Durante muitos
anos, décadas até, um pequeno marco construído em concreto e situado no Jardim
Calheiros da Graça, na Praça Vidal Ramos, foi referendado como sendo o Monumento
ao Tratado de Tordesilhas.
Guias turísticos
com seus grupos, principalmente a partir da década de 1970, comumente eram
vistos em indicações históricas e posando para fotografias no local.
Pessoalmente
assisti a muitas dessas cenas ao passar por ali. O próprio lagunense quando
indagado, indicava aos visitantes e estudantes, o histórico local.
E assim foi
até 1980.
Neste ano, numa crônica publicada no jornal “O Renovador”, o
professor Ruben Ulysséa explicou a origem deste marco, o seu surgimento.
E desfez o equívoco
de anos.
Ulysséa explicou
que em suas aulas no Ginásio Lagunense, no começo de sua carreira no Magistério
lá pela década de 1930, sugestionava aos seus alunos da necessidade de uma campanha
para construção de um monumento simbólico que assinalasse a passagem do famoso
meridiano.
Uma ideia que virou verdade
Também
apresentou a ideia aos sócios do então existente Centro Cultural Antônio
Guimarães Cabral. Todos acharam muito interessante, sobretudo Tupy Barreto, um
dos mais inteligentes e ativos sócios do Centro, sublinha o professor.
A ideia do
marco surgiu porque Rubem Ulysséa percebia que nos livros de História, quando
se chegava a esse capítulo, “Os historiadores sempre concluíam com a informação
de que a linha divisória estabelecida pelos delegados de Portugal e Espanha passava
ao Norte, por Belém do Pará; ao Sul, por Laguna, em Santa Catarina”.
“Aquela
informação, ressalta o professor, dava certo realce à velha cidade catarinense
e se constituía em mais uma curiosidade para os visitantes, embora ainda não se
falasse tanto em turismo”.
Mas a proposta
não foi adiante.
A origem do Marco
O professor
informa que em 1940 esteve na Laguna Victor Peluso Júnior, encarregado do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, para proceder ao
levantamento das coordenadas do município.
Após a
realização dos seus trabalhos, solicitou ao prefeito Giocondo Tasso a
construção de um marco de cimento na nossa principal praça, para colocação de
uma placa indicativa das coordenadas de nossa cidade.
E assim foi
feito. “Imaginava-se uma vistosa placa de bronze, em alto-relevo, trazendo as
coordenadas 28º 29’ 02” de latitude Sul e 48º 47’ 02” de longitude Oeste de
Greenwich”.
Qual nada. O
que se colocou no topo do marco foi uma “rodelinha de cobre” onde havia duas
linhas em cruz com as iniciais do Instituto.
E assim
passou-se o tempo.
Em 1948
realizou-se em Florianópolis o Primeiro Congresso de História Catarinense.
Ao término,
promoveu-se uma visita à Laguna, entre outros locais.
Em nossa
cidade, a comitiva, após visitar alguns locais, dirigiu-se ao Clube Blondin para um
almoço oferecido pelo prefeito Alberto Crippa.
Ao retornar de
sua casa em busca de seu discurso esquecido, o professor Ruben deparou-se com o
grupo de Congressistas no Jardim, ao redor do marco, batendo foto e fazendo
anotações.
No meio deles,
Tupy Barreto explicava que aquele marco era o de Tordesilhas, etc.
Professor
Ruben chamou-o de lado e indagou:
- Mas Tupy...
- “Não me diga
nada. Eles me perguntaram o que era aquilo e eu para não parecer ignorante das
coisas da terra, lembrando-me daquele seu papo lá no Centro Cultural, disse-lhes
que era o Marco que assinalava a passagem do Meridiano de Tordesilhas”.
Uma fake news
A falsa
informação espalhou-se – hoje diríamos uma fake-news que viralizou – e gerações
passaram anos acreditando ser ali o marco do Tratado.
Por incrível
que pareça, em 1956 - e que ainda nos conta é o professor Ruben - o IBGE lançou
uma coleção de monografias dos municípios do Brasil.
No capítulo
dedicado a Laguna informa que no “Jardim Calheiros da Graça acha-se a “Árvore
de Anita”, transplantada da quilha abandonada do lanchão Seival, uma das embarcações
que durante a Revolução Farroupilha, Garibaldi transportou da Lagoa dos Patos
ao oceano.
No mesmo
logradouro existe o Marco que fixa o ponto imaginário por onde passava o
Meridiano de Tordesilhas”.
E foi assim
até 7 de junho de 1975, quando na gestão do prefeito Francisco de Assis Soares
foi inaugurado oficialmente, com projeto do arquiteto Wolfgang Ludwig Rau, o
belo Monumento de Tordesilhas, próximo à Rodoviária, numa iniciativa da Loja Maçônica
Fraternidade Lagunense, através do irmão Salum Nacif e dos Clubes de Serviço Lions e Rotary de nossa cidade.
Mas ainda
hoje, para muita gente, o marco de cimento situado em nosso Jardim Calheiros
da Graça, simbolicamente ainda é o primeiro e antigo Monumento ao Tratado de Tordesilhas.
Não sabia dessa informação Valmir. Que história legal.
ResponderExcluirEdison de Andrade
Pois é. Foi uma história contada pelo professor Ruben que sempre achei interessante. Até porque passei anos da minha infância e juventude acreditando que ali foi o primeiro monumento. Só estranhava a falta de uma placa. E aquela moedinha com as iniciais do IBGE também era estranha. Mas se diziam... Fake News pura.
ExcluirNo meu tempo de Ginásio o Prof.Rubem Ulysséa também nos ensinava q aquele marco referir-se ao Ponto Zero do.municipio.
ResponderExcluirOutra coisa,o Monumento que se refere ao Tratado de Tordesilhas teve além do apoio do Prefeito e da Loja Fraternidade Lagunense sendo a iniciativa do Sr Salum Jorge Nacif.
Outros monumentos como os de homenagem a Giuseppe Garibaldi, Domingos de Brito Peixoto e Jerônimo Coelho.
Ainda bem o busto em homenagem a Clito Araújo.
Me afirmaram e o obelisco da pracinha no início da Al.Lamego era em homenagem aos que lutaram na Guerra do Paraguai.Confirmas?
Pena que você não se identificou. Mas vamos lá.
ExcluirRealmente Salun Nacif e seu grande amigo e irmão de Maçonaria Rau, batalharam muito pelos monumentos Tordesilhas, Jerónimo Coelho, Busto de Garibaldi e Estátua de Domingos de Brito Peixoto.
O de Clito Araújo o grande responsável foi o lagunense José Paulo Goulart, então presidente da Liga Defesa Nacional.
O Obelisco foi inaugurado em frente ao Museu em 1939 no centenário da República Catarinense. Mais tarde foi afixada uma placa com os nomes dos Voluntarios lagunenses na Guerra do Paraguai. Esses monumentos já foram abordados aqui no Blog, estão nos arquivos e é só procurar. Em meu livro " Mario José Temor Retrato de uma época" abordo a maioria deles. Até porque foram inaugurados no governo de Remor. Com exceção do Tordesilhas.
Agradeço a leitura.
Walmir,no obelisco havia uma placa, pequena,colocada pelos Lagunense residentes em Tubarão,em referência a uma data , não sei qual.Ainda existe,?
ResponderExcluirAssinado,: Carlos Augusto Baião da Rosa
Abraços e bom fim d semana que pelo jeito vai ser propício a um vinho.
Meu caro am8go Baião. Em 2018 fiz uma matéria grande sobre o Obelisco. Está nos arquivos. Infelizmente só sobrou uma pequena placa. As outras levaram.
ExcluirTrouxe as fotos na matéria do Blog.
Bom vinho.e Abraço.
Quando eu lecionava no Menino Jesus, todos os anos, levávamos as crianças da terceira série para visitar Laguna. Elas ficavam impressionadas com o monumento Marco de Tordesilhas. Os comentários eram interessantes. Algumas fechavam os olhos para imaginar a linha nas terras brasileiras, passando ali e pulavam de um lado para outro: vou para Espanha! Vou para Portugal!
ResponderExcluirÉ verdade Zuleida. Essas cenas ainda se repetem. E quando a gente passa por ali vê muito disso nos grupos de visitantes. (Antes da pandemia, claro). Abraço
ExcluirMais uma aula Valmir. Por isso que esse Blog fez falta.
ResponderExcluirAbraços.