terça-feira, 3 de julho de 2018

Estádio Municipal (do LEC): da construção e auge, ao abandono

O sonho de possuir um Estádio Municipal de futebol era antigo no meio futebolístico da Laguna e região. 
Na década de 60, na zona urbana da cidade, a área onde se situava o campo do Lamego F. C. havia sido doada ao governo do estado e em seu lugar, em 20 de setembro de 1964, foi inaugurado o prédio do Conjunto Educacional (hoje Escola de Ensino Médio) Almirante Lamego.
O Estádio Municipal (do LEC) em sua etapa final, já murado e gramado, com arquibancadas metálicas instaladas. Vestuário, sanitários e alojamentos seriam construídos posteriormente.
Em 1975 também desaparecia o Estádio Nereu Ramos, do Barriga Verde F.C. 
Em seu lugar surgiu o ginásio de esportes Bertholdo Werner e o prédio do Centro Industrial de Profissionalização, depois chamado de Centro Interescolar Profissionalizante e por fim de Centro Interescolar de Primeiro Grau Antônio Bessa (CIP), onde nos dias atuais se encontra instalada a UDESC, depois de ali também ter funcionado o Colégio Comercial Lagunense (CCL).
Portanto, a construção de um estádio de futebol e a montagem de um time que pudesse representar o município em torneios intermunicipais e campeonatos estaduais era um desejo de tempos.

Mesmo antes das eleições municipais de 1976 se realizarem, muitos desportistas lagunenses, além de jornalistas e radialistas da cidade cobravam essa obra de políticos, administradores e candidatos à prefeitura. Que a incluíssem em seus planos de governo, que ela fosse uma das metas.
Os falecidos Wilson Figueiredo pela Rádio Garibaldi, e Silvio Silveira em sua coluna Folha Seca, no jornal Semanário de Notícias, reverberavam esse anseio, sempre clamando pela construção de um estádio. 


Surge o aterro do Alagamar
O aterro da área do Alagamar sendo executado.

O Aterro do Alagamar visto do alto do Morro da Glória com a área do estádio sendo preparada.
Mário José Remor, vencedor das eleições de 1976 tendo como vice João Gualberto Pereira, conseguiu com o engenheiro Aurélio Remor, diretor em Santa Catarina do então Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) o aterro de uma área no bairro Magalhães. 
No local poderia ser implantado um estádio de futebol, tendo ao seu derredor um centro esportivo multiuso, além de uma área para instalação de indústrias em função do porto pesqueiro e até mesmo um núcleo habitacional.

Mas o estádio de futebol teve que esperar ainda alguns meses para o início de suas obras. Prioridades na administração, como salários atrasados dos servidores, débitos a fornecedores, carências nas áreas sociais, de saúde e educação, além da manutenção da infraestrutura do município, clamavam mais urgência.

Discussão sobre o melhor local
Por muito tempo discutiu-se o local mais adequado para levantar o estádio. Havia quem, como Silvio Silveira, reivindicasse sua construção numa área ao lado da Casa da Esperança (Hoje Fundação Hermon).
Preparando a drenagem do campo. 
Em abril de 1979 finalmente o martelo foi batido e optou-se por fazê-lo na área recém-aterrada do Alagamar (hoje Vila Vitória) no bairro Magalhães.      Com projeto de Jairo Duarte e levantamento topográfico de Antônio (Pirata) Duarte Filho, que eram funcionários da prefeitura, deu-se início a construção do Estádio (ou Centro Esportivo, como primeiramente foi denominado.

Em 1980 a construção, ocupando uma área de 10.612,00m2 andava a passos de tartaruga, porque bancada exclusivamente pelos cofres municipais.          Procurava-se financiamento através do FAS, da Caixa Econômica Federal, mas o estabelecimento bancário negou o empréstimo por já ter financiado o Centro Social Urbano (CSU) do bairro Progresso.
O mandato ia expirando e parecia que o sonho do estádio de futebol teria que ficar para o próximo prefeito. 
Mas aí, naquele ano o Congresso Nacional votou e aprovou projeto do deputado por Goiás, Anísio de Souza (Arena) que prorrogava os mandatos municipais por mais dois anos.

Reunião confecciona estatutos e forma diretoria
Em 23 de maio de 1981, reunião na prefeitura tratou da formação de uma equipe básica de futebol de campo com a denominação de Laguna Esporte Clube (LEC), além de tratar da concretização do término da construção do estádio.       Presentes, além do prefeito Mário José Remor, o vice, João Gualberto Pereira, o presidente da Câmara Antônio Pedro dos Santos (Nico Coelho), Igor Ivanov, Edir Cabral, Ibraim Abrahão, Silvio Sebastião Silveira, Wilson Figueiredo, Waldemar Manoel de Souza, Alberto Crippa, Nildo Ulysséa, Flávio Delgado, Júlio e Jairo Marcondes, Luiz Destre Napoleão e o presidente da Liga Amadora Lagunense (LAL), Itamar dos Santos, entre outros desportistas.
Ao final da reunião decidiu-se pelo início dos trabalhos de confecção dos estatutos e a nomeação de membros à primeira diretoria do LEC.

Oficialmente o LEC foi fundado em 13 de abril de 1982, sendo seu primeiro presidente João Batista Whendausen Moraes. 
Poucos sabem, mas o musicista Agenor dos Santos Bessa, em homenagem à criação do LEC compôs o hino da agremiação esportiva:

Hino do LEC
Para triunfar – Glória alcançar
Pé na bola firme pra chutar (bis)
E a vitória ostentar

Hip-hip-hurra – Esporte Clube Laguna
Vamos pra frente sem parar (bis)
 Que atrás vem gente querendo passar (bis)

Para se vencer – O time enaltecer
Haja resistência no pé (bis)
Vamos chutar com fé (bis)

O ex-goleiro integrante da seleção Uruguaia campeã da Copa do Mundo de 1950 e que também atuou pelo Internacional de Porto Alegre, Jorge Américo La Paz, aqui residente com a família acumularia, no início do processo, as funções de selecionador de atletas, técnico e administrador do Estádio Municipal. La Paz chegou a nossa cidade em 1951, casando-se com Wally Cook.

A estreia do LEC
Em 13 de junho de 1982 o LEC estreou e abriu o campeonato estadual de Amadores, vencendo o Guatá em seu campo, pelo placar de 2 X 0. 
O LEC jogou com Rodney, Escurinho, Chede, Anu e Gelson; Nortinho, Marquinhos e Ferrugem; Beto, Alemão e Sérgio. Reservas: Nelo, Cacá, Joãozinho, Marinho e Gil. Alterações: Teco no lugar de Marquinhos e Gil substituiu Beto. Técnico: Eraldo.

Uma semana depois, em 20, o LEC jogou em casa, estreando o estádio do LEC – ainda sem inauguração oficial - que se encontrava parcialmente em obras.            Era uma tarde fria de domingo de vento sul. O jogo foi contra o Guarani de Palhoça e levou um grande número de torcedores ao estádio. 
O LEC venceu a partida por 3 X 2. O juiz foi Toquinho, de Lauro Müller, auxiliado pelos bandeiras lagunenses Gilson e Neném.
Numa partida com o Juventus F.C. de Jaraguá do Sul, em 7 de setembro de 1982, o goleiro Manga jogou de goleiro para o LEC, que ganhou de 2 X 0, gols de Anu e Chireia. 
  O jogador convidado havia sido o Garrincha, mas por problemas de saúde não pode viajar. 
Em pé: Almir Alves (Anu), Roxo, Nem Chede, Manga, Jacson e Itamir. Agachados: Chico, Nortinho, Chireia, Beto Laguna, Ferrugem e Serginho Iru.
O Time do LEC: Rodney, Escurinho, Anu, Chede, Gelson, Nortinho, Beto, Marquinhos, Alemão, Ferrugem e Serginho. Beto foi substituído por Gil. E Marquinhos por Jacques. 
Os três gols do time da Laguna foram de Serginho, Alemão e Ferrugem. Três meses depois, o LEC dava adeus ao campeonato, perdendo para o União de Criciúma, por 4 X 2.

Inauguração oficial do Estádio
No dia 29 de janeiro de 1983, finalmente o Centro Esportivo (Estádio Municipal) foi oficialmente inaugurado. 
Foi um sábado repleto de entregas de obras e a apenas três dias do prefeito Mário Remor deixar o governo.
Descerrando a placa de inauguração, prefeito Mário Remor juntamente com o diretor do então DNOS em Santa Catarina, engenheiro Aurélio Remor e o secretário estadual de Transportes e Obras, Grubba. De costas, Antônio de Pádua Heleodoro de Souza.
Toda a área do Estádio Municipal havia sido aterrada com o material retirado quando da retificação do leito do Rio Tubarão e Bacia de evolução do Porto, trabalho executado pelo DNOS. 
Depois o terreno foi nivelado e lastreado com milhares de m2 de barro. Além disso, foi executada a drenagem do gramado com centenas de tubos visando infiltração das águas pluviais.
O Estádio Municipal, todo murado, contava com vestuários e sanitários, bar, bilheterias, iluminação com refletores (doados pelo presidente da Celesc Paulo de Freitas Melro) para jogos noturnos e algumas arquibancadas metálicas.
Adib Abrahão Massih discursa na inauguração do estádio. Ao seu lado Terson Ubirajara dos Santos, o prefeito Mário José Remor e o ex-prefeito Venâncio Luiz Vieira.
    Às 11h30m procedeu-se a inauguração com descerramento de placa e a realização de um torneio de abertura entre equipes de futebol amador de nossa cidade. 
E às 21 horas daquela noite, uma partida amistosa entre o Laguna Esporte Clube (LEC) e o Figueirense Futebol Clube, de Florianópolis, selou com chave de ouro a festa.

Transmissão ao vivo 
O jogo foi transmitido pelas duas emissoras de rádio da Laguna. Na Garibaldi a narração estava sob a responsabilidade de João de Souza Júnior, o Dão. Na Difusora o comando esportivo coube a Evilázio Silveira. 
Entre torcedores, jogadores, autoridades e público em geral, o prefeito Mário José Remor, idealizador do Estádio era o mais emocionado e o que mais recebia cumprimentos pela obra. 
O prefeito Mário, de boné, assiste à partida inaugural. Ao seu lado o presidente do Figueirense F.C. e logo após o então presidente da Associação Comercial da Laguna Edgar Pereira e seu filho Rodrigo Fernandes Pereira. Mais à direita o delegado de Polícia Péricles Faria.
Era presidente do LEC à ocasião, João Wendhausen Moraes, dedicado desportista, depois vereador. 
Mais tarde, com seu falecimento, o Estádio receberá seu nome. 
O placar foi de 0 x 0 e o destaque da partida foi o jogador Ferrugem que estava sendo contratado pelo Figueirense.       
O ponta direita do LEC, Carlos Alberto (Beto Laguna) Fernandes, também estava em períodos de testes no Figueirense, tendo no segundo tempo vestido a camisa do time da capital do estado.
O LEC à direita na foto, numa partida amistosa com o Fluminense (RJ). Pelo LEC, em pé: Chede, Almir (Anu) Alves, Edson Scott, Esquerdinha e Décio. 
     Agachados: Rogério, Ferrugem, Gelson Luiz Pacheco (Bizorro), Serginho Irú, Tico Lira e Marcos Faria. 
         Fluminense: Em pé: Paulo Vitor, Mauro, Ricardo Gomes, Jandir, Aldo e Branco. Agachados: Wilsinho sabonete, Chico, Maurinho, Leomir, Machado e Tato. Placar: 1 x 1. Gols de Tico Lira e Maurinho.
      Curiosidade: A renda do jogo foi de Cr$ 587 mil cruzeiros, com uma despesa de Cr$ 487.600,00 (entre pagamento da quota ao Figueirense: Cr$ 195 mil, bicho dos jogadores do LEC: Cr$ 91 mil e a compra de chuteiras e meias, foguetes, telegramas, flâmulas, passagens, etc.). Lucro: Cr$ 99.400,00.

O surgimento do Alagamar e posteriormente a Vila Vitória
No início, além do estádio, somente um grande aterro despontava no local. Em 1993, na gestão do prefeito Jorge Tadeu Zanini, 36 famílias foram assentadas nas imediações do estádio, no então chamado aterro do Alagamar. 
Era o início, o embrião de um processo de assentamento, ocupação/doação/comercialização que durante os anos seguintes uniu alguns religiosos, lideranças políticas, movimentos sociais e poder público.
Com o passar do tempo os lotes foram regularizados, doados, comercializados, além de urbanizados, com calçamento nas principais ruas, iluminação, água, etc., além de construção de creche, ginásio de esportes, associações e estabelecimentos comerciais. 
Tornou-se a Vila Vitória, com uma população hoje residente girando em torno de 5 mil pessoas, mas com diversos problemas básicos de infraestrutura e socioeconômicos a resolver.
O estádio municipal do LEC ficou lá, isolado numa área densamente povoada, com algumas casas praticamente coladas ao muro que cerca o estádio.

A mais recente edificação construída no local, em abril de 2016, foi a estação de tratamento compacta de esgoto, levantada a poucos metros do estádio, em área cedida pelo Secretaria de Patrimônio da União (SPU) à Casan.
Vila Vitória hoje, densamente povoada. No lado direito o Estádio do LEC, com a Estação de Tratamento de Esgoto bem ao lado. Foto: Elvis Palma.
O abandono do Estádio
Já o abandono do estádio iniciou muito antes. A partir do fim da década de 80 começou o lento declínio do estádio municipal. 
O time do LEC deixou de existir. Sem jogos, sem participação em campeonatos, apenas alguns torneios com times amadores do município foram realizados no estádio.
Fotos atuais da atual situação do Estádio Municipal (do LEC).

A realização de shows em 1998 no local, num período de intensas chuvas, arruinou o campo e grande parte das instalações do estádio. O gramado, que já não era bom, ficou imprestável. 
As arquibancadas de concreto previstas para uma segunda etapa, nunca foram construídas. 
Em 2004 houve algumas reformas (gestão Adílcio Cadorin) realizada pela prefeitura. Depois novamente o abandono.
Fotos atuais do estádio do LEC.
A verdade é que sucessivas administrações da Laguna abandonaram por completo o estádio, sem maiores conservações e manutenções.  Nunca houve uma zeladoria.
Em 2012 (gestão Célio Antônio) o local foi cedido pela prefeitura para uma empreiteira instalar seus maquinários e equipamentos utilizados na instalação da rede coletora de esgoto do município. 
Foi a pá de cal que faltava no local que, desde então, completamente abandonado, se deteriora mais e mais com o passar do tempo e assim se encontra nos dias atuais, conforme demonstram as fotos feitas nesta segunda-feira. 
Até quando?

11 comentários:

  1. Parabéns pela pesquisa e matéria. Extensa mas a melhor que li até hoje sobre o aasunto. De guardar .
    Geraldo De Jesus

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  2. Boa noite. Mais uma vez venho lhe parabenizar pela excelente matéria. Realmente se nota que como muito poucos tens verdadeiro amor pela nossa terra... Fico a cada dia mais indignado com a situação da nossa cidade do 'já tinha ou já teve e já foi'... Que lastima... Me senti triste quando li a citação sobre o inicio do Centro Social Urbano do Bairro Progresso, local do qual me pus a pensar sobre como era e de como está hoje... Como era bonito com aquelas árvores enormes, espaço para praticar esportes com o campo e a quadra de cimento para futebol, vôlei e basquete, além das discoteques de fim de semana. Enfim, me perdoe por este pequeno desabafo. Faço votos de que continues com este maravilhoso trabalho. Meus parabéns e tudo de bom...

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  3. Reportagem digna de um grande jornal. Que saudade do LEC e do estádio. Que vergonha para esses prefeitos de Laguna. Que bom ver as fotos dos jogadores e que tristeza ver como está o lugar.
    Edison Andrade

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  4. Parabéns pelo belo trabalho. Recordo-me muito de ir aos jogos com o meu pai e também com o tio Carlinhos Brandl, que era o tesoureiro do clube. E viajávamos por vários cidades do Sul para acompanhar o time.

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  5. O pior, Valmir, é saber que vai continuar tudo como está e daqui a pouco vão querer vender ou um vereador vai apresentar um projeto qyerendo lotear aquela area.
    Helio Fonseca

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  6. Bom dia!
    Pois é!
    Já tivemos Aeroporto, Porto, Estádio, Ginásio... Nada se efetiva. Péssima Administração de alguns governantes que não colocaram suas"criações" em Projetos de manutenção e Continuidade....Aí não tem Planejamento e Infraestrutura?
    Isso faz parte da Administração Pública.

    Fatima Martins

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  7. Nortinho,
    É com uma tristeza muito grande que estou vendo e lendo essa reportagem, pois tive a honra e orgulho de fazer parte desse time do LEC e hoje vejo o estádio dessa maneira. Quantos momentos de alegrias tivemos e proporcionamos ao povo lagunense. Por isso a indignação. Espero que o esporte lagunense possa ser visto de outra forma pelos nossos governantes e principalmente pelo prefeito Mauro Candemil que sempre foi respeitado e admirado na questão futebol. Walmir, mais uma vez parabéns pela matéria.

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  8. verdade ,tambem fiz parte da familia LEC e é muito triste ver a situação que ficou o estadio.

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  9. Parabéns pelo material apresentado, muito bom.

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  10. Parabéns pela matéria esperamos que a nova administração de a devida atenção ao esporte e faça a reforma devida no estádio e incentivo aos jovens nas diversas modalidades de esporte

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  11. Parabéns pela matéria rica em detalhes poucos lembrados pelos atuais gestores municipais, pós estamos vivendo um atual descaso com esse local, um verdadeiro canteiro de descarte de resíduos, onde os políticos somente utilizam como palanque eleitoral.

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