quinta-feira, 17 de maio de 2018

Da série: sumiços, furtos e desaparecimentos na Laguna

Ao longo dos anos muitos objetos históricos desapareceram dos acervos da nossa Laguna. Pinturas, armas, utensílios domésticos, louças, móveis, placas, documentos. Essa afirmação é facilmente constatada através dos registros de jornais, livros, fotos e testemunhos em diferentes épocas.

O sino do Museu não foi a única relíquia que sumiu e ninguém sabe ninguém viu
O sino histórico do Museu não foi a única preciosidade que surrupiaram daqui. A própria imagem de Santo Antônio dos Anjos teve seu crucifixo furtado em agosto de 1977, como já abordei neste Blog. Aqui.

Sobre esses sumiços ao longo da nossa história, veja o que disse o saudoso padre João Leonir Dall’Alba, que aqui esteve pesquisando na década de 70 e deixou registrado em seu livro “Laguna Antes de 1880”, lançado em 1979, seu inconformismo com a falta de muitos materiais, principalmente documentos para pesquisas. Disse ele, no prólogo da obra:

(...) “Lamentei não mais ter encontrado o arquivo da Câmara, com os documentos da gloriosa história da Laguna. De vez em quando há algo no arquivo da Comarca. Dizem que todas as revoluções brasileiras, passando por Laguna, carregavam um pouco de seus documentos.
Há livros de “Vereanças” em mãos de particulares no Rio Grande do Sul. Não se localizam mais os livros do Tombo da Matriz. Cada historiador parece guardar documentos preciosos. Seria preciso que todos colaborassem e se reunisse tudo num arquivo. Ao menos que se fizesse um levantamento e um catálogo dos documentos de Laguna. Será o primeiro passo para a execução da grande obra que ainda não foi realizada. A monumental história da Laguna. E a história do Brasil exige isto”.

Isso quanto ao sumiço de documentos, no dizer de Dall'Alba. Mas tem mais. Mesmo em palacetes, adornos desapareceram. Quando não foi o próprio imóvel que foi desmanchado, antes do tombamento em 1985, como o casarão de João Tomaz de Souza, na Praça Vidal Ramos.

O sumiço das estatuetas da Casa Pinto Ulysséa
Por exemplo, a Casa Pinto Ulysséa, Casa da Carioca ou Casa dos Azulejos, como muitos a chamam. Foi construída em 1867 por Joaquim José Pinto d’Ulysséa, cópia de uma Quinta de Portugal. Como nos conta Saul Ulysséa:

“Casa de boa construção para a época, de azulejos portugueses. Foi a primeira casa construída em Laguna com água encanada e também com platibanda. Esta platibanda era adornada com vasos de cerâmica branca e nas extremidades dela duas estatuetas, representando as deusas mitológicas Minerva e Diana. Tinha um jardim e uma chácara cuidados por um português especialista em jardinagem. O jardim, cujos canteiros eram contornados de meio fio de cimento, eram variados e sempre floridos. No meio do jardim um tanque circular, com peixinhos dourados e ao centro um repuxo, encimado por uma armação com bolas de celulóide coloridas, as quais, com o ímpeto da água, faziam malabarismos de muito efeito. O tanque tinha cerca de um metro de altura e era encoberto de azulejos branco e azul. Contornando o tanque um circulo de bancos de ardósia e mármore branco e azul. Ao fundo uma escadaria que ligava o jardim a chácara, a qual possuía um pomar com grande quantidade de frutas variadas. Mais ao fundo um estábulo onde criavam animais que produziam carne e leite para a família”.

Cá para nós: Que riqueza, que beleza, que maravilha de casa, hein leitor? Um imóvel que está a merecer novamente uma restauração (a última foi em 1982) inclusive de seus azulejos.
Pois sendo a melhor casa da Laguna em sua época, ali foram realizadas muitas recepções oficiais da cidade.
E foi nela que seu proprietário veio a falecer, em 24 de dezembro de 1882.

Mas um detalhe me chamou a atenção:
Na descrição da casa feita por Ulysséa, consta que a “platibanda era adornada com vasos de cerâmica branca e nas extremidades dela duas estatuetas, representando as deusas mitológicas Minerva e Diana”.

Pois essas estatuetas sumiram há muitas décadas, como pode comprovar o leitor, observando a foto atual da Casa.
Na reforma feita na Casa em 1982, já não mais existiam as estatuetas.
Nos meus arquivos encontrei uma foto mais antiga onde aparece uma das estatuetas, Minerva ou Diana, não sei ao certo, creio que Minerva, na extremidade da platibanda.
Ampliei a foto, no detalhe:
Onde estão essas estatuetas? Quem as retirou?  Em que administração? Em que ano? Alguém saberia responder? Mistério que se perdeu no tempo, como vários outros desaparecimentos na cidade histórica.

3 comentários:

  1. Bom dia Valmir!
    Mais uma vez tive a oportunidade de contemplar as mais diversas informações sobre nossa amada Laguna. Pena que após passada por diversos gestores, nossa cultura está se perdendo. Um acervo deveria ser criado, no intuito de mostrar às futuras gerações o quão importante foi nossa cidade no passado. Somos históricos, somos cultura, somos patrimônio. Seria falta de vontade ou simplesmente deixar nossa cidade ao ostracismo é mais vantajoso? Fica a dica.

    Fatima Martins

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lúcidas palavras, Fátima.

      Excluir
    2. A estatueta, em 1985 decorada a sacada da casa do famoso Nezinho,situada a rua General Bittencourt, centro de Florianopolis.Segundo a lenda as estatuetas foram retiradas por um grupo de jovens da sociedade lagunense.

      Excluir