segunda-feira, 24 de abril de 2017

Arquivo Público (Casa Candemil), está fechado há mais de quatro meses

O Arquivo Público Municipal está fechado há mais de 4 meses. Historiadores, pesquisadores, estudantes e público em geral estão impossibilitados de fazer pesquisas em seu acervo.

Documentos os mais diversos da nossa Comarca, jornais, certidões, inventários, livros de registros e tombos e escrituras, estão trancafiados no imóvel desde meados de dezembro de 2016.
O acervo do Arquivo Histórico pertence, evidentemente, ao município da Laguna e está sob responsabilidade da Fundação Lagunense de Cultura.

    Ao longo dos últimos anos fiz várias matérias neste Blog sobre o assunto. (Aquiaqui aqui). A TV Unisul, em abril de 2010, também já o abordou em reportagem.

Casa Candemil está fechada por orientação do Iphan
Técnicos do escritório do Iphan de nossa cidade, mesmo não sendo da alçada do órgão, estão finalizando a montagem do termo de referência com o qual o órgão licitará uma primeira etapa da recuperação do acervo documental, a qual incluiu o inventário, diagnóstico e higienização dos documentos.

Será a partir da execução dessa primeira etapa que o Iphan poderá estabelecer as etapas seguintes, prevendo a restauração de documentos e a sua digitalização, de forma a facilitar o acesso dos interessados.

Fabiano Teixeira dos Santos, arquiteto e urbanista do escritório do Iphan da Laguna informa que "Por conta dessa situação orientamos a Fundação Lagunense de Cultura, responsável pelo arquivo, a evitar o acesso à Casa Candemil e principalmente aos documentos, sobretudo, o seu manuseio".
Santos complementa a informação dizendo que "As condições do local colocam em risco não apenas a preservação dos documentos (alguns dos quais encontram-se seriamente danificados/em estado bastante frágil), como a saúde dos pesquisadores, uma vez que o nível de contaminação por fungos e micro-organismos é muito alto".

Restauro do prédio está previsto no PAC das cidades históricas
O Iphan também informa que quanto ao restauro do prédio, técnicos do órgão estão providenciando os últimos ajustes no projeto, no que diz respeito à planilha orçamentária, para que o mesmo seja definitivamente aprovado junto à Direção do PAC-Cidades Históricas em Brasília.
O arquiteto e urbanista do Iphan salienta que é esperado em breve uma resposta, "a partir do que poderemos enfim licitar a obra de restauração da edificação”.

E finaliza Santos dizendo que "pela urgência do caso estaremos primeiramente realizando a recuperação do acervo, pois o processo, em termos administrativos, tem sido menos moroso que o de restauração da casa".

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A bem da verdade, a edificação onde está situado o Arquivo Público, na rua Fernando Machado (rua do Rincão), com Travessa Manuel Pinho, nunca foi adequado para abrigar importantes documentos que registram a história da Laguna nas mais diversas áreas.

Em 1997 os proprietários (dª Zulma Candemil e os filhos Mauri e Mauro, este o atual prefeito da Laguna), resolveram doar o imóvel ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que o reformou por completo e o repassou em 2000, em forma de cessão ao município da Laguna por vinte anos.

Mas o prédio, após sua ampla reforma, nunca recebeu a devida atenção dos gestores que passaram pela prefeitura da Laguna. Nem o prédio nem seu acervo. Descaso com nossa cultura e história. Uma vergonha.

A edificação é úmida, mofada e apresenta infiltrações e goteiras. O próprio mobiliário não atende às exigências. Não há iluminação adequada, calefação, desumidificadores. As prateleiras estão abarrotadas, caixas amontoadas, empilhamento prejudiciais, traças, cupins, baratas e ratos fazem a festa. Por conta disso, somado à incúria de nossas autoridades, documentos se perderam (ou desapareceram), como foi o caso da coleção da Revista Santelmo.

Algumas pequenas melhorias foram realizadas ao longo dos anos, como trocas de tábuas do assoalho e pintura. Mas foi só.

O local foi transformado oficialmente no Arquivo Público Municipal pela Lei nº 1.047, de 30 de agosto de 2004.

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Histórico da Casa Candemil

“A atual “Casa Candemil” foi construída em meados do século XIX, por Manuel José Dias de Pinho (por isso o nome da Travessa onde está situada), filho de José Dias de Pinho, que nasceu em 1800 na Freguesia de Pinho, em Portugal.

Casou-se duas vezes: primeiro com Maria Pereira, não tendo filhos dessa união, e segundo, com Caetana Maria dos Anjos, nascida em Desterro, em 1804.

Saul Ulysséa, em seu livro “Laguna de 1880”, descreve a casa como “de boa aparência”, “onde residia a respeitável senhora Caetana Pinho”.
José e Caetana tiveram nove filhos: Maria Luísa, Manuel José, Luiz José, Bonifácio José, Alexandrina Luísa Dias de Pinho, que casou-se com Joachim José Pinto de Ulysséa (que construiu a “Casa da Carioca”), Fortulino José, José, Alfredo José e Antônio José.

Manuel José Dias de Pinho, nasceu em 1º de outubro de 1832 na Laguna. Em 10 de fevereiro de 1861, casou-se com Maria Torres de Guimarães (filha de João José de Souza Guimarães e Anna Lourenço Torres) e tiveram três filhos: João, Salvato e Caetano Guimarães Pinho.

Manuel José Dias de Pinho doou a “casa” ao filho Oscar Guimarães Pinho (que foi prefeito da Laguna) sendo casado com Adelaide Fernandes Martins, e que tiveram três filhos: Manoel, Maria e Francisco Fernandes Pinho.

Quando da construção da ponte da estrada de ferro em Cabeçuda, os engenheiros ingleses construíram uma casa na rua Tenente Bessa, e a venderam ao sr. Oscar Guimarães Pinho, que ali foi morar, doando a “casa” construída por seu pai, ao filho Francisco Fernandes Pinho, nascido a 26 de julho de 1896 e casado com dª Nélia Amboni Tasso, pais de Nice, Vânio, Maria Adelaide, Rizza, Vera e Oscar.

Provavelmente, ainda na década de 30, Sady Candemil da Silva veio de Imaruí, juntamente com seu irmão José Candemil da Silva. Posteriormente trouxe para morar com ele seus irmãos: Carmen, Alda, Ruth, Prudência, Zulma, Dinorah, Maria da Glória, Haroldo e Euclides.

Sady já residia na “Casa Candemil”, quando em 1940, adquiriu definitivamente a propriedade.

José casou com Maria Spíllere e tiveram três filhos: Antônio José, Márcio e Mário Luís (Bau).

Alda casou com Ido Severino Duarte tendo dois filhos: Regina e Aldo, que morou muito tempo na “Casa Candemil”.

Ruth casou com Álvaro Nunes; Prudência com Sérgio Gonçalves; Zulma com Oscar Pereira; Dinorah com Nillor Hyárup Rollin, e Maria da Glória com Angelino Boff.

Todas as irmãs festejaram o casamento na “Casa Candemil”.

Sady Candemil da Silva permanecendo na casa, casou-se com Zulma Candemil, com quem teve dois filhos, Mauro Vargas Candemil e Mauri Candemil.

A sala da frente da residência era o Escritório da Empresa Lagunense de Navegação, sociedade formada por João Tomáz de Souza, Pinho & Cia., e Sady Candemil & Cia., proprietários dos navios Laguna e Adelaide.
Operava no ramo de cereais, farinha, madeira, camarão seco, entre outros produtos. Na casa também funcionou o escritório da empresa Boff & Candemil.

Quando Ruth fica viúva vai morar com Carmen, até mais ou menos 1985, deixando a casa em função de seu precário estado de conservação.

Neste mesmo ano, o Centro Histórico da Laguna foi tombado como patrimônio histórico nacional, impedindo a demolição das edificações mais significativas da área.

Estando parcialmente arruinada, no início da década de 1990, a casa foi escorada pelo Iphan e, em 1997, a “Casa Candemil” foi doada para o Iphan por dª Zulma Candemil e seus filhos Mauro (hoje prefeito da Laguna) e Mauri Candemil.

O Iphan assumiu imediatamente a completa restauração da edificação que voltou a integrar a paisagem urbana da Laguna e a ser utilizada como Arquivo Público Municipal, perpetuando-se como “Casa Candemil”, como é carinhosamente chamada”.

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Fontes: Painel fixado na Casa.
- Ulysséa, Rogério - História e Genealogia da família Ulysséa.
- Relatos orais: Antônio Carlos Marega, Dinorah e Zulma Candemil.


4 comentários:

  1. Que pena! Uma cidade que vive de Turismo, despreza sua história!

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  2. por que o ifhan da nossa cidade não funciona?

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  3. Parabéns pelo relato e história,Valmir.

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  4. A Cidade de Laguna tem um belo tesouro,que é seu passado histórico.Só que as entidades que deveriam presevar para gerações futuras, não estão valorizando.

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