quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Passarela do carnaval V

Vamos recuar um pouco mais no tempo.
Encontro em meus arquivos uma foto datada de 1962, da rua Raulino Horn, onde se realizava o desfile de carnaval (e também o seu pré). Para ampliar, como sempre, basta clicar sobre a foto.

O desfile oficial começava no início da rua Conselheiro Jerônimo Coelho (com formação na rua Osvaldo Cabral), contornava a Praça Vidal Ramos, o Jardim Calheiros da Graça, descia pela estreita XV de Novembro e virava à direita na Raulino Horn, terminando (dispersão) na Praça da Bandeira, hoje Praça República Juliana.

Ufa!... e isso tudo era feito sem desafinar, sem “atravessar” o samba, com carros alegóricos desviando de galhos e fios, e passistas sambando sobre paralelepípedos.

O pré era no sentido inverso, começando na Praça e virando à esquerda na XV de Novembro com dispersão na Praça Vidal Ramos.


Tudo isso passou, como tudo passa, e hoje são imagens e lembranças que fazem parte de um passado nas folhas do livro da memória, cada vez que o folheamos.

Mas voltando à foto, eis a Raulino Horn, a rua do carnaval como era chamada. Note a ornamentação (Shangai) e as tradicionais cordinhas separando o público.
À esquerda uma parte da placa da Instaladora Rádio Elétrica, do seu Aliatar Barreiros; em seguida a placa circular da Galeria Gigante; à direita, o restaurante Brasília, que não lembro (nem podia, tinha dois anos de idade), mas que ficava ao lado do Café Tupi, e aonde mais tarde vai se instalar a Panificadora Imperatriz, de Archimedes de Castro Faria.

Mas adiante, observando, vemos uma passarela suspensa. É sobre ela que quero falar.
A ideia foi do gerente da Rádio Garibaldi, radialista João Manoel Vicente, que me contou que criou um fato novo para disputar a audiência com a coirmã e concorrente, a Rádio Difusora, instalada na esquina do Jardim, entre a Duque de Caxias e XV de Novembro, onde hoje é a Pizzaria Chedão e, por isso mesmo, melhor posicionada nas transmissões da folia.

A Rádio Garibaldi, cujo proprietário era o ex-prefeito da Laguna e então deputado estadual Walmor de Oliveira, tinha seus estúdios (veja a placa luminosa sobre a marquise) instalados sobre a sinuca do Macuco (ao lado do restaurante e bar Monte Carlo). No local hoje funciona a loja By Chelo Surf Shop.
João Vicente criou então, essa passarela de um lado ao outro da rua, com os locutores e comentaristas da emissora sentados numa posição superior para a transmissão do desfile.
Um sucesso!

Carlos Araújo Horn, que conhece tudo sobre o rádio lagunense, há tempos postou um testemunho aqui – quando ainda comentava neste Blog, depois sumiu, vai saber o motivo - sobre esse assunto.

Dizia ele: “Realmente o carnaval naqueles tempos tinha uma animação invejável. As emissoras de rádio faziam que o nosso carnaval tido como o melhor do Estado, se transformasse totalmente em relação aos dos dias atuais. A Rádio Difusora anteriormente à inauguração da Rádio Garibaldi, fazia com que o povo participasse da folia, quer no pré como no tríduo de momo. Reportagens eram feitas diretamente do Blondin, Congresso, Anita, 3 de Maio, Ideal, 7 de Setembro, Atlântico. Programas dirigidos iam ao ar em diversos horários movimentando a população. Por outro lado, as gravadoras lançavam anualmente no mínimo um LP com músicas próprias ao carnaval de cada ano. As bancas disputadamente vendiam livretos com as letras dessas marchinhas e sambas”.

E continuava Horn:
“O apresentador do programa “Reis da Folia”, que tinha como prefixo o frevo Vassourinhas, fazia com que o povo participasse indicando o melhor do carnaval. Com a chegada da Rádio Garibaldi as coisas ficaram mais acirradas e cada estação procurava levar ao público o que era melhor, fazendo com que o ouvinte “visse” o que estava acontecendo como se estivesse à frente da televisão. Era incrível, pois cada locutor, comentarista, enfim, pensava antes de falar para não comprometer a credibilidade de cada estação e cada uma procurava dar de si o melhor”. 

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