sexta-feira, 6 de outubro de 2017

No tempo das Normalistas

As estudantes Normalistas foram homenageadas e cantadas em prosas e versos por inúmeros escritores e cantores. Vestidas de azul e branco, nas calçadas, entradas e saídas das escolas, faziam sucesso, principalmente junto à plateia masculina.
Nelson Gonçalves compôs e cantou a música “Normalista”, de enorme sucesso à época. Eis um trecho:
(...)
"Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
No rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor”
(...)
     O Curso Normal era também conhecido como Magistério de 1º Grau.
O ingresso no curso, com vistas à carreira de professora praticamente era a única profissão aceita para mulheres, numa sociedade extremamente machista. Complementava a renda da família e/ou garantia um casamento bem sucedido, pelo menos financeiramente.

O escritor Rubem Alves, em seu livro "O velho que acordou menino", recorda que naqueles tempos ter uma filha com diploma de Normalista ou um filho empregado no Banco do Brasil, era garantia para os pais dizerem: "Podemos morrer. A sobrevivência de nossos filhos está garantida".

As Normalistas do Curso Normal Regional do Grupo Escolar Jerônimo Coelho
O Grupo Escolar Jerônimo Coelho iniciou suas atividades em 6 de agosto de 1912 e foi inaugurado em 10 de dezembro do mesmo ano. Seu primeiro diretor foi João dos Santos Areão. Assumiu o estabelecimento de Ensino em 12 de julho daquele ano, a convite do inspetor geral de ensino em Santa Catarina, Orestes Guimarães. Dedicou-se nove anos à direção da instituição. 
Era governador de Santa Catarina, Vidal Ramos. O superintendente (prefeito) da Laguna era Oscar Guimarães Pinho.


Foi a primeira escola estadual em nossa cidade e a terceira no estado. Para conhecimento: A primeira, foi o Grupo Escolar Conselheiro Mafra, em Joinville, inaugurado em 15/11/1911; a segunda, o Grupo Escolar Lauro Müller, em Florianópolis, inaugurado em 22/05/1912.
O Grupo Escolar Jerônimo Coelho funcionava em turnos, e em seu início, e durante muitos anos, com alas separadas por sexo. 
 Hino a Jerônimo Coelho:
(Letra e musica Agenor dos Santos Bessa)

Lutador incomparável,
Filho do nosso torrão.
Eu te ofereço neste canto,
A sincera saudação.

Foste herói de mil batalhas,
Da vida cheia de luta.
O Brasil com gratidão,
O teu nome sempre escuta.

A Laguna não se esquece,
Desses nomes consagrados,
E cantando ela revive,
Os seus feitos consumados.

A ti Jerônimo Coelho,
Eu dedico com fervor,
Este canto entusiasta,
Que transpira o nosso amor.

Em 1948, foi criado o Curso Normal Regional José Varela Júnior, visando formar professores para atender escolas do próprio município e de outros municípios do estado. Por isso o "Regional". 
O professor Varela Júnior, falecido meses antes, em 7 de junho de 1947, havia sido professor de Geografia do Ginásio Lagunense. Muito espirituoso, muito querido por todos. Em 1938, foi um dos membros fundadores da Congregação dos Professores que durante alguns anos administrou aquele tradicional estabelecimento de ensino lagunense, fundado em 1932. Foi diretor do Jerônimo Coelho em 1939.
Em 1964, este curso foi substituído pelo Ginásio Varela Júnior, para formar alunos do Curso Secundário.
Pois o Curso Normal Regional Varela Júnior, ao longo dos anos, formou dezenas de professoras, as chamadas Normalistas, de tantos serviços prestados à Educação do nosso município e do estado.

Normalistas de 1948
Trago aqui fotografias da formatura das Normalistas (magistrandas) do ano de 1948, do então Grupo Escolar Jerônimo Coelho. O prefeito da Laguna era Alberto Crippa e o diretor da Escola Básica Jerônimo Coelho era Pedro Piva Júnior.
O evento aconteceu no dia 15 de dezembro daquele ano, às 8 horas com missa de Ação de Graças na igreja Matriz, entrega, às 16 horas, de certificados no Theatro 7 de Setembro (onde hoje está situado o Centro Cultural Santo Antônio dos Anjos), e coquetel logo após, no prédio dos Vicentinos.
Os nomes das formandas são os de solteiras. Para ampliar, basta clicar sobre as fotos:
Fila superior: Gaby Costa, Ozi Ramos Algarves, Benta Florência de Jesus, Alaíde Constantino, Terezinha Fernandes, Olga Dutra e Janice Barbosa Cabral.

Fila do meio: Ranúzia Lopes, Dircéia Esponina Conceição, Inês Zita Corrêa, Irinéia Cardoso, Elza Júlia Nascimento, Leda Balbino Corrêa, Gether Andrade Martins, Abgail (Bega) Fabre Pereira, Zaira Mattos (oradora), Ninita Martins Soccas, Abgail Geraldina da Silva, Zilda Machado Dias, Irinéia Cardoso (?), Lenir Viana dos Santos, Terezinha da Silva Netto, Enára Ezequiel de Oliveira e Angélica Framarim.

Sentadas: Eugênia dos Reis Perito, Cerise Miranda Valério, Déa Dutra, Maria Guiomar Machado, Thales de Oliveira, Irma da Silva, (?), Luci Inês Corrêa, Marilza Lory de Barros, Norma Veiga Visalli, Gedália Gonçalves Barreiros e Gilda Maria Remor.
Na foto acima, falta a formanda Maria Santelina Nunes. E como se pode constatar, dentre as Normalistas há um homem. Trata-se de Thales de Oliveira.
No coquetel de formatura.
À mesa de autoridades, o prefeito da Laguna Alberto Crippa e o diretor do Jerônimo Coelho Pedro Piva Júnior. Na mesa em frente, Manoel Américo de Barros com a filha Marilza.

Pode-se observar nesta foto as formandas: Enara com seu irmão dr. Ennio Ezequiel de Oliveira; Abgail Faber Pereira com seu pai Rodolfo; Ninita Soccas e Elza Nascimento com seu irmão.
Nesta turma de 1948, destaco três personagens:

Ranúzia Lopes (depois, Barreiros, com o casamento com o saudoso Aliatar).
Dª Ranúzia, hoje com 86 anos, relembra os áureos tempos:
“Praticamente todas nós, depois de formadas, com poucas exceções, fomos ministrar aulas em Escolas da Laguna e de municípios do estado. Eu lembro que a mais estudiosa da nossa turma, em minha opinião, era a aluna Alaíde Constantino. (Está de tranças, na foto do coquetel).
Depois de formadas eu e ela fomos morar juntas em Criciúma e fomos professoras por lá por quatro anos. Nesse meio tempo eu noivei e retornei para Laguna para casar com o Aliatar Barreiros. Em seguida, deixei o magistério.
A Alaíde também voltou e foi dar aulas no interior da Laguna onde conheceu um professor, seu futuro marido, e depois foram para Florianópolis, onde ela continuou seus estudos e se formou em Direito, tornando-se advogada na capital do estado. Há alguns anos fui visitá-la em Florianópolis. Foi com imensa alegria que nos revimos. Ela faleceu ano passado.
Tinha também a Gedália, nunca mais a vi, que era muito sapeca, alegre e se fazia respeitar.
Dos professores me lembro da dª Maria Serafina, Carmen Freitas, Azair Corrêa, Jairo Baião e do diretor Arno Hilbe.

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Abgail (Bega) Fabre Pereira, (Depois Ramos, com o casamento com o saudoso José Carlos Ramos (Juka da Livraria), hoje com 89 anos, também relembrou os inesquecíveis  momentos:

“A disciplina era muito rígida. Diariamente cantávamos o Hino do Brasil, ou de Santa Catarina ou da Bandeira. Estudávamos no turno vespertino. Lembro que o nosso uniforme era uma saia na cor azul, com blusa branca. Sempre estudei no Jerônimo Coelho. Já havia feito dois anos do Curso Complementar e ingressei no Normal para mais dois anos. Antes, tinha sido alfabetizada pela professora Júlia Nascimento, em sua escola na descida do Morro da Nalha, na rua que hoje leva seu nome. Era mãe das professoras Dª Mimi, Elza e Conceição. Aliás, a Elza foi da minha turma de formatura.
Dos professores lembro bem do Jairo Baião (Português), Carmem Freitas (História), Lely Peressoni (Psicologia) e Pedro Piva Júnior, que também era diretor da Escola, e que ministrava Matemática. Eu era muito conversadeira e às vezes me excedia na sala de aula. Até hoje me lembro da voz do professor Piva me chamando a atenção: - Dª Abgail, olha a conversa...
Era uma turma muito boa, muito alegre e unida. Das alunas mais inteligentes destaco a Enara Ezequiel de Oliveira, a Luci Corrêa e a Elza Nascimento. Quando não entendia as equações do professor Piva era a Elza que me socorria. Manjava tudo de matemática, depois se tornou professora desta disciplina até se aposentar.


Éramos seis
Na sala e fora dela, tínhamos uma turminha muito unida. Éramos seis, a passeios pela cidade, cinema, piqueniques e sempre estávamos juntas. Era eu, a Enára Ezequiel de Oliveira, a Gilda Remor, a Gether Andrade Martins, a Ninita Soccas e a Lenir Bittencourt.
Depois de formada fui trabalhar na loja com meu pai, a Pereira & Pinho, ali na Gustavo Richard, que depois se transformou em Rodolfo Luciano Pereira, ferragens e tintas. Mais tarde casei com o Juka e fui trabalhar na Livraria Santa Catarina.
Foi um tempo muito bom de aluna do Normal no Jerônimo Coelho. Foram dois anos de muitos estudos e amizades que até hoje guardo com saudades”.

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Gilda Maria Remor (depois, Guedes com o casamento com o sempre lembrado Fernando), hoje com 85 anos, iniciou sua carreira docente na Escola Básica Ana Gondim.
Foi também professora do Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL) e do Jerônimo Coelho, onde se aposentou. Sempre muito querida pelos alunos e pelos colegas do magistério. Ex-alunos quando a encontram costumam beijá-la e abraçá-la.

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Luci Inês Corrêa nascida em Imaruí (já falecida), depois Filgueiras, do casamento com seu Alfeu, fez os dois primeiros anos do Curso Complementar em Imaruí, no Grupo Escolar Carlos Gomes. 
Anita Filgueiras, sua filha, conta que dª Luci cursou, em 1947 e 1948, os dois anos do Curso Normal Regional, no Jerônimo Coelho. Formada, ministrou aulas em Lages para onde foi nomeada e depois em Imaruí. De volta a Laguna, foi professora da Escola Major João Luiz Netto (do Carequinha), no Magalhães. Aposentou-se como professora do Grupo Escolar Jerônimo Coelho.

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Normalistas de 1952
Lorena Pacheco (depois, Guedes, do casamento com meu saudoso pai Valmir). Minha mãe, hoje com 83 anos, foi uma das formandas deste ano. O prefeito da Laguna já era então o dr. Paulo Carneiro.
Ela relembra:
"O Curso era o Normal Regional Varela Júnior, portanto só podíamos exercer como professoras no estado de Santa Catarina. Tão logo formadas, éramos nomeadas por portarias assinadas pelo governador, para diversos municípios do estado, onde havia vagas.
A solenidade e coquetel de formatura aconteceram no palco e auditório da Rádio Difusora, ali na Praça Vidal Ramos, onde hoje é a Pizzaria Chedão. A oradora foi a Terezinha Brandl.
Lembro que antes havíamos ganhado de presente do governador Irineu Bornhausen, uma viagem e estadia de quinze dias em Itajaí, onde passeamos e descansamos no melhor hotel daquela cidade.
A turma de Normalistas de 1952 em Itajaí, em viagem a passeio. Saias azuis e blusas brancas, como na música. À direita, a professora de Educação Física Diva Zeferina. Bem no centro, a diretora Nêmesis de Oliveira. Lorena Pacheco Guedes, minha mãe, é a terceira da direita p/esquerda.
A diretora do Jerônimo Coelho era a professora Nêmesis de Oliveira e o inspetor de ensino Pedro Piva Júnior. Lembro com saudades da professora Maria Serafina de Oliveira que ministrava Psicologia. Veja só, já tínhamos aulas de psicologia naquela época. Da professora Azair Corrêa, Carmem Castro, do padre Gregório Warmeling, que dava aula de música, tinha até um piano. É mesmo, onde será que foi parar aquele instrumento musical?
Tinha também a professora de Educação Física, Diva Zeferina, que era bem alta. Lembro que eram muito boas no vôlei as alunas Selena Carvalho, a Terezinha Brandl, a Maria do Carmo Remor e a Odete Medeiros.
Das que mais se destacavam nos estudos cito a Valdira Corrêa, que decorava todos os textos, as lições, tinha uma facilidade de decorar os pontos, como a gente chamava. Ela sabia de cor de tanto ler e decorar. A mais estudiosa e inteligente acho que era a Maria do Carmo Remor, que se destacava. Eu me dava bem em Português. Lia, falava, declamava e escrevia muito bem.
Uma das minhas grande amigas foi a Valdira Corrêa, andávamos sempre juntas, fazíamos os deveres e trabalhos lá em casa, falávamos sobre namorados. Ela foi nomeada para uma escola de Lages, onde depois chegou a diretora.
Nossas fotos foram feitas pelo seu Almiro Bacha, que também fez as molduras onde elas foram colocadas.
Lembro das homenagens que a nossa turma fez ao governador Irineu Bornhausen, ao prefeito dr. Paulo Carneiro, aos diretores e professores do Jerônimo Coelho, ao comerciante e também dirigente da Associação Comercial de Laguna, Carlos Rollin Cabral.

Logo após a formatura fui nomeada, com portaria, para a Escola Domingos Barbosa Cabral, na Pescaria Brava. Minha outra colega Valdira Claudino, que era ali da Passagem da Barra, também foi nomeada para lá. Tínhamos então 19 anos. Íamos de trem até a localidade do 37 e dali a pé até a Escola, veja que longe. Pela dificuldade de locomoção eu e a Valdira passamos a morar lá, na pensão da dª Filomena. Comíamos muito peixe, carne era um luxo. 
A gente era muito respeitada, estimada pelos alunos e pais. Ganhávamos presentes, o pessoal trazia frutas, ovos. Como eu era Filha de Maria aqui na matriz, fui também transferida para a igreja de Pescaria. O pessoal era bem religioso, tinha muita fé.
Foram dois ou três anos lá, depois meus pais foram embora para Porto Alegre e eu tive que ir junto, abandonando o magistério. Trabalhei lá numa rede de drogarias, a Paniz, hoje Panvel, fiz o curso de datilografia, e em 1959 retornei para Laguna para casar. 
Foi uma época muito feliz os anos como estudante do Curso Normal Regional e como professora lá em Pescaria Brava. Tenho muitas saudades. Às vezes penso que não deveria ter abandonado o magistério, eu gostava tanto.

“Normalista”, a música
E finalizo esta pesquisa, entrevistas, lembranças e homenagens, com a música “Normalista”, na voz de Nelson Gonçalves:

7 comentários:

  1. Conheço algumas destas mulheres. Muitos não sabem como o colégio Jerônimo Coelho foi importante para a educação em Santa Catarina e quanto já foi valorizada e respeitada a profissão do professor.

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  2. Que beleza de pesquisa e homenagem, Valmir. José de Abreu

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  3. Matéria maravilhosa! Parabéns!

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  4. Obrigada pela homenagem. Reviver um tempo em que ser normalista era uma honra. Eu agradeço por ter pego esta época.
    O curso Normal já foram bem importantes durante uma fase da nossa história da educação, onde o Grupo Escolar Jerônimo Coelho foi tão marcante na vida de cada uma normalista.

    "Gostaria de reunir numa das salas de meu coração todos os que foram particularmente meus irmãos. Gostaria de rever seus semblantes e reencontrar a energia que juntos tivemos ontem. Gostaria de escutar suas novas experiências e saber o que andam inventando para melhor amar. Juntos folhearíamos as páginas do álbum da vida"! Lorena Pacheco Guedes

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  5. MARAVILHOSO!!! Que saudades da professorinha...que me ensinou o "Beabá"...Onde andará Mariazinha...
    Obrigada Valmir por nos proporcionar histórias maravilhosas de nossa querida Laguna!!!!

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  6. Gostei da recuperação da história da educação em Laguna. Conheci algumas dessas alunas, claro que bem depois. Tomara que o nosso Jerônimo Coelho se transforme numa Escola Militar, com todo aquele patrimônio recuperado. Que não seja só papo para engambelar eleitores ano que vem. Edison de Jesus

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  7. Caro Valmir,
    Excelente trabalho... onde com sua competência de sempre, efetuou o “resgate das Normalistas”, formadas no Grupo Escolar Jerônimo Coelho... da nossa Laguna.
    Além dos nomes lembrados, assim como, o reforço proporcionado pelas fotos... que nos permitem rever muitas daquelas que viemos a conhecer já como profissionais da educação... e, como nossas professoras.
    Entendo, que a atenção que a classe do magistério recebe da sociedade como um todo, está muito aquém do merecido, por aqueles que sempre se esforçaram em levar o conhecimento às crianças, aos jovens e aos adultos.
    Nota: favor chegar a sua mãe (dona Lorena Pacheco Guedes), os meus cumprimentos pelo comentário que ela postou... pois, suas palavras muito bem caracterizam o amor que sempre foi compartilhado pelas “normalistas” da minha época de estudante.
    Adolfo Bez Filho – Joinville S/C

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