Como
o mundo, Laguna também sofreu a pandemia da chamada gripe espanhola, em 1918. A doença apareceu em nossa cidade “sorrateiramente, sem ninguém esperar”. Os primeiros casos se deram em 4 de novembro daquele ano. Calcula-se em 130 o número de mortos, entre adultos e crianças. As vítimas fatais eram de cinco a dez pessoas diariamente.
No mundo
Estima-se
que a pandemia da gripe espanhola tenha matado de 20 a 40 milhões de pessoas em
todo o mundo, atingindo 50% da população mundial.
A
doença aconteceu em três ondas, sendo a primeira entre março e abril de 1918.
Há
quem afirme que a origem da doença teria sido a Ásia ou o interior dos Estados
Unidos.
Sobre
o termo “espanhola”, atribui-se ao fato de que, a Espanha, que foi neutra durante
a 1ª Guerra, reconheceu primeiramente a pandemia e divulgou informações sobre
ela para o mundo.
No Brasil
Historiadores
dizem que a doença teria chegado ao Brasil em setembro de 1918, através do porto do Recife, a bordo do navio
Plata, com marinheiros que prestavam serviço militar na África.
Outros
defendem que a doença chegou a nosso país na data exata de 9 de setembro de 1918, a bordo do
navio inglês SS Demerara, que partiu da Inglaterra e fez escalas em Lisboa,
Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
Os primeiros relatos na imprensa brasileira realmente se deram no nono mês do ano.
Os primeiros relatos na imprensa brasileira realmente se deram no nono mês do ano.
De
setembro a dezembro de 1918 a gripe assolou o Brasil.
A doença se espalhou por todo o território brasileiro, atingindo principalmente
São Paulo e o Rio de Janeiro.
Estima-se
que 65% da população do Rio de Janeiro adoeceu, com cerca de 15 mil mortes.
Entre
os mortos, para alguns autores, estaria o presidente eleito do Brasil, Rodrigues Alves, mas há contradições; e o poeta Olavo Bilac.
No
país todo, a gripe espanhola matou cerca de 300 mil pessoas, mas especialistas
consideram este número abaixo da estatística real.
Em Santa Catarina
Historiadores
aceitam que a gripe espanhola chegou a Santa Catarina em 6 de outubro de 1918,
a bordo do vapor Itaquera, que atracou em Florianópolis trazendo 38 passageiros
gripados.
Já
no dia 19 de outubro o jornal "O Estado" pela primeira vez anunciava a presença da epidemia, mas
ainda frisava seu caráter benigno.
Dias
depois a população de Florianópolis foi tomada de terror e pânico.
Conforme
relatos oficiais, a doença causou 124 mortes na Ilha de Santa Catarina,
infectando 10 mil dos seus 36 mil habitantes.
Laguna,
Itajaí e São Francisco do Sul, cidades portuárias também foram duramente
atingidas pela epidemia.
Na Laguna
A
gripe Espanhola em 1918 apareceu na Laguna “sorrateiramente, sem ninguém
esperar”.
Os
primeiros casos da gripe em nossa cidade se deram em 4 de novembro daquele ano,
conforme registra "O Albor" de 26 de janeiro de 1919.
O
número de pessoas atingidas foi de 2/3 da população da época, diz o mesmo
jornal. Como a população da Laguna, conforme IBGE - Censo Demográfico de 1920 era
de 27.573 habitantes, mais de 18 mil pessoas teriam sido atingidas.
Calcula-se
em 130 o número de mortos, entre adultos e crianças. As vítimas fatais eram de
cinco a dez pessoas diariamente.
Do
Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos saíam pela manhã, em carroças em direção
aos cemitérios, dezenas de corpos das pessoas falecidas à noite.
Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos Laguna. Década de 1910. |
Enfermarias
lotadas, todos os leitos ocupados. Nos corredores pacientes deitados em
esteiras pelos corredores.
Um
Posto de Socorro foi montado na sede da Loja Maçônica Fraternidade Lagunense,
então situada na Praça Vidal Ramos. Os salões dos Clubes Blondin, Congresso
Lagunense, Anita Garibaldi e 3 de Maio, também foram utilizados.
O
Lazareto situado no Morro do Iró também foi ocupado.
O
comércio foi paralisado. A cidade ficou com aspecto desolador.
Falecimentos
de comerciantes, profissionais liberais, operários, armadores. A gripe não distinguiu
classes, nem sexo, nem idade. Atingiu a todos, indistintamente.
Os
funcionários da Agência dos Correios da Laguna foram atingidos, paralisando por
completo o tráfego postal em todo o sul do estado. Funcionários tiveram que ser
deslocados de Florianópolis para substituí-los.
Na Praça Vidal Ramos, entre o Cine Palace (depois Cine Arajé) e o Clube Blondin (hoje Iphan) a sede da Loja
Maçônica Fraternidade Lagunense, transformada em Posto de Socorro aos infectados pela gripe.
O prédio da maçonaria posteriormente foi demolido para construção do palacete de João Guimarães Cabral. E a edificação do cinema, depois Rádio Difusora, ruiu nos anos 80.
O prédio da maçonaria posteriormente foi demolido para construção do palacete de João Guimarães Cabral. E a edificação do cinema, depois Rádio Difusora, ruiu nos anos 80.
***
As
escolas isoladas do município ficaram sem frequência e, no maior estabelecimento, o
Grupo Escolar Jerônimo Coelho, no centro da cidade, todos os professores e funcionários
ficaram doentes.
Damas
de Caridade, Tiro 137 e Irmãs da Divina Providência do Hospital e do Colégio
Stella Maris, além de dezenas de pessoas da nossa sociedade, ficaram à frente
da batalha contra o mal.
O
Grupo de Escoteiros da Laguna também vai participar ativamente do auxílio aos
necessitados. O instrutor do Grupo, René Rollin, será uma das vítimas da
pandemia, cuja morte causou profundo abalo na sociedade lagunense.
Vendo-se
contaminado pela doença, Rollin despediu-se da família e partiu sozinho, a pé pelo
morro em direção ao Lazareto. (Para ler a história de René Rollin clique aqui).
Os
médicos Aurélio Rotolo (pai) e Ismael Ulysséa também foram contaminados. Dr.
Ismael, inclusive, perdeu uma filha para a terrível moléstia.
Em
minhas pesquisas, não encontrei em nosso Arquivo Público (quando ainda
funcionava) qualquer documento sobre a pandemia, como relatórios, fichários,
correspondências, etc.
O
jornal "O Albor" não circulou na maior parte do ano de 1918. Bem por isso faltam
relatos jornalísticos semanais da epidemia e suas mortes, acontecida no dois últimos meses daquele ano.
Quando
este jornal retornou, o pior tinha passado e já estávamos em fins de janeiro de
1919.
Em
26 daquele mês, o jornal trouxe ampla reportagem (e a única) sobre o lamentável
ocorrido, sintetizando os principais fatos, sob o título “A pandemia da influenza – Considerações retrospectivas”.
Para ler a matéria na íntegra clique aqui.
Para ler a matéria na íntegra clique aqui.
Penso que é um documento histórico importante, um verdadeiro relatório sobre a pandemia em nossa cidade e que melhor traduz o que aconteceu naqueles tristes dias.
O
jornal registrava:
“A
calma e a tranquilidade voltaram finalmente aos lares lagunenses.
Depois
de tantos dias penosos, em que tudo ficou abalado, como se um verdadeiro ciclone
tivesse caído sobre a nossa cidade, os corações mais desafogados tomam seu
ritmo normal e os pulmões, quase que comprimidos pela areia das notícias
dolorosas recomeçam a respirar com maior liberdade”.
Na
citada matéria ainda afirma-se que “Os primeiros casos de gripe espanhola na
Laguna foram constatados em 4 de novembro de 1918”.
Em
meados de dezembro de 1918 já cessavam os casos de gripe na Laguna.
Cerca
de um mês e quinze dias haviam se passado desde a primeira ocorrência.
Por
ser cidade portuária, o vírus deve ter vindo a bordo de algum vapor proveniente
de praças maiores, como a do Rio de Janeiro, onde a epidemia atingiu grandes
proporções. Ou Santos, Paranaguá ou a capital do
estado, Florianópolis, cidades atingidas dias antes.
“130 mortes, entre crianças e adultos”
No
livro “A Trajetória da Enfermagem na
cidade de Laguna”, editora Nova Letra, 2005, as autoras, Cinthia Ferreira
Corrêa Vieira, Maria Heloísa Fernandes e Regina Ramos dos Santos, informam que
“Em 1918, a cidade foi atingida pela gripe pandêmica conhecida como
“espanhola”.
Houve
cerca de três mil casos, tendo sido registrados 130 óbitos, entre crianças e
adultos”.
Enfermaria do Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos - Laguna. Sem data. Acervo Hospital. |
A
maçonaria, informa Marega, tinha sua antiga sede, hoje não mais existente, num
casarão situado na Praça Vidal Ramos, entre o prédio do Cine Palace e o antigo
Clube Blondin.
De fato, como se pode constatar nos jornais e
relatórios publicados na época, a sede da Maçonaria lagunense foi transformada
em Centro de Atendimento aos atingidos pela gripe, um Posto de Saúde.
Gripe apareceu na Laguna “sorrateiramente
e sem ninguém esperar”, diz jornal
No
jornal “A Nota”, de 16 de janeiro de 1919, editado em nossa cidade, de
propriedade de Hugo Brinck Fischer, em matéria de capa podemos ler:
“Um
dia fomos informados por intermédio de um lacônico telegrama de ter aparecido
na capital da República (Rio de Janeiro), alguns casos de uma moléstia que
grassava intensamente na Europa, fazendo milhares de vítimas diariamente,
denominada “Influenza Hespanhola”.
O
medo, essa mortal tristeza que nos invade a alma, segundo a frase de Múcio
Teixeira, assolou os corações dos habitantes de nossa histórica terra que ao
terem conhecimento do novo e aterrorizante flagelo, preces sem número ergueram
ao Onipotente a fim de conjurar o mal ameaçador.
E
os dias se iam assim passando monotamente, quando sorrateiramente e sem ninguém
esperar, os primeiros casos da “Hespanhola” apareceram em nosso meio, rotulados
com a etiqueta de “benigna”!
Corações
nobres, almas bem formadas manifestaram-se e a fim de auxiliar a exterminação
da fatal moléstia, não trepidavam, mesmo com o sacrifício da própria vida.
Aqui,
um grupo de destemidos escoteiros carregando em padiola um gripado moribundo;
ali um Atirador sobraçando vários embrulhos para distribuir aos pobres
necessitados; mais além, num trabalho extenuante, a percorrer casas assoladas
pelo mal, Damas de Caridade, no apostolado de sua missão, iam distribuindo as
esmolas recebidas e confortando com palavras carinhosas os infelizes doentes.
Santa
e sublime caridade.
Na
Loja Maçônica é instalado um Posto de Socorro, lá se veem homens, senhoras e
senhoritas numa atividade extraordinária a socorrer os míseros gripados.
Mas...
horrível contraste.
Enquanto
assim procediam esses abnegados, cá fora nos cafés e esquinas de ruas,
desocupados emprestavam numa crítica torpe e nojenta, levando a censurar estes
e a menosprezar àqueles, porque desprendidos trabalham para suavizar a terrível
praga que diariamente vai ceifando vidas tão preciosas”.
O relato de Agenor Bessa
Agenor
Bessa numa crônica publicada no jornal “O Renovador” de 9 de dezembro de 1983,
narra sobre a “espanhola” em nossa cidade. Ele foi testemunha ocular dos
fatos, mesmo em tenra idade. Nascido em 1908, tinha, portanto, 10 anos à época:
“Laguna foi atingida pela epidemia antes de
dezembro de 1918. Não houve uma casa em que o germe não entrasse e, por vezes,
atingindo todas as pessoas da família.
Do
Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos saíam quase que diariamente numa carroça,
para os cemitérios, pessoas que haviam falecido durante a noite.
As
enfermarias se achavam lotadas e além de todos os leitos ocupados com gente em
tratamento, também nos corredores eram vistos pacientes em esteiras pelo
assoalho, homens, mulheres e crianças que, por força da conjuntura, eram hospitalizados.
Laguna,
nessa época era atendida pelo dr. Aurélio Rotolo e pelo dr. Ismael Ulysséa.
Ambos foram atacados pela “espanhola” que os surpreendera, afastando-os de
quaisquer atividades.
O
sr. Manoel Olavo da Rosa, farmacêutico que receitava aos pobres e o sr.
Henrique Esteves, médico homeopata, também foram recolhidos ao leito, ficando a
Laguna dependendo apenas do sr. Tácito Pinho, farmacêutico que receitava abertamente,
mas que não dava conta do serviço”.
Agenor
dos Santos Bessa, continuando o seu valioso relato, cita diversos nomes que
auxiliaram no combate à epidemia. Ele ressalta:
“Quero
abrir um parágrafo para louvar o trabalho dos escoteiros, daquela saudosa
Escola Regional dos Escoteiros da Laguna, como dr. Ramiro Ulysséa, Erlindo
Amboni, Bruno Tasso, Armando Carneiro, Murilo Carneiro, dr. Agenor Carneiro,
Jayme Carneiro e Célio Rollin.
Também,
sem deixar desmerecer muitas outras pessoas, cujos nomes já estão esquecidos,
assim os trabalhadores da Superintendência (prefeitura à época), como seu
Jeremias, Cecilino, Luiz Baeta, Neco Leonardo e João Barraca.
Ainda
era encarregado da desinfecção das ruas, o Lindolfo Perfeito da Silva, que
talvez nem seus parentes Ned Silva e Afonso Prates da Silva, tenham o
conhecido, pois estou perfeitamente lembrado de que ele, no final dos dias
chegava a nossa casa, para participar a meu pai, de quantas ruas ele havia
percorrido na carrocinha com as latas de alcatrão que havia sido queimado”.
Agenor
Bessa, sempre é bom lembrar, é filho de Antônio Bessa, proprietário do jornal "O
Albor", e superintendente em exercício da Laguna naquela época. O titular era
Oscar Pinho.
O
nosso saudoso “seu” Agenor, relembra, por fim, que ele mesmo foi atingido pela
gripe:
“Não
sei como tive tanto sangue para expelir pelas narinas. As minhas horas estavam
contadas, mas... teríamos que ficar mais tempo aqui, se havia contas a prestar
com o mundo...”.
Agenor
Bessa faleceu em 13 de março de 1994, com 85 anos e 76 anos após a gripe
espanhola.
Médico na Laguna há 100 anos recomendava
isolamento social e uso de máscaras
Em 5 de outubro de 1919, portanto dez meses após a pandemia em nossa cidade, o dr.
Aurélio Rotolo publicou no jornal "O Albor" extenso e importante trabalho intitulado “Boletim Médico – Teremos outra epidemia de
Influenza?”. Para ler o documento na íntegra clique aqui.
O título tinha sua razão de ser. A população novamente estava alarmada com o aparecimento de novos casos de gripe.
O título tinha sua razão de ser. A população novamente estava alarmada com o aparecimento de novos casos de gripe.
Mas
era gripe comum.
Dr.
Aurélio faz recomendações e aconselha o uso de máscaras e o isolamento social.
Nada muito diferente do recomendado atualmente pelos especialistas da área.
Mas
são sugestões feitas na Laguna há mais de um século!
No jornal O Estado, o registro quase
que diário sobre a gripe Espanhola na Laguna
O
jornal "O Estado", editado em Florianópolis, a partir de 18 de novembro de 1918,
numa pequena nota, fez o primeiro registro da epidemia em nossa cidade.
Desta
data em diante, um correspondente daqui enviou quase que diariamente os últimos
acontecimentos sobre a pandemia na Laguna.
São notas históricas a quem recorro – na falta de maiores
documentos - trazendo-os reproduzidos aqui. Só atualizei a ortografia:
Jornal O Estado 18 de novembro de 1918
A influenza Hespanhola - Na Laguna 500 casos
"A
gripe está se alastrando consideravelmente na cidade e arrabaldes.
Avalia-se
em quinhentos o número de casos, todos felizmente de caráter benigno.
Até
hoje se deram dois casos fatais”.
Jornal O Estado 19 de novembro de 1918
A peste na Laguna
“A
epidemia recrudesce assustadoramente, existindo já mil casos.
De
ontem para hoje registraram-se sete casos fatais.
A
municipalidade, de acordo com as Damas de Caridade, age com solicitude.
O
superintendente fiscaliza pessoalmente todo o serviço de Assistência.
O
posto Municipal funciona na Maçonaria.
Os
Clubes Congresso Lagunense, Blondin, 3 de Maio e Anita Garibaldi ofereceram os
seus edifícios para tratamento dos doentes.
A
cidade tem um aspecto desolador.
O
dr. Rotolo está doente de gripe, o dr. Vasi e o doutorando Manoel Pinho tem
sido incansável em atender os doentes pobres.
O
Tiro e principalmente os escoteiros têm prestado relevantes serviços”.
Jornal O Estado 21 de novembro de 1918
A peste grassa intensamente na Laguna
“Existem
atualmente aqui 1.500 casos de influenza espanhola.
Só
ontem para hoje verificaram-se mais de 9 casos fatais.
Os
doentes da penitenciária estão recebendo socorros.
Tácito
Pinho tem sido incansável no serviço de assistência aos enfermos pobres,
merecendo por isso os mais vivos aplausos”.
Jornal O Estado 22 de novembro de 1918
2.000 casos de peste na Laguna
“Já
existem aqui 2.000 casos de influenza espanhola.
O
comércio está paralisado.
A
cidade está consternada pelo falecimento do benquisto lagunense Júlio Horn,
escrivão do crime, e pelo estado gravíssimo da estimada senhorita Leonor
Ulysséa, filha do humanitário dr. Ismael Ulysséa.
No
meio do desolamento geral motivado pela moléstia, conforta o devotamento de
inúmeras senhoritas, cavalheiros, atiradores, escoteiros e as Damas de
Caridade, que dia e noite trabalham no serviço de socorros, mostrando-se
incansáveis em atender os doentes.
Esse
serviço tem sido irrepreensível, evitando desse modo maior mortalidade”.
Jornal O Estado 23 de novembro de 1918
A peste da guerra grassa intensamente
na Laguna
“A
epidemia continua na sua faina, vitimando cinco a seis gripados diariamente!
Faleceu
a distinta senhorita Leonor Ulysséa, dileta filha do ilustre facultativo sr.
dr. Ismael Ulysséa.
A
notícia da sua morte repercutiu dolorosamente pela cidade, que sofre uma
pressão angustiosa. A terrível moléstia está se alastrando para o interior com
grande intensidade”.
Jornal O Estado 26 de novembro de 1918
A gripe ataca os empregados do Correio
da Laguna
“O
sr. Major Adolfo Leon Salles, digno administrador interino dos Correios,
recebeu ontem o seguinte telegrama:
Laguna, 25 –
Administrador Correio – F’polis – Funcionários agência aqui atacados influenza.
Favor
providenciar vinda de empregados substitui-los. Saudações – Thomaz Netto,
Superintendente e, exercício.
(O
titular Vicente Góes Rebello, estava afastado por causa da gripe. N.A.).
Segundo
nos informaram o tráfego de malas postais no sul do estado acha-se
completamente paralisado, por estar fechada a agência da Laguna, que serve de
intermediária entre a administração e todas as demais agências daquela zona.
Diante
dessa situação difícil o sr. Adolfo Leon Salles resolveu comissionar dois
empregados, que seguirão amanhã cedo no “Max” para Laguna, a fim de tomarem
conta da agência daquela cidade, regularizando o tráfego de malas.
Esses
funcionários são os srs. Oswaldo Salles e Altamiro Guimarães, respectivamente
praticantes de 1ª e 2ª classes”.
***
A peste na Laguna (Pág. 2)
“Embora
o posto de socorro afirme que está a diminuir o número de casos novos de gripe,
a situação continua angustiosa.
A
peste vitimou o negociante João Estevam Soares e a viúva de Roberto Scheifler”.
Jornal O Estado 28 de novembro de 1918
A peste na Laguna
“Rarearam
os novos casos de gripe.
A
cidade pouco a pouco volta ao seu estado normal.
É
grande o número de convalescentes que passeia pelas nossas ruas.
Hoje
faleceram seis pessoas continuando ainda a média de letalidade de cinco a seis
diariamente”.
Jornal O Estado 2 de dezembro de 1918
A gripe está ceifando vidas na Laguna
“Continua
aqui a epidemia na sua faina, dizimando não cinco, como telegrafei, mas dez
pessoas diariamente.
Necessita-se
de médicos para atender todos os atacados da gripe”.
Jornal O Estado 4 de dezembro de 1918
A peste da guerra na Laguna - Mais
nove vítimas – o Grupo fechado – As escolas sem frequência
“A
peste da guerra continua grassando intensamente nesta cidade.
Hoje
registraram-se mais nove casos fatais. O grupo Escolar Jerônimo Coelho está
fechado há dias, visto os professores e empregados se acharem doentes.
As
escolas isoladas estão sem frequência.
O
estado sanitário atual da cidade desorganizou tudo!!”.
Jornal O Estado 14 de dezembro de 1918
A espanhola na Laguna mata o fundador
do Escotismo no estado
Jornal O Estado 16 de dezembro de 1918
A "espanhola" da Laguna
“Os
últimos casos de gripe tem tido caráter grave.
Hoje
faleceu a gentil senhorita Mimi Teixeira, filha do bondoso Ulysses Teixeira.
Realizou-se
o sepultamento de Renê Rollin, cujo corpo estava vestido com o uniforme de
escoteiro.
O
ato foi muito concorrido, prestando a Escola de Escoteiros homenagens ao seu
fundador”.
Cessam as notícias
E
com a nota acima, cessam as notícias da nossa Laguna quanto à epidemia da gripe
espanhola, o que leva a crer que os casos tenham praticamente desaparecidos.
Nos jornais da época constata-se que em Florianópolis a vida voltava ao normal, com
realizações de retretas, peças teatrais, competições náuticas, missas e
comércio reaberto.
O
que se sucedeu também na Laguna.
Com
a aproximação do Natal de 1918 e o Ano Novo de 1919 somem como por encanto as
notícias sobre a gripe nos jornais. Não há uma nota sequer no jornal "O Estado."
No jornal "O Albor", com exceção da matéria retrospectiva de janeiro de 1919, somente foi publicado o relatório do dr. Aurélio Rotolo dez meses depois, em outubro daquele ano.
O assunto desaparece da agenda da imprensa lagunense e catarinense.
Era como um esquecimento proposital daqueles tristes dias que enlutaram tantas famílias.
No jornal "O Albor", com exceção da matéria retrospectiva de janeiro de 1919, somente foi publicado o relatório do dr. Aurélio Rotolo dez meses depois, em outubro daquele ano.
O assunto desaparece da agenda da imprensa lagunense e catarinense.
Era como um esquecimento proposital daqueles tristes dias que enlutaram tantas famílias.
Seria
a racionalização da perda, o ajustamento de perspectivas do luto, de que tanto
falam os psicólogos? Uma catarse coletiva?
De qualquer maneira, bem diferente da enxurrada de notícias dos dias atuais, sobre o Covid-19, com seus números
cruéis, estatísticas, entrevistas, imagens de hospitais e sepultamentos, transmitida diariamente, ao vivo, e atravessando meses.
Triste mas foi a primeira vez que li sobre a gripe espanhola em Laguna. Bem pesquisado.
ResponderExcluirGeraldo de Jesus
E a história se repete, exatamente do mesmo jeito. Chamou-me a atenção, que nas reportagens da época, não foi citado um nome de mulher, que tenha se destacado nos trabalhos para ajudar a comunidade. É uma pena, assim, ficamos sem saber o nome das valorosas lagunenses da época.
ResponderExcluirPois então minha amiga. Nós jornais e documentos não constam nomes femininos. Uma pena. Imagine a sociedade machista da época. Lembrando que mulher nem votava em 1918.
Excluir
ExcluirMuito bem observado Zuleida, percebi isto também!
Sociedade não mudou muito desde aquela época na verdade, ainda mais agora com “exemplo” que temos.
Ótima pesquisa, Valmir. Sempre queria saber como foi a gripe em nossa cidade. E foi rápido um mês e pouco e matou tanta gente. E o doutor Aurélio já dando conselhos iguais os de hoje em dia. Uso de mascaras e isolamento. Ainda não existia álcool em gel. Se usava alcatrão vejam só. Agenor Bessa contou bem como foi. Parabéns. Matéria da gente guardar.
ResponderExcluirEdison de Andrade
Ótima pesquisa. Nunca li sobre a gripe espanhola nos jornais de Laguna. Como morreu gente meus Deus.
ResponderExcluirJosé de Abreu Fonseca
Notem vocês também que faltam mulheres escrevendo nos jornais da época. Os jornalistas são todoshomens. Temos que contextualizar a época.
ResponderExcluirHélio de Almeida - Florianópolis
Parabens pela reportagem. E ótima pesquisa um documento histórico
ResponderExcluirUma verdadeira aula. Parabéns Valmir.
ResponderExcluirSr. Valmir, boa tarde! Sou historiadora, estudante de Saúde Coletiva, e adorei sua matéria. Estou procurando o relatório do Dr. Rotolo que você cita no antepenúltimo parágrafo do texto, além do Renovador 9 de dezembro de 1983 em que você cita a entrevista de Bessa. Fiquei curiosa em ler os artigos na íntegra. Teria como compartilhá-los? Parabéns pelo trabalho!
ResponderExcluirFaltou se identificar. Mas no capítulo final (IV) sobre a Epidemia da Gripe Espanhola trago na íntegra o Relatório do médico Rótolo.
ExcluirEis o link:
https://valmirguedes.blogspot.com/2020/06/ha-mais-de-100-anos-medico-na-laguna-ja.html
Agradeço a leitura.
Sou filho de Lagunenses, minha família é da Ponta da Barra e sempre que fui ao nosso cemiterio, fiquei intrigado com uma lapide muito antiga em marmore onde está registrado o falecimento de uma senhora chamada Maria Vaccari que nasceu por volta de 1850 e faleceu em 1918.Digo intrigado porque em nossa comunidade não se tem registro de famílias com esse nome.
ResponderExcluir