidados e a oficialidade do navio.
Sobretudo,
permita-nos destacar a Exma. esposa do comandante Viktor, que foi cativante na
distribuição de gentilezas a todos os presentes num cock-tail distinto e maravilhoso que a todos surpreendeu e agradou
pela perícia e finura, pelo gosto e ordem de sua distribuição”.
O povo? Bem...
o povo sob o sol tórrido do verão do início do mês de março a tudo assistia maravilhado
pelo tamanho do navio. Testemunhava, com “roupa de domingo”, em pé ou sentado
nas pedras do porto, a entrada de ilustres convidados e suas vestimentas e
sonhava novos dias para nossa cidade, com mais empregos e dinheiro em
circulação.
Como ainda
hoje continua sonhando.
A festa não
foi longa, mesmo porque era um coquetel, mas com muitos discursos “na hora do
champanhe”, como era usual.
Discursaram,
entre outros, os senhores Sadi Magalhães; o promotor João Gualberto Furtado, da
nossa Comarca. Falaram ainda sobre o acontecimento o comandante Erik Kreuger e
o cronista e futuro compositor do Hino da Laguna, Osmar Cook.
“Todos foram
muito aplaudidos”, ressalta O Albor.
Às 19 horas,
imaginemos com um lindo por do sol lá pelos lados do Morro Grande, com reflexos
multicolores nas águas piscosas da nossa Lagoa Santo Antônio dos Anjos, os primeiros
convidados começaram a se despedir.
“Encantados
com as gentilezas recebidas, levavam nos corações a esperança de registrar em
breve o desenvolvimento econômico proporcionado pela fecunda iniciativa de uma
navegação direta entre o Porto da Laguna e os da América do Norte”, finalizou a reportagem do jornal.
Sonho de uma tarde de verão
Mas a linha de
navegação direta com os EUA, apesar dos esforços e da vontade de muitos em realizá-la,
ficou mesmo nas gentilezas, nos discursos e no coquetel.
Foi uma (mais
uma!) esperança de uma tarde de verão.
Mesmo porque o
nosso porto já tinha se transformado desde 1939 unicamente em carvoeiro. Como
mesclá-lo com cargas a granel e pátio lotado de poluidoras pedras de carvão?
Naquele mesmo
ano de 1948, o Si Brodin já fazia
viagens a partir do Porto de Itajaí e logo em seguida são registradas diversas
viagens de ida-e-volta aos EUA, pelo Porto de Paranaguá, no Paraná,
transportando café, madeira e sal.
Jornal Diário da Tarde, do Paraná, de 6 de outubro de 1948 noticiando a chegada do Si Brodin ao Porto de Paranaguá. |
Por exemplo,
no dia 6 de outubro de 1948, sete meses após sua estadia na Laguna, o jornal Diário da Tarde, do Paraná, registrava a
chegada do Si Brodin ao Porto de
Paranaguá, com 100 jipes vindos do Porto de Nova Iorque.
Últimos anos do navio
Conforme o
site histarmar.com.ar o navio Si Brodin
navegou para a empresa Brodin Line até 1951, quando foi adquirido pela H.
Jeansson, Gotemburgo, sendo renomeado como Hyperion.
Em 1953 foi
vendido para a Companhia de Navegação Riograndense S.A., sendo rebatizado como
Imbahá.
Vai compor a
frota desta empresa junto ao Charrua
e o Minuano, conhecidos como
“Cavalinhos brancos da costa”.
Em 7 de abril
de 1966, após abalroar o navio Caetano
Parisi no canal Martins Garcia, no
Rio da Prata, proximidade de Buenos Aires, sofreu avarias e naufragou.
Em 4 de maio
do mesmo ano foi reflutuado e rebocado para o Porto de Buenos Aires, onde foi
declarada sua perda construtiva total.
Mesmo assim
foi reparado e voltou a navegar, encalhando em 16 de novembro de 1968 numa
praia a 15 milhas náuticas ao norte de Necochea, na Argentina, onde em junho de
1971 foi sucateado.
Que história Valmir. Vejo de vez em quando está foto na internet mas não sabia de sua história, do contexto. Muito bom esse resgate.
ResponderExcluirPois é. Fui em busca dos pormenores. Nos mínimos detalhes... como alguém já falou que faço.
ExcluirAbraço
Adoro essas histórias de navios, naufrágios, viagens...
ResponderExcluirTambém aprecio. E Laguna tem muitas, inclusive piratas. Agradeço a leitura.
ExcluirO que já foi o nosso porto e hoje dando prejuízo. Nem dragagem fazem. E ainda fizeram aquilo nas pedras da entrada dos molhes. Gostei da pesquisa do navio. Abraço.
ResponderExcluirGeraldo de Jesus
Nosso porto foi o maior escoadouro da?região sul. Opções erradas, traições, como digo em meu livro, o transformaram no que é hoje, um simples terminal de pesca. E dando prejuízo!!!
ExcluirAgradeço a leitura é comentário.
Bom dia. Bom conhecer histórias do nosso porto.
ResponderExcluirBoa noite Valmir. Eu fico me perguntando, e isso não é de hoje, o porquê das coisas em nossa terra terem sempre um fim tão triste e com uma história que poderia ter sido por vezes tão alegre e saudável para todos. Respostas, bem, essas não são fáceis, sempre complicadas e indignas de todo o passado de nossa cidade. Tudo isso é infelizmente lastimável, escolhas erradas, promessas não cumpridas e etc. Enfim, sei que a vida continua e que não devemos perder a esperança, mas lendo um relato como esse seu e descobrindo que muita coisa deveria ser diferente, penso que é duro viu, ter um lugar assim como o nosso, que está estagnado há anos e que aparentemente não consegue mais crescer, parecendo com aquela arvorezinha lá do jardim sabe, que nasceu com dificuldade, cresceu e ficou frondosa, porém não foi bem cuidada e morreu. Assim é a Laguna para mim. Mais uma vez meus parabéns pela matéria muito bacana e informativa. Abraços.
ResponderExcluirValmir... parabéns pela reportagem.!!! Como sempre, sua abordagem é a mais completa possível, com fatos/ fotos e dados. Há muitos anos ganhei uma revista publicada como material institucional da SOTELCA (Sociedade Termoélétrica de Capivari), que foi a primeira denominação da Usina Jorge Lacerda, que seria o futuro complexo de geração de eletricidade localizada em Capivari - Tuburão / SC (atualmente o Munícipio de Capivari). Bem, nesta revista tinha uma grande reportagem sobre a chegada deste navio que estava trazendo diversos componentes para as duas primeiras unidades geradoras, que eram de fabricação alemã. Algumas fotos ilustravam a matéria e davam alguns dados técnicos. Bem, o tempo passou e muitos anos depois ao ler o seu livro Porto da Laguna - a luta de um povo traído, me deparei na página 52 com a foto do navio sueco Si Brodin... que consta nesta matéria do BLOG. Pois é... e como não poderia deixar (infelizmente) de ser, aqui temos mais uma história das aventuras e desventuras da Laguna... neste caso, não foi o vento, mas, o Mar Levou.!!!
ResponderExcluirGrande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.