quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Passarela do carnaval VI

Não sei se o leitor concorda comigo, mas o pulmão do desfile de carnaval da Laguna ficava nas ruas XV de Novembro e Raulino Horn.
A rua Jerônimo Coelho podemos dizer que era o coração e onde aconteciam as apresentações, os julgamentos pelo público e júri, o posicionamento nos palanques das autoridades.
Ali se decidia quesitos e se mostrava à imprensa (principalmente rádios) os valores individuais e coletivos da agremiação. O brilho da fantasia, os carros de mutação e depois alegóricos, o samba, a harmonia da bateria. Havia sempre um clima de tensão no ar, de preocupação das diretorias e de componentes para que nada saísse errado, pra que tudo corresse as mil maravilhas.

Já nas ruas XV de Novembro e Raulino Horn o clima era um pouco mais descontraído, relaxado. Não que a responsabilidade da apresentação fosse diferente ou menor. Não é isso.
É que naqueles trechos cada Escola já havia passado pelo crivo dos jurados, as notas haviam sido dadas, então o pessoal se soltava mais. Sempre senti isso. Até por parte das baterias das Escolas de Samba. O ritmo era mais contagiante, o repique do tamborim era mais alto, o surdo era mais forte, sei lá.

Além disso, nessas duas ruas o povão se concentrava mais – até porque são estreitas, com ínfimas calçadas -, e o vai-e-vem dos casais de namorados e das paqueras eram constante. Quantos namoros não foram iniciados por ali, na troca de olhares?

As duas vias tornavam-se verdadeiras passarelas das Escolas de Samba, dos mascarados, da Bandinha Maluca que levava e trazia a criançada em louca correria, e das mais diversas fantasias individuais. Um multicolorido e criativo desfile popular.
E uma imagem que sempre permaneceu: mães com crianças ao colo sentadas no meio-fio e nas soleiras das portas dos estabelecimentos comerciais, até de madrugada.

E havia os bares e restaurantes em suas mais variadas épocas e que marcaram fases. Café Tupi, Érika Bar, Brigitte Bar, Monte Carlo e a inesquecível Miscelânea. Sem falar da Pizzaria Chedão, que começou, em meados da década de 70, nos fundos do terreno onde hoje se situa o prédio do Banco do Brasil (ex-Besc).
E a Rádio Difusora na rua XV de Novembro; e a Rádio Garibaldi, na rua Raulino Horn.
Sem falar das sinucas do Macuco, e do Nonô.

Hoje diríamos, usando um termo atual, que as duas ruas eram ponto de encontro e de passagem das mais variadas tribos.
***


Eis a rua XV de Novembro no carnaval do ano de 1974. Administração Francisco de Assis Soares/Venâncio Luiz Vieira.
A ornamentação da festa era feita em colunas de madeira cobertas com plástico colorido e iluminadas. Material (plástico com desenhos) adquirido em metro em São Paulo pelo seu João (salame) Martins, Antônio de Pádua (moela) Heleodoro de Souza e o Dorival de Oliveira (Tofinha). E depois montado aqui em nossa cidade.
O tema daquele ano foi desenhos infantis de Walt Disney. Caixas em madeira contornadas por lâmpadas comuns e coloridas.

À esquerda o letreiro luminoso da Panificadora Imperatriz, do seu Archimedes de Castro Faria. Ali ficava o forno e nos fins de bailes, nas madrugadas de sábado para domingo, mediante algumas moedas recolhidas entre a turma, os padeiros nos forneciam pães quentes para o desjejum, que íamos degustar nos bancos do jardim, contando como foi a noite com aquele broto (hoje seria gata).

Logo em seguida, sobre a marquise, no andar superior, outro letreiro, o da Rádio Difusora, cujos estúdios já estavam funcionando ali, vindos do antigo prédio, na mesma rua, esquina com a Duque de Caxias.

À direita, prédio na cor amarela, onde funcionava no térreo a tradicional Miscelânea do seu João Urbano, e suas seis portas.  (Ou seriam sete?). Quem não apreciou seu sorvete de uva ou o picolé de butiá? Quem não comprou uma bala de goma, uma azedinha, chita, Jujuba, um chocolate, um pirulito Zorro, um chiclete Adams antes das sessões do Cine Mussi ou Roma?
Quem não ficou encostado às suas portas somente vendo “a banda passar”? Ou buscando meigos e interessantes olhares nem sempre correspondidos?

À direita, mais ao fundo o Bar Érika, do seu Aurélio Schneider, ponto de encontro para o aperitivo e a cerveja gelada.


Esta é uma foto noturna da mesma rua e ângulo. Pertence aos arquivos do radialista e colunista do jornal O Correio, João Carlos Wilke.
A data já é outra, bem anterior. É do carnaval de 1966, primeiro ano da administração de Juaci Ungaretti, um dos prefeitos que mais cuidou da imagem carnavalesca da cidade e que melhor decorou as ruas do carnaval lagunense.


Início (ou fim, como queiram) da Rua Raulino Horn, no carnaval de 1974. Ornamentação com desenhos infantis, como já falei. Note que a mão era inversa da atual, com os automóveis estacionados à direita de quem vinha. O primeiro é um Gordini.


À direita, a placa do restaurante Nice e mais à frente, letreiro do Paraíso Hotel. Aqui iniciava o trajeto do pré. Ou finalizava o desfile oficial dos Blocos e depois Escolas de Samba.

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