terça-feira, 2 de junho de 2020

Morte de padre adiou festejos de Santo Antônio dos Anjos em 1984

Em 1984 a morte trágica de um padre adiou por uma semana os festejos em honra a Santo Antônio dos Anjos.

Sexta-feira, 1º de junho de 1984. O dia amanhece cinzento e frio na Laguna, a despeito do sol que teimava em brilhar.
Na noite anterior a cidade foi dormir mais tarde devido à carreata (então chamada de serenata) realizada a partir da meia-noite de quinta-feira pelas ruas e avenidas, percorrendo o centro e bairros.

São dezenas de automóveis circulando, com festeiros e demais fiéis promovendo a abertura de mais uma Festa em honra ao padroeiro da cidade, a ser realizada de 1º a 17 daquele mês e ano. Buzinas e foguetório marcam todo o trajeto.

Trágico acidente
Após as 10 horas da manhã daquela sexta-feira uma triste notícia, como um rastilho de pólvora, também vai percorrer a Laguna.
Um acidente automobilístico acontecido na BR-101 havia ceifado a vida do padre Luiz Agostinho Zocche Saccon, pároco auxiliar, ou vigário cooperador, como era então chamado, da Matriz Santo Antônio dos Anjos.
Incredulidade e tristeza geral no mundo religioso.

Logo chegou a confirmação. Sim, de fato, logo pela manhã, na BR-101, imediações de Imbituba e vindo de Florianópolis, padre Agostinho havia se acidentado com seu automóvel Voyage e uma carreta e, infelizmente, estava morto.

Padre Agostinho
Padre Agostinho. 
Foto: acervo de Victória Saccon Tramontin
Padre Agostinho, 30 anos, nascido em 24/12/1955, no hospital São Sebastião, em Turvo.
Foi batizado em 3 de janeiro de 1956 na paróquia de Turvo, pelo Frei Gregório Dalmont. Foram padrinhos Joaquim Lourenço (Victoria Saccon) Tramontin.
Era bastante conhecido no mundo católico da região sul e fazia um ótimo e elogiado trabalho, principalmente entre os jovens, faixa etária onde era muito querido. 
Havia sido ordenado padre em 20 de dezembro de 1982. Filho de Francisca Zocche Saccon e Domingos Valentin Fachin Saccon, moradores de Meleiro - SC, descendentes dos primeiros italianos que colonizaram a localidade.

Extremamente amigo e conselheiro, sempre estava postos a ajudar, estendendo a mão amiga em Cristo para retirar do mundo das drogas os que caíram no vício pernicioso e destruidor. 
Comandava a Pastoral da Juventude. E tinha apoio de Grupos de Jovens como a JUM - Juventude Unida do Magalhães, Macaro - Movimento Católico Marechal Cândido Rondon, da Vila Cohab do Portinho, e JUC - Juventude Unida Católica. Entre seus grandes amigos destacavam-se José Nazareno Duarte (Pisca), José Alves Fernandes (Mala) e Viviane Crippa.

Nosso amigo Mala relembra aqueles dias e de uma frase que lhe marcou:
"Quando batia o desânimo nos trabalhos em prol do próximo, principalmente pelo retorno de alguns jovens ao vício, padre Agostinho costumava aconselhar: 
- Não desanima, fé em Deus porque tudo tem conserto".


Sempre promovia os chamados “Retiros”, reunindo jovens da comunidade.
Padre Agostinho, com a família, quando de sua ordenação em 1982.
Foto: acervo de Victória Saccon Tramontin
No dia seguinte a sua morte, 2 de junho, um sábado, iria promover no Clube Blondin, às 20 horas, o “Primeiro Encontro da Perseverança”, no intuito da descoberta do jovem a si mesmo, a Cristo e aos que lhe são caros.

Ainda em 11 de maio, padre Agostinho reuniu vários amigos em sua residência. Animando o encontro, o seresteiro Manoel Silva com seu violão. Muitas pessoas de sua relação compareceram. Prefeito Mário José Remor, Oscar Pinho, Olga Cabral, Padre Marcos Herdt, Fernando Guedes, Licélio Freitas e Edgar Pereira, entre outros.

Velório foi realizado durante todo o dia na Matriz de nossa cidade com centenas de pessoas se despedindo, principalmente jovens. 
No fim de tarde, começo de noite, os lagunenses, a pé, de ônibus e carro, foram até o trevo de nossa cidade, cantando, rezando e balançando lenços brancos no último adeus. Seu corpo foi sepultado em Meleiro-SC.

Sábias palavras e conselhos
Alguns dias antes, Padre Agostinho disse a um grupo de adolescentes: “O jovem deve procurar em Santo Antônio um exemplo de união”, e “casado é quem bem vive”. Disse também que “Antes de querermos ter devemos ser”.

A última carta
Naquela tarde de quinta-feira, padre Agostinho entregou na redação do Jornal O Renovador uma matéria (carta) para ser publicada. Com o jornal praticamente fechado, o escrito somente foi estampado na semana seguinte a sua morte.

Eis, na íntegra:


Retiro Descoberta
“Aconteceu neste último fim de semana (quinta a domingo à noite), encerrando com a Santa Missa em São Ludgero, um Retiro entre 33 jovens de nossa comunidade.
Retiro Descoberta, de fato promoveu a descoberta do Jovem a si mesmo, a Cristo e aos seus que lhe são caros.
Entre eles haviam drogados, marginalizados com os quais iremos continuar a reuni-los e fazermos a perseverança da Descoberta do Cristo a Deixa da droga.
Primeiro Encontro de Perseverança será no próximo sábado, dia 2 de junho, às 20 horas, no Clube Blondin. Todos eles estão com muito amor no coração, amor a si, a todos os seus e a todos. Querem de fato viver essa Descoberta. Vamos ajudá-los.
Vai ser feito também um trabalho de crescimento, de ajuda, de aceitação com os pais e familiares desses jovens que tanto necessitam de ajuda.
Com muito amor no coração, agradecemos a todas as pessoas que nos ajudaram a realizar esse Retiro Descoberta. Eles se descobriram e também descobriram a Cristo. Vamos ajudá-los a viver esta descoberta e a Cristo em seus corações e em suas vidas. Contamos com todos vocês. Se o seu filho não é drogado, maior motivo para ajudar os que são.
Ajudando os outros, você estará ajudando um irmão seu que sofre e que Cristo sofre nele.
Nós contamos com ajuda de todos. Muito obrigado, com muito amor”. Assinado: Padre Agostinho

Premonição?
No dia anterior a sua morte, emocionou com suas palavras as pessoas do bairro Roseta (hoje Progresso) que compareceram ao velório de dª Doraci Tomázia (Dedinho) de Souza, uma das fundadoras da igreja Nossa Senhora Auxiliadora.
Na encomenda do corpo deixou muita gente impressionada ao ouvi-lo dizer:
“Aos parentes e amigos os meus pêsames sinceros. A Doraci Tomázia, parabéns que vai ao encontro de nosso Pai. Hoje, é a Doraci, amanhã poderá ser um de nós”.


Festejos adiados
Anúncio da Festa já com a data de sua realização alterada. Jornal O Renovador de 8 de junho de 1984.

Por causa de seu falecimento, a Festa em honra ao padroeiro daquele ano foi adiada, só iniciando na sexta-feira seguinte, 8, após a realização da missa de sétimo dia. Padre Agostinho estava escalado para ser o orador da primeira trezena.
Hoje é nome de Creche no bairro Progresso, na Laguna, e rua em Meleiro - SC.


Foram festeiros daquele ano:


Cláudio Dias de Castro Ramos (desistência), Adelaide Pinho Moreira, Celso Schambeck, Maria Salete Folchini Barreiros, Maurício de Paula Carneiro, Adamândia Andreadis, Geraldo Izidoro Barreto, Beatriz da Silva Bem, Carlos Gonçalves Netto, Maria Salete Bez Birollo Teixeira, Antônio Maiatte, Olímpia Algarves, Mário Luiz Spillere da Silva (Bau) (não aceitou o convite) e Adriana Nacif Carneiro.

PS:  Mesmo constando na programação divulgada, houve uma desistência dois meses antes; e uma não aceitação de convite, conforme acima. Na época não era usual a substituição de festeiros.
A pedidos, repito esta matéria, corrigida e ampliada, e publicada há cinco anos.

4 comentários:

  1. Agostinho, meu amigo do Seminário Nossa Senhora de Fátima em TUBARÃO nos anos 70, foi um excelente companheiro e fabuloso ser humano. É destes "Santos", como Agostinho, que a Igreja Católica precisa nos dias de hoje. Podemos até apostar o setor da espiritualidade Ele está trabalhando.

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  2. Ótima pesquisa. Desconhecia. Também era criança.
    Geraldo de Jesus

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  3. Lembro que a festa não foi mais a mesma. Havia uma tristeza nos festeiros e em muita gente católica. Ele era um ser de luz.
    Edison de Andrade

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  4. Amigo de seminário e também celebrou meu casamento, Iluminado 👐

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