Como o
clima e o noticiário continua político, com vários municípios do Brasil se preparando para o
segundo turno.
Como as
atenções agora na Laguna se voltam para os preparativos de transição e nomes
para o novo secretariado já começam a ser ventilados nos bastidores,
continuamos com nossas histórias da política lagunense de outrora.
O Perú do
prefeito
Era praxe
antigamente, nos dias que antecediam o Natal, o prefeito da Laguna receber
muitos presentes em seu gabinete.
Eram
correligionários, simpatizantes, amigos e conhecidos, principalmente do
interior do município, que vinham trazer um mimo.
Presenteavam
com o que podiam oferecer, às vezes na dificuldade, mas sempre presentes dados de coração.
Eram
peixes, quilos de camarão e carne de siri, bolos, frutas, verduras, ovos, galinhas...
De butuca na cena,
o cunhado de um prefeito, vendo aquela abundância de presentes diários chegando, não perdeu
tempo e se postou em frente ao Mercado Público. A prefeitura, é bom lembrar,
nessa época funcionava no andar superior do prédio.
Ali mesmo, aos pés da escadaria, o cunhado se oferecia para ser o intermediário, alegando
que o prefeito andava muito ocupado, em reunião, e não ia poder recebê-los tão
cedo.
Como o
pessoal já o conhecia como parente, entregava os presentes na confiança, recomendando que ele
não esquecesse de informar ao prefeito quem tinha trazido:
-Olha, essa
galinha e essa cuca é para entregar para o prefeito hein? E diga que fui eu
quem trouxe.
-Deixe
comigo, pode deixar que entrego para ele hoje mesmo e digo que o presente é da
senhora, dona Mariquinha.
-Seu
Maneca, não se preocupe, vou entregar direitinho esses ovos e a galinha na casa
dele hoje à noite mesmo.
E com isso
o cunhado do prefeito montou um cardápio farto e variado em sua casa, com a
mulher e filharada passando bem nos almoços, cafés e jantares do mês de dezembro.
Afinal, nunca
tomaram tanta gemada, nunca comeram tanto risoto e bolo e pão caseiro e omelete e camarão ensopado e chuparam tanta laranja crava, além de deliciosas e suculentas melancias.
No fundo do
quintal de sua casa, no bairro Lagoa Preta, hoje Navegantes, o cunhado do
prefeito montou até um galinheiro onde tinha de tudo: galo, galinha caipira,
carijó, poedeira, pescoço pelado.
Só de pintinhos
passava de cinquenta.
Tudo
presentes destinados ao prefeito e que, sorrateiramente, haviam mudado de
endereço.
No dia do
Natal, sua irmã, mulher do prefeito passou em sua casa para deixar uns
brinquedinhos para os sobrinhos.
A visita
era para ser à tarde, como sempre fazia, mas desta vez se adiantou e chegou bem na
hora do almoço, da ceia.
Surpresa!
Quando
chegou e entrou se deparou com todos à mesa saboreando uma robusta ave assada.
Como
conhecia seu irmão de outros carnavais e natais, logo ligou as coisas e
boquiaberta exclamou:
-Peraí, esse eu conheço, esse é o Perú do
prefeito!
Ali estava
a explicação porque o prefeito ainda não havia recebido para o Natal, como todo ano, o presente do seu Zeca de Bem lá do Ribeirão.
Deu na
cabeça
Eleições de
1976 na Laguna, os comícios se sucediam nos bairros e localidades, sempre
concorridos.
Eram nessas
reuniões que os candidatos eram ouvidos e apresentados ao eleitorado.
Momento do
chamado corpo-a-corpo, dos abraços e apertos de mão, das promessas e dos
cafezinhos nas casas dos correligionários, dos cabos eleitorais, dos compadres
e comadres.
Era também
quando se distribuíam os famosos “santinhos” com as fotos e números dos
candidatos.
Época em
que nem se sonhava com internet e redes sociais.
As gráficas
trabalhavam a mil na confecção dos papelotes que eram entregues pelos
candidatos na esperança de conquistar o voto.
Um dos que
mais se esmeraram na época na entrega do seu “santinho” foi o candidato a
vereador pela Arena Heitor Parente Júnior.
Em todo
canto da cidade sua foto e número de candidato estampados no pequeno papel era encontrado.
Enfiado por debaixo das soleiras, em cima dos balcões dos bares, cafés, barbearias, nas caixinhas
postais, nos para-brisas dos carros.
Nos álbuns
de colecionadores sua figurinha era considerada “cherne”, como então se dizia.
A eleição
era na segunda-feira, 15 de novembro, feriado.
No sábado, 13, certamente de tanto ver por semanas o número 2.120 (cachorro) estampado em milhares de “santinhos” do Heitor, o pessoal descarregou esse número na chamada "Loteria
Popular", também chamada “do poste”.
Pois à noite
o milhar deu na cabeça. Muita gente passou o fim de semana prolongado comemorando, gastando,
feliz.
Menos o
candidato que não jogou, recebeu 205 votos e não foi eleito.
É muito legal o resgate dessas histórias políticas.
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