Ao longo dos
anos muitos objetos históricos desapareceram dos acervos da nossa Laguna. Pinturas,
armas, utensílios domésticos, louças, móveis, placas, documentos. Essa afirmação
é facilmente constatada através dos registros de jornais, livros, fotos e testemunhos em diferentes épocas.
O sino do Museu não foi a única relíquia que sumiu e ninguém sabe ninguém viu
O sino
histórico do Museu não foi a única preciosidade que surrupiaram daqui. A própria
imagem de Santo Antônio dos Anjos teve seu crucifixo furtado em agosto de 1977,
como já abordei neste Blog. Aqui.
Sobre esses
sumiços ao longo da nossa história, veja o que disse o saudoso padre João Leonir Dall’Alba, que aqui esteve
pesquisando na década de 70 e deixou registrado em seu livro “Laguna Antes de 1880”, lançado em 1979, seu
inconformismo com a falta de muitos materiais, principalmente documentos para
pesquisas. Disse ele, no prólogo da obra:
(...) “Lamentei não mais ter
encontrado o arquivo da Câmara, com os documentos da gloriosa história da
Laguna. De vez em quando há algo no arquivo da Comarca. Dizem que todas as
revoluções brasileiras, passando por Laguna, carregavam um pouco de seus
documentos.
Há livros de “Vereanças” em mãos de
particulares no Rio Grande do Sul. Não se localizam mais os livros do Tombo da
Matriz. Cada historiador parece guardar documentos preciosos. Seria preciso que
todos colaborassem e se reunisse tudo num arquivo. Ao menos que se fizesse um
levantamento e um catálogo dos documentos de Laguna. Será o primeiro passo para
a execução da grande obra que ainda não foi realizada. A monumental história da
Laguna. E a história do Brasil exige isto”.
Isso quanto ao sumiço de documentos, no dizer de Dall'Alba. Mas tem mais. Mesmo em palacetes, adornos desapareceram. Quando não foi o próprio
imóvel que foi desmanchado, antes do tombamento em 1985, como o casarão de João Tomaz
de Souza, na Praça Vidal Ramos.
O sumiço das estatuetas da Casa Pinto Ulysséa
Por exemplo, a
Casa Pinto Ulysséa, Casa da Carioca ou Casa dos Azulejos, como muitos a chamam.
Foi construída em 1867 por Joaquim José Pinto d’Ulysséa, cópia de uma Quinta de
Portugal. Como nos conta Saul Ulysséa:
“Casa de boa
construção para a época, de azulejos portugueses. Foi a primeira casa
construída em Laguna com água encanada e também com platibanda. Esta
platibanda era adornada com vasos de cerâmica branca e nas extremidades dela
duas estatuetas, representando as deusas mitológicas Minerva e Diana. Tinha
um jardim e uma chácara cuidados por um português especialista em jardinagem. O jardim, cujos canteiros eram
contornados de meio fio de cimento, eram variados e sempre floridos. No meio do
jardim um tanque circular, com peixinhos dourados e ao centro um repuxo,
encimado por uma armação com bolas de celulóide coloridas, as quais, com o ímpeto
da água, faziam malabarismos de muito efeito. O tanque tinha cerca de um metro
de altura e era encoberto de azulejos branco e azul. Contornando o tanque um
circulo de bancos de ardósia e mármore branco e azul. Ao fundo uma escadaria
que ligava o jardim a chácara, a qual possuía um pomar com grande quantidade de
frutas variadas. Mais ao fundo um estábulo onde criavam animais que produziam
carne e leite para a família”.
Cá para nós:
Que riqueza, que beleza, que maravilha de casa, hein leitor? Um imóvel que está
a merecer novamente uma restauração (a última foi em 1982) inclusive de seus azulejos.
Pois sendo a
melhor casa da Laguna em sua época, ali foram realizadas muitas recepções
oficiais da cidade.
E foi nela que
seu proprietário veio a falecer, em 24 de dezembro de 1882.
Mas um detalhe me chamou a atenção:
Na descrição
da casa feita por Ulysséa, consta que a “platibanda era
adornada com vasos de cerâmica branca e nas extremidades dela duas estatuetas,
representando as deusas mitológicas Minerva e Diana”.
Pois essas
estatuetas sumiram há muitas décadas, como pode comprovar o leitor, observando
a foto atual da Casa.
Nos meus arquivos encontrei uma foto mais antiga onde aparece uma das estatuetas, Minerva ou Diana,
não sei ao certo, creio que Minerva, na extremidade da platibanda.
Na reforma feita na Casa em 1982, já não mais existiam as estatuetas. |
Ampliei
a foto, no detalhe:
Onde estão essas estatuetas? Quem as retirou? Em
que administração? Em que ano? Alguém saberia responder? Mistério que se perdeu
no tempo, como vários outros desaparecimentos na cidade histórica.
Bom dia Valmir!
ResponderExcluirMais uma vez tive a oportunidade de contemplar as mais diversas informações sobre nossa amada Laguna. Pena que após passada por diversos gestores, nossa cultura está se perdendo. Um acervo deveria ser criado, no intuito de mostrar às futuras gerações o quão importante foi nossa cidade no passado. Somos históricos, somos cultura, somos patrimônio. Seria falta de vontade ou simplesmente deixar nossa cidade ao ostracismo é mais vantajoso? Fica a dica.
Fatima Martins
Lúcidas palavras, Fátima.
ExcluirA estatueta, em 1985 decorada a sacada da casa do famoso Nezinho,situada a rua General Bittencourt, centro de Florianopolis.Segundo a lenda as estatuetas foram retiradas por um grupo de jovens da sociedade lagunense.
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