sábado, 25 de fevereiro de 2017

Tonico Fortes, nosso eterno Rei Momo, primeiro e único

O Rei do carnaval foi inspirado em Momo, na mitologia grega o Deus da galhofa, da irreverência e do delírio.
De temperamento zombeteiro, filho do sono e da noite e que, expulso do Olimpo por ridicularizar outras divindades, passou a viver no sub-olimpo promovendo festins de orgias.

A figura do Rei Momo no carnaval surgiu no Rio de Janeiro em 1933, data em que a festa foi oficializada.
Dizem os pesquisadores, que um cronista do jornal A Noite confeccionou um boneco de papelão que desfilou pelas ruas da cidade fazendo enorme sucesso e que depois foi colocado em um trono para reinar sobre a folia.

Mas os jornalistas e proprietários do jornal não ficaram contentes e no ano seguinte trataram de escolher uma pessoa para desempenhar o papel.
Foi escolhido o gordo Moraes Cardoso, brincalhão e gozador, responsável pela seção de turfe do jornal.
Ele reinou como primeiro e único até o carnaval de 1948, quando faleceu. Dali em diante o soberano da folia foi escolhido em concurso, oficializado por lei estadual e municipal.

Tonico Fortes, Rei Momo do carnaval da Laguna
Seguindo o Rio de Janeiro, Laguna também teve vários Reis Momos em nosso carnaval.
Um deles até hoje é lembrado, marcou minha infância e juventude e penso que a de muitos leitores deste Blog.

Ele era magro. Aliás, magérrimo, alto e de cabelos brancos (quando eu o conheci). Chamava-se Antônio Ramos Fortes, o Tonico Fortes, como era carinhosamente mais conhecido. Saudoso Rei Momo da Laguna, primeiro e único.

“Seu” Fortes compunha o inverso da imagem do Rei Momo tradicional, gordo e bonachão. Mas tinha samba nos pés o velhinho, com sua simpatia, calça e sapatos brancos.
Nos desfiles do pré-carnaval e mesmo na noite oficial do desfile das Escolas de Samba, Tonico Fortes desfilava à frente de todas as entidades carnavalescas, sempre fazendo malabarismos e rodopios com um pandeiro nas mãos ou um reco-reco.
Enquanto sambava, cantarolava repetidas vezes um estribilho de uma marchinha de carnaval, sucesso na voz de Joel de Almeida, o magrinho elétrico:
“É hoje só, amanhã não tem mais!...”

Em um carnaval – e depois repetiu sempre o adereço - apareceu com uma coroa cheia de lampadinhas piscando, uma novidade que arrancou aplausos e mexeu com a curiosidade de nós crianças. No ano seguinte trouxe lâmpadas também em seus sapatos brancos. Uma festa.
Era uma criatura boníssima, de tradicional família do bairro Campo de Fora, onde possuía uma ferraria, irmão de Manuel (Maneca) Fortes, também ele carnavalesco e igualmente Rei Momo na década de 50.
Tonico era o queridinho do público que sempre o aplaudiu entusiasticamente.
Era o rei em seu reino de folia, democraticamente coroado sem concurso, desfilando aos seus súditos postados ao longo das ruas do centro da cidade.

Pelo decreto nº 01 de 11 de janeiro de 1980, o então prefeito da Laguna Mário José Remor instituiu a “Copa do Carnaval Lagunense”, denominada “Taça Antônio Ramos Fortes”, contemplando a Escola de Samba que fosse campeã por três anos consecutivos ou cinco alternados.
A tricampeã Vila Isabel foi quem levou o troféu para sua sede.

A Taça foi uma homenagem das mais justas, por se tratar de um dos mais idosos (à época), ativos e perseverantes foliões em todo Brasil.
Fortes, apesar de suas modestas posses financeiras, participava e colaborava em todas as festas carnavalescas da Laguna, com absoluta imparcialidade, sem jamais pedir ou aceitar qualquer ajuda do poder público ou do comércio para confecção de suas indumentárias.

Jamais havia faltado aos folguedos momescos e estava com mais de 70 anos com 60 ininterruptos carnavais e festas populares, inclusive participando do teatro amador nos bons e velhos tempos das apresentações no pequeno palco do prédio dos Vicentinos, ao lado da Matriz Santo Antônio dos Anjos.

No final da década de 70, com minha primeira máquina, uma Kodak 54X instamatic, ainda em filme preto & branco, o fotografei desfilando.
A qualidade da foto não é muito boa, é cópia de cópia, tantos anos passados, mas é o único registro que tenho e penso que serve para relembrar o nosso eterno Rei Momo Antônio Ramos Fortes, o Tonico Fortes, de saudosa memória.

Antônio Ramos Fortes faleceu aos 74 anos, em 22 de dezembro de 1981. Ao seu velório e funeral compareceu grande número de pessoas, principalmente carnavalescos das Escolas de Samba e Blocos, numa demonstração inconteste de como era estimado.

3 comentários:

  1. Lembro bem dele. Era uma simpatia.

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  2. Que linda homenagem ao meu avô! ! Vou tentar postar uma foto já colorida dele com a indumentária carnavalesca.

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