“Existem pessoas que merecem elogios. Não elogios
com interesses mesquinhos. Falo com sinceridade.
Conheci Ivaldo Roque há alguns anos. Tenho
acompanhado seu trabalho, compositor e músico nato que é.
Bom papo, conhece tudo de música. Não é de se
admirar o sucesso alcançado em Porto Alegre, onde mantêm bons amigos.
Dizem que aos oito anos já tinha composto um samba
e colocado até melodia. Ele não confirma, modesto que é.
Com seus conhecimentos, aconselha, participa e nos
mostra o agudo senso musical de que é possuidor.
Está entre nós (seu maior desejo) espero que não
seja passageiro.
Continue Ivaldo mostrando os ótimos dotes dessa
sua arte”.
Em 17 de junho
de 1983, tinha eu 23 anos quando escrevi o texto acima sobre Ivaldo Roque em
minha coluna “Telescópio” publicada no jornal O Renovador, semanário de nossa cidade.
Foi uma singela homenagem
que fiz ao músico lagunense, ainda em vida.
Algumas vezes tínhamos nossas colunas compostas lado a lado no jornal:
Nasceu na Laguna
Ivaldo Roque
nasceu na Laguna, no bairro Roseta (hoje Progresso), em 12 de fevereiro de
1939, filho de Nair Maria de Jesus e Hercílio Roque.
O pai exercia
a profissão de barbeiro e nas horas vagas, músico violinista. Autodidata, tocou
bombardino na Banda União dos Artistas. A mãe, do lar, lavava roupas pra fora
para ajudar no sustento familiar.
Numa de suas crônicas, Ivaldo conta que quando criança gostava muito de brincar de rádio com seu irmão Idevaldo. Um fazia o papel do rádio e o outro de ouvinte. Se revezavam atrás de uma grande bacia de zinco. Uma batidinha na bacia e o outro tinha que falar, cantar, apresentar notícias e músicas. Duas batidinhas desligava-se o rádio. Passavam horas nisso.
Cedo, na
pré-adolescência, Ivaldo começou a trabalhar, empregando-se como mensageiro
(estafeta) na Companhia Telefônica Catarinense, em prédio não mais existente,
situado na rua Gustavo Richard.
Em paralelo,
estudava no Grupo Escolar Jerônimo Coelho e herdando o talento musical do pai, já
na adolescência começou a tocar violão e cavaquinho, em sambas e choros.
Aos 12 anos, e
é ele mesmo quem conta, desfilou pela primeira vez na Escola de Samba Brinca Quem Pode.
Vou pra Porto Alegre, tchau!
Antes de completar
18 anos, em 1957, e seguindo o exemplo de tantos outros jovens lagunenses,
Ivaldo partiu de nossa terra natal em busca de um emprego e melhores condições
de vida. Seu destino foi a capital do Rio Grande do Sul.
Em Porto
Alegre trabalhou como pedreiro, tornando-se interno do Colégio Pão dos Pobres,
onde cursou linotipia.
Logo em
seguida começou a trabalhar na empresa Caldas Júnior, que editava o jornal Correio do Povo.
Estudou violão
clássico na Escola de Música de José Gomes. Com o professor ao violino e
Wladimir Latuada na flauta, formou um trio que se apresentava em bares,
concertos, festas e shows na capital gaúcha.
Em 1967
integrou o “Grupo Cantapovo”, apresentando-se no 1º Festival Sulbrasileiro da
Canção, realizado no Teatro Leopoldina. Torna-se um requisitado professor de
violão.
Retorna a
trabalhar na Caldas Júnior como linotipista, que tinha abandonado.
Participa em
1971 do show “Rio Grande do Som”, no Teatro São Pedro, ao lado de Luiz Coronel,
Mutinho e Jerônimo Jardim, este último será seu parceiro em várias canções
pelos anos seguintes, entre elas “Moda de Sangue”, gravada por Elis Regina.
Envolve-se na
criação de sambas-enredos e como componente da Academia de Samba Praiana.
É dessa época
o surgimento do “Grupo Pentagrama”.
Em 1972, com o
samba “Exaltação à Praiana”, em parceria com Pedro Mattos, ganha o prêmio de
melhor música do carnaval daquele ano.
No ano
seguinte Ivaldo começa a lecionar no Liceu Palestrina.
Na noite
porto-alegrense Ivaldo se desdobra tocando em bares e restaurantes. No
tradicional e famoso restaurante Vilha d’Alho, situado na rua Bento Gonçalves,
dividia o palco com Planto Cruz e a cantora Loma.
Ali conhecerá
músicos e cantores já famosos no Brasil e outros que iniciavam suas carreiras musicais.
Em 1976 o
Grupo Pentagrama, formado por Ivaldo Roque, Tenisom Ramos, Loma Pereira, Yioli e
Jerônimo Jardim grava seu único LP, Gravadora Continental.
“Um disco que
se tornou referência fundamental para entender os rumos da moderna música do
Rio Grande do Sul”, no dizer de Gilmar Eitelwein. O Grupo pouco depois se
dissolve.
É autor, em
parceria com Jerônimo Jardim da música oficial da Festa de Nª Senhora dos
Navegantes, padroeira de Porto Alegre.
Ivaldo assina
a coluna “Ala do Roxo” no jornal Zero Hora, abordando assuntos do carnaval e
colabora aos domingos à noite com o programa “Gaúcha dá Samba”, na Rádio
Gaúcha.
Retorno para Laguna
Apesar de
alguns autores escreverem que Ivaldo Roque retornou à Laguna somente em meados
da década de 1980, em 1977 já estava entre nós. Se bem verdade que entre vindas
e idas à capital gaúcha, passando longas temporadas de meses por aqui.
Se não
vejamos: Em 1º de outubro de 1977, a convite do redator-chefe do jornal
“Semanário de Notícias”, Richard Calil Bulos, nosso saudoso Xaxá, Ivaldo
começou a escrever artigos para este jornal com o título de “Coluna do Roque”.
O proprietário
do “Semanário de Notícias” era o cartorário Luiz Paulo Carneiro.
Ivaldo registra o convite feito por Xaxá em seu
primeiro artigo.
Vai atravessar
os anos de 1977, 1978 e 1979 escrevendo e em 1980 se instala definitivamente na
nossa terra natal, conforme consta ao final de um de seus artigos publicados.
Em 3 de maio
de 1981 já fazia parte da diretoria da S. M. União dos Artistas, no cargo de
Relações Públicas.
Sambas enredos
No carnaval
lagunense de 1977, Ivaldo em parceria com André dos Reis e João (Dão) de Sousa
Júnior compôs para a Escola de Samba Brinca Quem Pode o samba-enredo “Lendas e
Mistérios do Negro no Brasil Império”.
Em 1978 para a mesma Escola o samba
“Exaltação ao Mártir da Inconfidência”.
“Festa Colorida e Dança da Deusa
Vodum”, em 1984, samba-enredo que tirou em primeiro lugar em concurso realizado
naquele ano.
Em 1985, Ivaldo em parceria com Mauro Candemil (sim, sim, naquele ano o atual prefeito não estava na Vila Isabel por, digamos, divergências carnavalescas...), compôs o samba-enredo “Com
Baeta, vamos lá”. Mas o samba no concurso não se classificou entre os três primeiros, mas até hoje é lembrado pelos foliões lagunenses.
Abaixo as
letras dos sambas-enredos, num valioso resgate histórico:
LENDAS E MISTÉRIOS DO NEGRO NO BRASIL IMPÉRIO –
1977
Autores:
Ivaldo Roque, João André dos Reis e João de Sousa Júnior
A onde o milongueiro mora
A onde o milongueiro mora
A onde o galo não canta
O pinto não pia
Criança não chora
A onde o milongueiro mora
A onde o milongueiro mora
O Brinca Quem Pode apresenta
Uma grande passagem da nossa história
Vieram de além-mar
Os primeiros escravos
Pra trabalhar, pra sofrer
Pra ajudar a fazer a riqueza do Brasil
E os negros
Os negros desembarcavam em São Vicente
E se espalhavam pelo país
Pra nascer cana de açúcar, fumo e algodão
Batuque, samba, congada
Quilombos e devoção
Até que um dia Oxalá iluminou a Princesa Isabel
Que aboliu a escravidão
Não existe mais senzala
Negro não é mais escravo
Negro ama todo mundo
E também quer ser amado
EXALTAÇÃO AO MÁRTIR DA INCONFIDÊNCIA – 1978
Autor: Ivaldo
Roque
A riqueza nossa
E a liberdade do nosso povo
Tiradentes batalhou
Mas deu no que se viu
A Inconfidência Mineira Silvério dos Reis traiu
Na morte de um homem
Começa o seu amanhã
Se dez vidas tivesse
Todas eu daria
Liberdade, liberdade
Ainda que tarde
Aconteceu o que o grande herói queria
Ora, pois, pois
Que genial
O grande herói é tema do meu carnaval
FESTA COLORIDA E DANÇA DA DEUSA VODUM - 1984
Autor: Ivaldo Roque
Ôi lelê Ôi lelê Ôi lalá
Canta povo meu
Na festa colorida
A dança da deusa Vodum
Animando nossa vida
Saravá, Ogum
O Brinca Quem Pode
Homenageia a influência
Dos imigrantes africanos
Na cultura brasileira
Iorubás, jejês, nagôs
Pretos originários de Daomé
Contribuíram na nossa formação racial
Lendas e costumes
Cultos e religiões
Que atingiram também
O nosso carnaval
Pelo bastão de Xangô
E o caxangá de Oxalá
Filho Brasil pede a benção
Mãe África
COM BAETA, VAMOS LÁ – 1985
Autores:
Ivaldo Roque e Mauro Candemil
Eu sou do Brinca Quem Pode
Pois ele mesmo é o tal
No samba
No frevo
Na marcha
Nas coisas de carnaval
Hoje vou cantar com alegria
E mostrar em fantasia
Um personagem popular
Do morro da Roseta
Oh! Baeta vem brilhar
Do carnaval, és cheio de glória
Teu nome ficará na história
Tua vida é nosso enredo
Que cantamos com gratidão
Com tua escola querida
Do bairro que te abraçou
Com o povão a sambar
Vem, Baeta, vem brilhar
Quem pode, pode
Quem não pode se sacode
Brinca Quem Pode
Brinca quem quiser brincar
Em 1981,
juntamente com Robson Barenho, Ivaldo compôs para a Escola de Samba Mocidade
Independente, fundada um ano antes, em 18 de julho de 1980, o samba-enredo “No
mundo do faz de Conta”, uma homenagem às crianças.
NO MUNDO DO FAZ-DE-CONTA – 1981
Autores:
Ivaldo Roque e Robson Barenho
Se a vida
Todo dia desaponta
Venha sonhar comigo
Vem pra folia
No Mundo do Faz-de-Conta
País das flores
Tema universal
Fadas Emília
A maravilha
Do sonho do carnaval
País dos sonhos
Rodas infantil
Bruxas folias
Reinam três dias
Os foliões
Do Brasil
Deixa vir o dia
Não te desaponta
Com sol ou lua
Faz desta rua
O Mundo do Faz-de-Conta
Entre as
inúmeras composições suas e/ou em parcerias, destacam-se “Porto Seguro”,
gravado por Eliana Pitman; “O Rancho convida” por Peri Ribeiro; e “Moda de
Sangue”, dele e Jerônimo Jardim, gravada por Elis Regina e uma das trilhas sonoras de duas novelas da TV
Globo: Coração Alado (1980) e Torre de Babel (1998).
Ivaldo fala sobre a canção “Moda de Sangue”
gravada por Elis Regina
Quando do
falecimento de Elis Regina em 19 de janeiro de 1982, Ivaldo Roque quatro dias
depois escreve sobre a morte da cantora em sua coluna “Toques do Roque” do jornal O Renovador de 23 de janeiro.
No artigo ele conta como conheceu Elis e
da canção “Moda de Sangue”, de autoria de Ivaldo e de seu
parceiro Jerônimo Jardim, gravada por ela no disco Saudade do Brasil, de 1980.
Eis seu depoimento:
“O ritmo da
vida tem compassos que até maestro é capaz de surpreender.
Assim como,
mortais que somos, que muito apreciamos músicas, além de tudo ficamos
consternados e inapelavelmente surpreendidos com as primeiras notas sobre o
passamento da intérprete Elis Regina, cantora de méritos reconhecidos em muitos
países.
Figura
importantíssima, primorosamente inserida no contexto da atual música popular
brasileira desde o advento da Bossa-Nova.
Conheci Elis
no auditório da Rádio Farroupilha, na rua 7 de Setembro em Porto Alegre.
Algumas vezes
a acompanhei ao cavaquinho com Paulo Coelho (violão), Planto Cruz (flauta),
Azeitona (pandeiro), Paulinho (acordeon) e no revezamento de violões, os
grandes Zico e Hermínio, às vezes, Cauby.
Ultimamente,
sempre que Elis se apresentava em teatros na capital gaúcha, jantava no
Restaurante Vinha D’Alho, onde atuei durante três anos tocando violão,
harmonizando os sons da flauta do Planto, vinte anos depois.
No “Vinha”,
meu bom parceiro Jerônimo Jardim, na hora da “canja” sempre cantava a nossa
“Moda de Sangue”. Elis gostou, Jerônimo gravou e fez chegar à cantora que
lançou nossa música no LP álbum “Saudade do Brasil” que acabou sendo parte da
trilha sonora da novela “Coração Alado”, em 1980, quando decidi de vez morar em
Laguna.
Deus protege
tua alma, Elis. O Brasil tem saudade de você”.
MODA DE SANGUE
Composição: Ivaldo Roque/Jeronimo Jardim
Quando te prendo
Na cadeia dos abraços
E te torturo
E te sufoco entre meus braços
E te fuzilo
Com os olhos do desejo
Te mordendo
No gosto do meu beijo
Quando te arranho
Te lanho de delícia
Vertendo sangue
Do teu corpo de malícia
Quando te xingo
Com palavras obscenas
Como jurasse
As juras mais serenas
Quando me vingo
Dos males que me fazes
Com frases
De maldade e veneno
Sinto meu amor
Que o amor é isso
Essas coisas
Muito fora de juízo
Outra despedida
Em 29 de maio
de 1982 Ivaldo Roque se despede da Laguna escrevendo sua última coluna denominada
“Toques do Roque”, no jornal O Renovador,
que havia encampado o Semanário de
Notícias em 1979.
Retorna triste
a Porto Alegre porque não haviam cumprido com a promessa feita por alguns
políticos de apoio na área musical e um cargo na prefeitura de sua terra natal.
Um novo retorno à Laguna
Mas vai
retornar à Laguna já no ano seguinte, em 1983, assinando a partir do mês de
maio a coluna “Opinião”, no mesmo jornal O
Renovador.
Escrevia que
queria viver e envelhecer em sua terra natal, ao lado de parentes e amigos na
“suavidade da paz de espírito”.
Pela Rádio
Garibaldi apresenta o programa “Garibaldi Faixa Aberta”, de grande audiência.
Apresenta-se
em concertos com certa frequência em vários municípios do estado, como Tubarão,
Criciúma e Florianópolis.
Integra-se ao
Regional do Zizinho, apresentando-se nas Semanas Culturais realizadas em nossa
cidade, e também no Teatro Álvaro de Carvalho, em Florianópolis, sempre com
grande sucesso.
Em 25 de
fevereiro de 1983 o Regional Lagunense (do Zizinho), com Ivaldo Roque, é a atração especial
do 1º Festival da Nova Música Catarinense, que aconteceu no palco do Cine
Teatro Mussi.
Neste
Festival, promovido pelo Grupo Coisas da Terra, foi vencedora a canção “Apenas
um Canto”, apresentada por João Rodrigues Júnior e Rogério Perito.
Casa cheia, um
sucesso, com o evento transmitido pela TV Eldorado e Catarinense.
No mês de maio
seguinte acontecem em nossa cidade o “Laguna Samba Show” e o “Canta Laguna”.
Eventos organizados pelo Grupo Coisas da Terra que tinha como organizador dos shows o irrequieto Silvério de Jesus, que também dublava,
fazendo o maior sucesso, o cantor Ney Matogrosso do Grupo Secos & Molhados.
Outros tempos,
como se percebe, onde a música era valorizada em nossa cidade, com diversas
promoções nesta área.
Nomeado Assessor de Imprensa
Na nova gestão
municipal que havia iniciado naquele ano de 1983, comandada pelo prefeito João
Gualberto Pereira, Ivaldo Roque logo é contratado para ministrar aulas de
violão, realizadas no Clube 3 de Maio, no bairro Magalhães, às segundas,
quartas e sextas-feiras.
Em junho
assume como assessor de imprensa da Secretaria de Cultura, Turismo e Esporte do
município.
O titular da
pasta era o advogado lagunense Rogério Carvalho da Rosa.
Com seu
prestígio junto aos jornalistas do Rio Grande do Sul, emplacava diversas
reportagens nos jornais Correio do Povo
e Zero Hora sobre o carnaval, pontos
turísticos, pesca e gastronomia lagunense. Além de Festivais de Música e Teatro
aqui realizados.
Em janeiro de
1984 o bancário aposentado e também colunista do O Renovador Munir Soares de Souza assume a titularidade da
Secretaria de Cultura, Turismo e Esporte no lugar de Rogério, que solicita sua exoneração. Ivaldo é convidado a continuar no
cargo de assessor de imprensa da pasta.
Eventos e participações
Em 27 de
fevereiro de 1984, no IIIº Festival de Sambas Enredos, realizado no Ginásio de
Esportes Bertholdo Werner, Ivaldo vence com o samba “Festa Colorida e Dança da
Deusa Vodum”, representando a Escola de Samba Brinca Quem Pode.
No final
daquele mesmo mês aconteceu no Centro Integrado de Cultura (CIC) em Florianópolis,
numa promoção da secretaria de Cultura, Esporte e Turismo de Santa Catarina, o “Choro
Bem Chorado”.
Entre os
conjuntos Regionais que se apresentaram, destaque para o “Regional Lagunense”,
com Ivaldo Roque e Nereu Souza, entre outros músicos.
De 23 a 29 de
junho do mesmo ano de 1984, Ivaldo se apresentou em São Paulo, na “Semana da
Gastronomia Catarinense”, evento acontecido naquela cidade. Foi a convite
da Citur/SC, que era presidida por Artenir Werner.
Em agosto, a
convite do presidente Gercino Pacheco Bonifácio, Ivaldo assume o cargo de 1º
secretário da S. R. União Operária.
Em janeiro de 1985 Munir Soares solicita exoneração da secretaria de Turismo que fica sem titular até maio, quando assume Ézio Heleodoro de Souza.
Ivaldo continua na assessoria de imprensa mas sua saúde já não é mais a mesma, intercalando períodos de internações hospitalares e melhoras.
Últimos escritos
Banzo
"Está querendo surgir a primavera e, assim como quando vibramos a ponto de o coração trepidar, sigo rubro como o roxo fica junto à rosa mais querida, nesta Laguna repleta de belezas que vivemos a exaltar.
Meus primeiros encantos foram aqui.
Longe da Laguna por muito tempo estava me sentindo infeliz e, um banzo danado me apertava no peito cada vez mais forte, lá na cidade grande.
Aprendi muitas coisas nestes longos anos vividos fora daqui, mas ultimamente eu vinha me deixando violentar devido a compromissos assumidos com trabalhos que não mais compensavam o esforço, a dedicação e a enorme saudade que chegou a me por nervoso por algum tempo; eu estava querendo me desligar de tudo e voltar à Laguna.
Estive meio amargurado ao sentir que não seria fácil me livrar de tudo o que a cidade grande me ensinou... Mas, cá estamos, comunicando com letra e música. Agora, remoçado e impregnado dos ventos, das águas, do sol e das cores que respiro tranquilamente na Laguna".
Último evento na Laguna
No feriado de 7 de Setembro de 1985 foi publicada na imprensa lagunense a última notícia sobre uma apresentação sua.
Foi um evento beneficente do Grupo Terra na boate do Laguna Tourist Hotel.
Uma das atrações foi a apresentação de Ivaldo Roque ao violão com o juiz da Comarca Erwin Rubi Peressoni Teixeira ao piano.
Ivaldo vai se
afastar do cargo já doente, meses antes do seu falecimento.
Em novembro daquele ano é internado em hospital de Porto Alegre, mas recupera-se e retorna à Laguna.
Em 3 de abril é internado novamente e logo pela manhã de
segunda-feira, 7 de abril de 1986, no Hospital Nª Sª da Conceição, em Tubarão, o coração de Ivaldo Roque aos 47 anos parou de bater. Foi sepultado em nossa cidade.
Deixou esposa
e quatro filhos.
Ivaldo Roque. Foto: Jornal Sul do Estado de 17 de abril de 1984. |
“Um artista, antes de tudo”, disse Munir Soares
Munir Soares
assim se despediu do músico e amigo em sua tradicional coluna “Comunidade” no jornal
O Renovador de 12 de abril:
“Num canto, o
violão mudo, fechado, sem vida. Na sala, ao lado, jaz o grande artista. Ivaldo
Roque está morto.
Fixo meus olhos
em suas mãos, cruzadas sobre o ventre, já sem alma e mergulho em meus próprios
pensamentos.
Eu o vejo, com
o Regional do Zizinho, tocando lá em casa, só para nós. Sinto-me ainda
arrepiado, ao relembrar sua performance ao lado do Nereu, no Teatro Álvaro de
Carvalho.
Ivaldo Roque,
violonista e compositor, deixa um acervo considerável. A música popular ou
erudita sempre fizeram parte de sua bagagem musical.
Ivaldo Roque
foi, antes de tudo um artista, um homem incompreendido por viver, quem sabe,
numa outra dimensão, na constelação dos músicos, onde a sensibilidade faz a
arte e a alma, canta e dança nas cordas de um violão.
Os violões
tocam em funeral – réquiem para Ivaldo Roque, um artista”.
“Ivaldo juntava tudo numa só pessoa”
“Ivaldo Roque
juntava numa só pessoa o ser catarinense e o ser gaúcho, o músico clássico, o
popular, o vanguardista e o jazzman, o sambista de botequim e o professor
universitário, o pedreiro e o linotipista dos primeiros anos, quando da sua
chegada a Porto Alegre”.
Assim iniciou
Gilmar Eitelwein seu artigo sobre o músico lagunense Ivaldo Roque, constante do
14º fascículo da Coleção Ceee/Som do Sul – História da Música do Rio Grande do
Sul no Século XX, editado em 2002.
Homenagens
Em 2004,
através da Lei Municipal nº 9.518/04, de 29/06/2004, Ivaldo Roque foi
homenageado com nome de uma rua localizada no bairro Chapéu do Sol, em Porto
Alegre.
Na Laguna,
através da Lei Municipal Ivaldo Roque teve seu nome batizado em uma via situada no
bairro Esperança.
Em 2009 Ivaldo
Roque foi homenageado na Semana Cultural da Laguna. Sua canção “Perfume de
Praia”, na voz de João Rodrigues Júnior, fez parte da trilha sonora da peça
teatral “A República em Laguna”.
O vídeo foi postado no Youtube e o reproduzo aqui nesta página:
PERFUME DE PRAIA
Composição: Ivaldo Roque/Robson Barenho
O galo que te anuncia
também revela que o dia
te chama pra navegar
mas depois de tanto abraço
com que braços vais remar?
A canoa que te leva
talvez te sirva de cama
na hora de descansar
mas se tens todo o meu corpo
por que te cansas no mar?
Pescador do peito quente
traz teus peixes e presentes
bem antes que a tarde caia
Das algas quero sementes
de ti, Perfume de praia...
Que resgate Valmir. Que maravilha. Recuperar a história e memória de Ivaldo Roque e ainda trazer a voz da Elis e o Opus 4.
ResponderExcluirÉ de ler e ouvir em silêncio. Parabéns
Geraldo de Jesus - Florianópolis
Que maravilha. Grande Ivaldo Roque. Foi um grande prazer ter conhecido esse mestre. Tive o privilégio de ter algumas aulas e ter tocado com ele numa apresentação. Parabéns pela matéria.
ResponderExcluirMe emocionei. História de uma vida. Nossa gente.
ResponderExcluirRosângela de Almeida
Bacana!
ResponderExcluirIncrível relato. Há poucos relatos sobre Ivaldo Roque por aí. "Moda de Sangue" é maravilhosa
ResponderExcluirSó agora vi essa matéria. Que preciosidade, Valmir. Fizesse um histórico desse grande músico não tão valorizado assim em sua terra.
ResponderExcluirAliás como sempre, péssima mãe e boa madastra.
Valeu.