Nos anos
de 1908 e 1939, tremores de terra sacudiram Laguna e região, com registros desses
dois fenômenos até em estados e países vizinhos. Se o primeiro
tremor passou quase despercebido, o de 1939 rachou paredes e assustou a população lagunense, ao
ponto de pessoas, em "crises de nervos", correrem para as ruas e até se atirarem das
janelas, de pijamas.
Sabe-se que no Brasil,
tremores de terras só começaram a ser detectados com precisão a partir de 1968,
quando da instalação de uma rede de sismologia por todo o país.
São 40 as estações
instaladas. A mais potente fica em Brasília.
Técnicos dizem que
mesmo o Brasil não estando sobre as bordas das placas tectônicas, tremores
podem ocorrer nas regiões chamadas “interplacas”. Ou podem ocorrer por causa
dos reflexos de terremotos ocorridos em países da América Latina. Como foi o
caso, por exemplo, em 2015, quando tremores foram sentidos em Santa Catarina,
após o terremoto ocorrido no Chile.
Antes disso, em 2008,
um tremor de terra foi sentido em São Paulo, atingindo 5,2 graus de magnitude
na escala Richter. O fenômeno também chegou ao Paraná, Minas Gerais e Santa
Catarina.
Tremor
de 1908
Com o título “Tremor de terra”, o jornal O Albor,
numa pequena nota, à página 2, em sua edição de 1º de janeiro de 1909, noticiou
o ocorrido:
“Às 11
horas da noite do mês findo (29/12/1908), foi sentido nesta cidade um forte
tremor de terra, seguido de ruídos subterrâneos.
O
fenômeno durou alguns segundos e manifestou-se do sul para o norte. Consta-nos
que foi sentido também nos municípios de Araranguá, Jaguaruna, Tubarão,
Garopaba e São José”.
Não deve ter sido tão
grave, já que não há registros de gente assustada, prejuízos materiais ou vítimas. Nas edições
seguintes o jornal não mais abordou o assunto.
Tremor
de 1939
Já em 2 de julho de
1939 foi diferente. O fenômeno foi matéria de capa do mesmo jornal, que o destacou em
manchete: “Tremor de terra em Laguna”.
O Albor informa que o tremor de terra foi de vibração
apreciável, aconteceu às 8h30min e durou 8 segundos, se fazendo sentir em toda
zona, na quarta-feira última (28 de junho):
“Nesta
cidade, o fenômeno não terá causado outros prejuízos materiais, além da rotura
de paredes de algumas casas particulares, da Coletoria Estadual e da igreja
Matriz.
Provocou,
todavia, um começo de alarme na população que se teria convertido, com certeza,
em generalizado pânico se a vibração da terra, acompanhado de ruído
característico, se tivesse prolongado por mais alguns segundos”.
Observatório
da Argentina registrou o tremor, diz o jornal O Estado
O tradicional jornal O Estado, de Florianópolis, em sua
edição de 29 de junho de 1939, um dia após o ocorrido, com o título “O terremoto de ontem”, diz que o fenômeno “foi geralmente percebido”
e “verificado pouco depois das 8 e meia da manhã, quando já toda a gente se
achava de pé”.
Mas ressalta que “O Observatório de Villa Ortuza, em Buenos Aires, registrou o fenômeno às 8 horas, 38 minutos e 42 segundos, calculando que tenha se verificado a 1.500 mil quilômetros ao nordeste daquela capital. Nesse raio estão compreendidos os três estados do sul do Brasil”.
Mas ressalta que “O Observatório de Villa Ortuza, em Buenos Aires, registrou o fenômeno às 8 horas, 38 minutos e 42 segundos, calculando que tenha se verificado a 1.500 mil quilômetros ao nordeste daquela capital. Nesse raio estão compreendidos os três estados do sul do Brasil”.
No Rio Grande do Sul,
continua o jornal, foram atingidos Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande, Osório,
Santa Maria, Carazinho e Passo Fundo. Sem vítimas a registrar.
“Parecia
um grande caminhão”
Se os prejuízos
materiais não foram de grande monta, o susto na Laguna foi grande, como se pode
deduzir lendo a continuação da reportagem feita pelo O Albor:
“Eram
precisamente oito horas e trinta e cinco da manhã, quando o fenômeno sísmico se
verificou.
Dando,
de começo, a impressão de que a terra estremecia em consequência da passagem de
um grande caminhão nas proximidades. Dentro de rápidos momentos convenciam-se os
que sentiam a vibração, de que, pela violência invulgar, tratava-se de um
tremor de terra”.
Crise de
nervos
“O
tremor de terra durou aproximadamente oito segundos. Tempo suficiente, porém,
para que, tomadas de susto, pessoas tivessem crise de nervos e algumas
praticassem atos desatinados; atos que, por felicidade, não tiveram
consequências a lamentar-se”.
Quase se
jogou da janela da prefeitura
Não, não foi o
prefeito da época, nem seu chefe de gabinete, ou algum dos secretários da prefa. O
Albor registrou:
“Ao que
nos informam, um operário esteve a ponto de saltar de uma das janelas do
sobrado da prefeitura municipal”.
De
pijama, pulou na marquise do hotel
“O mesmo
aconteceu com um senhor viajante que, em pijama, lançar-se-ia da marquise do
Grande Hotel Moderno (rua Osvaldo Cabral) se pessoas não o tivessem contido com
gritos de que tudo havia passado”.
Saltando
da janela da Coletoria
E o jornal continua
narrando, dando detalhes do acontecido, que o pessoal daquela época já gostava
das desgraças alheias, como hoje:
“Um
funcionário da Coletoria Estadual, pressentindo o perigo, saltou de uma das
janelas do prédio onde está instalada essa repartição”. (Rua Santo Antônio,
prédio com os cachorros de porcelana. Convenhamos, a janela não é tão alta
assim).
De acordo com o ex-vereador Nelson Mattos corrigindo informação deste autor, a Coletoria Estadual naquela época funcionava no prédio entre as ruas Duque de Caxias e Tenente Bessa, onde também se instalou o cartório do Raul Ferreira. Hoje é a casa do comerciante Sérgio Castro.
De acordo com o ex-vereador Nelson Mattos corrigindo informação deste autor, a Coletoria Estadual naquela época funcionava no prédio entre as ruas Duque de Caxias e Tenente Bessa, onde também se instalou o cartório do Raul Ferreira. Hoje é a casa do comerciante Sérgio Castro.
Alucinação
e fugindo para a rua
“Numerosas
foram as pessoas que ao verem balançantes as paredes das casas em que se encontravam
fugiram para a rua. Houve, mesmo, casos de alucinação momentânea. Mas tudo,
como se vê, não passou de mero susto!
Segundo
notícias de última hora o abalo sísmico registrado nesta cidade, quarta-feira
última, também foi sentido na capital do Paraná e localidades vizinhas, bem
como em alguns pontos do Estado do Rio Grande do Sul, Argentina e Peru”.
Explicações de um padre e de um
professor para o fenômeno
Na falta de
explicações de órgãos meteorológicos, que ainda não existiam naquela época, O
Albor foi buscar informações com alguns estudiosos:
“Pelo
que nos informam o reverendo padre Schreider e o professor Mâncio Costa, aquele
lente do Ginásio Catarinense e este do Instituto de Educação, explicam o
fenômeno como sendo consequência da queda de um aerólito nesta região.
Realmente,
algumas pessoas residentes nesta cidade, afirmaram terem visto, no momento em
que sentiam o abalo sísmico, um traço luminoso no céu”.
Pode ter sido um terremoto, um tremor, um aerólito, raio e/ou trovão, mas que o fenômeno em seus 8 segundos de duração, assustou,
assustou. Que o digam os nossos apavorados antepassados em suas “crises de
nervos” e "alucinações momentâneas".
Correram para as ruas da cidade, ameaçaram pular e alguns até mesmo saltaram das janelas de prédios, um deles em cima da marquise e vestido de pijama.
Correram para as ruas da cidade, ameaçaram pular e alguns até mesmo saltaram das janelas de prédios, um deles em cima da marquise e vestido de pijama.
Bom dia!
ResponderExcluirEstou aqui a rir sozinha, imaginando este pequeno tremor acontecendo em Brasília.... A politicagem toda a pular com suas malas de dinheiro, cuecas saltitantes recheadas de garoupas, a rampa do Palácio do Planalto a deslizar suavemente sobre a Praça dos Três Poderes, aonde centenas de corruptos esquivariam-se do Palácio da Justiça,ou,na possibilidade de um abalo maior, correr até a Catedral e "despejar" o dinheiro por lá, como obra de caridade...
Meu pai falava desse tremor e ele dizia que foi um terremoto de assustar. Não sabia que foi assim. Muita gente ficou assustada durante dias. Parabéns por recuperar essa história. José de Abreu
ResponderExcluirMuito interessante está pesquisa com vários detalhes que faz a gente transportar para aquela época agora lembro também logo no início do governo CADORIN na comemoração do Dia da comemoração do aniversário da Laguna com os morteiros no morro da glória de manhã cedo o susto foi grande na população parecia terremoto muitas pessoas sair correndo para o meio das ruas
ResponderExcluirA prática de soltar morteiros no Morro da Glória no dia 29 de julho, aniversário da cidade, começou em 1981, na primeira Semana Cultural, gestão de Mário José Remor.
ExcluirCaro Valmir, quanto a instalação das estações de sismologia, a principal tinha que ser sim em Brasilia, pois lá tem terremoto todo dia, e dos grandes. Parabéns pela reportagem, não sabia desta. Um abraço.
ResponderExcluirMinha falecida mãe sempre me contou deste tremor, ela dizia que a cristaleira tremeu, mas não quebrou nada, o meu avo colocou eles em baixo da mesa, no caso 6 irmãos mas foi só um susto....boas lembranças.
ResponderExcluirJORGE EDU