Conhecido em todo o sul do estado, Ladislau Domingos Carvalho, o “seu” Lalau, foi sacristão da paróquia Santo Antônio dos Anjos por mais de 50 anos.
Nasceu em
1870 e faleceu já quase centenário, aos 96 anos, em 9 de abril de 1966. Foi casado com Joana Lopes de Carvalho e
deixou extensa prole na Laguna entre filhos, netos, bisnetos e tataranetos.
Ladislau Domingos Carvalho, o seu Lalau. |
Entre
os seus filhos, me lembro do seu Manoel - e como não poderia deixar de ser - mais
conhecido como Maneca do Lalau, sempre trajando uma camiseta regata, às vezes com uma manga curta por cima, fizesse frio ou
calor, postado na velha rodoviária, prestativo, educado, de confiança no
acompanhar de solitários jovens estudantes-passageiros madrugadores, com suas malas e sacolas, transportados pelas empresas Santo Anjo ou
São Cristóvão.
E também colado com seu ouvido ao rádio de pilha, notívago, insone, a caminhar nas calçadas noites e madrugadas adentro, flamenguista que era, ouvindo as últimas do futebol nos programas de esportes transmitidos pelas Rádios Tupi ou Globo do Rio de Janeiro.
E também colado com seu ouvido ao rádio de pilha, notívago, insone, a caminhar nas calçadas noites e madrugadas adentro, flamenguista que era, ouvindo as últimas do futebol nos programas de esportes transmitidos pelas Rádios Tupi ou Globo do Rio de Janeiro.
Da irmã dª Marta, pessoa boníssima, sempre às voltas com a criação de filhos e
netos; do "seu" José (Zeca) ou Xará, que no ocaso de seus anos de vida
ficava à janela de sua casa (bem defronte à murada da nossa, na rua Voluntário Benevides
e por isso o meu lembrar) horas e horas a observar o mundo passar;
"seu" Orlando (este último falecido em 2014 e um dos jovens fundadores, junto com meu pai, do Cordão Carnavalesco Xavante (hoje Escola de Samba) e pai do Teco da
prefeitura, não tem?); e mais os filhos Maria, Otília, Ceci, Leonor e Lizete.
Seu
Lalau era morador na rua Voluntário Benevides, bem em frente a rua Ulysséa (rua
Nova).
Após
seu falecimento foi homenageado com o nome de uma Travessa no bairro Portinho.
Pessoa
boa, honesta e querida por todos os lagunenses que o conheceram. Muitos ainda o
relembram com saudade. Entrou o século XX exercendo o ofício cristão.
Era
também um grande contador de histórias, as mais variadas, principalmente de
pescarias, seu passatempo predileto.
Onde
estava, sempre ao seu redor reuniam-se os amigos e muitos curiosos para
ouvi-las. Sabia prender a atenção na narração. Podia aumentar um tantinho os
causos, é bem verdade. Mas nunca foi de inventar.
Na igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos "seu" Lalau foi sacristão durante mais de 50 anos. |
Quando
do retorno do Santo, seu Lalau tão logo avistou o vapor “Industrial” aportando
nos velhos trapiches do centro da Laguna (o atual cais em granito vai ser
construído a partir de 1910) e que trazia a imagem em seu porão, saiu pelas ruas
da cidade em debandada correria e felicidade, aos gritos, avisando,
alvissareiro, da chegada de preciosa carga:
- O Santo Antônio chegou! O Santo Antônio chegou!
- O Santo Antônio chegou! O Santo Antônio chegou!
Sobre
Santo Antônio dos Anjos, dois fatos interessantes contava seu Lalau.
Dizia
que ele que:
Estando
uma noite na sacristia, ultimando os preparativos para a missa do dia seguinte,
já tendo fechado as portas da igreja, sentiu um arrastar de bancos no adro.
Veio ao centro da igreja, olhando para o adro e, com surpresa, viu que tudo
estava em ordem. Voltou à sacristia, quando ouviu novamente o mesmo ruído.
Contava ele que teve um pensamento: “Isto é coisa de Santo Antônio”.
Veio,
então, novamente ao centro da igreja, mas desta vez, em vez de olhar o adro,
olhou para o altar-mor. Teve, então, o espanto de ver que havia uma vela acesa,
já caída, começando a queimar as toalhas do altar.
Ao
voltar de uma pescaria, à noite, chegou cansado em casa e foi se deitar. Mal
passara por um cochilo, teve a impressão, ou sonho, de que Santo Antônio dizia-lhe
que havia fogo na escada do coro da igreja. Acordou sobressaltado e viu que era
um sonho, mas impressionado com isto, levantou-se e foi à igreja verificar.
Na
realidade, a escada estava pegando fogo, já bastante alastrado pelo corrimão.
Prontamente apagou as labaredas que estavam ainda em seu início.
Dona
Nail Ulysséa, que escreveu extenso capítulo sobre a igreja Matriz no
livro “Santo Antônio dos Anjos da Laguna – Seus valores históricos e
humanos”, 1976 – IOESC, e que narra os dois
fatos acima, finaliza dizendo:
“Ainda em 1944, antes das obras da igreja, quando a escada foi substituída, verificaram-se os vestígios deste princípio de incêndio. Milagres para os crentes, ficção para os descrentes".
“Ainda em 1944, antes das obras da igreja, quando a escada foi substituída, verificaram-se os vestígios deste princípio de incêndio. Milagres para os crentes, ficção para os descrentes".
Pois aí está um pouco da história do "seu" Lalau, sacristão da nossa igreja por mais de meio século, um personagem riquíssimo em causos que, reunidos, dariam um livro. Marcou época em nossa história e deixou seu legado entre nós.
O seu Maneca, para nós, seus vizinhos de passagem na Rua Prof.ª Júlia Nascimento, no Morro da Anália, tinha nome e sobrenome: o seu Maneca do Lalau, com o seu bigode à la Charlie Chaplin. Agora, Valmir, pela tua crônica, sei o porquê do hipocorístico Lalau, herdado do pai. Homem de temperamento afável e de fácil conversa, para ele, bem verdade, não tinha estação do ano que o fizesse mudar de traje. Era a indefectível camiseta branca. Se não me falha a memória, usava uma mais agasalhada, na mesma malha da de regata, mas de mangas curtas. Outros detalhes da indumentária folclórica: além da tradicional boina (era calvo), a cinta por sobre os passantes do cós da calça com as barras arregaçadas, os tamancos rústicos de madeira, com solado de borracha de pneu na base (que, além de evitar o desgaste, amortecia a passada e o som), a mesma borracha que guarnecia a roda do carrinho de mão. Um tipo inesquecível e único. (Adolfo PV da Silva)
ResponderExcluirLembro do seu Maneca. Pessoa simples, bondosa. Acho que sofria de insônia mesmo. Mas as famílias tradicionais pediam pra ele acompanhar seus filhos quando chegavam de madrugada, ajudar a trazer as malas.
ResponderExcluirEra de confiança. Não era Vasco o seu time? Será que tô enganado?
Edison de Andrade
Bem assim, Valmir. Não me lembro do "seu" Lalau ter morado na nossa rua, mas o que tem isto? no entanto lembro perfeitamente de sua passagens em nossa Igreja, do seu acender e apagar as velas dos altares, do repicar dos sinos nas festas de Santo Antônio, principalmente, e que até hoje tentam imitar mas não conseguem, do Maneca, que nas noites a dentro fazia constante presença na antiga rodoviária, com suas marca registrada, a camiseta regata, seu "radinho de pilha", sua educação, enfim. Uma longa história. Parabéns, Valmir, por nos levar mais uma vez, ao nosso passado. Carlos Araújo Horn
ResponderExcluirOutro personagem lendário de nossa cidade. Parabéns pelo resgate. Pessoas que merecem ser lembradas.
ResponderExcluirGeraldo de Jesus