terça-feira, 25 de setembro de 2012

Conjuntos, bandas e baladas

Final da década de 60 e por todos os anos da de 70, eram muitos os bailes em nossa região.
Na Laguna as festas realizadas no Clube 3 de Maio, no Magalhães e na S.R. Anita Garibaldi, no Campo de Fora eram garantias de sucesso. Casa cheia, não só pelo público jovem, mas pelo pessoal também da, digamos, segunda idade, formada quase que exclusivamente por casais casados ou recém.
Havia também o Siderurgia, em Capivari, então bairro de Tubarão; e o Jangadeiro, na praia de Imbituba.

Hoje praticamente não existe mais esse tipo de baile e as festas são realizadas visando a determinado público. Aos muitos jovens; ou ao pessoal da chamada terceira/divina idade.
O sujeito de meia-idade (entre 30, 40, 50 anos) que ousa comparecer ao primeiro tipo de festa se sente tiozinho e tiazinha em meio a sobrinhos. Já quem comparece ao segundo fica fora do contexto, inclusive musical. Há quem prefira um ou outro, mas são exceções.
Dizem que a gente faz o ambiente, mas não tenho como verdadeira essa premissa.
Como assim a gente faz? Dependendo do meio-ambiente você se sente um peixe fora d’água. Bem por isso as expressões “minha tribo” e “não é a minha praia” são tão corriqueiras e acertadas.
Mas retorno ao tema que me propus, a gente acaba divagando e fugindo...

Quem nos animava naqueles longínquos anos? Quem nos puxava para as pistas de danças depois de um convite devidamente aceito àquela menina que não parava de nos fitar com um olhar futuro 43, da RPM? Quem tocava e reproduzia os sucessos das rádios e nas bolachas long play de 33rpm e fitas que ouvíamos em nossos toca-discos e toca-fitas, repetidamente, exaustivamente?
Alguns Conjuntos e Bandas destacavam-se em nossa região. American Night, de Siderópolis; Brazilian Boys, de Tubarão e por fim o não menos famoso The Claytons, de Imbituba.

Os Claytons, como dizíamos, aportuguesando o artigo, penso que tinha a nossa cidade como morada. Houve época mesmo que aqui se apresentavam semanalmente.
Não tivessem eles se apresentado pela primeira vez aqui na Laguna, em um bingo dançante realizado em 17 de abril de 1967, no Clube 3 de Maio.

O nome da Banda foi inspirado numa famosa margarina da época que trazia estampada no rótulo da embalagem a frase “Um produto Anderson Clayton”. E seguia a tendência de outros nomes de conjuntos e bandas, como The Beatles, The Fevers e The Rolling Stone.
Parecia tão simples e inspirador na época, não é mesmo?
E tudo havia começado nos intervalos dos ensaios da extinta Orquestra Samuara, de Imbituba.
Cinco amigos utilizavam-se dos instrumentos e tiravam o seu sonzinho, improvisando e reproduzindo canções de sucesso nacional e internacional.

The Claytons na TV Piratini, em Porto Alegre em 1967

João Rosa, João Rodrigues, Levi Ramos Martins, Jair Freitas e Sueli Rosa Rodrigues a partir daí trilharam seu próprio caminho, embalando toda uma geração ao som de muito Rock, sucessos da Jovem Guarda e de praticamente todas as bandas e cantores nacionais e internacionais.

Bastava uma canção entrar nas paradas de sucesso que poucos dias depois The Claytons já a executava e a reproduzia nas apresentações. E com a máxima fidelidade, nos mínimos detalhes. Elton John, Demis Roussos, Abba, Bee Gees (esta já na fase disco), Belchior, além de muito Raul Seixas e até os instrumentais de Rick Wakeman em seu Rock Progressivo e Sinfônico. Lembram do álbum Journey to the Centre of the Earth?

Quando Time, uma das faixas do LP The Dark Side off de Moon (1973)  com a capa do prisma, um clássico do Pink Floyd, estourou mundialmente, The Claytons a executou em primeira mão num baile no Clube Anita Garibaldi. Sou testemunha ocular e auditiva. Quando começaram os primeiros acordes - do som dos despertadores e dos tiques-taques de relógios - o público dançante estancou para acompanhar vidrado o som que saia dos instrumentos. E não havia playback, tudo era feito ao vivo, em execução de guitarras-solos, bateria, teclado e sintetizador e no vocal principal de Sueli Rosa Rodrigues. Delírio geral da platéia e pedidos de bis.
(Anos depois, em 1979, The Claytons vai repetir a dose com a reprodução integral, em sua três partes, de Another Brick In The Wall (Live), de Rogers Waters, e a introdução ensurdecedora e psicodélica das hélices de helicópteros).

Em 1976 cantávamos as letras de um cearense que sabia como nunca interpretar nossos sentimentos. "Velha roupa colorida", "Como nossos pais" e "Apenas uma rapaz americano", de Belchior estavam nas paradas.
The Claytons foi a banda contratada para o baile de formatura da minha turma do Colégio Comercial Lagunense - CCL, da então 3ª série B, Técnico em Contabilidade, que mesclava alunos daqui, Tubarão e Imbituba. O Baile realizado no 3 de Maio (velho) em dezembro de 1977, foi um arraso. Tantas lembranças, amigos e amigas que passaram, mas que estão ainda por aí, neste mundão de Deus e outros que já se foram para todo o sempre. Pra nunca mais...

Atualmente, 45 anos depois, The Claytons já se apresentou em praticamente todas as cidades do litoral catarinense.
Sua formação atual é: João Rosa (único fundador ainda presente), Valmir e Fabrício Rosa, Gláucia, Alceu e Chapolim.
Na Festa do Camarão deste ano, em Imbituba, em show realizado, com gravação de um DVD, que reuniu um público de quatro mil pessoas, Serginho Martins, filho do baterista Levi Ramos Martins (irmão do prefeito Beto (do Levi) Martins, não tem?) foi homenageado em memória de seu pai e família.



The Claytons vez por outra está por aqui, na Laguna, mas ainda não assisti suas apresentações. Quero fazê-lo na primeira oportunidade, para curtir e relembrar velhos tempos de alegrias que ficaram na parede da memória.

Adendo
Hoje, ao observar os dizeres de Time, do Pink Floyd, percebo que alguns versos são muito mais atuais do que àqueles dias onde ainda jovens desconhecíamos nossos destinos e o tempo era somente uma ventania.
And then one day you find ten years have got behind you / No one told you when to run, you missed the starting gun" / "E então um dia você descobre que dez anos ficaram para trás de você / Ninguém lhe disse quando correr, você perdeu o tiro de partida", é um exemplo.

Vejam a letra em inglês e a tradução:

Time
Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an off hand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
(...)

Tempo
Tiquetaqueando os momentos que tornam um dia aborrecedor
Você queima e perde as horas de uma forma descontrolada
Perambulando ao redor de um pedaço de terra em sua cidade natal
Esperando por alguém ou algo que lhe mostre o caminho

Cansado de estar deitado à luz sol, ficando em casa para assistir a chuva
Você é jovem, a vida é longa, e há tempo para matar hoje.
E então um dia você descobre que dez anos ficaram para trás de você
Ninguém lhe disse quando correr, você perdeu o tiro de partida

E você corre e corre para estar junto ao sol, mas ele está se pondo
E gira ao redor para vir atrás de você novamente.
O sol é o mesmo de uma forma relativa, mas você está velho
Com menos fôlego e um dia mais próximo da morte

Cada ano está se tornando mais curto, nunca parecendo achar o tempo.
Planos que nunca são terminados ou ficam em meia página de linhas rabiscadas
(...)







3 comentários:

  1. Valmir, hoje se produz em alguns locais o tais "bailinhos" que serve para atingir esta faixa de publico tão carente dos 30 aos 55 anos, mas ainda de forma timida para seleto grupos, infelizmente.
    Parabens pelo post, como sempre o amigo não perde o feeling da coisa, forte abraço

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  2. Prezado Valmir, aqui quem vos fala é Serginho Martins, filho do Sr. Levy Martins e irmão do prefeito de Imbituba Beto Martins. Fui apresentado ao seu blog através de um amigo (Richadson Marques), e confesso que fiquei encantando e emocionado com suas palavras. Todas perfeitas e que condizem com a realidade da banda e seus integrantes. Somos em 3 irmãos, sendo o mais velho Edinho Martins (mora em TB), o do meio Beto Martins e eu, Sergio Martins o mais novo. Tive a honra de herdar de meu pai, além da educação e sobrenome, o gosto pela bateria que toco desde os meus 13 anos (hj estou com 38). Hoje toco em uma banda aqui em Imbituba (Banda JayB´S), a qual nos apresentamos tbém no dia da gravação do The Claytons na Festa do Camarão. Só para constar, nessa banda toca comigo Jair Freitas Jr. (violão/guitarra/voz). Nosso estilo não foge a regra de nossos pais, pois tocamos músicas dos anos 70/80/90/2000.. Clássicos de Pink Floyd, Creedence, Led Zepelin, REM, Barão Vermelho, Paralamas, Guns & Roses etc... Dia 20/10 estaremos tocando no Santo Virado (ex-absinto) ahi em Laguna, e seria uma honra vê-lo por lá e poder curtir esse estilo musical que sem dúvida nunca será apenas um modismo. Forte abraço e fique com DEUS...

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  3. Olá Valmir! Boa tarde!
    Não há como lembrar do Clube Anita sem lembrar "dos Claytons" não é mesmo? Eu, (pasmem) tinha 16 anos quando fui ai primeiro baile no Anita com Os Claytons. Cantei e dancei Belchior também. Vivia torcendo pra fazer 14 anos pra ir ao baile com Os claytons.Tu lembra né? só se podia ir ao baile se já tivesse 14 anos. Velhos tempos.
    Você não sente não vê mas não pode deixar de ser meu amigo... e precisamos todos é sobreviver...
    Abraços!
    Maria de Fatima Martins - Blumenau

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