quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Histórias de eleições que se perderam no tempo (Parte I)

Em tempo de eleições muitos fatos acontecem no calor dos debates, das campanhas, dos comícios. Acusações de todo tipo vêm à tona, assuntos da vida particular são esmiuçados.
O jogo jogado é muito pesado e às vezes utilizar-se desses artifícios pode se tornar uma faca de dois gumes.

Mas também em eleições se sucedem fatos pitorescos, engraçados. São histórias que marcam gerações e depois, como na vida, alguns protagonistas passam e somem com as brumas do tempo.
Mas sempre há alguém a registrar, relembrar e contar para outro alguém. Quem conta um conto aumenta um ponto, diz o adágio popular.
E rir ainda é o melhor remédio, como dizia uma velha seção da Revista Seleções.
Pois bem, das inúmeras histórias pitorescas que conheço da política acontecidas na Laguna, trago duas delas hoje e mais duas no próximo sábado.
Que elas sirvam para quebrar um pouco esse clima meio bélico, judicializado, polarizado, com troca de acusações que estamos vivendo nestas eleições.
E fica o desejo para que no próximo domingo, dia 6, o voto do eleitor lagunense seja o mais consciente possível.

Prefeito, lembras de mim?
Na história a seguir, obviamente troquei o nome, acrescentei e omiti alguns detalhes. Mas a cena aconteceu de fato há muitos anos, no tempo em que os bichos falavam, como antigamente se dizia. Ainda se diz?
Pois um sujeito ganhou a eleição para prefeito da Laguna. Vaidoso como ele só, encomendou um terno para sua posse que aconteceria no primeiro dia do ano seguinte.
Quando chegou a data, o clube estava lotado. Correligionários, cabos eleitorais, amigos, familiares, empresários, autoridades de diversos escalões presentes. Até o padre compareceu ao evento.
Hino executado, o candidato eleito foi chamado para assinar o livro de posse como prefeito.
Ao passar todo posudo pelo corredor, todos se levantaram em respeito, com alguns o cumprimentando entusiasticamente com apertos de mãos e abraços.
Na primeira fila uma senhora também se levantou e logo disse:
-Tião, Tião, lembras de mim, sou eu a Mariquinha!
O prefeito a olhou rapidamente, mas desviou logo o olhar, fazendo cara de paisagem, de pouco caso. Não a reconheceu ou fingiu não a reconhecer, nunca se soube. Passou direto.
A mulher, percebendo o desprezo disse em alto e bom som para todos ouvirem:
-Agora és prefeito, finges não lembrar mais de mim, ingrato. Esquecesses do passado, agora não lembras nem queres mais a minha pomba!
Foi um auê, um constrangimento geral. Depois ouviu-se muitas risadas e gargalhadas no salão.
Nos dias seguintes era só o que se falava no mercado público, nas boticas e cafés da Laguna. E à mesa nos lares, afastadas as crianças da sala.
E desde aquele dia da posse, o prefeito passou a ser conhecido pela oposição e nas conversas ao pé de ouvido como:
Tião... Tião Pombinha!

Um coelho na cartola
Eleição de 1982. O vereador eleito Antônio Pedro dos Santos, mais conhecido como Nico Coelho, era candidato à presidência da Mesa Diretora da Câmara.
Eleição apertada, disputadíssima. Feitas as contas, Nico Coelho para fazer maioria e ser eleito presidente, dependia do voto de um só vereador.
O problema era que esse vereador era analfabeto, só sabia escrever mal e mal o próprio nome.
Como fazer com que ele escrevesse o nome "Nico Coelho" na cédula que era entregue na hora pelo secretário, na frente de todo mundo e em seguida depositada na urna?
Tentaram ensinar o vereador, fizeram alguns exercícios, mas não havia jeito, o homem não aprendia, cabeça dura.
Até que um assessor encontrou a solução e disse que o tal vereador analfabeto iria de qualquer jeito votar em Nico Coelho, seu voto iria aparecer na urna. Tudo dentro da legalidade.
-Mas como tu vai fazer? Perguntou outro assessor.
-Eu garanto, retrucou o primeiro, fazendo segredo.
-Olhe lá hein, dependemos disso para ganhar.
No dia da eleição a expectativa era grande.
Chamado, o vereador se levantou sob os olhares de todos, foi até a cabina e para surpresa geral, por alguns segundos rabiscou com a caneta na cédula e depositou o papel dobrado na urna.
Fim da votação foram para a contagem dos votos.
Como esperado, faltava só um voto para Nico Coelho fazer maioria e ser eleito.
Quando se abriu a última cédula lá estava bem grande o desenho de um coelho, comendo uma cenoura e com grandes orelhas e tudo.
A oposição chiou, disse que o voto não valia e coisa e tal.
Mas no fim das discussões o desenho foi aceito e Nico Coelho foi eleito presidente da Câmara de Vereadores da Laguna.
O tal vereador podia não saber escrever, mas desenhar ele sabia muito bem.


4 comentários:

  1. kkk rindo muito aqui. Tião pombinha... quem foi Valmir, conta, conta...

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  2. Geraldo de Jesus03/10/2024, 22:46

    Essa do Coelho... é demais. Mas desenho vale mesmo, que assessor esperto.

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  3. Gostei do Tião Pombinha e do desenho do coelho. Laguna e suas histórias políticas.

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  4. Valmir... pois é, as eleições sempre foram motivadoras de brincadeiras e pilhérias entre eleitores, candidatos e população em geral. Outro fato verdadeiro sobre a praticamente todas as eleições desde o Império, passando pela República, República Nova... era o fato de na maioria das vezes eram fraudadas por todos os partidos, sendo um fato muito comum a "urna emprenhada" (!)... que significava que algumas urnas recebiam mais votos do que a quantidade de eleitores da secção eleitoral... e tal fato ocorria normalmente após um premeditado black out (algum esperto apagava as velas ou a energia elétrica). Vou aguardar as próximas histórias que você irá publicar.
    Grande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC

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