quinta-feira, 11 de julho de 2013

As palmeiras imperiais do Jardim Calheiros da Graça

No começo do século XX, o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos (1902-1906), promovia naquela cidade uma urbanização, saneamento e civilização da recente Capital da República. Era o chamado “bota - abaixo”.
O centro da cidade foi o local que sofreu as maiores transformações.
Avenidas foram abertas, morros desmanchados, mangues aterrados. Nem tudo deu certo, é bem verdade. Cortiços foram derrubados e sua população sem ter pra onde ir e não querendo se afastar do centro começou a subir os morros dando origem à ocupação desordenada até hoje.
Mas os maiores objetivos, que era o saneamento básico e a higiene foram conseguidos.  Pereira Passos quando estudou em Paris, tinha presenciado as reformas urbanas promovidas por Georges-Eugène Haussmann e as implantou no Rio de Janeiro.

Urbanização também na Laguna

Na Laguna não era diferente. No segundo quartel do século XIX, com a chegada de imigrantes e o início da exploração do carvão no sul do estado e construção da Estrada de Ferro Tereza Cristina, uma onda de progresso começa a varrer a cidade.
Teatro, clubes, Sociedades Musicais e carnavalescas, Grupos Escolares, jornais, biblioteca, hospital, mercado, são construídos e inaugurados. Pelo porto da cidade escoavam produtos primários e chegavam os manufaturados. O tráfego com outras praças era intenso, inclusive com o Rio de Janeiro.
“Inegavelmente, foi a época de maior luxo em nossa terra”, diz Saul Ulysséa, em sua obra A Laguna de 1880.

Pois nos primeiros anos do século XX, comerciantes, armadores e autoridades do município se reuniram para dar uma nova cara para a cidade. Foi criada, em 14 de julho de 1907, por iniciativa de Ataliba Goulart Rollin, uma “Comissão de Aformoseamento” para sugestões, projetos e arrecadação de numerários para as futuras obras.
É quando surge o jardim Calheiros da Graça e seu chafariz no antigo Campo do Manejo, a construção do cais em granito, passeios, calçamento de ruas, iluminação elétrica, etc.

O Jardim Calheiros da Graça e as palmeiras imperiais
Do Jardim Botânico de Petrópolis são encomendadas as Palmeiras Imperiais para o Jardim Calheiros da Graça.

Numa crônica de Agenor dos Santos Bessa, podemos ler que foram Ataliba Goulart Rollin e seu cunhado José Guimarães Cabral quem construíram o Jardim Calheiros da Graça as próprias expensas.

Os dois, em contatos com autoridades no Rio de Janeiro, encomendaram oito palmeiras ao Jardim Botânico de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ataliba Goulart Rollin era Botânico e conhecia o Jardim da Cidade dos Príncipes.

Em 1915, diz Agenor Bessa, chegaram a Laguna pelo navio Mayrink oito mudas das palmeiras que foram plantadas por Fernando Chatão, que foi o primeiro jardineiro que a então Superintendência da Laguna (hoje seria prefeitura) colocou como encarregado do nosso Jardim em cujo cargo esteve até a década de vinte.
Elas chegaram pequenas, mas se adaptaram tão bem, que em poucos anos atingiram a altura de muitos metros.
 
O Jardim Calheiros da Graça na década de vinte, ainda com o muro e cerca de proteção, que foram retirados em 1925. Observe o pequeno tamanho das palmeiras na esquina da rua Santo Antônio com XV de Novembro. À direita na foto, a bandeira do Clube Blondin tremulando em sua antiga sede.


O saudoso músico e escritor Agenor Bessa, num rasgo poético escrevia lá em sua crônica de 1982, uma verdadeira ode às palmeiras. Acompanhem, e sintam a beleza do texto:

“Aí estão as palmeiras, assistindo festas, testemunhando início e fins de gerações, chorando enterros, assistindo casamentos, ornamentando desfiles e passeatas cívicas, ouvindo retretas e concertos, assistindo procissões, festas carnavalescas, idílios amorosos!
Quantos segredos, não estarão elas guardando! Se elas falassem e rissem assim como os humanos! Que franco gargalhar quando tivessem que contar as bazófias, as mentiras, as falsas promessas apresentadas nos comícios políticos havidos durante todos esses anos de existência!
Oh! Testemunhas mudas porém vivas do rebu desta cidade que ri, que chora, que aplaude, que sofre as mais doridas injustiças! Que se humilha diante dos algozes!
Oh! Palmeiras Imperiais! Oh! Calheiros da Graça! Atrativos poderosos dos saudosistas que te contemplam embevecidos relembrando suas mocidades”.

As palmeiras imperiais precisam urgentemente de cuidados


As palmeiras imperiais do Jardim Calheiros da Graça também estão necessitando de maior atenção por parte das autoridades, a exemplo da Árvore de Anita e de outras árvores do local. Isso urgentemente.
As oito palmeiras imperiais estão lotadas de parasitas que precisam ser removidas e com enormes buracos em seus troncos, parecendo conter alguma praga.

Presidente da Fundação do Meio Ambiente da Laguna (Flama) Amenar de Oliveira, sinalizou com providências para breve.

Aguardemos.

4 comentários:

  1. Meu amigo valmir, que foto maravilhosa esta da década de vinte. Quem serão as duas crianças? Com certeza nunca saberemos. São segredos dotempo. Que gente interessada no processo habitou a nossa terra. Agenor Bessa homem culto, exemplo para muito político sem cultura dos dias de hoje. João Carlos nunes

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  2. Muito interessante e educativa a reportagem; eu não sabia que o Blondin antes era do outro lado da praça. Parabéns! Pedro

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  3. SERES VIVOS NÃO DURAM PARA SEMPRE , MAS COM UM POUCO DE MANUTENÇÃO DURARIAM MAIS ,PRINCIPALMENTE ESTAS ARVORES ,TEM TAMBÉM UMA FIGUEIRA NA CARIOCA QUE ESTÁ PRECISANDO DE UMA MANUTENÇÃO.
    JORGE EDU.
    OBS.TODOS PENSAM EM FAZER,CONSTRUIR,PROMOVER....MAS MANTER O QUE FOI FEITO???????

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  4. Estas palmeiras de fato fazem parte do patrimônio histórico de Laguna, obrigado pela informação, trabalho exclusivamente com palmeiras, vou entrar em contato com a prefeitura de para disponibilizar nossos serviços. Estamos a mais de 13 anos no mercado trabalhando exclusivamente com venda e transplante de palmeiras adultas. Qualquer dúvida deixo aqui meu contato.
    www.recantodepalmeiras.com.br
    Um grande abraço.

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