quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Nossos heróis morreram todos

Semana passada morreu um dos ídolos das crianças e adolescentes das décadas de 60 e 70.
Ted Boy Marino, aos 72 anos, o Rei do “telecatch”, faleceu no Rio de Janeiro, durante cirurgia emergencial por insuficiência vascular aguda.
Ídolo e herói de verdade, de carne e osso e não os de gibis e filmes na televisão e cinema.
Seu nome verdadeiro era Fuscaldo Marina. Nascido na Calábria, emigrou para a Argentina com a família aos 12 anos num porão de navio. Trabalhou com engraxate e nas horas vagas treinava luta livre e halterofilismo.
Em meados da década de 60, já tendo participado de lutas livres na Argentina, chegou ao Brasil, logo participando do telecatch por aqui. Por sua pinta de galã virou herói da garotada. Foi capa de revistas, entrevistado por inúmeros programas de TV e rádio e de tão famoso não podia sair na rua.

As lutas de telecath Montilla começaram na extinta TV Excelsior e já em 1967 passaram para a Globo, retransmitida aqui pela TV Gaúcha com seus chuviscos, faixas de horizontal viradas (duplas, triplas) e linha vertical correndo irritante. A todo o momento tínhamos que ajustar a imagem através daqueles botõezinhos do aparelho ou então aumentar a tensão do estabilizador que ficava ao lado ou sob a mesinha de fórmica. Lembra? Lembra mesmo? Meu Deus, como já somos antigos! Estante, rack vão surgir mais tarde.
Depois o programa foi parar na TV Tupi até 1972 e em seguida entrou em declínio. Captávamos os sinais da emissora, através da TV Piratini, de Porto Alegre.

(Ted Boy fez parte da primeira formação dos Trapalhões, cujo nome ainda era Adoráveis Trapalhões, programa criado por Wilton Franco e que contava com Wanderley Cardoso, Ivon Cury e Renato Aragão. Sucesso tão grande que o programa foi comprado da Excelsior pela Globo).

Era um tempo que mocinho era mocinho e bandido bandido, por isso sabíamos para quem torcer. Tudo era claro, direto, objetivo. A vida era mais fácil porque dicotômica, preto no preto, branco no branco, não havia meio tons, não tinha essa de viver em cima do muro, indeciso, sem saber para que lado. E não se podia trocar de partido, de escola de samba nem time de futebol. Quem assim o fizesse era considerado traidor, um covarde e expurgado da turma com a alcunha de frouxo.
Hoje em dia...

O programa passava aos sábados à noite e rara era a família que não o assistia. Na TV Gaúcha recebeu o nome de Ringue 12, fazendo referência ao número do canal.
Lembro que lá em casa, na rua Voluntário Benevides, a pequena sala ficava cheia de gurizada amiga da vizinhança – os televizinhos – porque até então poucos possuíam o aparelho. O nosso era um Empire Bonanza, à válvula e preto & branco, evidentemente, montado peça a peça pelo meu pai.

As lutas eram todas armações, de brincadeirinha. Não se lutava de verdade, era um circo, um teatro, um verdadeiro balé. Não havia sangue e passava bem longe das sangrentas lutas do MMA de hoje, com seus Andersons Silvas.
Mas era tão bem representado por aqueles artistas que tudo parecia tão real. E houve até um álbum - Astros do Ringue - com as fotografias de todos eles, com as figurinhas aqui na Laguna sendo compradas na banca do Chico, bem ali defronte ao Cine Mussi.

Álbum de figurinhas
Verdugo, Rasputim, Fantasma, Tigre Paraguaio, Barba Negra, Gladiador, Aquiles, Múmia, Diabo Loiro eram alguns nomes dos lutadores.
Aquiles, Rasputim e Ted Boy Marino eram os mocinhos, os outros todos vilões.
Havia também o Fantomas com sua máscara, seus braços estendidos e arrastar de perna, que nunca sabíamos de que lado estava, porque não se decidia. Frio, calculista. Ficava sempre em cima do muro. Ora era situação, em seguida passava à oposição. Bem assim como alguns atuais políticos lagunenses.

Ted Boy tinha um golpe – o meu preferido - chamado tesoura voadora que arrancava aplausos da galera. Hoje me pergunto como fazia aquilo sem quebrar o pescoço do adversário.
Outro golpe também era subir às cordas e pular no corpo do lutador que já estava prostrado na lona. Eram segundos de angústia na espera da armação. Quando era um mocinho que se encontrava assim, tipo o Ted Boy, o oponente se dava mal porque no último instante ele se virava, mudava de lugar e o bandidão se estatelava no tablado, retorcendo-se de dor. Uau! Bem feito!

Após o programa ou no outro dia a garotada queria imitar os golpes e todo mundo, evidentemente, queria ser o mocinho. Era difícil alguém representar um bandido. Pudera! Ia apanhar de todos. Mesmo assim muitas escoriações e luxações aconteceram pelos quintais e ruas e em alguns casos agravadas pelas surras quando chegávamos a nossas casas.

Depois, nossos mundos de faz-de-conta deixaram de ser. Mas penso que ainda hoje em nossos subconscientes vivemos procurando heróis que nos salvem de apuros. Em super-homens que nos libertem de encrencas e que ajudem a nossa cidade, estado e país a serem melhores para seus habitantes.
Tentamos, em vão, ainda distinguir bandidos de mocinhos.
Temos escolhido, de dois em dois, de quatro em quatro anos, mas como nos enganamos!

***
Graças à maravilha da tecnologia e ao Youtube, podemos rever algumas cenas daquela época.

3 comentários:

  1. Lembro muito bem destas lutas ,tinha mais audiência que as novelas e eram muito mais empolgantes,e a panarfenalia para assistir uma TV era incrivel,mas passando 40 anos o chuvisco continua o mesmo.
    jorge edu

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  2. Lembro-me muito bem destas lutas e que tinha grande audiência. Eu deixava tudo para assistir aos golpes acrobáticos dos lutadores. o Ted Boy, Hércules, Tigre Paraguaio, Jawa o maravilha negra, assim chamado, eram os meus preferidos. Sinto sim, saudades.

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  3. Então eu assisti várias lutas dessa época TV preta e branca não perdia eu nasci em 1970 a maioria morreu desses lutadores Ted boy Marino volp trigueiro paraguaio Homem Montanha Gran Caruzo agora sobre Hércules já não ouço notícias eu já pesquisei e não sei nada se é vivo até hoje alguém sabe notícias me informe

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