sábado, 5 de outubro de 2024

Histórias de eleições que se perderam no tempo (Parte II)

          Milagre na Estiva
A eleição estava quente na Laguna em 1988. Carreatas, visitas aos correligionários, muito cafezinho e sola de sapato para percorrer ruas e visitar as comunidades.
E comícios. Muitos comícios sendo realizados.
O vento nordeste açoitava toda a região naquele novembro. Muitos dias sem chover e por conta do salitre, aconteciam muitas interrupções na energia elétrica.
Na Estiva, o comício estava lotado naquela noite de sábado. O povo se aglomerava defronte ao palanque montado ali no morro da igrejinha.
Discursava empolgado o candidato a vereador, advogado e presidente do Clube Blondin, saudoso Jayson Prates Silva.
Bem no meio da palavra, microfone em punho, faltou luz e se fez silêncio. A turma exclamou o ohhhh de sempre quando isso acontece. 
E esperou.
Jayson não perdeu a deixa e aos gritos para ser ouvido por todos disse que era de bom tom nessas ocasiões, quando faltava luz, quebrar uma taça de cristal. Era um gesto de fé e esperança no futuro, uma antiga simpatia.
- E é batata! Fazendo isso, quebrando vidro, a luz sempre volta, finalizou Jayson.
E dizendo isso, na falta de uma taça de cristal, pegou um copo com água de um sujeito que estava ao lado e com os pés quebrou o vidro no assoalho do palanque.
Pois no mesmo instante a luz voltou a iluminar a todos e o som retornou.
-Aleluia, aleluia, é um milagre, gritou a multidão.
Pelo sim, pelo não da eficácia da simpatia, Jayson Prates foi eleito vereador pelo PDT naquela eleição. 
E foi muito bem votado na Estiva.

Os pedinchões
Época de eleições é quando surgem os mais diversos pedidos aos candidatos.
Os pedinchões pipocam pelas esquinas no faro de qualquer político e dos locais onde eles possam estar.
Renato Borges de Oliveira era mais uma vez candidato a vereador na Laguna, mas já estava cansado das mordidas que andava recebendo. A campanha só havia começado, mas as ferradas estavam sendo demais.
Se continuasse assim, atendendo a todos, não chegaria ao dia eleições. Ficaria no meio do caminho. E ainda por cima falido.
   No sábado pela manhã, de dentro do seu carro estacionado na rua Raulino Horn, o candidato a vereador observa o movimento. Pensa em dar uma volta pelo comércio, sentir o clima político, entregar uns “santinhos”.
Súbito, alguém bate no vidro do seu carro. Ele olha e suspira. É um conhecido mordedor da Laguna.
Sem alternativas, abaixa um pouco o vidro da janela.
O mordedor pergunta:
- E daí vereador, tem um trocado pra mim, sabe com’é, a coisa tá difícil, tô precisando comprar umas coisinhas lá pra casa.
- Rapaz, me pegasse desprevenido, tô sem nenhum tostão na carteira.
- Uns vinte conto tá bom, chefia.
- Cara, não tenho, tô duro.
 - Dez conto, então?
- Não tenho mesmo, fica pra outra vez.
- Pô... E um cigarro? Tens um cigarrinho pra arranjar?
- Parei de fumar no mês passado.
O mordedor faz cara feia, mas não se dá por vencido.
- E isso aí no bolso da tua camisa, o que é?
- Ahhhh... isso é um colírio que uso para meus olhos.
- Então faz um favor vereador, pinga ni mim, pinga...

Um comentário:

  1. Kkk Pinga ni mim. Tipo injeção na testa, de graça...

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