sexta-feira, 3 de julho de 2015

A tesoura da censura trocou de mãos

“Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo".

A frase acima é atribuída a Voltaire. Alguns filósofos afirmam que ele não a escreveu, e sim uma de suas biógrafas, a escritora   Evelyn Beatrice Hall.

De autoria de Voltaire ou não, a locução resume bem uma chamada frase-lema de liberdade de expressão.
No regime ditatorial de 1964 a 1985, sabemos todos nós, o Brasil viveu sob censura. Músicas foram proibidas, manifestações estudantis, peças teatrais, livros e filmes foram proscritos.
Censores eram encarregados diuturnamente em descobrir, nas entrelinhas, mensagens subliminares, de cunho socialista, comunista. Jornais, rádios e canais de televisão tinham marcação cerrada em seus programas. Muitas vezes com censores permanentes em suas redações evitando críticas ao governo de plantão.

Bem por isso a utilização ampla de metáforas, para driblar o proibir.
Mas vivíamos então um regime de exceção, com todos os seus dissabores e percalços.
“A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão, viu?”, cantava Chico. Era o medo de expor ideias, emitir opiniões. Anos de chumbo. 

Hoje vivemos num estado democrático, com as instituições funcionando plenamente. Uma Constituição, escolha de representantes pelo voto. Há toda uma decantada liberdade de expressão.

Se você indagar e pesquisar por aí, é unanimidade o direito à opinião. Pura hipocrisia.
O grande problema para muita gente é que a opinião emitida deve coincidir com a sua, que lhe interesse de alguma forma. Deus me livre se você ousa discordar. Partem para o ataque. E ataques pessoais, com ofensas e impropérios de todo tipo. Não discutem ideias, não questionam posições, não aceitam o contraditório. Impõe as suas. Maioria não se identifica. Usa palavras de ódio e baixo calão. Mal educada e mal amada.

Hoje em dia o que mais tem por aí são patrulhas. Ferozes patrulhas de leitores nas páginas das redes sociais da internet,  em jornais, rádios e televisão. Aumenta a intolerância.

Zeca Camargo, há pouco, por exemplo, foi escorraçado por ter emitido uma opinião sobre o duvidoso gosto musical do brasileiro e da cobertura excessiva à morte de um cantor sertanejo. Teve que se redimir.
Luiz Carlos Prates, em Santa Catarina, foi demitido de emissoras por também expressar suas verdades, como comentarista. Leitores caíram de pau, exigindo sua cabeça. Gente que se acha acima do bem e do mal.
A verdade é que a tesoura da censura trocou de mãos.

Do jeito que a coisa vai, com esse politicamente correto adotado no país, logo ninguém mais poderá se manifestar. Há um aumento do espírito autoritário se instalando na sociedade brasileira.

Parece haver toda uma pressão para que você não pense, não tenha opinião. Uma grande pressão por parte de leitores, ouvintes, telespectadores inconformados porque as opiniões emitidas não “coincidem” com as suas. E desde quando tem de coincidir?

O país está se tornando sério demais, chato demais. Sem graça e sem risos. 
Jô Soares, Chico Anísio, Os Trapalhões, só para citar alguns exemplos, hoje em dia jamais repetiriam os sucessos que fizeram nas décadas de 70 e 80. Suas piadas e personagens arrancavam gargalhadas e aplausos do público.
Hoje os humoristas seriam facilmente enquadrados como racistas, homofóbicos, machões, coxinhas, petralhas, fascistas e sei-lá-mais- o-quê.
As redes sociais os detonariam em poucas horas e teriam que se enquadrar, sob pena de perderem seus empregos.
Sinceramente, é uma censura pior do que a usada na ditadura.

Pelo menos naquela época sabia-se quem estava do outro lado.

Um comentário:

  1. Sempre fui e serei contra a ditadura militar, mas alguns acontecimentos recentes ,tão me inclinando para o termo saudade de algumas regras da ditadura.Pois a liberdade de expressão que tanto lutamos para ter, hoje está se tornando uma libertinagem de expressão.
    JORGE EDU

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