Políticos
locais teriam negado à época sua nomeação à Comarca da Laguna. Mito ou
verdade?
Em 1883, durante a monarquia, o então presidente da Província de Santa Catarina, Francisco Gama Rosa, nomeou João da Cruz e Sousa promotor público da Laguna, mas ele não pôde tomar posse no cargo devido à pressão de políticos locais, que não aceitaram um negro ocupando o cargo. Pesou ainda o fato de que, na época, Cruz e Sousa já se destacava como fervoroso conferencista em prol da abolição da escravatura.
Mito ou verdade? A discriminação aconteceu ou não? Historiadores catarinenses, dentre eles Henrique da Silva Fontes e Norberto Ungaretti, contestam a versão da nomeação e resistência de políticos locais ao nome Cruz e Sousa, dizendo tratar-se de uma lenda.
Veja adiante:
Veja adiante:
Projeto
de Lei
Na manhã da última quinta-feira (24), o
deputado Dirceu Dresch (PT), assinou nas dependências do Palácio Cruz e Sousa,
junto ao mausoléu do poeta, em Florianópolis, um projeto de lei que o reconhece
simbolicamente como promotor público, direito que lhe foi negado em 1883 devido
à cor da sua pele. O ato foi acompanhado de autoridades e de representantes do
movimento negro.
Fotos: Fábio Queiroz/Agência AL |
A data foi escolhida em função do aniversário
do poeta, o mais importante escritor do período simbolista.
A sugestão de reconhecer simbolicamente o poeta como promotor público, cargo
que foi impedido de assumir, partiu de integrantes do movimento negro da capital
do estado.
O ato de assinatura do projeto foi precedido
de uma cerimônia na Praça XV de Novembro, em frente ao busto do poeta, onde
anualmente são depositadas flores para celebrar o aniversário do “cisne negro”,
como é conhecido Cruz e Sousa.
O autor da iniciativa disse que o reconhecimento
póstumo é um ato de justiça. “Mesmo tarde, precisamos fazer justiça a quem está
aqui hoje, a todos os negros e negras que precisam ter seu espaço respeitado”,
disse Dresch. Para ele, “a discriminação que Cruz e Sousa sofreu continua todos
os dias, com a vitimização da juventude pobre e negra deste país”.
O procurador-geral de Justiça, Sandro Neis, parabenizou o deputado pela iniciativa. Ele considerou que o projeto promove um reconhecimento histórico.
O procurador-geral de Justiça, Sandro Neis, parabenizou o deputado pela iniciativa. Ele considerou que o projeto promove um reconhecimento histórico.
“Apesar de ser um gesto simbólico, o projeto
reconhece um equívoco da história e mostra que precisamos trabalhar para ter
uma sociedade mais justa e mais igualitária. Cruz e Sousa, que deixou de ser
promotor de Justiça em razão da discriminação, representa os mesmos ideais que
o Ministério Público tem na sua atuação, que é a luta pela aplicação da
justiça, pela igualdade e, especialmente, pela fraternidade social.”
Márcio de Souza, deputado estadual Dirceu Dresch e Sandro Neis, procurador-geral de Justiça |
O projeto
Após a cerimônia de assinatura, o projeto será
oficialmente protocolado na Assembleia Legislativa. O deputado Dirceu Dresch
espera contar com o apoio dos demais deputados e com o respaldo do Ministério
Público e da sociedade para aprovar a proposta na Assembleia Legislativa.
Cruz e
Sousa
Filho de escravos alforriados, Cruz e Sousa
nasceu no dia 24 de novembro de 1861 e faleceu pobre em 1898, no
interior de Minas Gerais, vítima de tuberculose.
Foi criado junto à família do marechal Guilherme Xavier de Sousa, por isso teve acesso a uma educação refinada – aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu matemática e ciências naturais.
Entre anseios, lutas e doenças, construiu sua obra poética, deflagrando o Simbolismo no Brasil, com a publicação de Missal, em fevereiro, e Broquéis, em agosto de 1893.
Foi criado junto à família do marechal Guilherme Xavier de Sousa, por isso teve acesso a uma educação refinada – aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu matemática e ciências naturais.
Entre anseios, lutas e doenças, construiu sua obra poética, deflagrando o Simbolismo no Brasil, com a publicação de Missal, em fevereiro, e Broquéis, em agosto de 1893.
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Nomeação de Cruz e Sousa para Promotor na
Laguna é uma lenda, afirmam historiadores
Alguns
historiadores catarinenses, de saudosa memória, sempre afirmaram não passar de
uma lenda, a versão de que a nomeação de Cruz e Sousa para Promotor na Laguna foi recusada por políticos.
Dentre eles, dois desembargadores. Henrique
Fontes, por exemplo, em seu trabalho “O
nosso Cruz e Sousa”, fez vasta pesquisa
sobre o assunto e desmente a versão que até hoje circula sobre o assunto.
Fontes encontrou nomeações para Virgílio Várzea (para São José) e Manoel dos Santos Lostada (para Itajaí); nenhuma, porém, para Cruz e Sousa e frisa em sua obra: "No governo Gama Rosa, Cruz e Sousa se encontrava ausente da terra natal, acompanhando como andava a companhia dramática de Moreira de Vasconcelos, de que era primeira figura a menina Julieta dos Santos".
E vai adiante Henrique Fontes dizendo que "Poderia ele ter sido lembrado pelos amigos para alguma promotoria, e até mesmo cogitado para a Comarca da Laguna, porém nenhuma notícia há de resistência à problemática nomeação, nem notícia há de movimentação de chefes políticos".
Fontes encontrou nomeações para Virgílio Várzea (para São José) e Manoel dos Santos Lostada (para Itajaí); nenhuma, porém, para Cruz e Sousa e frisa em sua obra: "No governo Gama Rosa, Cruz e Sousa se encontrava ausente da terra natal, acompanhando como andava a companhia dramática de Moreira de Vasconcelos, de que era primeira figura a menina Julieta dos Santos".
E vai adiante Henrique Fontes dizendo que "Poderia ele ter sido lembrado pelos amigos para alguma promotoria, e até mesmo cogitado para a Comarca da Laguna, porém nenhuma notícia há de resistência à problemática nomeação, nem notícia há de movimentação de chefes políticos".
Já Norberto Ulysséa Ungaretti em comentário
publicado aqui neste Blog, em janeiro de 2012, quando levantei o assunto,
escreveu:
“Quanto ao fato de Cruz e Souza ter sido recusado para Promotor de
Laguna, embora repetido pela imprensa, é uma lenda. Cruz e Souza nunca foi
nomeado Promotor, nem da Laguna nem de qualquer outra comarca”.
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