“A lembrança é uma honra; o esquecimento uma
vergonha”.
Há alguns dias, em conversa, um político na Laguna se
manifestou pela alteração do nome da rua Luiz Severino Duarte para “Curvas do
Iró”.
Se esse projeto de lei for proposto –
espero que não - e aprovado pela Câmara de vereadores, mais uma vez um
nome de nossa história será riscado, apagando-se lembranças de um antepassado que em algum
momento, pelo seu trabalho e exemplo, serviu à Laguna e sua gente e bem por
isso foi homenageado.
Rua Luiz Severino Duarte atravessa o costão da Praia do Iró. |
Se sua
excelência não sabe quem foi Luiz Severino Duarte, tomo a
liberdade de mostrar em algumas linhas.
Quem foi Luiz Severino Duarte
Luiz Severino
Duarte ou Luizinho como era carinhosamente conhecido por todos, deixou sua
cidade natal, Jaguaruna, nos últimos anos da primeira década do século XX e
aqui veio se estabelecer.
De espírito
progressista, triunfou no comércio da Laguna, iniciando com tecidos e logo
ampliou os negócios, entrando no ramo armador e exportador. Era o acionista
maior da empresa de Navegação Santo Antônio.
Numa
propaganda de seu estabelecimento comercial, a Casa Luiz Severino & Cia,
podemos observar que foi fundada em 1913:
Numa crônica
publicada no jornal Sul do Estado, de
12 de novembro de 1982, o músico e colunista Agenor Bessa salientou: “Nenhum
lagunista foi tão bom lagunista quanto Luiz Severino Duarte”.
Tão logo aqui
se estabeleceu se inseriu à sociedade lagunense, sempre dedicado às causas da
terra que resolveu adotar, viver e investir.
Em pouco tempo
tornou-se presidente do Clube de Regatas Almirante Lamego e foi também
escolhido presidente da Associação Comercial da Laguna.
Diz Bessa:
“Neste cargo teve a oportunidade de fazer sentir a
todos o quanto possuía de espírito público, pois defendeu não só o nosso
comércio como toda a comunidade e, na questão da Barra, chegou a ser ameaçado
por certo engenheiro, tal a veemência como abraçou a nossa causa”.
Foi também
juiz substituto da Comarca da Laguna durante muitos anos; um dos benfeitores e
membro da comissão, na qualidade de tesoureiro, da construção, ao lado da
matriz, do prédio São Vicente de Paulo, mais conhecido como prédio dos
Vicentinos. Foi um local de tantos serviços prestados à comunidade lagunense, servindo
como palco de peças teatrais, formaturas, aulas de catequese, sede de reuniões
para grupos de jovens (JUC), alcoólicos anônimos, e mais recentemente, o
Conservatório Lagunense de Música.
Luiz Severino
Duarte foi um dos primeiros a construir casa de veraneio no Mar Grosso.
Quando do
governo do prefeito Giocondo Tasso, necessitando a municipalidade de abrir uma
via através das encostas do Iró, Luiz Severino Duarte doou ao município uma área de
terras de 900 m2 para que a prefeitura pudesse abrir a então rua projetada que
hoje leva merecidamente seu nome.
Trouxe os irmãos e também os Candemil
Luiz Severino
Duarte trouxe também para Laguna seus irmãos para auxiliá-lo, aumentando assim
o quadro de sócios de sua empresa.
E assinala Agenor Bessa:
“Trouxe também outros bons cidadãos como Sady
Candemil (pai do atual prefeito Mauro Candemil) e João Wendhausen, elementos
utilíssimos não só na firma, mas de muito valor na sociedade, onde
conduziram-se com a dignidade e a confiança que os diretores neles
depositavam”.
“Como Laguna deve
a Luiz Severino Duarte!”, ressalta Bessa.
Com o aumento
das exportações na década de 20, Sady Candemil “também atingido pelo
entusiasmo”, separou-se da firma Severino Duarte e fundou sua própria casa
comercial, juntamente com outros sócios e mais seu irmão José Candemil da
Silva, que trouxe da vizinha Imaruí.
Posteriormente
trouxe para morar com ele seus irmãos: Carmen, Alda, Ruth, Prudência, Zulma,
Dinorah, Maria da Glória, Haroldo e Euclides.
Alda (tia do
atual prefeito) casou-se com Ido Severino Duarte (irmão de Luiz Severino
Duarte) e tiveram dois filhos, Regina e Aldo.
Notaram como as
famílias se enlaçam na Laguna e acaba todo mundo em algum nível de parentesco
na árvore genealógica?
Já houve quem disse que na Laguna as pessoas ou são parentes, amigas ou afins.
Já houve quem disse que na Laguna as pessoas ou são parentes, amigas ou afins.
Pois bem. Na sala da
frente de sua residência, a hoje chamada Casa Candemil – Arquivo Público (que se
encontra vergonhosamente fechado, com seu acervo deteriorando-se), situada entre a Travessa Manoel Pinho e
Fernando Machado (Rincão), funcionava o escritório da Empresa Lagunense de
Navegação.
Era uma
sociedade formada por João Thomaz de Souza, Pinho & Cia e Sady Candemil
& Cia, proprietários dos navios “Laguna” e “Adelaide”. Operava no ramo de
exportação de cereais, farinha, madeira, camarão seco, entre outros produtos.
Mas voltemos a Luiz Severino Duarte:
Em 13 de junho
de 1920, num terreno baldio entre as ruas Tenente Bessa e Duque de Caxias, Luiz
Severino Duarte inaugurou sua residência, um verdadeiro palacete, um dos
prédios mais bonitos e pomposos da Laguna, no estilo eclético. A alta sociedade da Laguna prestigiou
o evento, abrilhantado pela Banda Amor à Pátria, de Jaguaruna, cidade natal do
proprietário e entidade musical da qual foi membro na juventude.
Luiz Severino
Duarte era casado com Francisca Barreiros Duarte. O casal não teve filhos.
Francisca era irmã de Francisco, Geraldino, João, Maria Barreiros e de Thomázia Barreiros da Silva casada com Antônio (Totônio) Batista da Silva,
pais de Judith Batista (Remor).
Quando dos
falecimentos de Francisca e posteriormente de Luiz Severino, seus bens, aí
incluído o palacete no centro da cidade, ficaram para sua sobrinha Judith
Batista Remor e seu marido Carlos Alberto Remor, de saudosas memórias.
Proprietários que sempre trataram com zelo e carinho o familiar imóvel. Pais de
Aurélio, Luiz Carlos, Rogério, Antônio Carlos e Maria Helena Remor.
Tenho certeza
que muitos ainda se lembram do Antônio Carlos (Totá), um dos filhos do casal,
caminhando no varandão do imóvel balbuciando rezas ou dedilhando lindos acordes
ao piano na imensa sala do casarão.
Mais tarde o
palacete foi adquirido pela Celesc e onde ainda hoje funciona o escritório da
empresa.
Em 1978, a homenagem
Em 4 de abril
de 1978, o vereador Leandro José Crippa, o Juca, tio do atual vereador Peterson
(Preto) Crippa da Silva (PP), apresentou projeto de lei (nº 16/78) denominando de Luiz
Severino Duarte “a via pública do bairro Mar Grosso, tendo início na terminação
da avenida senador Galotti com seu término na avenida da Praia do Iró” (hoje Cláudio
Horn).
Na
justificativa ao projeto o vereador Juca Crippa, informou:
“Luiz Severino Duarte pertenceu ao honrado
comércio lagunense durante mais de cinquenta anos; fez parte da Empresa de
Navegação Santo Antônio Ltda., que mandou construir no estaleiro desta cidade,
o iate a motor “Santo Antônio” que foi o orgulho da construção naval da Laguna
e que serviu durante 24 anos no transporte das riquezas produzidas nesta
região.
Foi Juiz substituto da Comarca da Laguna durante
muitos anos merecendo menções honrosas de Juízes e Corregedores pela maneira
justa e equilibrada no desempenho de seu cargo; foi presidente da Associação
Comercial, a qual serviu com muita dedicação e acerto; fez parte da Comissão
construtora do Prédio São Vicente de Paul, na qualidade de tesoureiro e
benfeitor.
Em 1920 quando poucos lagunenses acreditavam
no futuro da Laguna ele teve a coragem de mandar construir, nesta cidade, uma
das mais belas residências que, ainda hoje, embeleza o centro da cidade.
Finalmente, foi ele que, através de seu amigo
Carlos Alberto Remor, fez doação de uma área de cerca de 900 metros quadrados
de terra para que a Prefeitura pudesse rasgar a Rua Projetada o que se propõe
seja dado o nome desse benemérito lagunista”.
O Projeto de
Lei foi aprovado por unanimidade pelo Legislativo. Em poucos dias, em 28 de abril
de 1978, o prefeito Mário José Remor sancionou a Lei nº 15/78, dando a
denominação de Luiz Severino Duarte à citada rua.
Se a mudança
de alteração de nome da via for proposta e aprovada pelo Legislativo lagunense,
mais uma vez será pisar em nossa história e desrespeitar a memória de nossos
antepassados.
Também sou contra esses botocudos que se preocupam com coisas que vem a ferir nossa história. Há anos conheci certa pessoa que arrancou uma placa existente na antiga BR 101 e que dizia: Limite dos municípios Laguna / Tubarão. A placa estava mal colocada em m relação a realidade. Carlos Araujo Horn
ResponderExcluirGRANDE vALMIR ESSE mENINO vALE oURO ESTE ERA PRA SER NOSSO SECRETARIO DE CULTURA.
ResponderExcluirPor favor, me inclua fora dessa.
ExcluirBoa tarde!
ResponderExcluirNão tem mais nada que fazer no Legislativo de Laguna? Projetos, melhorias, mobilidade, saneamento... Ainda dá tempo. Isso, sem falar no Plano Municipal de Saúde... Já está pronto? É mesmo Período do PPA...
Minha prezada, eu não duvido que o projeto de lei para alteração possa partir até do Executivo.
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