segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O dia em que a terra tremeu na Laguna

Nos anos de 1908 e 1939, tremores de terra sacudiram Laguna e região, com registros desses dois fenômenos até em estados e países vizinhos. Se o primeiro tremor passou quase despercebido, o de 1939 rachou paredes e assustou a população lagunense, ao ponto de pessoas, em "crises de nervos", correrem para as ruas e até se atirarem das janelas, de pijamas.

Sabe-se que no Brasil, tremores de terras só começaram a ser detectados com precisão a partir de 1968, quando da instalação de uma rede de sismologia por todo o país.
São 40 as estações instaladas. A mais potente fica em Brasília.
Técnicos dizem que mesmo o Brasil não estando sobre as bordas das placas tectônicas, tremores podem ocorrer nas regiões chamadas “interplacas”. Ou podem ocorrer por causa dos reflexos de terremotos ocorridos em países da América Latina. Como foi o caso, por exemplo, em 2015, quando tremores foram sentidos em Santa Catarina, após o terremoto ocorrido no Chile.
Antes disso, em 2008, um tremor de terra foi sentido em São Paulo, atingindo 5,2 graus de magnitude na escala Richter. O fenômeno também chegou ao Paraná, Minas Gerais e Santa Catarina.

Tremor de 1908
Com o título “Tremor de terra”, o jornal O Albor, numa pequena nota, à página 2, em sua edição de 1º de janeiro de 1909, noticiou o ocorrido:

“Às 11 horas da noite do mês findo (29/12/1908), foi sentido nesta cidade um forte tremor de terra, seguido de ruídos subterrâneos.
O fenômeno durou alguns segundos e manifestou-se do sul para o norte. Consta-nos que foi sentido também nos municípios de Araranguá, Jaguaruna, Tubarão, Garopaba e São José”.

Não deve ter sido tão grave, já que não há registros de gente assustada, prejuízos materiais ou vítimas. Nas edições seguintes o jornal não mais abordou o assunto.

Tremor de 1939
Já em 2 de julho de 1939 foi diferente. O fenômeno foi matéria de capa do mesmo jornal, que o destacou em manchete: “Tremor de terra em Laguna”.

O Albor informa que o tremor de terra foi de vibração apreciável, aconteceu às 8h30min e durou 8 segundos, se fazendo sentir em toda zona, na quarta-feira última (28 de junho):

“Nesta cidade, o fenômeno não terá causado outros prejuízos materiais, além da rotura de paredes de algumas casas particulares, da Coletoria Estadual e da igreja Matriz.
Provocou, todavia, um começo de alarme na população que se teria convertido, com certeza, em generalizado pânico se a vibração da terra, acompanhado de ruído característico, se tivesse prolongado por mais alguns segundos”.

Observatório da Argentina registrou o tremor, diz o jornal O Estado
O tradicional jornal O Estado, de Florianópolis, em sua edição de 29 de junho de 1939, um dia após o ocorrido, com o título “O terremoto de ontem”, diz que o fenômeno “foi geralmente percebido” e “verificado pouco depois das 8 e meia da manhã, quando já toda a gente se achava de pé”.
Mas ressalta que “O Observatório de Villa Ortuza, em Buenos Aires, registrou o fenômeno às 8 horas, 38 minutos e 42 segundos, calculando que tenha se verificado a 1.500 mil quilômetros ao nordeste daquela capital. Nesse raio estão compreendidos os três estados do sul do Brasil”.
No Rio Grande do Sul, continua o jornal, foram atingidos Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande, Osório, Santa Maria, Carazinho e Passo Fundo. Sem vítimas a registrar.

“Parecia um grande caminhão”
Se os prejuízos materiais não foram de grande monta, o susto na Laguna foi grande, como se pode deduzir lendo a continuação da reportagem feita pelo O Albor:

“Eram precisamente oito horas e trinta e cinco da manhã, quando o fenômeno sísmico se verificou.
Dando, de começo, a impressão de que a terra estremecia em consequência da passagem de um grande caminhão nas proximidades. Dentro de rápidos momentos convenciam-se os que sentiam a vibração, de que, pela violência invulgar, tratava-se de um tremor de terra”.

Crise de nervos
“O tremor de terra durou aproximadamente oito segundos. Tempo suficiente, porém, para que, tomadas de susto, pessoas tivessem crise de nervos e algumas praticassem atos desatinados; atos que, por felicidade, não tiveram consequências a lamentar-se”.

Quase se jogou da janela da prefeitura
Não, não foi o prefeito da época, nem seu chefe de gabinete, ou algum dos secretários da prefa. O Albor registrou:

“Ao que nos informam, um operário esteve a ponto de saltar de uma das janelas do sobrado da prefeitura municipal”.

De pijama, pulou na marquise do hotel
“O mesmo aconteceu com um senhor viajante que, em pijama, lançar-se-ia da marquise do Grande Hotel Moderno (rua Osvaldo Cabral) se pessoas não o tivessem contido com gritos de que tudo havia passado”.

Saltando da janela da Coletoria
E o jornal continua narrando, dando detalhes do acontecido, que o pessoal daquela época já gostava das desgraças alheias, como hoje:

“Um funcionário da Coletoria Estadual, pressentindo o perigo, saltou de uma das janelas do prédio onde está instalada essa repartição”. (Rua Santo Antônio, prédio com os cachorros de porcelana. Convenhamos, a janela não é tão alta assim). 
De acordo com o ex-vereador Nelson Mattos corrigindo informação deste autor, a Coletoria Estadual naquela época funcionava no prédio entre as ruas Duque de Caxias e Tenente Bessa, onde também se instalou o cartório do Raul Ferreira. Hoje é a casa do comerciante Sérgio Castro. 

Alucinação e fugindo para a rua
“Numerosas foram as pessoas que ao verem balançantes as paredes das casas em que se encontravam fugiram para a rua. Houve, mesmo, casos de alucinação momentânea. Mas tudo, como se vê, não passou de mero susto!
Segundo notícias de última hora o abalo sísmico registrado nesta cidade, quarta-feira última, também foi sentido na capital do Paraná e localidades vizinhas, bem como em alguns pontos do Estado do Rio Grande do Sul, Argentina e Peru”.

Explicações de um padre e de um professor para o fenômeno
Na falta de explicações de órgãos meteorológicos, que ainda não existiam naquela época, O Albor foi buscar informações com alguns estudiosos:

“Pelo que nos informam o reverendo padre Schreider e o professor Mâncio Costa, aquele lente do Ginásio Catarinense e este do Instituto de Educação, explicam o fenômeno como sendo consequência da queda de um aerólito nesta região.
Realmente, algumas pessoas residentes nesta cidade, afirmaram terem visto, no momento em que sentiam o abalo sísmico, um traço luminoso no céu”.

Pode ter sido um terremoto, um tremor, um aerólito, raio e/ou trovão, mas que o fenômeno em seus 8 segundos de duração, assustou, assustou. Que o digam os nossos apavorados antepassados em suas “crises de nervos” e "alucinações momentâneas". 
Correram para as ruas da cidade, ameaçaram pular e alguns até mesmo saltaram das janelas de prédios, um deles em cima da marquise e vestido de pijama.

6 comentários:

  1. Bom dia!
    Estou aqui a rir sozinha, imaginando este pequeno tremor acontecendo em Brasília.... A politicagem toda a pular com suas malas de dinheiro, cuecas saltitantes recheadas de garoupas, a rampa do Palácio do Planalto a deslizar suavemente sobre a Praça dos Três Poderes, aonde centenas de corruptos esquivariam-se do Palácio da Justiça,ou,na possibilidade de um abalo maior, correr até a Catedral e "despejar" o dinheiro por lá, como obra de caridade...

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  2. Meu pai falava desse tremor e ele dizia que foi um terremoto de assustar. Não sabia que foi assim. Muita gente ficou assustada durante dias. Parabéns por recuperar essa história. José de Abreu

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  3. Muito interessante está pesquisa com vários detalhes que faz a gente transportar para aquela época agora lembro também logo no início do governo CADORIN na comemoração do Dia da comemoração do aniversário da Laguna com os morteiros no morro da glória de manhã cedo o susto foi grande na população parecia terremoto muitas pessoas sair correndo para o meio das ruas

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    1. A prática de soltar morteiros no Morro da Glória no dia 29 de julho, aniversário da cidade, começou em 1981, na primeira Semana Cultural, gestão de Mário José Remor.

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  4. Caro Valmir, quanto a instalação das estações de sismologia, a principal tinha que ser sim em Brasilia, pois lá tem terremoto todo dia, e dos grandes. Parabéns pela reportagem, não sabia desta. Um abraço.

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  5. Minha falecida mãe sempre me contou deste tremor, ela dizia que a cristaleira tremeu, mas não quebrou nada, o meu avo colocou eles em baixo da mesa, no caso 6 irmãos mas foi só um susto....boas lembranças.
    JORGE EDU

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