quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O sujeito e o verbo

“No princípio era o verbo”. João 1:1-3

Tenho pensado muito nos últimos dias nos que exercem o livre direito de se manifestar, principio universal, garantia de nossa Constituição.
Penso naqueles que honestamente se manifestam, escrevendo, falando, criticando, pedindo providências por parte dos órgãos públicos e de seus representantes.
Sim, escrevi honestamente, porque há os que o fazem através de canetas, teclados e microfones alugados exclusivamente visando interesses próprios. Esses não contam. Esse não colocam uma vírgula em seus e$critos se não visualizarem um “ganho” lá na frente, que pode ser através de um cargo para si ou para um familiar.

Há também muitos leitores e ouvintes por aí que querem ver o circo pegar fogo, desde que eles não estejam sob à lona.
E incentivam a crítica, o pau, a denúncia, mas nunca querem aparecer.
E aí volto ao princípio: as pessoas aplaudem muito o verbo destilado – e se com peçonha melhor ainda – mas repudiam o sujeito que o pronuncia. Do sujeito querem distância e em alguns casos até mudam de calçada na rua. Quanta decepção com alguns!
E aí me lembrei de um sujeito que anda desaparecido nos últimos meses, nunca mais o encontrei por aí. Um sujeito grande e um grande sujeito. E seu verbo.

Durante anos aqui na Laguna falou e gritou pelos microfones das rádios os problemas da comunidade. Clamou pelas injustiças, pediu e exigiu soluções para a população.
Foi o único que abriu os microfones aos ouvintes, através dos telefones das emissoras. Sem censura, muitos puderam desabafar no ar seus anseios e suas necessidades. E entrevistou autoridades, políticos, empresários, gente do povo, sempre cobrando, sempre exigindo melhorias.
E não só isso. Ano a ano empunhava a bandeira de empresário de espetáculos e trazia à cidade inúmeras atrações musicais.

Não foram poucas às vezes que logrou êxito em conseguir um medicamento para um enfermo, um par de muletas ou uma cadeira de rodas para um necessitado. Quem o acompanhou sabe disso.

Ano passado quis ampliar seu verbo, reverberar em outros microfones mais ouvidos, com mais peso e onde pudesse continuar seu trabalho, agora devidamente reconhecido através de uma eleição.
E se candidatou a vereador por Laguna, com esperança de continuar o trabalho que já vinha exercendo nas rádios. Sem maiores recursos, confiou nos ouvintes-eleitores, dezenas, centenas que lhe procuravam e aos quais tinham ajudado, amparado em algum momento.
Volto a repetir: as pessoas gostam do verbo, mas não do sujeito.
Recebeu 287 votos, pelo DEM, o que não é pouco, convenhamos, mas muito aquém de retribuição pelo seu trabalho.
Há quem foi eleito por aí e não se sabe de algum músculo que tenha mexido em prol da comunidade.
Eleitor é um bicho ingrato, como muitos candidatos tristemente já o constataram.


Não sei se João Batista Barreiros, o personagem deste escrito, irá retornar ao rádio lagunense, torço sinceramente que sim.
Deveria voltar, porque precisamos sempre de um canal, de um espaço, de uma voz que não caia na unanimidade burra e interesseira dos elogios. E dos trinta dinheiros.

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