segunda-feira, 6 de julho de 2015

Eleições presidenciais de 1955. Janio Quadros, Juarez Távora e Ademar de Barros em campanha na Laguna

Houve um tempo em que candidatos à presidência do Brasil tinham que passar por Laguna para angariar votos. O eleitorado era grande e a cidade de suma importância no cenário político regional e estadual. Faz tempo...

Antes, um breve retrospecto político
Com um tiro no peito, em 24 de agosto de 1954, em seu quarto no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, o presidente Getúlio Vargas “sai da vida e entra para a história”, no dizer de sua carta-testamento.
É o fim trágico para uma situação que se arrastava há meses, com isolamento político e ameaças a sua família. O atentado  alguns dias antes a Carlos Lacerda e o tiro que matou o major Vaz selaram o destino de Getúlio.

No Congresso, a bancada da UDN exige sua renúncia, assim como generais assinam um manifesto. Há historiadores que defendem a tese em que Getúlio com seu suicídio, adiou em dez anos o golpe militar que viria em abril de 1964.

Em seu lugar assume o vice, Café Filho. Eleições são marcadas para 3 de outubro de 1955.
Primeira cédula confeccionada
 pela Justiça Eleitoral
É a primeira vez no Brasil que vai se usar a cédula eleitoral oficial confeccionada pela Justiça Eleitoral. Até então, os próprios partidos políticos confeccionavam e distribuíam as cédulas.

Eleições presidenciais de 1955
Brasil. Eleições marcadas para 3 de outubro de 1955. Mandatos de cinco anos. Para presidente, vice, governadores e prefeitos. Caravanas de candidatos à presidência e vice percorrem o país.
Pela primeira e única vez em sua história Laguna vai receber dois candidatos a presidência do Brasil.


Juarez Távora, pela UDN
O primeiro deles é Juarez Távora, juntamente com seu vice Milton Campos. Na caravana, presença aguardada do governador de São Paulo (e futuro presidente) o populista Jânio Quadros.

A expectativa é grande. Prefeito da Laguna Dr. Paulo Carneiro em seu primeiro mandato (31/01/51 a 31/01/56) chega a decretar feriado municipal no dia marcado para a visita, 9 de agosto, uma terça-feira.
No final da manhã, o avião que trazia a comitiva (acrescida de Domingos Velasco, senador por Goiás e Sandra Cavalcanti, vereadora no Rio de Janeiro) sobrevoou a nossa cidade por alguns minutos, sem contudo poder aterrissar devido à forte cerração que cobria o campo de aviação, no Mar Grosso.

O avião teve que descer em Tubarão e a comitiva tomou uma litorina da Estrada de Ferro Thereza Cristina, posta à disposição, em direção a Laguna, onde foram recepcionados na Estação do Campo de Fora.

O Jornal O Albor em sua edição do dia 13 seguinte, sábado, assim registrou a visita:

“Após as apresentações e cumprimentos, os dignos hóspedes dirigiram-se à cidade, onde, apesar do mau tempo reinante, o povo aguardava-os em frente ao Congresso Lagunense, local em que se realizou o grande banquete que lhe foi oferecido, com palmas e calorosos viva”.

Evidentemente que o povo deve ter ficado de fora, só no cheiro, espiando, com alguns dependurados nos beirais das janelas do Clube Congresso, certamente apreciando “as finas iguarias servidas”, os manjares e licores. Até porque não caberia todo mundo lá dentro.

Logo depois, conforme programação, a realização do grande comício no Cine Central (onde hoje se situa o Centro Cultural Santo Antônio dos Anjos).
E continua O Albor:

“Ali chegado, o povo (olha ele aí de novo) que superlotava a plateia e as galerias do Cine Central, prorrompeu em vivas e palmas prolongadas, até que foi dado início ao grande comício político, onde Juarez Távora, o primeiro candidato à presidência da República que, num gesto digno de nossa admiração e respeito, honrava com a sua destacada pessoa, a nossa terra, iria falar ao povo, expondo o seu programa de governo, caso seja eleito”.

Em primeiro lugar falou, em nome da juventude lagunense, o jovem (e já então orador de destaque e futuro desembargador de Santa Catarina) Norberto Ulysséa Ungaretti “destacou as figuras dos aclamados candidatos à presidência e vice, enaltecendo a vida honrada e o caráter impoluto de ambos”.
Em seguida falou Manoel Américo de Barros, presidente do Partido Democrático Cristão – PDC, da Laguna e a vereadora Sandra Cavalcanti (UDN-RJ).

Jânio Quadros e seus gestos histriônicos.
O locutor da Rádio Difusora (teria sido o Agilmar Machado?) avisou que devido à escassez de tempo, Jânio Quadros deixaria de ocupar os microfones. Foi uma vaia só.
O povo então – finalmente – protestou e não se conformou, exigindo a palavra do ilustre governador de São Paulo, já conhecido em todo o Brasil por seus discursos inflamados, populistas e eletrizantes e que vai levá-lo dali a cinco anos à presidência da República, com vassoura e tudo.
Muita gente estava ali, afinal, somente para ouvi-lo.

Pena que o jornal O Albor não registrou as palavras de Jânio Quadros, certamente recheadas de próclises, ênclises e mesóclises, como era seu estilo peculiar: "Me chamastes", "Fi-lo porque qui-lo", "Fá-lo-ia",
O jornal diz que Jânio “eletrizou com seu verbo quente, elegante e ao alcance de todos os que tiveram a felicidade de ouvi-lo e aclamá-lo ruidosamente”.
Capa do Jornal O Albor de 30/09/1955, com as fotos  dos candidatos
Juarez Tavora (presidência); Jorge Lacerda (governador de SC),
Heriberto Hulse (vice-governador) e Angelo Novi (prefeitura da Laguna).

Por último falou o candidato Juarez Távora. E novamente O Albor registra para posteridade:

“Fez breve explanação do seu plano de governo, sem nada prometer, a não ser justiça equitativa a tudo e a todos sem olhar a quem. Frisando bem, para que todos ficassem sabendo, que não tem compromisso com partido de qualquer espécie e que se for eleito, governará com homens de bem, seja de que partido for”.
Convenhamos, com um discurso desses, Juarez Távora não tinha mesmo como ganhar. Juscelino, pelo PSD, papou a eleição.

Adhemar de Barros, pelo PSP
O prefeito da Laguna, Dr. Paulo Carneiro discursa. Ao seu lado o candidato
 à presidência do Brasil Adhemar de Barros. Foto: arquivo Marega.
O segundo candidato a visitar Laguna foi Adhemar de Barros, pelo PSP, no mesmo ano de 1955, em setembro, 22, e que aqui esteve em reuniões e jantares com correligionários, entre eles Boaventura Barreto, presidente do partido em nossa cidade.
Prefeito da Laguna, Dr. Paulo Carneiro que, saliente-se, era filiado ao PSD, lhe deu boas vindas com um jantar de confraternização. Não esqueçamos que o candidato do PSD à presidência era Juscelino Kubitschek, afinal o vitorioso. Mas Dr. Paulo, como autoridade máxima do município, um gentleman, não deixou de fazer as honras da cidade.
Mas O Albor, cujo proprietário, Antônio Bessa, era udenista, só registrou a visita de Ademar de Barros em meras cinco linhas de seu jornal. Tonico Bessa não ia botar azeitona na empada do candidato do PSP, não é mesmo?

As eleições de 1955 e resultados:
Quatro foram os candidatos à presidência do Brasil.
Juscelino Kubitschek (PSD/PTB/PR/PTN/PST/PRT): 3.077.411 votos
Juarez Távora (UDN/PDC/PL/PSB): 2.610.462 votos
Adhemar de Barros (PSP): 2.222.725 votos
Plínio Salgado (PRP): 714.379 votos

Os candidatos à vice-presidência (que eram desvinculados):
João Goulart (PSD/PTB/PR/PTN/PST/PRT): 3.591.409 votos
Milton Campos (UDN/PDC/PL/PSB): 3.384.739
Danton Coelho (PSP): 1.140.261

Em Santa Catarina
Em Santa Catarina, para o governo do estado, venceu Jorge Lacerda na coligação (PRP/UDN), derrotando Francisco Gallotti (PSD).
Jorge Lacerda vai falecer dois anos depois, em 16 de junho de 1958, em acidente aéreo em Curitiba, juntamente com o ex-presidente e senador Nereu Ramos e o deputado federal Leoberto Leal.
Seu vice, Heriberto Hülse (UDN), assume o governo do estado.

Walmor de Oliveira vence na Laguna

Na Laguna, por pequena margem, o médico Walmor de Oliveira (3.791 votos) (PSD/PTN), que havia concorrido a deputado estadual no ano anterior, vence o médico Angelo Novi (UDN) (3.616 votos) à prefeitura, que havia sido vereador e candidato a deputado federal pelo PSP em 1954.

2 comentários:

  1. Jorge Lacerda era filiado ao PRP e não à UDN quando se elegeu Governador do Estado. Na eleição daquele ano houve uma coligação com a UDN que indicou Heriberto Hulse ex-Prefeito de Criciúma.

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  2. Realmente, Jorge Lacerda foi lançado numa coligação PRP/UDN. Corrigi e acrescentei mais detalhes.

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