Milagre na Estiva
A eleição estava quente na Laguna em 1988. Carreatas, visitas aos correligionários, muito cafezinho e sola de sapato para percorrer ruas e visitar as comunidades.
E comícios.
Muitos comícios sendo realizados.
O vento
nordeste açoitava toda a região naquele novembro. Muitos dias sem chover e por
conta do salitre, aconteciam muitas interrupções na energia elétrica.
Na Estiva, o comício estava lotado naquela noite de sábado. O povo se
aglomerava defronte ao palanque montado ali no morro da igrejinha.
Discursava
empolgado o candidato a vereador, advogado e presidente do Clube Blondin, saudoso Jayson Prates Silva.
Bem no meio
da palavra, microfone em punho, faltou luz e se fez silêncio. A turma exclamou
o ohhhh de sempre quando isso acontece.
E esperou.
Jayson não
perdeu a deixa e aos gritos para ser ouvido por todos disse que era de bom tom
nessas ocasiões, quando faltava luz, quebrar uma taça de cristal. Era um gesto
de fé e esperança no futuro, uma antiga simpatia.
- E é
batata! Fazendo isso, quebrando vidro, a luz sempre volta, finalizou Jayson.
E dizendo
isso, na falta de uma taça de cristal, pegou um copo com água de um sujeito que
estava ao lado e com os pés quebrou o vidro no assoalho do palanque.
Pois no
mesmo instante a luz voltou a iluminar a todos e o som retornou.
-Aleluia,
aleluia, é um milagre, gritou a multidão.
Pelo sim,
pelo não da eficácia da simpatia, Jayson Prates foi eleito vereador pelo PDT
naquela eleição.
E foi muito
bem votado na Estiva.
Os pedinchões
Época de
eleições é quando surgem os mais diversos pedidos aos candidatos.
Os
pedinchões pipocam pelas esquinas no faro de qualquer político e dos locais
onde eles possam estar.
Renato Borges de Oliveira era mais uma vez
candidato a vereador na Laguna, mas já estava cansado das mordidas que andava
recebendo. A campanha só havia começado, mas as ferradas estavam sendo demais.
Se
continuasse assim, atendendo a todos, não chegaria ao dia eleições. Ficaria no
meio do caminho. E ainda por cima falido.
No sábado pela manhã, de dentro do seu carro estacionado na rua Raulino Horn,
o candidato a vereador observa o movimento. Pensa em dar uma volta pelo
comércio, sentir o clima político, entregar uns “santinhos”.
Súbito,
alguém bate no vidro do seu carro. Ele olha e suspira. É um conhecido mordedor
da Laguna.
Sem
alternativas, abaixa um pouco o vidro da janela.
O mordedor
pergunta:
- E daí
vereador, tem um trocado pra mim, sabe com’é, a coisa tá difícil, tô precisando
comprar umas coisinhas lá pra casa.
- Rapaz, me
pegasse desprevenido, tô sem nenhum tostão na carteira.
- Uns vinte
conto tá bom, chefia.
- Cara, não
tenho, tô duro.
- Dez
conto, então?
- Não tenho
mesmo, fica pra outra vez.
- Pô... E
um cigarro? Tens um cigarrinho pra arranjar?
- Parei de
fumar no mês passado.
O mordedor
faz cara feia, mas não se dá por vencido.
- E isso aí
no bolso da tua camisa, o que é?
- Ahhhh...
isso é um colírio que uso para meus olhos.
- Então faz
um favor vereador, pinga ni mim, pinga...
Kkk Pinga ni mim. Tipo injeção na testa, de graça...
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