Há personagens do carnaval lagunense cujos nomes e feitos se perderam
nas brumas do passado.
Gerações se passaram e esses nomes ficaram em distantes épocas, a mercê
do tempo que tudo consome, corrói e apaga.
Mas, vez ou outra, devemos soprar as cinzas do passado e através de
pesquisas em velhos jornais e livros, recordar anos idos, recuando os ponteiros
do relógio da vida.
Em 1935 chega à Laguna, vindo de Tijucas - SC, sua terra natal, o 3º
sargento do Exército Brasileiro Egeu Laus, filho de Rodolfo Laus e Minervina
Varella Laus, para ser instrutor do Tiro de Guerra 137, de nossa cidade. Era irmão dos futuros escritores Cora Laus e Harry Laus.
O Tiro de
Guerra (TG) é uma instituição militar do Exército Brasileiro
encarregada de formar atiradores e ou cabos de segunda categoria (reservistas)
para o exército.
Alegre, comunicativo, educado, logo se inseriu a sociedade lagunense, fazendo
grande número de amigos e tornando-se figura querida em nosso meio, sendo
respeitado e estimado por todos.
Era um animador nato (hoje diríamos promoter),
das festas sociais, artísticas, cívicas e esportivas realizadas em nossa Laguna.
Transitava com facilidade, por exemplo, no Barriga Verde F.C., no Ginásio
Lagunense, onde foi professor de Educação Física, e membro da Congregação dos Professores, e no então Grupo Escolar Jerônimo Coelho.
Mas logo brilhou nas festas de carnaval, criando e desfilando fantasiado
em blocos e promovendo concursos.
Seu clube do coração era a Sociedade Recreativa Anita Garibaldi, no
Campo de Fora, bairro que escolheu morar.
Concurso Rainha do Carnaval de 1936
Já no início do ano seguinte, pouco mais de um mês de sua chegada, Egeu
organizou um concurso da Rainha do Carnaval de 1936.
O concurso era popular, realizado através de cédulas distribuídas e
recortadas das páginas de jornais, a serem preenchidas e depositadas numa urna situada
no balcão do tradicional Café Tupy, na rua Raulino Horn com XV de Novembro.
Toda sexta-feira e até o carnaval, os pré-resultados eram divulgados por
uma comissão julgadora formada por:
Vinicius de Oliveira (Jornal Correio do Sul), Flávio Bortoluzzi Souza e
Acary Fiúza Lima (Jornal A Cidade), Ruben Ulysséa e Manoel Bessa (Jornal O
Albor), Antônio Baião (Clube Congresso Lagunense), Alyrio Alcântara (Clube Blondin),
Hercilino Schmitz Ribeiro (Clube Anita Garibaldi), Ozinho Ezequiel de Souza
(Clube 3 de Maio), e mais Antônio Nunes Varella, José (Zeca) Freitas, Armando
Calil Bulos e Egeu Laus.
Logo nas primeiras apurações as senhoritas Leni Pinho Gomes e Marina
Bessa dispararam na frente, com 100 e 27 votos, respectivamente.
Como não havia necessidade de inscrição e as escolhas se davam
democraticamente pelos eleitores, a comissão logo foi surpreendida com o
comunicado das duas primeiras colocadas de que não aceitavam suas candidaturas.
Outros nomes que receberam votos foram: Maria Glória Salles (10 votos),
Denise Carneiro (11), Elza Pinho (7), Ema Garbelotti e Rosa Pigozzi (6), Luíza
Salomão (3), Wanda Wilke e Eliane Bessa (2).
Léa Zanella, Avany Alcântara e Dair Garbelotti, um voto cada.
Já na 5º apuração, Zilda Silveira, cujo nome nem havia aparecido na 1ª,
2ª e 3ª apuração, já estava em 1º lugar, com 117 votos, seguida de Ruth
Bittencourt (75), Alvany Alcântara (52), Rosa Pigozzi (41), Maria Gomes Salles
(31), Denise Carneiro (26), Lourdes Naylor (20), Francisca Lopes (16) e Zattir
Soccas e Elza Pinho (11).
Ao fim e ao cabo do concurso, Zilda Silveira, filha de Luiz Silveira e
esposa, foi eleita com acachapantes 827 votos! Sem dúvida, a numerosa família Silveira
do Campo de Fora foi à luta, votando e cabulando votos por toda Laguna.
A segunda colocada foi Avany Alcântara. Infelizmente o jornal não
informa sua quantidade de votos nem a das outras participantes ao final do
certame.
Se autoproclamou o 1º Rei Momo da Laguna e sentou-se no trono
No baile de carnaval do Anita em que foi coroada a Rainha do carnaval
Zilda Silveira, nosso carnavalesco Egeu se autoproclamou Rei Momo e sentou-se
com seu cetro num trono especialmente preparado para a ocasião.
Tornava-se assim oficialmente o 1º Rei Momo da Laguna, três anos depois do Rio de Janeiro. O homem estava por dentro dos acontecimentos. Usando uma gíria atual, diríamos que ele estava "ligado".
A figura do Rei Momo no carnaval surgiu no Rio em 1933, data em que a festa foi oficializada.
Tornava-se assim oficialmente o 1º Rei Momo da Laguna, três anos depois do Rio de Janeiro. O homem estava por dentro dos acontecimentos. Usando uma gíria atual, diríamos que ele estava "ligado".
A figura do Rei Momo no carnaval surgiu no Rio em 1933, data em que a festa foi oficializada.
Dizem os pesquisadores, que um cronista do
jornal A Noite confeccionou um boneco de papelão que desfilou pelas ruas da
cidade fazendo enorme sucesso e que depois foi colocado em um trono para reinar
sobre a folia.
Mas os jornalistas e proprietários do jornal
não ficaram contentes e no ano seguinte (1934) trataram de escolher uma pessoa para
desempenhar o papel.
Foi escolhido o gordo Moraes Cardoso,
brincalhão e gozador, responsável pela seção de turfe do jornal.
Poucos antes do baile no Anita, o Rei Momo Egeu havia chegado ao nosso cais a bordo de um barco de pesca, “sob
constante pipocar de foguetes sem rumo, em concorrido desfile pelas ruas da
cidade, a bordo de alto e belíssimo carro, artística e belissimamente
enfeitado. Em sua passagem foi mimoseado com confetes e serpentinas pelos seus
admiradores”, escreve entusiasmado o cronista do jornal O Albor. Em suma, uma
festa!
Os carros a que se refere o jornal haviam sido confeccionados por
membros da Sociedade Carnavalesca “Pingos e Respingos”, do bairro Campo de Fora. Era um
“Cartel romano” e um “Avião”, sobre os quais o Rei Momo Egeu e a Rainha Zilda
Silveira percorreram as ruas da cidade, além de visitarem todos os clubes da
Laguna nas quatro noites da folia.
Carnaval na roça
Paralelo ao concurso de Rainha do Carnaval, e já na segunda noite da
festa, Egeu promoveu na S.R. Anita Garibaldi o “Carnaval na roça”, inédito em
nossa cidade e abrilhantado pela S. M. União dos Artistas.
Carnaval de 1937
No carnaval deste ano, Egeu organizou pelas ruas do Bairro Campo de Fora
uma “Batalha de confetes”, reunindo sócios e frequentadores dos Clubes Anita
Garibaldi, 14 de Julho e 7 de Setembro, todos localizados naquele então festivo
e organizado bairro.
Na segunda noite, realizou o “Baile a Fantasia” no Anita, abrilhantado
pela S. M. Carlos Gomes. Sucesso!
Taça da Perfumaria Jacy
Na noite seguinte, numa “Batalha de confetes” realizada pela rua
principal do bairro Magalhães, Egeu desfilou com o seu sensual “Cordão de Havaianas”,
reunindo duas dezenas de seus amigos. Fez tanto sucesso, foi tão aplaudido, que
ganhou a Taça Jacy, oferecida pela perfumaria do mesmo nome, ao cordão ou bloco
que mais se destacasse no carnaval daquele ano.
No carnaval de 1938, o surgimento do primeiro “Bloco
Sossega Leão” e o desfile de “Misses”
No carnaval 1938, lançou o primeiro “Bloco Sossega Leão”, nome
retirado do samba-choro “Camisa Listrada”, de Assis Valente, sucesso nacional do carnaval
daquele ano, na voz de Carmen Miranda.
Ano mais tarde o Bloco irá ressurgir, através de uma dissidência do
Cordão Carnavalesco Xavante, pelas mãos de outro militar, o Barbosa. Bloco que
durou apenas dois anos.
Neste mesmo carnaval, Egeu se fez cacique de uma tribo de índios
percorrendo as ruas e clubes da cidade.
E não sossegou. Na noite seguinte veio com 21 Misses representando os
estados do Brasil. Eram homens travestidos de mulheres, onde se destacava o
musculoso e cabeludo José de Oliveira, como Miss Santa Catarina. Uma pandega!,
como registrou outro cronista de jornal.
A forte dor de cabeça e o fim
Sabe-se que numa caminhada-treinamento feito com seus alunos sob o sol
de novembro de 1938, o sargento Egeu Laus sentiu-se mal, com uma forte dor de
cabeça. Desmaiou e logo foi conduzido ao nosso Hospital. Durante vários dias
agonizou, sendo atendido pelo médico Antônio Mussi.
“Os diretores do Tiro 137, Tancredo Pinto e Alyrio Alcântara lançaram
mão de todos os recursos para salvar tão preciosa quão útil existência, mas
nada havia mais a fazer”.
Faleceu num domingo, 27 de novembro de 1938, aos 31 anos.
O povo lagunense compareceu em massa ao seu velório, com muitos
discursos comovidos. Logo após seu corpo foi transportado para Tijucas, onde
foi sepultado.
Dias depois, um dos maiores amigos de Egeu, Acary Fiúza Lima lançou a
ideia de erigir um busto em homenagem a Egeu Laus. E justificava:
“O objetivo é tornar o digno tijuquense Egeu Laus, moço pobre, porém
honrado, bom, sincero, nobre, amigo dos seus amigos, no bronze ou em mármore
pelo tempo em fora, assim como a nossa saudade e a nossa amizade, vivo, bem
vivo mesmo”.
O busto de Egeu Laus, por um motivo ou outro que desconheço, nunca foi
confeccionado. O não cumprimento da homenagem passou a figurar como mais uma das
injustiças, dentre tantas outras, aos que deram as provas mais sinceras do bem
querer e do amor por essa terra.
Um abraço do Egeu Laus, sobrinho do Egeu que vcs conheceram. :-) Sou filho de Cora Laus, irmã do Egeu, ganhei o mesmo nome dele pois minha mãe gostava muito do seu querido irmão, falecido precocemente. Morou com ele em Laguna um breve período. Minha mãe, nascida em Tijucas em 1915 faleceu em 1969 em Florianópolis. Um abraço aos lagunenses!
ResponderExcluirEmocionada ao encontrar referência de uma bela amizade que dedicou meu falecido pai ao seu amigo💖
ExcluirEmocionada ao encontrar referência de uma bela amizade que dedicou meu amado pai, Acary Fiuza Lima, ao seu amigo Egeu Laus.
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