Durante a
Segunda Guerra Mundial a Legião Brasileira de Assistência (LBA), através da Cruz Vermelha do Brasil criou em cada uma de suas
seções do país um corpo de enfermeiras chamadas Samaritanas e Voluntárias Socorristas.
Laguna também
se engajou na campanha com a inscrição nos cursos teóricos e práticos, de trinta e três mulheres de nossa sociedade.
Os cursos
Samaritanas e Voluntárias Socorristas em desfile cívico-militar em torno da então Praça da Bandeira (hoje República Juliana), na Laguna. |
Os cursos de
enfermagem de guerra intensificaram-se a partir de 1942.
No final deste
ano, no governo do presidente Getúlio Vargas, decidiu-se pela participação do
Brasil no conflito. Em meados do ano seguinte iniciou-se a constituição da
Força Expedicionária Brasileira (FEB), com o envio das primeiras tropas à
Europa acontecendo um ano depois, em julho de 1944.
Junto com a
FEB seguiu um grupo de 67 enfermeiras brasileiras. Destas, só oito eram
profissionais, uma delas parteira. As demais eram as chamadas Samaritanas e
Socorristas.
Botton usado no uniforme pelas Samaritanas durante a IIª Guerra. |
Mais seis
seguiram com a Força Aérea Brasileira (FAB).
Entre as
enfermeiras brasileiras que foram alunas da Escola de Enfermagem da Cruz
Vermelha destacam-se Antonieta Ferreira, Carmem Bebiano, Elza Cansação Medeiros
e Virgínia Portocarreiro (Samaritanas) e Heloísa Velar (Voluntária Socorrista).
Na falta de um
grande contingente de enfermeiras no país, a Cruz Vermelha, instalada no Brasil
desde 1908, criou dois cursos na área.
O primeiro era
chamado de Samaritanas, um supletivo de enfermagem, com duração de um ano; o
outro curso era o de Voluntárias Socorristas, com treinamento de três meses.
Solteira,
viúva, desquitada ou casada com permissão do marido
Para se
inscrever nesses cursos era exigido ser brasileiro nato, solteira ou viúva sem
filhos, com idade entre 20 e 40 anos. Semanas depois houve alterações no
regulamento, passando-se a aceitar mulheres casadas, desde que tivessem
permissão dos maridos, e desquitadas. A faixa etária máxima passou a ser de 45
anos
A insuficiência
de inscritos pode ter provocado as alterações acima, assim como, justificadamente, reivindicações
femininas.
A partir de
cursos de enfermagem, manuais foram criados com instruções para os primeiros
socorros em caso de bombardeios aéreos.
Noções básicas
de primeiros socorros também eram ministradas com vistas ao atendimento nos
lares.
Os cursos e
regulamentos eram aprovados pela Diretoria de Saúde do Exército do Ministério
da Guerra.
Um número
expressivo de mulheres foi mobilizado em todo o Brasil com uma campanha maciça
em rádios e jornais, estimulando a participação da mulher em prol da construção
e defesa do Grande Brasil e da pátria-mãe, características do Estado Novo do
governo getulista.
Na Laguna
Em nossa
cidade, 33 mulheres se inscreveram nos dois Cursos da filial da Escola da Cruz Vermelha local, que era secretariado pelo professor Ruben Ulysséa.
As aulas,
teóricas e práticas, eram ministradas pelos médicos Paulo Carneiro e Joaquim
Antônio Ferreira S. Thiago.
Quem eram as alunas formandas?
Há alguns
anos, em minhas pesquisas no Arquivo Público da Laguna, quando este ainda
funcionava, encontrei nas prateleiras um pequeno livro, capa dura, na cor
preta, que me chamou a atenção.
Nele, a
relação das alunas formadas nos Cursos de Samaritanas, e Voluntárias Socorristas,
realizados em nossa cidade durante a 2ª Guerra. Ano: 1943.
Fotografei as páginas e devolvi o livro às prateleiras do Arquivo.
Capa do livro de formatura dos cursos de Samaritanas e Voluntárias Socorristas. |
Fotografei as páginas e devolvi o livro às prateleiras do Arquivo.
Dia desses,
revendo as pastas do meu arquivo, encontrei os registros virtuais. Eis algumas das páginas:
São 50 páginas
manuscritas pelo professor Ruben Ulysséa, que era secretário da filial da Cruz
Vermelha em nossa cidade.
Formanda Elisabeth Grandemagne Ulysséa. |
Formanda Sílvia Soares. |
Formanda Ema Martins Guedes. |
Formanda Nilza Bento. |
Formanda Odete Chede. |
Formanda Rinalda Benjamine Eggerth. |
Formanda Yolanda Abrahão. Formanda Helena Leocádia da Silva. |
Em 25 das
páginas a seguinte anotação:
Registro XX
“Aos seis dias do mês de abril de mil novecentos e
quarenta e três, foi apresentado nesta secretaria para o devido registro, o
seguinte Certificado: “A Diretoria da Cruz Vermelha Brasileira, Filial da
Laguna, confere à ___________, natural de Laguna, Sta. Catarina, o certificado
de Samaritana, visto ter sido aprovada no Curso de Primeiros Socorros, podendo
prestar seus serviços na Paz e na Guerra. – Laguna, 12 de fevereiro de 1943 –
(ass.) Dr. Paulo Carneiro, presidente, Dr. Joaquim Antônio Ferreira S. Thiago,
diretor da Escola; Ruben Ulysséa, secretário geral; __________, prestadora.
Laguna, 6 de abril de 1943”.
As Samaritanas e Voluntárias Socorristas em desfile cívico-militar na Laguna. |
As Samaritanas e Voluntárias Socorristas defronte ao Obelisco, na Praça, com a Bandeira do Brasil e um retrato de Getúlio Vargas ao fundo. |
A mesma solenidade cívico-militar vista de outro ângulo: Foto: Livro "A Trajetória da Enfermagem na cidade de Laguna". |
Lembrando que são nomes de solteiras, em sua maioria, e certamente alguns leitores aqui do Blog encontrarão saudosas avós, tias ou mães, ou conhecidas.
Samaritanas
Alice Ferraz
Dalva Perfeito da Silva
Dilmar Lisboa Neto
Elisabeth Grandemagne Ulysséa
Ema Martins Guedes
Francelina Vieira Barreto
Iolanda Abrahão
Isolde Behr
Ivone Carvalho
Júlia Vitorino Gomes
Letícia Matos Moura
Lorena Rosa
Maria Augusta da Silva
Maria da Glória B. Coelho
Maria da Glória Moura Oliveira
Maria de Lourdes Garcia
Marina Gomes de Carvalho
Nilza Bento
Odete Chede
Rinalda Bergamine Eggerth
Silvia Soares
Tereza Figueiredo Brasil
Terezinha Alves Correia
Voluntárias
Socorristas
Deolinda da Silva
Gilete Freitas
Helena
Leocádia da Silva
Ivone
Baumgarten
Ludinira da Fonseca Carneiro
Luíza Delgado
Marieta Soares
Roslindo
Marina Bessa
Teixeira
Silvia
Bertazzi
Turqueza Tasso
Certificado da formanda Helena Leocádia da Silva. Foto: Livro "A Trajetória da Enfermagem na cidade de Laguna". |
As enfermeiras
que estiveram na Itália só 12 anos depois, mediante uma ação na justiça,
conseguiram o ingresso na vida militar.
Não há
registro de que alguma delas, da filial da Laguna, tenha seguido para o front na Itália ou tenha prosseguido na
carreira profissional na enfermagem.
As enfermeiras
Samaritanas e Voluntárias Socorristas de nossa cidade retornaram aos seus
afazeres e as suas vidas civis.
Mas, certamente
os ensinamentos técnicos de enfermagem, teóricos e práticos, lhes serviram no
dia-a-dia de suas vidas, junto aos seus familiares, amigos e comunidades onde
viveram.
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Ótima pesquisa Valmir. Recuperando nossa história, como sempre.
ResponderExcluirEdison de Andrade
Agradeço a leitura.
ExcluirExcelente!! As mulheres finalmente em destaque na história do país.
ResponderExcluirAgradeço a leitura, amiga Zuleida.
ExcluirEis as mulheres da Laguna mostrando o seu valor desde sempre.
Parabéns pelo excelente artigo!
ResponderExcluirAgradeço a leitura, Fátima.
ResponderExcluirParabéns pela sua pesquisa , excelente mesmo e emocionante porque minha mãe sempre relatava essa fase da vida dela com mto orgulho, qdo foi editado o livro foi entrevistada , pensa na felicidade dela poder relembrar, hoje tenho minha filha Lidiane enfermeira em Rio Verde Goias e a Endy técnica de enfermagem em tubarão.
ResponderExcluirAgradeço a leitura, dona Angelita. Fico gratificado por familiar de uma delas ser leitora da matéria e aqui do Blog. E parabéns pelas filhas. Seguiram os desejos da avó Helena Leocádia da Silva.
ExcluirQue honra poder ler este artigo, muito edificante e gratificante, saber um pouco mais da história de nossa querida cidade!
ResponderExcluirAmigo Valmir... estou chegando um pouco tarde ao seu “blog”, após seu retorno ao dia a dia.
ResponderExcluirConheci diversas “samaritanas” na minha juventude, já que muitas continuaram morando na Laguna. Entretanto, uma delas... a Sra. Elizabeth Grandemagne Ulysséa, depois Sra. Elizabeth Ulysséa Arantes pelo casamento com o Sr. José Paulo Arantes (meu primo em segundo grau). Ela foi minha professora (e de toda uma geração) de Canto Orfeônico, que era matéria do currículo escolar do antigo Ginásio Almirante Lamego.
Por diversas vezes conversei com a Betinha (era este seu apelido pelo qual era conhecida), sobre esta fase da sua vida... e que ela sempre se referia como uma “contribuição” para com a sociedade, já que era um momento de grande tensão pelo fato de estar em plena Segunda Guerra Mundial.
Meus parabéns por resgatar uma página importante da nossa história, em que fica evidente a fibra da mulher Lagunense, quando nem de longe se falava na participação feminina em ações desta natureza.
Grande abraço do seu amigo de Joinville – SC (Adolfo Bez Filho)