quarta-feira, 15 de maio de 2019

Pedra sobre pedra

Este casarão da foto, de arquitetura luso-brasileira, ficava situado na rua Jerônimo Coelho, nº 81, em pleno centro histórico da Laguna. A edificação refletia um período histórico da colonização da cidade.

O estilo arquitetônico se caracteriza pela planta portuguesa e traço português, com materiais e mão-de-obra utilizados na construção sendo brasileiros. É um desenho simples, mas com características bastante peculiares que são facilmente identificadas pelas janelas e telhados e ainda por ser uma construção geminada.
O casarão da Laguna possuía cinco janelas e duas portas frontais.

O imóvel foi demolido em 1981 e em seu lugar ergueu-se uma construção em estilo moderno, para instalação de uma agência bancária.
A demolição da edificação à época gerou imensas controvérsias entre autoridades e imprensa. Reuniões se sucediam. Mas, a exemplo do que aconteceu com outro casarão situado na Praça Vidal Ramos, de propriedade de João Tomaz de Souza, teve o mesmo fim.
Casarão demolido na Laguna foi reerguido nos mínimos detalhes em Camboriú.
O diferencial é que este imóvel foi retirado do local e, por incrível que pareça, levado em silêncio, pedra sobre pedra, telha a telha, madeira a madeira para outro município, através da Fundação Catarinense de Cultura –FCC.
Foi reerguido nos mínimos detalhes, no Parque da Citur (depois Santur), às margens da BR-101, em Camboriú. Abriga em seu interior exposição de artesanato e produtos da região, tornando-se atração turística.

À entrada do casarão, um painel com fotos de quando o mesmo estava em nossa cidade, com dois textos complementares. O primeiro faz um breve histórico do imóvel:

(...) “casarão construído provavelmente em meados do século XIX, ali permaneceu por mais de 100 anos, até que, em abril de 1981, por motivos que não cabe aqui lembrar, consentiram com a sua demolição. Moradia do Comendador, português de nascimento, Tenente-Coronel João José de Souza Guimarães”.

O segundo texto é de Gottfried Kieson e traz uma mensagem sobre patrimônio arquitetônico:

“Todo o Patrimônio Cultural deve ser conservado no seu local de origem. Só se ventila a transferência, as remoções para outros lugares, no caso de não haver outra possibilidade de salvação, quando só tem a escolha entre o desaparecimento ou a transferência de um monumento”.

A demolição do casarão foi anterior ao tombamento do centro histórico da Laguna em sua poligonal.
Operários desmontam pedra sobre pedra, retirando telhas e as aberturas.
Para a demolição, autorizada pela prefeitura, o referido imóvel já havia sido excluído da Lei nº 34/77, de tombamento municipal.
O local após o desmonte, vendo-se ao fundo a Casa Candemil.
Já o tombamento federal, que tanta celeuma causou (e ainda causa), aconteceu em 1985 atendendo um abaixo assinado de alguns moradores e autoridades da Laguna, endereçado ao então Sphan – Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mais tarde Instituto, na gestão do presidente da República José Sarney.
Como se pode observar na foto acima, uma edificação  de dois andares no estilo art déco também foi demolida conjuntamente com o casarão. Funcionava nela  a filial da empresa Carlos Hoepcke S.A. - Comércio e Indústria - Importadores e Atacadistas. Nesta firma trabalharam muitos anos como gerentes os srs. Walter Baumgarten e Rodolfo Meyer. Foram também funcionários Zoraide Schneider e Renato Ulysséa.
Os dois imóveis derrubados estavam situados entre as ruas Fernando Machado (Rincão) e Conselheiro Jerônimo Coelho.

2 comentários:

  1. Nesta casa durante muitos anos morou Otto Siqueira e família.
    Geraldo de Jesus

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  2. Valmir, quando criança, muito frequentei esta casa, onde morou o meu saudoso tio Zezinho Prudêncio e família até 1968, quando mudaram-se para Campo Grande (MS). Na primeira porta, a esquerda da foto, funcionava o escritório de advocacia do Dr Walter Francisco. Também advogou no local o Dr Leonardo Nunes, que depois foi aprovado no concurso de juiz. O seu Valdemar, temido comissário de menores, irmão do Dr Walter Francisco, e que estava sempre na porta do Cine Mussi - lembra dele? -, também ocupou o local. Saudades daquele tempo.

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