Em tempo de
eleições muitos fatos acontecem no calor dos debates, das campanhas, dos
comícios. Acusações de todo tipo vêm à tona, assuntos da vida particular são
esmiuçados.
O jogo jogado é
muito pesado e às vezes utilizar-se desses artifícios pode se tornar uma faca
de dois gumes.
Mas também em
eleições se sucedem fatos pitorescos, engraçados. São histórias que marcam
gerações e depois, como na vida, alguns protagonistas passam e somem com as
brumas do tempo.
Mas sempre há
alguém a registrar, relembrar e contar para outro alguém. Quem conta um conto
aumenta um ponto, diz o adágio popular.
E rir ainda é o
melhor remédio, como dizia uma velha seção da Revista Seleções.
Pois bem, das inúmeras
histórias pitorescas que conheço da política acontecidas na Laguna, trago duas delas hoje e mais duas no próximo sábado.
Que elas sirvam
para quebrar um pouco esse clima meio bélico, judicializado, polarizado, com troca
de acusações que estamos vivendo nestas eleições.
E fica o desejo para
que no próximo domingo, dia 6, o voto do eleitor lagunense seja o mais consciente possível.
Prefeito, lembras de mim?
Na história a seguir, obviamente troquei o nome, acrescentei e omiti alguns detalhes. Mas a cena aconteceu de fato há muitos anos, no tempo em que os bichos falavam, como antigamente se dizia. Ainda se diz?
Pois um sujeito ganhou a eleição para prefeito da Laguna. Vaidoso como ele só, encomendou um terno para sua posse que aconteceria no primeiro dia do ano seguinte.
Quando chegou a data, o clube estava lotado. Correligionários, cabos eleitorais, amigos, familiares, empresários, autoridades de diversos escalões presentes. Até o padre compareceu ao evento.
Hino executado, o candidato eleito foi chamado para assinar o livro de posse como prefeito.
Ao passar todo posudo pelo corredor, todos se levantaram em respeito, com alguns o cumprimentando entusiasticamente com apertos de mãos e abraços.
Na primeira fila uma senhora também se levantou e logo disse:
-Tião, Tião, lembras de mim, sou eu a Mariquinha!
O prefeito a olhou rapidamente, mas desviou logo o olhar, fazendo cara de paisagem, de pouco caso. Não a reconheceu ou fingiu não a reconhecer, nunca se soube. Passou direto.
A mulher, percebendo o desprezo disse em alto e bom som para todos ouvirem:
-Agora és prefeito, finges não lembrar mais de mim, ingrato. Esquecesses do passado, agora não lembras nem queres mais a minha pomba!
Foi um auê, um constrangimento geral. Depois ouviu-se muitas risadas e gargalhadas no salão.
Nos dias seguintes era só o que se falava no mercado público, nas boticas e cafés da Laguna. E à mesa nos lares, afastadas as crianças da sala.
E desde aquele dia da posse, o prefeito passou a ser conhecido pela oposição e nas conversas ao pé de ouvido como:
Tião... Tião Pombinha!
Um coelho na
cartola
Eleição de 1982.
O vereador eleito Antônio Pedro dos Santos, mais conhecido como Nico Coelho, era candidato à presidência da Mesa
Diretora da Câmara.
Eleição apertada,
disputadíssima. Feitas as contas, Nico Coelho para fazer maioria e ser eleito
presidente, dependia do voto de um só vereador.
O problema era
que esse vereador era analfabeto, só sabia escrever mal e mal o próprio nome.
Como fazer com
que ele escrevesse o nome "Nico Coelho" na cédula que era entregue na hora pelo
secretário, na frente de todo mundo e em seguida depositada na urna?
Tentaram ensinar
o vereador, fizeram alguns exercícios, mas não havia jeito, o homem não
aprendia, cabeça dura.
Até que um
assessor encontrou a solução e disse que o tal vereador analfabeto iria de
qualquer jeito votar em Nico Coelho, seu voto iria aparecer na urna. Tudo
dentro da legalidade.
-Mas como tu vai
fazer? Perguntou outro assessor.
-Eu garanto, retrucou o primeiro, fazendo segredo.
-Olhe lá hein,
dependemos disso para ganhar.
No dia da
eleição a expectativa era grande.
Chamado, o
vereador se levantou sob os olhares de todos, foi até a cabina e para surpresa geral,
por alguns segundos rabiscou com a caneta na cédula e depositou o papel dobrado
na urna.
Fim da votação
foram para a contagem dos votos.
Como esperado,
faltava só um voto para Nico Coelho fazer maioria e ser eleito.
Quando se abriu
a última cédula lá estava bem grande o desenho de um coelho, comendo uma
cenoura e com grandes orelhas e tudo.
A oposição
chiou, disse que o voto não valia e coisa e tal.
Mas no fim das
discussões o desenho foi aceito e Nico Coelho foi eleito presidente da Câmara
de Vereadores da Laguna.
O tal vereador podia
não saber escrever, mas desenhar ele sabia muito bem.
kkk rindo muito aqui. Tião pombinha... quem foi Valmir, conta, conta...
ResponderExcluirEssa do Coelho... é demais. Mas desenho vale mesmo, que assessor esperto.
ResponderExcluirGostei do Tião Pombinha e do desenho do coelho. Laguna e suas histórias políticas.
ResponderExcluirValmir... pois é, as eleições sempre foram motivadoras de brincadeiras e pilhérias entre eleitores, candidatos e população em geral. Outro fato verdadeiro sobre a praticamente todas as eleições desde o Império, passando pela República, República Nova... era o fato de na maioria das vezes eram fraudadas por todos os partidos, sendo um fato muito comum a "urna emprenhada" (!)... que significava que algumas urnas recebiam mais votos do que a quantidade de eleitores da secção eleitoral... e tal fato ocorria normalmente após um premeditado black out (algum esperto apagava as velas ou a energia elétrica). Vou aguardar as próximas histórias que você irá publicar.
ResponderExcluirGrande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC