O Rei do carnaval foi
inspirado em Momo, na mitologia grega o Deus da galhofa, da irreverência e do
delírio.
De temperamento
zombeteiro, filho do sono e da noite e que, expulso do Olimpo por ridicularizar
outras divindades, passou a viver no sub-olimpo promovendo festins de orgias.
A figura do Rei Momo
no carnaval surgiu no Rio de Janeiro em 1933, data em que a festa foi
oficializada.
Dizem os
pesquisadores, que um cronista do jornal A Noite confeccionou um boneco de
papelão que desfilou pelas ruas da cidade fazendo enorme sucesso e que depois
foi colocado em um trono para reinar sobre a folia.
Mas os jornalistas e
proprietários do jornal não ficaram contentes e no ano seguinte trataram de
escolher uma pessoa para desempenhar o papel.
Foi escolhido o gordo
Moraes Cardoso, brincalhão e gozador, responsável pela seção de turfe do
jornal.
Ele reinou como
primeiro e único até o carnaval de 1948, quando faleceu. Dali em diante o
soberano da folia foi escolhido em concurso, oficializado por lei estadual e
municipal.
Tonico
Fortes, Rei Momo do carnaval da Laguna
Seguindo o Rio de
Janeiro, Laguna também teve vários Reis Momos em nosso carnaval.
Um deles até hoje é
lembrado, marcou minha infância e juventude e penso que a de muitos leitores
deste Blog.
Ele era magro. Aliás,
magérrimo, alto e de cabelos brancos (quando eu o conheci). Chamava-se Antônio
Ramos Fortes, o Tonico Fortes, como era carinhosamente mais conhecido. Saudoso
Rei Momo da Laguna, primeiro e único.
“Seu” Fortes compunha
o inverso da imagem do Rei Momo tradicional, gordo e bonachão. Mas tinha samba
nos pés o velhinho, com sua simpatia, calça e sapatos brancos.
Nos desfiles do
pré-carnaval e mesmo na noite oficial do desfile das Escolas de Samba, Tonico
Fortes desfilava à frente de todas as entidades carnavalescas, sempre fazendo
malabarismos e rodopios com um pandeiro nas mãos ou um reco-reco.
Enquanto sambava,
cantarolava repetidas vezes um estribilho de uma marchinha de carnaval, sucesso
na voz de Joel de Almeida, o magrinho elétrico:
“É hoje só, amanhã não tem mais!...”
Em um carnaval – e
depois repetiu sempre o adereço - apareceu com uma coroa cheia de lampadinhas
piscando, uma novidade que arrancou aplausos e mexeu com a curiosidade de nós crianças.
No ano seguinte trouxe lâmpadas também em seus sapatos brancos. Uma festa.
Era uma criatura
boníssima, de tradicional família do bairro Campo de Fora, onde possuía uma
ferraria, irmão de Manuel (Maneca) Fortes, também ele carnavalesco e igualmente Rei Momo
na década de 50.
Tonico era o queridinho
do público que sempre o aplaudiu entusiasticamente.
Era o rei em seu reino
de folia, democraticamente coroado sem concurso, desfilando aos seus súditos postados ao longo das
ruas do centro da cidade.
Pelo decreto nº 01 de
11 de janeiro de 1980, o então prefeito da Laguna Mário José Remor instituiu a
“Copa do Carnaval Lagunense”, denominada “Taça Antônio Ramos Fortes”, contemplando a
Escola de Samba que fosse campeã por três anos consecutivos ou cinco
alternados.
A tricampeã Vila
Isabel foi quem levou o troféu para sua sede.
A Taça foi uma
homenagem das mais justas, por se tratar de um dos mais idosos (à época),
ativos e perseverantes foliões em todo Brasil.
Fortes, apesar de suas
modestas posses financeiras, participava e colaborava em todas as festas
carnavalescas da Laguna, com absoluta imparcialidade, sem jamais pedir ou aceitar
qualquer ajuda do poder público ou do comércio para confecção de suas
indumentárias.
Jamais havia faltado
aos folguedos momescos e estava com mais de 70 anos com 60 ininterruptos
carnavais e festas populares, inclusive participando do teatro amador nos bons
e velhos tempos das apresentações no pequeno palco do prédio dos Vicentinos, ao
lado da Matriz Santo Antônio dos Anjos.
No final da década de
70, com minha primeira máquina, uma Kodak 54X instamatic, ainda em filme preto
& branco, o fotografei desfilando.
A qualidade da foto
não é muito boa, é cópia de cópia, tantos anos passados, mas é o único registro que tenho e penso
que serve para relembrar o nosso eterno Rei Momo Antônio Ramos Fortes, o Tonico
Fortes, de saudosa memória.
Antônio Ramos Fortes faleceu aos 74 anos,
em 22 de dezembro de 1981. Ao seu velório e funeral compareceu grande número de
pessoas, principalmente carnavalescos das Escolas de Samba e Blocos, numa demonstração
inconteste de como era estimado.
Lembro bem dele. Era uma simpatia.
ResponderExcluirQue linda homenagem ao meu avô! ! Vou tentar postar uma foto já colorida dele com a indumentária carnavalesca.
ResponderExcluirlinda homenagem ao meu avo
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