segunda-feira, 26 de julho de 2021

A Indústria Pedone marcou época na Laguna

 
Há alguns meses em post aqui publicado, abordei a filial da empresa Nipo Brasileira na Laguna nas décadas de 1970/80.
Hoje trago outra empresa sempre lembrada por nossos antepassados e que contribuiu durante mais de trinta anos para o desenvolvimento socioeconômico de toda a nossa região, gerando empregos e rendas.
É uma amostra da pujança econômica da Laguna em seu melhores dias.
Instalações da Indústria Pedone, já desativada, em 1975.
Em meados da década de 1930 instalou-se na Laguna, vinda do Rio Grande do Sul, a Indústria Pedone & Irmão, de propriedade de Francisco Pedone. Ela já existia no vizinho estado, mas trocou de ramo ao aqui se instalar e a de lá fechar.

A fábrica passou a produzir enlatados e palmitos em conserva, doces de variadas frutas, além de vinho de laranja.
Mas seu produto principal e de maior sucesso, além do palmito, era o camarão seco salgado que logo se tornou o carro-chefe da empresa. Os executivos de hoje diriam em inglês, o flagship.
Publicidade inserida no jornal lagunense Correio do Sul, de 6 de janeiro de 1939.
Francisco Pedone trouxe para auxiliá-lo, em diferentes momentos, seus irmãos-sócios, filhos e sobrinhos. Alguns deles aqui constituirão famílias.
A indústria durante muitos anos foi uma das mais pujantes de nossa cidade. Empregava diretamente cerca de cem pessoas quando das safras.
Já os empregos indiretos eram bem maiores porque a empresa comprava toda a sua matéria prima de produtores rurais e pescadores de nossa região.

O pescado, principalmente o camarão, era trazido em canoas pelos próprios pescadores que atracavam em uma pequena doca e trapiche localizados na parte dos fundos da indústria e ali descarregado, sem intermediários.
Na confecção, em suas próprias instalações, das embalagens feitas de folhas de flandres, trabalhava Walter Madruga, técnico especializado em latoaria.

Tecnologia e grandes mercados
A Indústria Pedone era a mais aparelhada da região sul, possuindo tanques de lavagem, salgas, frigoríficos, seção de enlatamento e encaixotamento.
Seus principais mercados consumidores eram o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, utilizando-se como meio de transporte o marítimo, aéreo e também o rodoviário, através de caminhões da Empresa Transportadora Lagunense, de sua propriedade.
No inverno, quando decaía a pesca de camarão, aumentava-se a produção do palmito em conserva, cuja coleta era feita nas encostas dos morros de toda a região sul.

A empresa vai funcionar até os últimos anos da década de 1960, quando encerrou suas atividades, deixando uma marca até hoje lembrada graças à visão empresarial de um homem que investiu em nossa terra e que colaborou sobremaneira para o seu desenvolvimento.
A não regularidade dos fornecedores dos produtos, principalmente do camarão e palmito, além da pequena quantidade dessas matérias primas, que dependiam de safras, podem ter contribuído e dificultado os planos de desenvolvimento da indústria. Além do surgimento de outras empresas do mesmo ramo na região.

Toda a área onde ela se localizava foi vendida, passando por diversos proprietários.
Em 1975, quando da inauguração do Monumento ao Tratado de Tordesilhas, ainda era possível se avistar os prédios e a chaminé da indústria, obviamente já fechada, ostentando o nome da empresa, como se pode observar na foto abaixo.
Instalações da Indústria Pedone, já desativadas, em 1975, quando da inauguração do Monumento ao Tratado de Tordesilhas, em primeiro plano.
Logo depois, imóvel arrendado, funcionou em suas instalações com grande sucesso entre a juventude, a Boate New Yave, pertencente a um grupo de amigos radialistas de nossa cidade.
A indústria vista de outro ângulo, quando da enchente de março de 1974. Foto: Bacha.
Já na década de 1990 toda a área foi adquirida novamente e no terreno frontal foi erguido o Shopping (hoje Centro Administrativo) Tordesilhas.
Para efeito de localização, no exato local da indústria funcionou há bem pouco tempo a secretaria Municipal de Saúde, evidentemente com várias alterações e reformas em sua estrutura.
Por uma dessas incompreensíveis injustiças da Laguna, nem Francisco ou Mário Pedone, dois industriais que investiram aqui, foram homenageados com seus nomes em vias públicas da nossa cidade. Enquanto outros...

Genealogia
Para quem gosta de genealogia, como eu, algumas informações interessantes:

O industrial Chico Pedone, como ficou conhecido carinhosamente em nosso meio, trouxe para auxiliá-lo, em diferentes épocas, os filhos Francisco, Odorico e José (Juca) Pedone.

Mais tarde veio o sobrinho Mário Pedone e os genros Vitório e Alexandrino Bandarra. Como encarregado geral, Alcides Bandarra. Com seus irmãos veio também a senhorita Alice Bandarra.
Alguns anos depois, em 1941, o industrial Chico Pedone teve uma grande perda pessoal por causa do falecimento prematuro de sua esposa Antonieta.
Mais tarde vai contrair novas núpcias com Leonor Flores ou dª Leonor Pedone como ficou mais conhecida. Lembro que morava, já viúva, ali no Largo do Rosário naquele sobrado à esquerda de quem sobe ao morro.

Francisco Pedone faleceu em 1957 e quem passou a gerenciar a empresa foi seu sobrinho Mário Pedone, de grande estima em nosso meio, inclusive exercendo a presidência do Rotary Clube de nossa cidade. Casou com Eloá Magalhães e da união nasceu a futura professora Terezinha Pedone Carneiro que casou com o advogado e também meu professor no Ceal, Ronaldo Pinho Carneiro.

Alcides Bandarra veio em 1948. Era casado com Laura Lopez e tiveram como filha Aydê, casada com Jaime Oliveira, irmão, dentre outros, do ex-prefeito da Laguna Walmor de Oliveira.

Dª Alice Bandarra vai casar com o lagunense Sílvio da Silva Barreiros e desta união nasceu Sidnei Bandarra Barreiros, advogado e futuro promotor público de Justiça e hoje procurador aposentado do estado, casado com Maria Salete Folchini Barreiros. 

PS: Agradeço ao estimado primo e amigo Sidnei Bandarra Barreiros. Com sua prodigiosa memória, obtive para esta pesquisa valiosas informações quanto a nomes de familiares e datas.

8 comentários:

  1. Geraldo de Jesus26/07/2021, 15:49

    Olha o que Laguna já teve: indústrias.

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  2. Que show. Me emocionei aqui. Mário Pedone é meu bisavô e meu nome é em homenagem a ele. Não o conheci, mas só escutei coisas boas. Sabia que ele trabalhava con pescados mas não conhecia toda essa história e detalhes. Obrigado

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  3. Que saudades que deu da Vó Lulu (Eloá, minha bisa)

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  4. Sabe, Valmir, muitos produtos da Industria Pedone, tive a satisfação de adquirir, no tempo tinha grande amizade com o "seu" Mário, Dona Eloá, e a Terezinha que me parece ainda está entre nós, casada com o Dr. Ronaldo Pinho Carneiro. Camarão der qualidade, palmito mesmo, naquele tempo ainda existia e sua comercialização era mais fácil, embalagens em vários tamanhos, peixe, tudo industrializado e embalado com higiene incontestável, hoje, nem mais a chaminé está ali. Carlos Araújo Horn

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  5. Me emocionei. Só lembranças boas dos meus avós queridos. Muita saudade.

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  6. Importante sua matéria sobre a Indústria Pedone, que foi construida por pessoas que acreditaram na Laguna, tendo esta empresa garantido o emprego e a renda de muitas pessoas que viviam praticamente da pesca do camarão. Como comentado, a qualidade e os preços competitivos permitiram por um bom tempo que a Laguna fosse mais conhecida e pudesse oferecer emprego para muitas pessoas. Também, o fato de diversas pessoas da família terem se mudado para nossa cidade, proporcionou que estes se integrassem a sociedade local... e seus descendentes passassem a ser pessoas que tão bem conhecemos.
    Abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.

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  7. Adorei saber um pouco mais da história da nossa família ❤️

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  8. Meu avô que não tive a honra e felicidade de conhecer, Alexandrino de Mattos Bandarra foi um grande homem da indústria Pedone!
    Tbem tive a grata felicidade de conhecer meu primo (tio) Sidnei Bandarra lá por 1986-87!!! Grande época!!
    Saudações Enio Bandarra Filho

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