Em 1909 o Pe.
Coadjutor da Laguna César Rossi fez uma viagem partindo de nossa cidade com destino à Nova Veneza,
passando por Tubarão, Pedras Grandes, Azambuja e Urussanga.
Da Estação de Passageiros da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina (hoje FTC -Ferrovia Tereza Cristina S.A.) à Pedras Grandes, de trem. O ramal para Urussanga com sua estação só seria
inaugurado anos depois, em 1922.
Pe. Rossi atravessou a 1ª Ponte Ferroviária de Laranjeiras, em Cabeçuda, Laguna com 1.480 metros de extensão. |
O diário de
bordo que escreveu sobre o passeio foi publicado em quatro capítulos no jornal O Albor, edições de 4 e 18 de julho e 8
e 15 de agosto de 1909.
O padre descreve
suas impressões, dificuldades enfrentadas, onde passou e se hospedou, com quem
conversou, o que viu e sentiu na natureza do caminho numa viagem que começou
num vagão de passageiros de trem partindo da Laguna e sua estação situada no
Campo de Fora, atravessando a Ponte de Laranjeiras, na Cabeçuda.
"Sai o trem da Laguna, atravessando cômoros de areia branca, como a neve, ao reverbero do Sol", diz poeticamente o padre em sua frase inicial.
Trajeto que Pe. Rossi percorreu, da Laguna à Nova Veneza. Hoje o trecho pode ser feito de automóvel em estradas asfaltadas em pouco mais de 2 horas. GoogleMaps. |
No relato há
análises realistas da falta de infraestrutura das estradas naqueles incipientes
anos, do franco progresso da região, produção e escoamento dos produtos, com
análises socioeconômicas da época e até previsão futuras.
A
religiosidade, a cultura e a gastronomia da região também são temas abordados.
Quem foi Pe. César Rossi
Padre César
Rossi nasceu em Subiaco, na Itália, em 9 de janeiro de 1879. Foi ordenado
sacerdote em 19 de dezembro de 1902.
De acordo com pesquisas
do Pe. José Artulino Besen, Rossi chegou ao Brasil em 1908 e logo foi nomeado vigário
paroquial de Nª Senhora do Desterro de Florianópolis.
Em seguida
veio para Laguna como padre-coadjutor na paróquia Santo Antônio dos Anjos e
também encarregado da paróquia de Nª Senhora das Dores de Jaguaruna.
Abaixo-assinado pela permanência
Em 18 de julho de 1909 o O Albor noticia que uma comissão da Laguna foi até o bispo Diocesano D. João Becker, levando um abaixo-assinado contendo 428 assinaturas pedindo a permanência definitiva do padre Rossi em nossa Paróquia.
Em 25 do mesmo mês o padre publicou no mesmo jornal uma nota de agradecimento pela solicitação feita através das assinaturas, "mostrando-se eternamente grato".
No mesmo dia, nas dependências do Hotel Monte Claro (hoje Clube União Operária, na rua Santo Antônio)), o padre ofereceu um coquetel (um copo d'água, como se dizia) para alguns amigos agradecendo, e que a deferência pela sua permanência fosse transmitida a todos os lagunenses.
Em seu discurso o padre disse: "estar penhoradíssimo pelas deferências que até hoje lhe tem sido liberalizadas pela Laguna; que naquela hora sua mãe haveria de estar derramando, na Itália, lágrimas, pensando no filho ausente; mas que quando soubesse o modo carinhoso, gentil e querido porque tem sido tratado pelo povo lagunense, terá imensa alegria.
Ergueu, pois, sua taça à nobre e hospitaleira terra que tão boa acolhida lhe tem dado".
Criação de uma escola na Laguna: planos frustrados
De acordo com o O Albor de 3 de abril de 1910, padre Rossi planejou abrir um estabelecimento de ensino na Laguna que seria batizado como Escola Pio X e funcionaria em sua própria residência na rua Jerônimo Coelho.
"As matérias professadas no estabelecimento serão: português, francês ou italiano (à vontade), geografia, aritmética, História do Brasil e elementos de geografia", dizia a nota.
A criação da Escola Pio X na Laguna pelo Pe. Rossi: Um sonho que não se concretizou. O Albor de 3 de abril de 1910. |
Mas de nada adiantou o abaixo-assinado pela sua permanência na Laguna. Em fevereiro
de 1911 foi transferido e provisionado como pároco de São João Batista de Imaruí, e
encarregado do Senhor Bom Jesus do Socorro de Pescaria Brava.
Com o falecimento do pároco da Laguna padre Manoel João em 29 de maio de 1911, assumiu padre Francisco Xavier Giesbert, como informa a historiadora Nail Ulysséa.
Em 1º de
dezembro de 1917 padre César Rossi torna-se pároco de Sant’Ana do Mirim e encarregado de Sant’Ana
de Vila Nova.
Foi interino e
depois pároco de São Joaquim de Garopaba, onde construiu a torre e a escadaria
daquela igreja.
Serão décadas como pároco dessas paróquias.
Em dezembro de
1940 foi nomeado cônego. A partir deste ano sua saúde entrou em declínio. “Surgiram
sintomas de arteriosclerose, doença que o levou a uma velhice triste e deprimente,
acompanhando-o até o túmulo”, ressalta o padre Besen.
Faleceu em 11
de março de 1953, aos 74 anos, com 51 anos de sacerdócio, no nosso Hospital de
Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos, onde “não tendo para onde ir, pobre e
solitário ficou internado por quatro anos. Foi sepultado no cemitério da igreja
Sant’Ana de Mirim", pontua Besen.
Cabelos brancos e usando bengala pelas ruas da cidade
O procurador
de Justiça aposentado Sidney Bandarra Barreiros lembra que nesses anos iniciais
da década de 50, padre Rossi percorria diariamente algumas ruas da Laguna, visitando amigos e conversando no escritório da empresa Pinho, situada na rua Oswaldo Cabral. De
cabelos brancos, era considerado um ancião naquela época e usava uma bengala para ajudar na sua locomoção.
Dona Salete Remor de Souza também lembra do Pe. Rossi caminhando pelas ruas da nossa cidade. "Ele de vez em quando almoçava lá em casa, conversava muito com meu pai Luiz Remor. Era bem como disse o Sidney, parecia tão velhinho, velhinho e só tinha 74 anos, veja só".
Carlos Augusto Baião da Rosa relembra: "Entre os anos de 1949/1950 moramos nos altos da rua Oswaldo Aranha, defronte ao Hospital, em casa do comandante Schneider, onde hoje funciona uma academia. Lembro de um padre bem velhinho usando bengala que ficava no jardim. Sim, o hospital já teve jardim.
Quando morreu foi velado na Capela do Senhor dos Passos lá do Hospital".
Boa viagem
Depois dessa pequena biografia, vamos juntos,
leitor e leitora aqui do Blog, acompanhar o trajeto junto ao Pe. Rossi em seus plenos 30
anos de idade. Vamos ser companheiros de sua viagem no longínquo 1909, através dos seus olhos e
sentimentos, enfrentando chuvas, precipícios, a solidão e a escuridão da noite naqueles primórdios tempos.
É uma postagem única. Só divido o diário em quatro capítulos tal e qual fez o
padre.
Uma viagem
feita há 112 anos da Laguna à Nova Veneza, aqui recuperada e reproduzida para não se perder na poeira dos tempos de velhos jornais.
Partiu
leitor-passageiro deste Blog.
Boa viagem!
Da
Laguna à Nova Veneza
(Parte
I)
Pe.
César Rossi
“Embora não
seja a Estrada de Ferro Thereza Christina uma d’aquelas grandes artérias
europeias que, à farta, circulam o progresso e a civilização, fatores
primordiais da grandeza das nações, em que, diariamente, passam dezenas de
comboios cortando campinas povoadas,
aldeias e cidades florescentes, parando em estações eminentemente comerciais,
todavia ela oferece ao passageiro esplêndidas vistas de campinas, vasto
panorama de matas virgens que o alegram e encantam e lhe suscitam na mente
tantas ideias e infinitas lembranças.
Sai o trem da
Laguna, atravessando cômoros de areia branca, como a neve, ao reverbero do Sol.
Alguns
quilômetros da estação inicial, passa n’uma grande ponte que liga as duas
colinas, construída sobre a bela e imensa lagoa cujas águas banham a cidade.
Apesar de não
oferecer a ponte belezas artísticas (ao menos aos olhos profanos), atrai a
atenção, senão por outro fato, pelo menos pelo seu comprimento de cerca de
1.400 metros.
Marchando o
trem lentamente pela ponte, dá lugar a observarem-se infinidades de biguás
espalhados na superfície das águas.
Continuando a
viagem, se nos depara a planície de Tubarão, cortada pelo rio de idêntico nome,
que na época das chuvas alarga o leito, inundando muitos terrenos com enorme
prejuízo dos lavradores que veem de repente, nulificados os seus esforços
desaparecer a esperança de seus trabalhos.
É corrente que
esta planície é tão fértil como o Vale do Nilo, do Egito; mas nota-se ser pouco
povoada, com casinhas feitas de barro, meio caídas, onde mora gente pobre que
se dedica ao plantio de feijão, milho e arroz.
Esta vista me
fez despertar a imensa planície del’Agro Romano, completamente despovoada, mas
sem as ruínas que lá existem das grandezas romanas.
Em seguida
chega o trem à estação do Tubarão que apesar de não ser como aquelas a que me
refiro no início d’estas toscas linhas, todavia apresenta certo movimento e
importância.
1ª Estação de Passageiros da Estrada de Ferro Dona Thereza Christina em Tubarão. Fonte: Diário do Sul. |
Saltando em
Pedras Grandes, dirigi-me para Azambuja a cavalo, pois não há outro meio de
condução, a não ser as carretas antediluvianas puxadas à custa pelos bois.
O caminho para
Azambuja começa por uma leve subida, ladeando quase sempre um rio que forma
esplêndidas cascatas que se precipitam, imponentes, por entre os morros e as
plantas.
É uma vista
encantadora digna de ser visitada por touristes
que continuamente percorrem os lagos da Suíça e norte da Itália.
As sombras da
noite me envolveram em caminho e nada mais ouvi a não ser o murmúrio do rio e o
ladrar dos cães.
Ao chegar a
Azambuja, encontrei-a envolta no manto espesso das trevas e hospedei-me na casa
do vigário que, avisado, me esperava para comer o tradicional Taglarino. Após curta conversa, cansado,
fatigado, entreguei-me a profundo sono.
A posição
topográfica de Azambuja não é muito bonita: quase não há horizontes e quem está
acostumado às tardes formosas e esplêndidas da Laguna, experimenta uma opressão
como se aquelas montanhas o fossem abafar.
No dia
seguinte, continuei a viagem e depois de um percurso de 20 quilômetros de
caminho péssimo, incômodo, cheguei à próspera e adiantada Vila de Urussanga,
onde o primeiro dever a cumprir é render graças ao Altíssimo por se ter chegado
são.
(Parte
II)
A Vila de
Urussanga está colocada em um vale a poucos metros acima do nível do mar,
banhada pelo rio do mesmo nome e por isto, um pouco úmida.
Uma
cordilheira de colinas proíbe ao visitador vê-la antes de lhe chegar às portas,
o que torna mais aborrecida a viagem. Porém, em chegando, a vista alegre da
Vila recompensa todo o trabalho, a tristeza e o enfado.
Duas fileiras
de casas brancas, entre as quais há sobrados bonitos e artísticos estão em
redor de uma grande praça, em cuja extremidade se ergue a igreja que, embora
não seja um monumento de arte, tem algumas coisas dignas de admiração, como
pelo quadro de Nª Senhora da Conceição (tipo de Murillo), lindos trabalhos de
madeiras feitos pelos artistas locais e três sinos, cuja voz argentina chama
extraordinário número de devotos, que vão prestar a homenagem devida ao
Criador.
É um
espetáculo comovente ver como aquele povo assiste, com reverência e devoção, as
sacras funções.
Aqueles
colonos mantiveram a fé que receberam com o leite materno e aqui, longe da
pátria, constituindo família, orgulham-se em educar os filhos na mesma fé e
crença.
Oh! Como
aquela igreja, talvez pobre de arte é rica de espírito religioso, à diferença
de tantas que, adornadas de pinturas e mármores preciosos, são depois
profanadas ou deixadas desertas!!...
Um dia de
festa em Urussanga é muito divertido, porque o extraordinário concurso de povo
dá à Vila um movimento digno de nota.
Ao amanhecer,
o incessante repicar dos sinos anuncia o dia do descanso.
Uma multidão
de colonos, velhos e moços vestidos festivamente, alegres, veem de diversos
quilômetros. Ali encontram outros que moram em várias paragens, falam e conversam
como se fossem de uma mesma família.
Mas o que mais
admira é ver grupos de vinte e trinta cavalheiros, homens e mulheres e estas
muitas vezes com crianças de colo, verdadeiras amazonas, cavalgando com tanta
perícia, como não o fazem outras que, nas cidades, recebem lição de equitação.
Tinha bem
razão o general Garibaldi, quando falando da cavalaria rio-grandense disse que
tendo a Itália cavalheiros semelhantes faria muita coisa.
Urussanga
pertence à Comarca de Tubarão e há pouco tempo constituiu-se município autônomo
o que demonstra quanto aquele povo, aliás, muito bom, é amante da liberdade,
liberdade que na terra natal comprou a custo de inúmeros sacrifício e muito sangue
derramado para derrotar o jugo dos austríacos.
Urussanga é
uma colônia completamente italiana, fundada há cerca de 30 anos: quase todos os
habitantes são Vênetos e Bergamascos, povo de ótimas qualidades e incansáveis
trabalhadores.
Acostumados no
solo nativo, a lavrar a terra de ricos proprietários, sem ganhar muitas vezes
quanto lhes era necessário para matar a fome e vestir os seus filhinhos, como
outrora, mais ou menos acontecia aqui no Brasil com os fazendeiros, vivem agora
bem satisfeitos.
Amam muito
esta segunda pátria, onde gozando de muitas regalias, ficou dono de muitas
terras que, hoje, devido a diversas causas são de pouco valor, mas que algum
dia (Deus permita que seja brevemente) em que a agricultura constituir a fonte
principal da riqueza do país e for mais favorecida, representarão um rico
cabedal.
(Parte
III)
A 15 quilômetros ao norte de Urussanga ergue-se uma montanha de cerca de
500 metros acima do nível do mar, chamada Monte de S. Luzia.
No cume está
situada uma casinha branca pertencente ao sr. Torquato Tasso que, gentilmente,
me convidou a chegar até lá, em companhia do simpático, dr. Carlos Felice Bongioanni,
médico cirurgião d’aquela Vila.
Opinando este
que aquele ar puro me pudesse melhorar o estado da saúde, aconselhou-me que
anuísse ao cortês convite e fomos.
A viagem foi
agradabilíssima não só pela amável companhia como pelas lindíssimas vistas que
a todos os momentos aparecem.
A entrada vai
ladeando um rio pequeno, rico em água e cachoeiras, cuja força por enquanto
serve só para mover duas serrarias e dois moinhos de farinha de trigo. No
trajeto, os bons colonos nos cumprimentam e não falta quem nos queira oferecer
ovos frescos e vinhos, coisa que ali há em abundância.
Antes de
chegarmos à base da montanha o médico foi chamado para ver um doente, menino de
doze anos que se torcia na cama com terríveis dores o que muito nos entristecia.
A subida não é
isenta de dificuldades e perigos, os animais ficam bem cansados, o estreito
caminho tem à esquerda a montanha; à direita, um precipício, verdadeiros
abismo.
Escorregando o
animal vai cair no fundo, onde se precipita um rio, cujo ruído se confunde com
os bugios que povoam aquele lugar e formam o desespero dos colonos vizinhos que
tem ali boas plantações de milho.
Finalmente chegamos
à CASA BRANCA (não é a de Marrocos).
Ah! Que
encanto. Parece-me estar nos meus Apeninos.
A respiração é
mais livre; as contrações do coração são mais fáceis; não há montanha mais alta
que nos abafe a não ser bem longe, a Serra Negra com os seus picos que se parecem
confundir com as nuvens do céu.
Que vista
deslumbrante se descortina ali!
Todas aquelas
colinas, em redor de Urussanga, parecem uma imensa planície que se estende à
Jaguaruna, à Araranguá e se confunde afinal com o imenso oceano.
A vista fica
satisfeita com aqueles diferentes panoramas que me lembram as viagens
esportivas feitas nas colinas romanas e nas alturas dos Apeninos.
O médico
voltou no dia seguinte para Urussanga chamado pelos deveres da profissão e
regressamos três dias depois, pois a isto nos obrigou a mudança do tempo.
O município de
Urussanga não é muito grande pela superfície, mas é relativamente assaz
povoado. Tem diversos cursos d’água e verdadeiros rios cuja força hidráulica
podia dar vida a uma infinidade de fábricas, pois não falta a matéria prima.
Mas somente direção, dinheiro e iniciativa.
Oh se tantos
capitais, depositados na caixa Econômica ou bem fechados nos cofres fossem
empregados lá em outros lugares semelhantes que juros não dariam eles?
Oxalá que
chegue quanto antes este dia bem aventurado ou que os capitalistas d’aqui sigam
a norma dos ricos ingleses.
Vários são os
produtos de Urussanga: milho, feijão, batatas, algodão, bicho de seda, vinho,
etc.
Com a seda,
aliás, um pouco áspera devido à falta de máquinas, os colonos fazem lindíssimas
mantilhas que podem adornar a cabeça de uma senhora.
Além disso,
Urussanga possui diversas serrarias montadas pelos colonos, onde fazem lindos
trabalhos, um malho, diversos moinhos para farinha de milho, empregado em fazer
o indispensável prato de Vêneto, a polenta, como para muitos brasileiros o
pirão.
Urussanga é a
colônia mais adiantada e poderia sê-lo muito mais se como disse tivesse capitais
e boas estradas, meios indispensáveis para o desenvolvimento das indústrias e
agricultura.
Quem viu os
trabalhos que os colonos suportam para exportar alguns produtos é que pode
devidamente avalia-los.
Muitas vezes
aqueles carros primitivos puxados pelos bois ficam no meio da lama sendo
necessário descansá-los e transportá-los pouco mais adiante com esforço sobre
humano com grande perda de tempo quando não vinham machucando e quebrando tudo.
(Parte
IV - Final)
Convidado a ir
até Nova Veneza, fui na companhia agradável do sr. Miguel Napoli, ex-diretor
d’aquela colônia e dois companheiros.
Saímos de
Urussanga depois de uma forte chuva. No trajeto, passamos por um caminho
horrível, devido à quantidade de lama que em certos pontos chegava até a barriga
dos cavalos.
Chegamos à
Nova Belluno ao anoitecer e não obstante a chuva continuamos a viagem, a fim de
alcançar Nova Veneza onde, no dia seguinte, se celebrava a Festa de São Marcos,
seu patrono.
A chuva cada
vez mais aumenta, acompanhada de forte vento e trovoada: a noite torna-se bem
escura.
Protegido por
um pala tinha as costas enxutas, enquanto os outros estão molhados, como
pintos.
Felizmente
divisamos uma luz e apressando os passos, deparamos com uma casa colonial na
qual entramos com a mesma satisfação com que um náufrago entra em um porto
seguro, ou um peregrino perdido no deserto para em um oásis para descansar e
refrescar os seus lábios na água cristalina.
Recebidos com
a hospitalidade característica da população colonial, fomos servidos do
apreciado prato, a POLENTA e a roupa foi posta a enxugar.
Estávamos
resolvidos a passar ali o resto da noite, mas a chuva cessou felizmente e
podemos continuar a viagem, embora a noite fosse tão fechada que não permitia
ver nem os animais em que íamos montados.
As 10 e ½
chegamos à Nova Veneza.
Continuando a
chuva no dia seguinte, a festa ficou transferida e assim os perigos d’aquela
viagem não foram compensados com o divertimento que o lugar podia acaso
oferecer.
Nova Veneza,
como Urussanga, está colocada em um vale fértil banhado pelo rio Mãe Luzia;
faltam, porém, as “Gôndolas”, o palácio “dos Doges” e os “Leões” da velha
Veneza.
Nova Veneza é
uma colônia exclusivamente italiana, fundada no ano de 1890 pela Companhia
Metropolitana e pertence ao município e Comarca de Araranguá.
Contando
poucos anos de vida, está adiantada: não lhe faltam bons prédios, entre os
quais vem em primeiro lugar o da Companhia, morada do diretor da colônia, atualmente
o gentil sr. Alfredo Pessi.
Prédio da Sede da Companhia Metropolitana, hoje Museu do Imigrante, de Nova Veneza, onde Pe. Rossi se hospedou em 1909. Foto: Prefeitura de Nova Veneza/Divulgação |
A posição
deste prédio é magnífica por estar no cume de uma colina que domina a toda Nova
Veneza propriamente dita, o vale todo com o seu rio e no fundo a majestosa
Serra.
Também esta
colônia produz milho, feijão, arroz, vinho, mandioca, etc., mas d’estes
produtos quase nada chega à Laguna (exceção feita da banha) devido à falta
absoluta de estradas.
O que ajuda e
dá vida aos pobres colonos são os serranos, cujas tropas vão comprar gêneros
nas casas de negócio.
É certo que se
não fosse assim, seria impossível viver lá, não tendo os lavradores meio algum
para prover-se das coisas mais necessárias.
Quem sabe
quando o sopro da vida e do progresso chegará àquelas regiões abandonadas?
Deus permita
que não seja muito tarde.
FIM
Muito bom. Como era uma viagem naquele tempo. Que trabalho. Abraço.
ResponderExcluirQue ótimo roteiro para um filme ou um documentário. Parabéns.
ResponderExcluirAdoro esses relatos de viajantes do passado. Mostram um mundo que a gente não conheceu. Será que teriam outros feitos pelo padre?
ResponderExcluirBom dia. Que maravilha de relato, nos colocando como passageiros de um tempo distante, mostrando um pouco do cotidiano daquela época. Muito bom. Obrigado.
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