quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Histórias de eleições que se perderam no tempo (III)

 
Como o clima e o noticiário continua político, com vários municípios do Brasil se preparando para o segundo turno.
Como as atenções agora na Laguna se voltam para os preparativos de transição e nomes para o novo secretariado já começam a ser ventilados nos bastidores, continuamos com nossas histórias da política lagunense de outrora. 

O Perú do prefeito
Era praxe antigamente, nos dias que antecediam o Natal, o prefeito da Laguna receber muitos presentes em seu gabinete.
  Eram correligionários, simpatizantes, amigos e conhecidos, principalmente do interior do município, que vinham trazer um mimo.
Presenteavam com o que podiam oferecer, às vezes na dificuldade, mas sempre presentes dados de coração.
Eram peixes, quilos de camarão e carne de siri, bolos, frutas, verduras, ovos, galinhas...
De butuca na cena, o cunhado de um prefeito, vendo aquela abundância de presentes diários chegando, não perdeu tempo e se postou em frente ao Mercado Público. A prefeitura, é bom lembrar, nessa época funcionava no andar superior do prédio.

Ali mesmo, aos pés da escadaria, o cunhado se oferecia para ser o intermediário, alegando que o prefeito andava muito ocupado, em reunião, e não ia poder recebê-los tão cedo.
Como o pessoal já o conhecia como parente, entregava os presentes na confiança, recomendando que ele não esquecesse de informar ao prefeito quem tinha trazido:
-Olha, essa galinha e essa cuca é para entregar para o prefeito hein? E diga que fui eu quem trouxe.
-Deixe comigo, pode deixar que entrego para ele hoje mesmo e digo que o presente é da senhora, dona Mariquinha.
-Seu Maneca, não se preocupe, vou entregar direitinho esses ovos e a galinha na casa dele hoje à noite mesmo.

E com isso o cunhado do prefeito montou um cardápio farto e variado em sua casa, com a mulher e filharada passando bem nos almoços, cafés e jantares do mês de dezembro. 
Afinal, nunca tomaram tanta gemada, nunca comeram tanto risoto e bolo e pão caseiro e omelete e camarão ensopado e chuparam tanta laranja crava, além de deliciosas e suculentas melancias.
No fundo do quintal de sua casa, no bairro Lagoa Preta, hoje Navegantes, o cunhado do prefeito montou até um galinheiro onde tinha de tudo: galo, galinha caipira, carijó, poedeira, pescoço pelado.
Só de pintinhos passava de cinquenta.
Tudo presentes destinados ao prefeito e que, sorrateiramente, haviam mudado de endereço.
No dia do Natal, sua irmã, mulher do prefeito passou em sua casa para deixar uns brinquedinhos para os sobrinhos.
A visita era para ser à tarde, como sempre fazia, mas desta vez se adiantou e chegou bem na hora do almoço, da ceia.
Surpresa!
Quando chegou e entrou se deparou com todos à mesa saboreando uma robusta ave assada.
Como conhecia seu irmão de outros carnavais e natais, logo ligou as coisas e boquiaberta exclamou:
 -Peraí, esse eu conheço, esse é o Perú do prefeito!
Ali estava a explicação porque o prefeito ainda  não havia recebido para o Natal,  como todo ano, o presente do seu Zeca de Bem lá do Ribeirão. 

Deu na cabeça
Eleições de 1976 na Laguna, os comícios se sucediam nos bairros e localidades, sempre concorridos.
Eram nessas reuniões que os candidatos eram ouvidos e apresentados ao eleitorado.
Momento do chamado corpo-a-corpo, dos abraços e apertos de mão, das promessas e dos cafezinhos nas casas dos correligionários, dos cabos eleitorais, dos compadres e comadres.
Era também quando se distribuíam os famosos “santinhos” com as fotos e números dos candidatos.
Época em que nem se sonhava com internet e redes sociais.
As gráficas trabalhavam a mil na confecção dos papelotes que eram entregues pelos candidatos na esperança de conquistar o voto.
Um dos que mais se esmeraram na época na entrega do seu “santinho” foi o candidato a vereador pela Arena Heitor Parente Júnior.
Em todo canto da cidade sua foto e número de candidato estampados no pequeno papel era encontrado. Enfiado por debaixo das soleiras, em cima dos balcões dos bares, cafés, barbearias, nas caixinhas postais, nos para-brisas dos carros.
Nos álbuns de colecionadores sua figurinha era considerada “cherne”, como então se dizia.
A eleição era na segunda-feira, 15 de novembro, feriado.
No sábado, 13, certamente de tanto ver por semanas o número 2.120 (cachorro) estampado em milhares de “santinhos” do Heitor, o pessoal descarregou esse número na chamada "Loteria Popular", também chamada “do poste”.
Pois à noite o milhar deu na cabeça. Muita gente passou o fim de semana prolongado comemorando, gastando, feliz.
Menos o candidato que não jogou, recebeu 205 votos e não foi eleito.

Um comentário:

  1. Geraldo de Jesus16/10/2024, 21:40

    É muito legal o resgate dessas histórias políticas.

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